UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU PSICOMOTRICIDADE E APRENDIZAGEM NO AEE (ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO). Autora: Daniela Santos Oliveira Orientadora: Professora Maria Esther de Araújo Salvador 2014 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU PSICOMOTRICIDADE E APRENDIZAGEM NO AEE (ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO). Autora: Daniela Santos Oliveira Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Psicomotricidade. Orientadora: Professora Maria Esther de Araújo. Co-orientadora: Professora: Giselle Boger Brand. Salvador 2014 Oliveira, Daniela Santos. Psicomotricidade e Aprendizagem no AEE (Atendimento Educacional Especializado). Oliveira, Daniela Santos, 2014. xx fls. Ils. Monografia (Pós-Graduação- Lato Sensu) – Universidade Cândido Mendes, 2014. Orientador: Profa. Maria Esther Araújo CDU AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus a oportunidade de ter realizado este curso, que com certeza contribuirá para a minha prática diária. Aos meus amigos, minha mãe e irmão que sempre confiaram em mim. E por fim, a minha amiga Roberta, pela simplicidade e palavra acolhedora. Dedicatória Ao meu filho Anderson que tem me ensinado o verdadeiro significado do amor e da vida. "O ser humano não é só corpo cheio de músculos, ossos, órgãos e sangue. No comando disso tudo tem um ser emocional, social, fisiológico, afetivo, cognitivo, espiritual e muito mais além de nossos conhecimentos." André Lapierre RESUMO A presente monografia tem como objetivo principal falar sobre o estudo da psicomotricidade e a aprendizagem no atendimento educacional especializado no processo de desenvolvimento e seus aspectos. No que se refere à fundamentação teórica desta pesquisa, se deu, sobretudo, a partir de referencias de filosofia, sociologia, pedagogia, psicologia e da psicomotricidade, por meio de autores como Fonseca (1996), Vygotsky (2011), Wallon (2007), Piaget (1977), dentre outros. O que ficou registrado por meio desse estudo, que é possível influenciar positivamente o perfil de desenvolvimento motor, sendo capaz de melhorar os quocientes motores envolvidos, que são a coordenação motora ampla e fina, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e temporal. Palavras chave: Psicomotricidade; motricidade, pedagogia; desenvolvimento. ABSTRACT This monograph aims to talk about the study of psychomotor and learning in specialized education in the development process and its aspects. As regards the theoretical foundation of this research, mainly occurred from references in philosophy, sociology, pedagogy, psychology and psychomotor through authors such as Fonseca (1996), Vygotsky (2011), Wallon (2007) Piaget (1977), among others. What was recorded by this study, it is possible to influence the profile of motor development, being able to improve the quotients engines involved, which are broad and fine motor coordination, balance, body schema, spatial and temporal organization. Key words: Psychomotor; motor skills, pedagogy; development. SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................10 METODOLOGIA................................................................................................12 CAPÍTULO I- PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM..............................................................................................13 CAPÍTULO II- BASES TEÓRICAS E LEGAIS SOBRE O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO..................................................................18 CAPÍTULO III- EDUCAÇÃO ESPECIAL...........................................................27 CONCLUSÃO....................................................................................................36 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................37 INTRODUÇÃO O AEE (Atendimento Educacional Especializado) visa à plena participação do aluno na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. Sendo assim, a inclusão pode ocorrer por meio das intervenções psicomotoras na prática pedagógica. Na busca de respostas sobre como trabalhar a Psicomotricidade no AEE (Atendimento Educacional Especializado), este estudo tem o objetivo de compreender as ações psicomotoras no processo ensino-aprendizagem, bem como refletir sobre as intervenções psicomotoras e suas formas de intervenções na prática pedagógica do AEE (Atendimento Educacional Especializado). O AEE apóia o desenvolvimento do aluno com deficiência, transtornos gerais de desenvolvimento e altas habilidades, disponibiliza o ensino de linguagens e de códigos específicos de comunicação e sinalização, oferece tecnologia assistiva – TA, adequa e produz materiais didáticos e pedagógicos, tendo em vista as necessidades específicas dos alunos, oportuniza o enriquecimento curricular (para alunos com altas habilidades). O AEE deve se articular com a proposta da escola comum, embora suas atividades se diferenciem das realizadas em salas de aula de ensino comum. A Psicomotricidade trabalhada desde a educação infantil e séries iniciais contribuirá para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e orgânico da criança, ou seja, seu desenvolvimento global. Para isso, a prática pedagógica no AEE (Atendimento Educacional Especializado) deve voltar-se para práticas psicomotoras. Assim, pensar e colocar em prática a psicomotricidade no processo ensino-aprendizagem propiciará uma evolução harmônica, um funcionamento psicomotor entre a criança e o meio a sua volta. A Psicomotricidade trabalhada desde cedo com a criança possibilitará a esta o seu desenvolvimento global, permitindo que se exprima e exponha sua criatividade. A aplicação das intervenções psicomotoras no processo de maturação da criança, nas aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas poderá facilitar a aquisição de melhores possibilidades na interação social e atividades motoras, harmonizando o comportamento motor. O Capítulo I enfatizará a Psicomotricidade no processo de aprendizagem, discutindo sobre os principais teóricos abordados no trabalho: Lê Boulch, Maria Mantoan e Vítor da Fonseca, entre outros autores. Expõe sobre a importância do trabalho psicomotor no processo de aprendizagem da criança, na construção do conhecimento. Já o Capítulo II abordará as bases teóricas e legais sobre o atendimento educacional especializado, ou seja, as diretrizes que regulamentam o AEEAtendimento Educacional Especializado, o trabalho do professor nas salas de recursos e os direitos das crianças no atendimento. O terceiro e último capítulo, debaterá sobre a modalidade educação especial, buscando responder de forma adequada às peculiaridades educativas de cada aluno, já que o AEE e os recursos próprios desse atendimento, orientando os alunos e professores quanto à utilização desses recursos nas turmas comuns do ensino regular. Por fim, as considerações finais sobre o trabalho de forma a levar o leitor a compreender a importância da psicomotricidade no atendimento educacional especializado, principalmente para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança. METODOLOGIA O presente estudo tem como procedimento metodológico a revisão bibliográfica sobre a Psicomotricidade e sua utilização no desenvolvimento da aprendizagem. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de materiais publicadas em livros, artigos, dissertações e teses. Pode ser realizada independentemente ou pode constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental. Segundo Cervo, Bervian e da Silva (2007), a pesquisa bibliográfica “constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema”. A pesquisa será qualitativa, em que os dados, em vez de serem tabulados, de forma a apresentar um resultado preciso, serão retratados por meio de relatórios. Será abordada a visão dos principais teóricos sobre a Psicomotricidade e sua importância para o desenvolvimento da aprendizagem da criança no AEE (Atendimento Educacional Especializado). Os principais teóricos que servem de referência para este trabalho são: Vítor da Fonseca, Lê Boulch e Maria Mantoan. Outros autores serão citados, pois se faz importante discutir a visão de estudiosos acerca do tema em questão. O autor Vítor da Fonseca aborda a temática da psicomotricidade, em sendo uma nova concepção psicopedagógica de educação e como medida de prevenção do insucesso escolar. A autora Maria Mantoan prioriza a prática integracionista à integração escolar e social da pessoa com deficiência. Le Boulch coloca que a imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio entre as funções psicomotoras e a sua maturidade com a finalidade de favorecer o desenvolvimento. É organizada como sendo o centro da personalidade, a partir das relações recíprocas entre o organismo e o meio. Discutirá ainda sobre as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado aliado às práticas psicomotoras. CAPÍTULO I – PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Inicialmente faz-se necessário falar sobre o conceito de psicomotricidade, onde na história já se falava e refletia-se a respeito da trajetória nem sempre linear da Psicomotricidade, a mesma tem seus vestígios mais primitivos da época em que o homem até então nômade buscava na natureza a garantia de sua sobrevivência. Este fato possibilitava ao homem da época o aprimoramento de seus movimentos corporais; como a rapidez nas técnicas originárias de trabalhos manuais, na colheita de frutas silvestres, na caça, na pesca; e principalmente devido à construção de moradias improvisadas ao estilo de vida dessas pessoas, pois as mesmas não fixavam residência por muito tempo na mesma localidade. Segundo Santos (2010): “O nomadismo consiste em uma prática onde um homem ou grupos humanos vagueiam por diferentes territórios. Nesse processo de locomoção pelo espaço, essas comunidades utilizam-se dos recursos oferecidos pela natureza até esses se esgotarem. Com o fim desses recursos, esses grupos se deslocam até encontrarem outra região que ofereça as condições necessárias para a sobrevivência (SANTOS, 2010, p.1). O autor fala ainda que com base nisso, para a referida época um corpo com excelentes condições funcionais era de mais valia que um raciocínio lógico, pois para tudo dependia-se de extremo esforço físico, ou seja, tecnicamente falando, a própria condição de vida exigia perfeição no desenvolvimento psicomotor, o que para a época era uma ciência até então distinta da nomenclatura atual. Costa (2001) faz uma passagem pelo século XVII, afirmando que com a chegada desse século, o Renascimento, que ficou marcado pela expressão cultural e artística “rompe” parcialmente com conceitos que cultuam o corpo, ou seja, o homem não deixou de utilizar os trabalhos manuais que dependiam exclusivamente da força física, mas diferentemente da época do nomadismo o “psique” passou a ter espaço significativo nas tarefas em geral; com este movimento a sociedade passa a buscar explicações dos fatos por meio da ciência. O autor fala que com o passar dos tempos este pensamento continuou ativo, e com a entrada do século XVIII o homem passa a utilizar a razão cotidianamente, uma vez que a partir desta época a mesma passa a ser compreendida como único instrumento válido do conhecimento. No que tange a teoria de Wallon (1879), percebe-se que a movimentação corporal sempre esteve intrinsecamente ligada a vida do homem, pois o mesmo dependia deste comportamento para sua auto sobrevivência; uma vez que ao contrário de atualmente o indivíduo primitivo não dispunha da praticidade presente nos dias de hoje, onde por conseqüência disso o sedentarismo é um fato, e com números crescentes. Diante dessa afirmação de Wallon (1879), nota-se que primitivamente havia uma espécie de divisão quanto a utilidade do corpo e da mente, ou seja, que ambos cumpriam seu papel individualmente, o que atualmente foi superado pela ciência, pois por meio desta teoria a respeito do tônus e relaxamento muscular, o autor “Oficializa" Psicomotricidade e a conceitua como um elemento social na educação pedagógica, pois é uma ação expressiva entre homem e ambiente. Muitos autores buscavam compreender o desenvolvimento motor e psicomotor do ser humano, a exemplo de Fonseca (1996), onde fala que a psicomotricidade visa privilegiar a qualidade da relação afetiva, a mediatização, a disponibilidade tônica, a segurança gravitacional e o controle postural, à noção do corpo, sua lateralização e direcionalidade e a planificação práxica, enquanto componentes essenciais e globais da aprendizagem e do seu ato mental concomitante. Nela o corpo e a motricidade são abordados como unidade e totalidade do ser. O autor fala que o seu enfoque é, portanto, psicossomático, psicocognitivo, psiquiátrico, somato-analítico, psico- neurológico e psico-terapêutico. Outro estudo sobre a psicomotricidade decorre da teoria de Chazaud (1976), que conceitua a psicomotricidade como uma determinada organização funcional da conduta e da ação; correlativamente, é certo tipo de prática da reabilitação gestual. Passando para o conceito de Boulch (1987), esse afirma que a finalidade da educação psicomotora não é a aquisição de habilidades gestuais, ou seja, trabalho psicomotor tal qual o conhecemos, resulta numa melhor aptidão para a aprendizagem, dentro do respeito ao desenvolvimento da criança. Coste (1992) afirma que ‘’O homem é o seu corpo”, o autor passa a colocar o objetivo da psicomotricidade dando ao indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia, de pensar seus gestos a fim de aumentar-lhes a eficácia e a estética, de aperfeiçoar o seu equilíbrio. O que ocorre é que todo esse ato sobre a psicomotricidade passa pelo seu nascimento, e o primeiro a falar do assunto é Dupré, que ainda na década de 1920, durante um longo processo contemporâneo desse trabalho, tendo esses primeiros estudos sobre as relações psíquicas e as relações motoras. Voltando a Fonseca (1996), o próprio autor fala que o termo psicomotricidade surgiu pela primeira vez com Dupré, o que significou um entrelaçamento entre as relações psíquicas e as relações motoras, ou seja movimento e pensamento. A aprendizagem é um processo inerente ao ser humano. O homem é capaz de aprender e re-aprender, ultrapassando seus limites e potencialidades. A Psicomotricidade influencia no desenvolvimento motor da criança e é de fundamental importância para o desenvolvimento de sua aprendizagem. Cada criança é única e deve ser observada em sua forma de aprender, com intervenções adequadas do profissional. A criança desenvolve-se nos aspectos social, afetivo, cognitivo, emocional e o meio social em que está inserida é de fundamental importância para o seu desenvolvimento. As inúmeras experiências corporais que a criança vivencia possibilitam a esta descobrir-se e superar dificuldades que possam aparecer, sejam elas escolares, motoras ou emocionais, tornando-se uma condição fundamental para a aprendizagem, pois o indivíduo passa a ter consciência do seu corpo, da lateralidade, do espaço, tempo, na sua coordenação motora fina e global. A motricidade possibilita também o desenvolvimento da linguagem socialização e o processo de alfabetização. Para Fonseca (1993), a Psicomotricidade envolve toda ação realizada pelo indivíduo; é a integração entre o psiquismo e a motricidade, buscando um desenvolvimento global, focando os aspectos afetivos, motores e cognitivos, levando o indivíduo à tomada de consciência do seu corpo por meio do movimento. O autor fala ainda que a criança deve viver o seu corpo através de uma motricidade não condicionada, em que os grandes grupos musculares participem e preparem os pequenos músculos, responsáveis por tarefas mais precisas e ajustadas. Antes de pegar num lápis, a criança já deve ter, em termos históricos, uma grande utilização da sua mão em contato com inúmeros objetos. No que se refere a motricidade, há o estudo de Piaget, o qual fala que a motricidade interfere na inteligência, antes da aquisição da linguagem. A inteligência verbal ou reflexiva repousa numa inteligência sensório-motora ou prática, que por seu lado se apoia nos hábitos e associações adquiridas para combiná-las, ou seja, para ele, o movimento constrói um sistema de esquemas de assimilação, e organiza o real a partir de estruturas espaço temporais e causais. Outro estudioso que se preocupou com a relação psicomotora,foi Wallon (2007), ele fala sobre o afeto e a emoção e passou a aprofundar os seus estudos das relações que unem o tono, o pano de fundo de todo ato motor, às tramas em que este se tece, e a emoção, isto é, a expressão mais primitiva dessa atividade especificamente humana que é a atividade de relação. O autor mostrou que a toda emoção estão vinculados, ao mesmo tempo, certo comportamento tônico, certas transformações características das atitudes e reações musculares, e viscerais e procurou formular as leis dessa interrelação. Apesar de a dimensão afetiva ocupar lugar central na teoria de Wallon, como em nenhuma outra, a sua grande jogada foi a motricidade, posto que, para ele, o ato mental se desenvolve necessariamente a partir do ato motor, intermediado por um processo que ele chamou de cinético e postural, ou seja, a primeira correspondendo ao movimento visível, à mudança de posição do corpo, ou segmentos do corpo no espaço e a segunda, à manutenção da posição assumida, que seria a atitude e a mímica. Negrine (1995) fala de estudos mais recentes, onde existem dois eixos pelos quais a psicomotricidade educativa vem avançando, um é a psicomotricidade funcional e o outro é a psicomotricidade relacional; a primeira toma como referência inicial o perfil psicomotriz da criança avaliada a partir de testes padronizados, e que se serve de grupos de exercícios como atividademeio, não deixando espaço à exteriorização da expressividade motriz. O estudo seguinte é a psicomotricidade relacional, que se utiliza como meio de atividade a ação de brincar, a criação, a representação e a imaginação, isto é, utiliza-se do jogo como elemento pedagógico. O autor fala também que existem três impulsos que a psicomotricidade recebeu na França; o primeiro deles, foi datado dos anos trinta, recebendo a influência psicobiológica de Wallon, a etapa final é considerada como diretiva para uma vertente reeducativa e os testes servem de instrumento de avaliação do perfil psicomotor da criança. O segundo impulso ocorreu nos anos sessenta, na França, com Le Camus recebendo influência de Wallon e da noção de esquema corporal, e por fim, terceiro impulso um pouco mais tarde, na década de setenta, quando os pedagogos realizaram um deslocamento do corpo instrumental para um corpo relacional, esta nova aproximação da psicomotricidade influenciou também no ensino da educação física, principalmente nos países latino-americanos. CAPÍTULO II – BASES TEÓRICAS E LEGAIS SOBRE O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO. Pode-se entender a importância da inserção do aluno com necessidades especiais na escola, para que ele possa atuar nas diversas esferas na nossa sociedade, pois durante muito tempo a Educação Especial organizou seus serviços de forma substitutiva ao ensino comum, ou seja, atuou como um sistema paralelo de ensino. A atual Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, de janeiro de 2008, reafirma o direito de todos os alunos à educação no ensino regular, recebendo, quando necessário o Atendimento Educacional Especializado. Pensando num trabalho que complemente e suplemente a formação do aluno com necessidades especiais, criou-se o Atendimento Educacional Especializado (AEE), que visa à autonomia na escola e fora dela, constituindo oferta obrigatória pelo sistema de ensino. Constitui-se num serviço de educação especial que identifica, elabora, e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, levando em conta as suas especificidades. O AEE não se confunde com reforço escolar. Este atendimento tem suas funções próprias do ensino especial, as quais não têm por finalidade substituir o ensino comum, nem mesmo reformular currículos e avaliações de desempenhos. O Atendimento Educacional Especializado é ofertado em todas as etapas e modalidades da educação básica e do ensino superior nas seguintes modalidades: educação indígena, educação do campo e quilombola e nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais desses grupos. É organizado para suprir as necessidades de acesso ao conhecimento e à participação dos alunos com deficiência e dos demais que são público alvo da Educação Especial, nas escolas comuns. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), diz que a Educação Especial deve oferecer o Atendimento Educacional Especializado às necessidades educacionais especiais dos alunos com: deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades / superdotação. Nas Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, instituídas como base na Constituição Federal de 1998; na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva de janeiro de 2008; no Decreto Legislativo n° 186 de julho de 2008 e no Decreto n° 6.571 de 18 de setembro de 2008, que dispõe sobre o AEE: 1. Alunos com Deficiência: “aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial, diante de barreiras, que podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (ONU 2006)”; 2. Alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento: “aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras”. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Ret, transtornos desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos em outras especificações (MEC/SEESP, 2008); 3. Alunos com altas habilidades/superdotação: estes alunos devem ter a oportunidade de participar de atividade de enriquecimento curricular desenvolvidas no âmbito das suas escolas em interface com as instituições de ensino superior, institutos voltados ao desenvolvimento e promoção da pesquisa, das artes, dos esportes, entre outros. Com base nas definições realizadas, acerca do que é proposto com o trabalho realizado pelo AEE, pode-se perceber que o professor, deve perceber as necessidades de seus educandos, construindo atividades e recursos pedagógicos e de acessibilidade, que facilitem o processo de construção de conhecimento do sujeito. Vale dizer, que as atividades planejadas para o atendimento especializado, não se configuram como reforço escolar, uma vez que são diferenciadas das realizadas em sala de aula. Cabe ao profissional de educação, buscar recursos e atividades criativas e inovadoras que favoreçam a estimulação do aprendizado do aluno nas áreas específicas, as quais encontram maiores dificuldades. Com o objetivo de clarificar em que consiste o AEE, é importante descrever os objetivos desse atendimento, dados que constam no Artigo 2° do Decreto 6.571 de 17 de setembro de 2008: • Prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos referidos no Artigo 1°; • Garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; • Fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino aprendizagem; e • Assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de ensino. Sendo assim, o Atendimento Educacional Especializado ocorre de forma que ele seja ofertado no turno oposto, ao qual o aluno está matriculado na escola de ensino regular, favorecendo que o individuo não tenha dificuldade ou impedimento o seu acesso no ensino comum. Este atendimento deve ser realizado, preferencialmente, nas Salas de recursos multifuncionais da própria escola com o professor especializado em CAEE ou caso a escola não tenha disponível uma, pode ser em outra escola, ou em Centro Educacionais Especializados. Estes centros deverão oferecer o atendimento, proporcionando o pleno desenvolvimento das potencialidades afetivas, sociais e intelectuais dos educandos, respeitando e valorizando a diversidade no contexto da educação inclusiva. Segundo Mantoan (2006) esses novos rumos podem levar as escolas especiais a se transformarem em centros de atendimento educacional especializado – AEE. Essa transformação, no entanto terá caráter temporário, provisório, porque a tendência é alocar, gradativamente, o AEE nas escolas comuns. Baseado nos pressupostos apresentados é interessante relatar a organização do AEE. As Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado – AEE (2008) na Educação Básica discorrem acerca dessa organização. a. Sala de recurso multifuncional: espaço físico, mobiliários, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos; b. Matricula dos alunos no AEE: condicionada a matricula no Ensino Regular da própria escola ou de outra escola; c. Plano do AEE: identificação das necessidades educacionais especifica dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas e o cronograma de atendimento dos alunos; d. Professor para o exercício do AEE; e. Profissionais da educação: tradutor e interprete da Língua Brasileira de Sinais, guia – interprete e outros que atuam como apoio ás atividades de alimentação, higiene e locomoção; f. Articulação entre professores do AEE e os do ensino comum; g. Redes de apoio: no âmbito de atuação intersetorial, da formação docente, do acesso a recursos, serviços equipamentos. Cabe a informação, que de acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, os alunos público – alvos da educação especial que estiverem matriculados no ensino regular e matriculados no AEE, será contados de forma dupla no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, ou seja, receberão os recursos em dobro, tendo em vista as duas matrículas. Estes recursos serão distribuídos de acordo com os registros no Censo Escolar - MEC/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) do ano anterior. Não deve esquecer-se da importância de buscar redes de apoio, como por exemplo, a parceria com as Secretarias de Educação, Secretária de Saúde entre outros que apóiem o trabalho classes regulares. Este apoio é no sentido de promover palestras, assessorias ou cursos, para a formação dos docentes, levando em conta a demanda de cada escola. De acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado, para o professor poder atuar neste tipo de trabalho, ele deve ter a formação que o habilite para o exercício da docência e formação específica na Educação Especial, inicial ou continuada. Como já foi citado anteriormente, o trabalho com o AEE (Atendimento Educacional Especializado) acontece através das Salas de Recursos Multifuncionais, que estabelece o tipo e o número de atendimentos, bem como os recursos pedagógicos que serão utilizados com o objetivo de atender as necessidades de cada educando. Cada profissional elabora um plano de trabalho, que sempre levará em conta a realidade escolar e pessoal de cada indivíduo. A intenção da visão apresentada é centrar todos os esforços nas necessidades especiais de aprendizagem, deslocando o foco para a qualidade de ensino para todos que ingressam na escola, bem como a utilização de recursos, materiais didáticos, tecnologias, capacitação de profissionais, entre outros. O objetivo não é favorecer apenas uma parte específica, mas todos os indivíduos que tenham algum tipo de necessidade ou dificuldade diferenciada para que sejam acompanhados no seu processo de construção de conhecimento. Tendo em vista, cada vez mais, o crescente número de alunos com deficiência que ingressam no ensino comum e a ênfase dada a este serviço principalmente após a instituição da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008, o AEE é uma temática em evidência no momento, pois se apresenta como um apoio significativo para as escolas regulares. Segundo esta normativa o AEE: “Tem a função de “identificar, elaborar, e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas” (BRASIL, 2008, p.8). O AEE constitui-se com uma rede de serviços destinados ao público da educação especial, isto é, aos: “Alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação” matriculados na rede regular (BRASIL, 2008, p. 7). Perpassa todos os níveis e modalidades de ensino em caráter complementar e/ou suplementar, por isso, traz uma nova abordagem para a educação especial em âmbito nacional, pois propõe significativas modificações para o atendimento ao alunado e destaca a responsabilidade do setor público sobre a educação das pessoas com deficiência. Concomitante ao pouco direcionamento da formação para o professor do AEE existe uma intensa carga de responsabilidade direcionada a este profissional, a Resolução nº 04, de 2009, estabelece no artigo 13 as atribuições, como segue: I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial; II – elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais; IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade; VI – orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; VII – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e participação; VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. Existem ainda também outros documentos que apresentam as atribuições do professor, mas de modo geral é possível verificar uma ampla gama de tarefas. É previsto o trabalho direto com o aluno em período de contraturno; o trabalho colaborativo para subsidiar as ações e a formação do professor da sala regular; a elaboração de materiais específicos para uso dos alunos nas salas de aula; a orientação à família; e a articulação com setores e profissionais externos à escola que possam colaborar para o atendimento às necessidades especiais dos alunos. O que chama a atenção é a responsabilização que é imputada a esse profissional que não se direciona apenas ao ensino, mas a várias atividades organizativas e articuladoras dentro do espaço escolar e, possivelmente, fora dele. Por causa disso, por meio do programa da SRM, o mesmo professor pode trabalhar com várias áreas. No entanto, cada área tem um conhecimento específico e aprofundado. Assim, cabe a organização dos sistemas de ensino e a realização da formação constante para o professor. De acordo com as normativas, o AEE deve ser disponibilizado na SRM para todo o público-alvo da educação especial que precisar do apoio. Coerente, com este propósito, em 2011, o Decreto nº 7.611, de 17 de novembro, estabelece o apoio técnico e financeiro da União: “Para a formação continuada de professores, inclusive para o desenvolvimento da educação bilíngüe para estudantes surdos ou com deficiência auditiva e do ensino do Braille para estudantes cegos ou com baixa visão” (BRASIL, 2011, art. 5º). Porém, em termos efetivos, paralela à constituição desse programa novo, denso em responsabilidades frente à inclusão dos alunos (principalmente com deficiência), falta o fornecimento de uma formação que proporcione um conhecimento diferenciado para o docente. De modo geral, não há a indicação de uma formação inicial distinta, nem de professores diferenciados daqueles que já vinham se dedicando à educação especial. Apresenta-se, então, docentes que, por vezes, tinham como base de trabalho outros princípios que não os da inclusão, agora imbuídos de um novo pensamento e de um fazer diferenciado, mas sem o direcionamento de uma formação que os respalde. Nota-se também que, a formação para o trabalho pedagógico para a SRM deu-se no curso da implantação do serviço, não ocorreu uma capacitação prévia. Neste processo, houve destaque, dentre as ações do MEC, para a formação a distância como forma de atualizar os professores às novas tarefas, constituindo-se uma formação emergencial e de grande abrangência. Saviani (2009) ao discutir os aspectos teóricos e históricos da formação de professores no contexto brasileiro, apresenta que: “Não se pode dizer que a educação especial não tenha sido contemplada na legislação em vigor [...]. No entanto, no que se refere à formação de professores para atuar na educação especial a questão permanece em aberto (SAVIANI, 2009, p.152). A formação do professor que trabalha no AEE precisa instrumentalizá-lo para que dê conta de várias atividades que exigem conhecimento específico. São diversas as ações que deve desempenhar dentro da cada área que compõe o alunado da SRM. De acordo com Baptista (2011): “A SRM assume um “protagonismo na política educacional brasileira relativa à Educação Especial e à inclusão escolar”. O autor aponta para o fato de que “a pluralidade de ações previstas para o educador nem sempre esteve presente nas propostas que caracterizam as Salas de Recursos” (BAPTISTA, 2011, p.66). Nesse sentido, o autor ainda, comenta que: “Temos um longo caminho a ser percorrido” e defende que é necessário reconhecer que, além das diretrizes gerais para a organização das salas de recursos, é fundamental garantir espaço de criação de delineamentos para esse serviço em função de características específicas de cada contexto (BAPTISTA, 2011, p. 71). CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO ESPECIAL O AEE assume tamanha relevância nos documentos divulgados que há indicativos de substituição da educação especial. É o que se percebe no módulo “Atendimento Educacional Especializado: aspectos legais e orientações pedagógicas” (BRASIL, 2007). Em várias ocasiões ao longo do material divulgado pelo Ministério da Educação, há a defesa de que o AEE é equivalente à educação especial, como vemos no argumento abaixo: [...] louvamos os termos da Constituição Brasileira e das convenções internacionais que nos permitem concluir que o Atendimento Educacional Especializado, destinado a alunos com deficiência, também chamado de Educação Especial, é uma forma válida de tratamento diferenciado (BRASIL, 2007, p. 20, grifos nossos). A proposição do uso da nomenclatura “Atendimento Educacional Especializado” se dá, dentre outros, devido à intenção de defender um novo conceito para a educação especial, pois, segundo o documento já referenciado, “ela sempre foi entendida como capaz de substituir o ensino regular” (BRASIL, 2007). Acerca dos conhecimentos da educação especial nesse momento histórico, Beyer alerta que: [...] estamos certamente diante de um movimento internacional de revisão de pressupostos fundamentais da educação especial. As posições neste sentido parecem se alinhar por duas tendências: a) uma abordagem de aproximação de áreas, em que se defende a ideia de relevância das funções da educação especial como elemento de suporte às propostas da educação inclusiva; e b) uma abordagem mais radical de crítica à educação especial, considerando-se que esta, pela sua tradição clínico-terapêutica, tenderia mais a prejudicar do que ajudar as propostas de educação inclusiva (BEYER,2010, p. 6). Acreditando que a educação é um conjunto de fatores que dá condições às pessoas a terem acesso aos bens culturais de uma sociedade, abrangendo os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na relação humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, com responsabilidade de estender esses bens aos educandos, favorecendo o desenvolvimento global do indivíduo: cognitivo, afetivo, emocional e social. Todos os seres são alvos de um processo educativo, e nós humanos vivenciamos experiências de aprendizagem nas mais diversas esferas da sociedade, e conseqüentemente as compartilhamos uns com os outros. Com isso a educação ajuda a pensar tipos de homens, mais do que isso, ela ajuda a criá-los, através desta troca de vivências. Quando se fala em educação logo se criam estereótipos em torno desta tal “educação”. Paulo Freire (1996) já falou forma eficaz que ninguém aprende sozinho, mas tudo e todos que rodeiam o processo individual de pensar, apenas podem criar condições para que ele ocorra. Educar é construir, é libertar o homem do determinismo, passando a reconhecer o papel da História e onde a questão da identidade cultural, tanto em sua dimensão individual, como em relação à classe dos educandos, é essencial à prática pedagógica proposta. (FREIRE, 1996, pg. 42). Pensando no desempenho desta função social transformadora, a educação tem uma tarefa em relação à diversidade humana, favorecendo o crescimento de todos no processo educativo. Durante muito tempo, o diferente foi colocado à margem da ação pedagógica, desmerecendo, então a importância da inclusão do indivíduo, com necessidades especiais, nas diversas vertentes da sociedade, principalmente no processo de ensino-aprendizagem. No decorrer da existência humana, a perspectiva social em relação aos indivíduos com deficiências, nem sempre teve o mesmo olhar, sofrendo mudanças paralelas à evolução das necessidades do ser humano e a própria organização das sociedades. Desta forma, se observa que a Educação Especial como modalidades de ensino que reúne um conjunto de recursos, como: planos de trabalhos adaptados, apoio de materiais específicos, serviço de pessoal especializado, a fim de promover uma educação de qualidade para todos que necessitam de intervenções especificas para aprender, respondendo de forma adequada às peculiaridades educativas de cada aluno. Conforme a Constituição Federal de 1988 que é objetivo da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, e quaisquer outras formas de discriminação (Artigo 3º, Inciso IV). Em seu Artigo 5º, a Constituição garante o princípio de igualdade: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”. A educação inclusiva tem como objetivo garantir acesso, permanência e qualidade de ensino para todos os alunos que até então eram segregados ou excluídos do processo de ensino e aprendizagem, priorizando a diversidade. Como afirma Ferreira (2006) a permanência de alunos excluídos na escola causa uma tensão que pelo fato altera a rigidez da estrutura escolar e possibilita movimentos favoráveis à plena educação do aluno. É necessário à ação de educadores no sentido de garantir equidade no tratamento de oferta de oportunidades diferenciadas para que todos possam alcançar e manter padrões de aprendizagem com qualidade social. A inclusão vai mais além do que a mera presença física nas salas de aulas regulares dos alunos com alguma deficiência supõe uma mudança profunda na educação. Uma mudança que é dirigida ao estabelecimento de objetivos mais amplos e equilibrados, à definição de um currículo flexível e à formação de todos os professores à diversidade dos alunos. Neste universo de razões que nos levam a pensar numa escola que atendam de forma efetiva as dificuldades destes alunos, são encontradas dificuldades que acabam acarretando mais desagregação dentro dos âmbitos escolares. As justificativas são inúmeras, mas a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Janeiro de 2008) dá um rumo diferente para a Educação Inclusiva, e afirma ser a Educação Especial a responsável pela oferta do Atendimento Especializado, auxiliando na compreensão dos direitos a serem exigidos perante a sociedade. Além disso, a Constituição Federal garante em seu artigo 205 que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Em seguida no Artigo 206, estabelece a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. O atendimento educacional especializado, oferecido preferencialmente na rede regular de ensino, também é garantido na Constituição Federal, Artigo 208, Inciso III. O direito ao atendimento educacional especializado está igualmente previsto nos artigos 58, 59 e 60 da Lei 9394/96 – LDBEN que, para não ferir a Constituição, deve adotar uma nova interpretação da Educação Especial, baseada no que a Constituição prevê: Art. 58. Entende-se por Educação Especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. §1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. §2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. Há uma nova interpretação, pois, como modalidade de ensino especial não mais substituirá níveis: básico e superior de ensino para alunos da Educação Especial, mas complementará a formação desses alunos. A Convenção Interamericana Para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Pessoa Portadora de Deficiência - decreto 3.956/2001 posterior à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN/1996, apresenta-se como documento, celebrado na Guatemala, em maio de 1999. O Brasil é signatário dessa convenção, que foi aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº. 198, de 13 de junho de 2001, e promulgada pelo Decreto nº. 3.956, de 08 de outubro de 2001, da Presidência da República. A Convenção da Guatemala tem valor de norma constitucional, já que se refere a direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. A importância da convenção, no entendimento e na defesa da inclusão, está no fato de que ela deixa clara a impossibilidade de diferenciação com base na deficiência, definindo a discriminação como [...] “toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos e liberdades fundamentais”. Portanto, compreende-se que a discriminação é vista como qualquer forma de diferenciação, restrição ou exclusão com base em uma incapacidade, evidenciando que as pessoas com deficiência não podem receber tratamento igual aos das outras pessoas, visto que elas apresentam uma demanda que necessita um olhar mais criterioso e cuidadoso. Dessa forma a Educação Especial visa à integração e a inclusão de todos aqueles que possuem deficiência ou dificuldades de aprendizagem freqüentes ou momentâneas. Deve-se propiciar a estes indivíduos a participação na escola regular e quando necessárias atividades educativas ou complementares específicas a cada necessidade. Essa educação especial se destina aos alunos com deficiência física, deficiência mental, alunos com surdez, cegueira, baixa visão, surdocegueira, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades. A atuação desse tipo de educação nas escolas deve-se dar de algumas formas,são elas: - Identificar as necessidades e elaboração de plano de atendimento; - Identificar as necessidades específicas do aluno com deficiência; - Identificar os resultados desejados; - Identificar as habilidades do aluno; - Realizar levantamento de materiais e equipamentos; - Elaborar um plano de atuação, visando serviços e recursos de acessibilidade ao conhecimento e ambiente escolares. No que se refere ao atendimento ao aluno, é necessário que se organize o tipo e o número de atendimentos ao aluno com deficiência, produzindo os materiais transcrevendo, adaptando, confeccionando, ampliando, gravando, dentre outros materiais, que irão surgindo de acordo com as necessidades dos alunos. Alguns materiais que devem ser trabalhados com os alunos são: compra de softwares, recursos e equipamentos tecnológicos, mobiliário, recursos ópticos, dicionários e outros recursos que serão utilizados em sala de aula, verificando a funcionalidade e a aplicabilidade do recurso, observando os impactos, efeitos, distorções, pertinência, negligência, limites e possibilidades do uso na sala de aula, na escola e em casa. A utilização desses recursos devem passar antes por uma orientação às famílias e professores quanto ao recurso utilizado pelo aluno, orientando e ensinando o uso e aplicação de recursos, materiais e equipamentos aos alunos, pais e professores nas turmas do ensino regular. No que se refere a formação desses alunos, a utilização dos recursos promove a formação continuada para os professores do atendimento especializado; para os professores do ensino comum, visando o entendimento das diferenças e para a comunidade escolar em geral. Com relação aos profissionais que atuam na educação especial, essas pessoas terão que ser professores com especialização em sala de recurso multifuncional, professores especializados dos centros de apoio pedagógico para o atendimento aos deficientes visuais, terão que ter também professores especializados em libras, professor de português como segunda língua de alunos com surdez e um revisor de Braille. O profissional que atua na educação especial deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. De acordo com a Cartilha de Atendimento Educacional Especial- AEE (2008), alguns conteúdos específicos da formação dos professores de AEE, são eles: •LIBRAS; •Língua Portuguesa para alunos com surdez; •Sistema Braille; •Informática aplicada à produção Braille; •Recursos tecnológicos e informática aplicada à deficiência visual (sintetizadores de voz,lupas eletrônicas, magnificadores de tela para baixa visão); •Produção braille e adaptação de material impresso em tinta; •Recursos ópticos e não ópticos para baixa visão; •Técnica de uso do sorobã; •Adaptação de livros didáticos e de literatura para pessoas cegas; •Avaliação funcional da visão; •Orientação e mobilidade para pessoas cegas; •Escrita cursiva, grafia do nome e assinatura em tinta para pessoas cegas; •Tecnologia Assistiva: comunicação alternativa, informática acessível, materiais pedagógicos adaptados, mobiliário acessível; •Interpretação em LIBRAS; •Instrutor de LIBRAS; •Desenho universal; •Comunicação para o aluno surdo-cego; •Outras Esses professores devem ainda ter uma formação inicial que o habilitem para o exercício da docência e formação específica na educação especial, inicial ou continuada. Algumas atribuições do professor especializado em AEE são identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público alvo da educação especial. Os professores devem também elaborar e executar plano de atendimento educacional especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade. Esses profissionais devem organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncional, acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola e estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade. Não só os professores, mas as famílias também devem ser orientadas sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno, ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de orientação e mobilidade entre outros; de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia, atividade e participação. Deve ser estabelecido uma articulação com os professores da sala de aula comum, visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares, fazendo com que essas atividades tenham a participação da família e a interface com os serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros. CONCLUSÃO Por fim, o atendimento educacional especializado tem grande importância para ajudar o aluno com deficiência se desenvolver na vida escolar, pessoal, social e favorecer a sua inclusão na escola. Pode-se considerar também que a formação dos professores, os que se dedicam ao AEE, além de ser insuficiente, é intensamente influenciada, na atualidade, por perspectivas teóricas que coadunam com a negação do conhecimento para a classe popular. A preparação docente desses professores dá-se de modo emergencial e defende para o professor um conhecimento subentendido e imediato com graves limitações no que diz respeito à compreensão da realidade e à fundamentação teórico-epistemológica. De acordo com Saviani: [...] será necessário instituir um espaço específico para cuidar da formação de professores para essa modalidade de ensino. Do contrário essa área continuará desguarnecida e de nada adiantarão as reiteradas proclamações referentes às virtudes da educação inclusiva que povoam os documentos oficiais e boa parte da literatura educacional nos dias de hoje (SAVINI, 2009, p. 153). A partir dos materiais normativos, nota-se que há uma centralidade no trabalho da SRM e novas exigências ao professor de educação especial que agora trabalha no AEE. Entende-se, então, que a formação do professor e a constituição de uma especificidade para esse serviço são fatores a serem colocados em discussão. Um avanço para a compreensão do trabalho educativo a ser desenvolvido depende do desenvolvimento de pesquisas que contemplem e subsidiem esta área. Não obstante os benefícios que o AEE e a SRM possam significar enquanto apoio para a escolarização dos alunos com deficiência, ressalta-se a urgência da organização de uma formação que considere a realidade de cada contexto e ao mesmo tempo proporcione unidade aos fins dessa atividade docente assegurando clareza ao professor sobre o trabalho que deve desempenhar, bem como conhecimento para que o faça. BIBLIOGRAFIA: Atendimento Educacional Especializado: aspectos legais e orientação pedagógica. Brasília, MEC/SEESP, 2007, p. 13-22. Atendimento Educacional Especializado: aspectos legais e orientação pedagógica. Brasília, MEC/SEESP, 2007, p. 25-42. BAPTISTA, Claudio Roberto. Ação pedagógica e educação especial: a Sala de Recursos como prioridade na oferta de serviços especializados. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v.17, p.59-76, Maio-Ago. 2011. BEYER, Hugo Otto. Inclusão e Avaliação na escola. 3ª Ed. Porto Alegre: Mediação. 2010. BRASIL. 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