A RAZÃO PÁGINA 12 Criança DEZEMBRO / 2012 Espaço infantil Um homem no sótão Ricardo Azevedo E ra um autor de con tos para crianças que passava o tempo inteirinho, inclusive sábados, domingos e feriados, escrevendo histórias para crianças. Morava num sótão na Rua da Consolação e só saía de lá em último caso, ou para comprar xarope na farmácia ou para dar um pulo a alguma livraria. Adorava – que delícia! – ficar em casa, enfiado num sofá velho, imaginando os porquinhos e as princesas, os lobos e as madrastas, as fadas e os bandidos, as bruxas e os piratas, os príncipes e os anões, os dragões e os mocinhos, que depois iria colocar em suas histórias. Uma vez... foi numa sexta-feira, mês de agosto. Fazia um frio de rachar. O autor passara a noite tentando escrever uma história nova, e nada!... Estava sem um pingo de inspiração. De repente, parou, ficou de pé, botou a mão no peito... Aaatchimmm. Tinha apa- nhado um resfriado, mas não estava nem ligando. Acabara de ter uma boa ideia: que tal a his tória de três patinhos e uma raposa desalmada? Sorriu. Foi à cozinha esquentar um cafezinho. De pois, com a máquina de escrever, começou: Aventuras de três pa tinhos na floresta. Era verão, e o tempo estava lindo. As flores alegravam os campos com suas cores e seu perfume. As árvores cheias de frutas coloriam a floresta en- quanto os passarinhos e as borboletas dançavam no azul do céu.” Nas águas de uma lagoa, três patinhos amarelos brincavam e mergulhavam. Não sabiam os pobrezinhos que por perto morava uma raposa desalmada que só tinha dois sonhos na vida: roubar ovos de galinha e comer patinhos amarelos...” Deu um sorriso. A história estava ficando ótima. Que bonita aquela parte em que os passarinhos e as borboletas dançavam no azul do céu!... Nesse momento, inesperadamente, apareceu uma raposa. Estava nervosa. – Agora, chega! – disse ela, subindo na mesa. – Hã? – É isso mesmo. Chega! Já estou por aqui, ó! – Mas... que... quem é você? – Ué, não está vendo? Sou eu, a raposa da sua história. Saí de sua cabeça... – Da... minha cabeça? Que confusão! Não é que a tal raposa era igualzinha àquela que ele tinha imaginado? – Estou cansada de ficar sempre com o papel de bandida, correndo atrás da bicharada, matando e fazendo ruindades. Quem lê uma estória dessas vai pensar o quê? E o pior é que é tudo mentira da grossa. – Espere aí! – disse o autor – mentira da grossa, como? Olhe aqui: vai me enganar que não gosta de comer um patinho assim de vez em quando? Hein? Hum? A raposa sorriu amargamente. O escritor era um homem bom, mas teimoso feito uma mula. Já ia tomando fôlego para continuar a discussão quando três patinhos pularam da sua cabeça e correram para perto da raposa. – Somos os patinhos de sua imaginação. Vie mos defender esta pobre senhora. – ??? – Que papelão, autor! – disse um deles. – Pra que ficar perdendo tempo à toa? A raposa tem toda razão... está na cara... – Mas... – Esqueceu que a gente sempre fez o mesmo com as minhocas e os besouros, e até hoje nin guém escreveu nada sobre isso? Então? Na sua idade e ainda não aprendeu que as pessoas têm que encher a pança? O homem coçou a cabeça. – Essa é boa! Patos defendendo logo quem? Olhou aqueles bichinhos valentes. Espiou a raposa. – É... não sei, não... quer saber? Talvez vocês até tenham razão... Vou ver o que posso fazer. – Não, não e não! Nada de “vou ver o que posso fazer”! – exigiu a raposa – Quero uma promessa. Jure de pés juntos nunca mais escrever tanta mentira. – Jura? – gritaram os patinhos. O autor acabou cedendo. Cheia de felicidade, a raposa suspirou aliviada. Vendo aqueles patinhos ali ao lado, não resistiu: deu um bote sobre eles, que gritaram “socorro!” e fugiram apavorados pela cabeça do escritor adentro... Do livro Linguística de texto: o que é e como se faz, de Luiz Antonio Mar cuschi (Editora Parábola, 2012). Leitura, muita leitura Na edição de novembro, A Razão Criança recomendou que, na medida do possível, adultos ou adolescentes dedicassem um tempo à leitura para crianças, de modo a despertar nelas o interesse pelos livros e a adoção do hábito de ler. A matéria teve ótima repercussão. Foram muitas manifestações de apoio à iniciativa e por isto o Espaço Infantil volta ao tema, nesta edição, com a apresentação de um renomado autor de histórias infantis. Trata-se do paulista Ricardo Azevedo. Vejam como ele define o ato de ler: “O livro é um lugar de papel e dentro dele existe sempre uma paisagem. O leitor abre o livro, vai len- do, lendo e, quando vê, já está mergulhado na paisagem. Pensando bem, ler é como viajar para outro universo sem sair de casa. Ca minhando dentro do livro, o leitor vai conhecer personagens e lugares, participar de aventuras, des- vendar segredos, ficar encantado, entrar em contato com opi niões diferentes das suas, sentir medo, acreditar em sonhos, chorar, dar gargalhadas, querer fugir e, às vezes, até sentir vontade de dar um beijinho na princesa. Tudo é Ricardo Azevedo (foto) é escritor, ilustrador, pes qui sador e tem mais de 90 livros escritos para crianças e jovens. Tem 52 anos e suas principais obras são Um homem no sótão (Áti ca), Armazém do folclore (Ática), No meio da noite escura tem um pé de maravilha! (Áti ca), História de bobos, bocós, burraldos e paspalhões (Projeto), Trezentos parafusos a menos (Com pa nhia das Le tri nhas) e O sábio ao contrário (Senac). Azevedo recebeu quatro prêmios Jabuti e tem livros publicados na Alemanha, Portugal, México e Holanda. É mestre em Letras e doutor em Teoria Literária pela Univer sidade de São Paulo (USP). Coisa de bêbado Conversa inteligente A mosca e a zebra A primeira impressão Dois homens haviam bebido muito. Ao sair do bar, um deles pergunta: – Vamos tomar um táxi? O outro responde: – Não aguento tomar mais nada. Duas vacas estavam pastando. De repende uma disse: – Muuuu A outra apressou e disse à amiga: – Você tirou as pa lavras da minha boca. Cansada de voar, uma mosca pousou no dorso de uma zebra. Ficou ali descansando até que a zebra, irritada com a cara de pau da mosca, protestou: – Você está na minha “listra negra” Joãozinho presenciou esta conversa dos pais: – Querido, você acre dita em amor à primeira vista? – Claro, se eu tiversse te olhado mais de uma vez não teria casado. Olha o fim do ano aí, gente! A passagem de ano é momento de muita alegria e de esperança. E também de expectativa, porque é época de troca de presentes. São tradicionais as brincadeiras de amigo oculto, entre crianças e adultos, no lar, na escola ou nos locais de trabalho. Geralmente, as crianças que “passam de ano” no colégio são as mais agraciadas, como estímulo a que con ti nuem de dicando-se aos estudos. Havia o costume de, em uma noite de dezembro, as crianças deixarem seus sapatinhos na janela durante a noite, porque um certo velhinho de barbas e cabelos brancos viria do Polo Norte em seu trenó puxado por várias parelhas de renas e deixaria nos calçados o presente encomendado. Esse velhi- nho, chamado de Papai Noel, era muito parecido com aqueles que passeiam pelos shoppings, vestidos com uma roupa vermelha e calçados de botas pretas, acompa nhados por um fotógrafo pronto a registrar o momento em que eles abraçam as crianças e depois vendem as fotos para papais e mamães encantados. É costume antigo, em todo o mundo, enfeitar um pinheirinho para as festas de fim de ano. Enfeite o seu, pendure tudo o que quiser (e combinar, claro!) – de bolas coloridas a balas e pirulitos. Use a imaginação e faça a árvore mais linda do mundo. Se necessário, peça ajuda de um adulto. Enquanto a festa não começa, que tal colorir o pinheirnho lá de cima? mentira. Ao mesmo tempo, tudo é verdade, tanto que após a viagem, que alguns chamam leitura, o leitor, se tiver sorte, pode ficar compreendendo um pouco melhor sua própria vida, as outras pessoas e as coisas do mundo!” Por que... ...o arco-íris surge quando chove e depois faz sol? Eis uma questão que é respondida com ajuda da Física. Sempre que chove, milhares e milhares de gotas de água ficam suspensos na atmosfera. Se o Sol aparecer logo depois da chuva, são grandes as chances de os raios solares atravessarem essas gotinhas de água. Com isso, a luz é refletida no interior delas e devolvida ao ambiente na forma das cores que compõem o arco-íris: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. Físicos afirmam que, na verdade, o arco-íris é uma ilusão de ótica, e sua posição depende da localização do observador. Por isso é que, quando você está passeando de carro e vê um arco-íris, a sua impressão é a de que ele o acompanha aonde quer que você vá. Complicado? É que a Física é um pouco difícil mesmo, mas a gente acaba se acostumando. O que você precisa guardar é que o arco-íris se forma por meio da combinação da água da chuva com os raios de Sol e que a luz é refletida na forma de cores variadas.