ROSELI APARECIDA SOUTO INDISCIPLINA NA SALA DE AULA: Dificuldade de Aprendizagem ou Desinteresse do Aluno? Psicopedagoga Clínica e Institucional. Professora Universitária na área da Educação. Licenciada em Letras (Português e Inglês) e em Pedagogia (Administração e Supervisão Escolares). Tutora em EAD na área de Mídias na Educação. São Paulo 2013 RESUMO Sabe-se que a indisciplina de alunos em sala de aula é um dos grandes problemas enfrentados atualmente por educadores brasileiros do ensino fundamental, que em sua grande maioria, acabam desmotivados em parte das vezes, ou afastados de suas atividades por diagnósticos de doenças laborativas diversas. Fatos estes que só colaboram no aumento da problemática citada acima. Cabe ao investigador e estudioso do fato “Indisciplina” a análise das circunstâncias que fazem parte do processo gerador de tais dificuldades dentro do ambiente escolar e ainda a observação dos fazeres pedagógicos de todos os envolvidos, enquanto sujeitos ativos no meio diagnosticado. Desta forma, participantes e responsáveis pelos resultados obtidos. Considerando ainda, o papel do investigador, é de suma importância, o estudo de uma literatura pertinente e condizente com o objeto pesquisado e que tem por base toda a legislação vigente que rege a educação atualmente no país, tais como: Lei Federal n.° 9.394, de 20/12/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional; Lei Federal n.° 8.069, de 13/07/90 - Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, Artigos 53 a 59 e 136 a 137; entre outras mencionadas na bibliografia, que orientou e formou o sistema de ensino nos moldes como são apresentados atualmente. E que desta maneira, novos estudos possam traçar novas perspectivas em rumo à educação do futuro. Assim, problemática e estrutura de ensino estão intrinsecamente ligados. Geradores e norteadores das atuais ações e responsáveis por novos rumos seguidos, que construirão a educação de amanhã neste país. Palavras–Chave: Indisciplina; Ambiente escolar; Fazeres Pedagógicos. 2 INTRODUÇÃO A indisciplina na sala de aula faz parte de uma problemática muito discutida na atualidade, seja dentro do ambiente escolar, no meio acadêmico, nas mídias ou ainda no ambiente familiar. Em todos os casos, discutem-se as dificuldades para apontar soluções cabíveis. O ponto de partida é sempre a escola, que enfrenta e sofre no seu cotidiano às diversidades culturais e epistemológicas de uma geração cujos valores estão notadamente diversificados, onde se confunde desinteresse com dificuldade de aprendizagem. Partindo desse pressuposto, tal problema abrange não só as dificuldades encontradas dentro da família, tais como baixa qualidade de vida, conflitos nas relações familiares, mas também a relação professor-aluno, estrutura escolar e metodologias de ensino. Desta forma, uma linha tênue divide a desmotivação pela aprendizagem com as dificuldades trazidas e acumuladas na trajetória do educando. Assim, quando o objeto de pesquisa trata-se da indisciplina na sala de aula, duas perspectivas podem ser abordadas. A primeira relacionada a problemas advindos da própria instituição de ensino, como práticas pedagógicas e condutas do professor, mas que também podem ser advindas de problemas externos à instituição inserindo práticas excludentes no cotidiano escolar. Já a segunda traz a indisciplina como descumprimento das normas impostas, seja por razões de “revolta” ou pelo simples fato do “não conhecimento” das mesmas. Para Kant em Vaz (1999), alcançar o esclarecimento é ter capacidade de agir autonomamente, percebendo que a educação é o que provoca a evolução do homem. Desta forma, a educação seria responsável por conduzir o aluno ao esclarecimento. Para que esse indivíduo consiga autonomia moral, sendo imprescindível que o ambiente propiciado na escola, seja cooperativo, pois as virtudes morais não são transmitidas verbalmente, mas construídas nas relações interpessoais. Baseando-se na teoria piagetiana, tanto Yves de La Taille (1996 e 1998) como Araújo (1996), afirmam que o desrespeito às normas pode ser sinal de autonomia, significando resistência às imposições e ao autoritarismo. 3 Em se tratando da teoria de desenvolvimento da aprendizagem piagetiana, observa-se as diferenças individuais no aluno em determinadas áreas do saber, cujo enfoque do fracasso escolar está muito relacionado à rápida passagem que os professores fazem do aspecto qualitativo (lógico) para o quantitativo (numérico). Assim, a prática do ensino deveria utilizar o método ativo, por meio do qual a criança reconstruirá e reinventará, não somente a mera transmissão de informações ao aluno, para uma educação formadora do desenvolvimento natural de cada indivíduo. Mas há que se pensar sobre as influências e ou os poderes envolvidos em todo esse processo didático pedagógico e também em que modelos sociais estão sendo representados e reproduzidos ao longo das últimas décadas, que são responsáveis pela apresentação da sociedade nos moldes atuais. Paulo Freire questiona em uma de suas obras: [...] A tradição pedagógica insiste ainda hoje em limitar o pedagógico à sala de aula, à relação professor-aluno, educadoreducando, ao diálogo singular ou plural entre duas ou várias pessoas. Não seria esta uma forma de cercear, de limitar a ação pedagógica? (FREIRE, 1994, p.11) O verdadeiro papel da educação não é apenas em reproduzir modelos já existentes de acordo com gerações anteriores, mas sim com a formação da personalidade do indivíduo crítico, conhecedor de seu espaço no mundo e capaz de interagir com ele na construção de um melhor, onde sejam respeitadas as diferenças individuais e culturais de uma sociedade crítica e esclarecida a tal ponto que o principal interesse seja a diversidade. 4 INDISCIPLINA NA SALA DE AULA: Dificuldade de Aprendizagem ou Desinteresse do Aluno? Ao longo de uma trajetória pedagógica e acadêmica de quase vinte anos, muito foi vivenciado neste percurso, dificuldades enfrentadas e solucionadas, sempre numa incessante busca de novos conhecimentos para a solução de antigos problemas. O ponto mais marcante neste roteiro de aprendizagem segue a necessidade do compartilhamento de práticas adquiridas, na argumentação de teorias acadêmicas e de enfrentamento dos obstáculos diários, que se deparam os docentes do ensino fundamental, e mais especificamente do ciclo II. Em determinado momento, se faz necessário, uma parada para a reflexão de todos esses fatos já interiorizados e num processo vivo de aprendizagem, após a acomodação de novos conhecimentos, resultando na mudança da estrutura cognitiva para que haja uma assimilação efetiva. E partindo desse pressuposto, norteador e encorajador de decisões nunca antes pensadas, é que o ousar se fez de premissa para a elaboração deste projeto de pesquisa. Quanto ao objeto de pesquisa, pode-se afirmar que o tema escolhido: “INDISCIPLINA NA SALA DE AULA: Dificuldade de Aprendizagem ou Desinteresse do Aluno?” faz parte de um questionamento enfrentado ao longo de anos de trabalho pedagógico e de estudos acadêmicos, que apesar das variantes encontradas sempre existiu como agente causador do atraso intelectual no ambiente escolar e dificultador de novas propostas e métodos de ensino. Uma linha muito tênue perpassa entre o que é desinteresse do aluno e as dificuldades de aprendizagens acumuladas em seu percurso escolar. Onde começa um e termina outra? Ou ainda mais preocupante, onde o desinteresse gera a dificuldade e vice-versa? Em que ambiente pedagógico, todas essas dificuldades foram geradas ao longo dos anos? Os questionamentos são muitos, a bibliografia pertinente ao tema é vasta, a legislação em vigor preocupa-se e tenta traçar diretrizes ao fazer pedagógico, na busca incessante para a solução de tais problemas. Porém, há um longo caminho a se percorrer, onde os estudos acadêmicos podem e devem nortear novas linhas de 5 pesquisas geradoras de questionamentos em busca de soluções efetivas para a construção de uma escola de qualidade. Partindo desse pressuposto, o tema para este projeto de pesquisa foi pensado e elaborado minuciosamente, com a preocupação construída através da prática escolar, com a colaboração de estudos acadêmicos efetivados no intuito de aperfeiçoamento das práticas diárias e por fim com o estudo e respeito a toda uma legislação que rege e organiza os fazeres pedagógicos como estão dispostos hoje em nossa sociedade. Segundo Piaget em La Taille (1996); a cooperação, a solidariedade e o respeito mútuo são valores que devem fazer parte do cotidiano escolar, das relações interpessoais na escola. Piaget em La Taille (1996) defende duas alternativas: formar personalidades livres ou conformistas. Como o objetivo da educação é o de formar indivíduos autônomos e cooperativos, é necessário que haja uma escola preocupada em propiciar um ambiente de aprendizagem efetiva capaz de formar meios de cooperação. Um ponto a ser ressaltado é que seja qual for a concepção de indisciplina, ela estará sempre vinculada à concepção de educação e de cidadão. Caso não se opte por uma educação tradicional, de cunho autoritário, também não se deve optar por uma educação permissiva e espontânea, na qual o aluno não se sente responsável pelo seu processo de aprendizagem, defende-se assim, de acordo com Peter Woods, uma educação de abordagem fenomenológica, que: [...] vê a criança mais como uma ‘vela a ser acesa’ do que como um ‘recipiente a ser enchido’, mais como um parceiro ativo do que um parceiro passivo no processo de aprendizagem. Nesta perspectiva, mais centrada na criança do que no saber ou no professor, a criança será desviante se for passiva. (WOODS, 2001, p. 56) Desta forma, a plena consciência do papel de todos os envolvidos dentro do ambiente escolar, se faz de suma importância, que a experiência e a criticidade norteiem os fazeres pedagógicos na busca da excelência do ensino, num ambiente, cujos protagonistas valorizem o cotidiano e as realidades vividas e finalmente reconhecendo a educação como uma relação humana dialética e intrínseca na subjetividade e não apenas na busca de resultados e ou significados absolutos. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, Julio R. Groppa. Indisciplina: o contraponto das escolas democráticas. 4. ed. São Paulo: Moderna, 1998. ARAÚJO, Ulisses F. de. Moralidade e indisciplina: uma leitura possível a partir do referencial piagetiano. In.: AQUINO, Julio Groppa (Org.) Indisciplina na escola: Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1981. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. São Paulo : Paz e Terra, 1994. LA TAILLE, Yves de. A indisciplina e o sentimento de vergonha. Indisciplina na escola.São Paulo: Summus, 1996. LA TAILLE, Yves de. Autoridade na escola. Autoridade e autonomia na escola. São Paulo: Summus, 1999. PIAGET, Jean. O Julgamento Moral na Criança. São Paulo: Mestre Jou, 1977. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. (In)Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad, 2004. Legislação: Lei Federal n.° 9.394, de 20/12/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Federal nº 10.172, de 09/01/01 - Aprova o Plano Nacional de Educação. Lei nº 14.660, de 26/12/07 - Dispõe sobre as alterações das Leis nº 11.229/92, nº 11.434/93 e legislação subsequente, reorganiza os Quadros dos Profissionais de Educação, com as respectivas carreiras, criado pela Lei nº 11.434/93, e consolida o Estatuto dos Profissionais de Educação Municipal. Deliberação CME nº 03/06 - Dispõe sobre o Ensino Fundamental de nove anos no Sistema Municipal de Ensino de São Paulo. Indicação CME nº 07/06 - Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. 7