Avaliação do Burnout nos profissionais médicos dos cuidados de saúde primários do Agrupamento
de Centros de Saúde de Sintra
João Pedro Tomaz1/2, Nélia Reis1, Nádia Câmara1, Luís Mendonça Galaio3, Ema Sacadura Leite3/4,
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Médicos internos de Medicina Geral e Familiar do Agrupamento de Centros de Saúde de Sintra
Médico especialista em Medicina do Trabalho
3
Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar Lisboa Norte
4
Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa; CISP – Centro de Investigação em Saúde Pública, Lisboa, Portugal
2
Introdução: A síndrome de burnout engloba três áreas principais: exaustão emocional,
despersonalização e realização pessoal, podendo comprometer os profissionais e as instituições de
saúde. Consideram-se como fatores de risco em Cuidados de Saúde Primários (CSP) o excessivo de
número de consultas, a exigência dos utentes e o excesso de tarefas burocráticas. Os Agrupamentos
de Centros de Saúde (ACES) são constituídos por unidades funcionais com formas de trabalho distintas
que podem influenciar o nível de burnout dos médicos.
Objetivos: 1) Caracterizar a síndrome de burnout nos médicos de medicina geral e familiar do ACES
Sintra; 2) Identificar os níveis de burnout de acordo com o tipo de unidade funcional do ACES Sintra; 3)
Estudar a variação da síndrome de burnout com variáveis tais como: o sexo, a idade, o ano de
internato, número de anos de especialidade.
Material e Métodos: Foi enviado, por via eletrónica, a todos os médicos do ACES Sintra (153) um
questionário com 27 perguntas (5 de caracterização demográfica e profissional e 22 referentes ao
questionário Maslach Burnout Inventory (MBI-HSS)). Considerou-se risco elevado de burnout mediante
pontuações altas nas escalas de exaustão emocional e de despersonalização e baixas na escala de
realização pessoal. Foram utilizados o teste estatístico de correlação de Spearman e os testes do Quiquadrado ou Exato de Fisher. Foram consideradas diferenças estatisticamente significativas quando p
< 0,05.
Resultados: Obteve-se uma taxa de resposta de 31%. Na amostra em estudo (48), 69% eram do sexo
feminino, 44% tinham idade inferior a 30 anos, 52% eram médicos internos e os restantes médicos
especialistas de MGF. Obtiveram-se mais respostas dos internos do 2º e 3º ano e de especialistas com
mais de 10 anos de atividade profissional. Relativamente ao local de trabalho, 58% pertenciam a
Unidades de Saúde Familiar (USF) tipo B.
Os resultados do MBI indicaram que 44% dos médicos apresentam um score elevado para a subescala
de exaustão emocional e 23% para a subescala de despersonalização, e 94% um score baixo para a
realização pessoal. Obteve-se um risco elevado de burnout em 16,7% dos médicos (8 médicos, sendo 4
médicos internos) e um risco baixo em 6,3%. Foram encontrados mais casos de risco elevado de
burnout em médicos a trabalhar em USF-B. Constatou-se que quanto maior o número de anos de
especialidade menor a realização pessoal dos médicos. (rs=0.439).
Conclusão: A síndrome de burnout parece ser um problema nos médicos do ACES Sintra. Os resultados
finais indicam níveis de exaustão emocional e despersonalização em linha com outros estudos
internacionais mas uma percentagem mais elevada de médicos com baixa realização pessoali. O
fenómeno burnout num grupo de indivíduos parece refletir essencialmente problemas relacionados
com a organização, sendo necessário definir estratégias para este problema.
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Soler JK, Yaman H, Esteva M, et al. Burnout in European family doctors: the EGPRN study. Fam Pract 2008;25:245e65
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