Livro 5 ELEGIA PARA MINHA MÃE (II) Só me resta agora esta graça triste de te haver esperado adormecer primeiro ouço agora o rumor das raízes na noite, também o das formigas imensa, numerosas, que estão, todas, corroendo as rosas e as espigas. Sou um ramo seco onde duas palavras gorjeiam. Mais nada. E sei que já não ouves estas vãs palavras. Um universo espesso dói em mim com raízes de tristeza e alegria. Mas só lhe vejo a face da noite e a do dia. Não te dei o desgosto de ter partido antes. Não te gelei o lábio com o frio do meu rosto. O destino foi sábio: entre a dor de quem parte e a maior — de quem fica — deu-me a que, por mais longa, eu não quisera dar-te. Quem me importa saber e por trás das estrelas haverá outros mundos ou se cada uma delas é uma luz ou um charco? O universo, em arco, cintila, alto e complexo. E em meio disso tudo e de todos os sóis diurnos, ou noturnos, só uma coisa existe. É esta graça triste de te haver esperado adormecer primeiro. É uma lápide negra sobre a qual, dia e noite, brilha uma chama verde.