92 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 PLANTAS UTILIZADAS EM FITOMAGIA NA CIDADE DE LIMOEIRO1 Raquel Ribeiro de Souza2; Ivan Coelho Dantas; Luciana Costa Sobrinha3; Thiago Pereira Chaves4 RESUMO: As religiões afro-brasileiras como o Candomblé e a Umbanda têm como uma das formas de curandeirismo o uso da fitomagia, na qual é retirada das plantas uma espécie de “força” que provoca a cura de malefícios e protege os usuários sejam filhos de fé ou procuradores de defesa espiritual. Essa pesquisa objetivou catalogar as plantas utilizadas na fitomagia na cidade de Limoeiro. O método utilizado foi exploratório, em pesquisa qualitativa e quantitativa realizada in loco nos oito terreiros de Umbanda e Candomblé regularmente cadastrados na Federação Pernambucana. Constatou-se que mesmo sendo considerados pais e mães de santo se dizem na maioria pertencente a religião católica. Informaram que estão sob a orientação de oito guias espirituais e relacionaram 29 plantas que servem de auxilio nas obrigações espirituais e 15 para cura de enfermidades. Conclui-se que precisa de estudo mais aprofundado para maior conhecimento da fitomagia entre os adeptos da Umbanda e Candomblé. Unitermos: afro-brasileira, umbanda, candomblé. PLANTS USED IN RITUAL IN THE CITY OF LIMOEIRO SUMMARY: The Afro-Brazilian religions such asCandomblé and Umbanda use ritual with plants as a form of shamanism, in whichthey extract a kind of "force" from the plants that cures harm andprotects the users which has faith or looks for spiritual defense. This studyaimed to describe the plants used on this kind of ritual in the city of Limoeiro.The method used was exploratory, qualitative and quantitative researchconducted in loco in eight Umbanda and Candomblé places regularlyregistered in Pernambuco Federation. It was found that even they beingconsidered experts in this kind of ritual most of them say they are catholic.They reported to be under the guidance of eight spiritual guides and related 29plants that serve as aid in the spiritual obligations and 15 for the cure ofdiseases. We conclude that it’s necessary further study to better understandingthis kind of rituals using plants in Umbanda and Candomblé. Uniterms: african-Brazilian Umbanda, Candomblé INTRODUÇÃO: Através dos tempos, o Homem, em sua busca pelos caminhos da Magia, usa as folhas, as ervas e as raízes como meio de obter a cura de enfermidades (Farelli, 1994). É conhecida a importância dos vegetais nos rituais afro-brasileiros, tanto o valor simbólico das ervas no contexto geral das religiões de influência africana, como também o efeito que as mesmas causam àqueles que delas se utilizam individual ou coletivamente (...) (Gomes, 2006) Manter símbolos desse passado em seus rituais é manter o contato histórico com um passado que não pode deixar de existir, pois, se assim o for, perderá também o ritual, o continuo religioso a sua função social e mística. 1 Trabalho apresentado para obtenção do grau de Licenciatura em Biologia da primeira autora. 1 Trabalho apresentado para obtenção do grau de Licenciatura em Biologia da primeira autora. 2Biologa;; 3Prof.. Farmacêutico, Departamento de Biologia, CCBS/UEPB, Campina Grande, PB, Brasil , [email protected]; 3 Graduada em Letras com habilitação em língua inglesa pela Universidade Federal de Campina Grande e Graduada em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba, E-mail: [email protected]; 4Biólogo, mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental UEPB: [email protected] 93 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 Um caboclo se remete à mata, à floresta, aos banhos de ervas, à linguagem indígena, e a uma série de símbolos que o identifique com a cultura indígena brasileira. Para que possamos entender o desempenho dos vegetais dentro desses ambientes religiosos, devemos nos ater àquilo que chamamos de espiritualidade. A espiritualidade, todavia, tem uma relação com a religiosidade, visto que esta permite ao homem disciplinar suas ideias sobre o intangível universo de seus pensamentos voltados ao sagrado, obedecendo a doutrinas e regras. E são essas doutrinas e regras que dão sustentação aos sistemas de crença que congregam adeptos para, unidos pelos mesmos anseios e princípios, desempenharem um papel social além da participação restrita, no ambiente religioso (Camargo, 2006). Diante destes dois conceitos, poderemos discutir o porquê da presença das plantas nas mais diferentes situações ritualísticas dos sistemas de crença de origem e influência africana no Brasil. É neste ambiente religioso, que a espiritualidade e a religiosidade, somadas aos poderes da mediunidade que permitem aos seres humanos a comunicação com o sobrenatural. E é nesta comunicação, em contato com as entidades invocadas, que adeptos espíritas vão buscar as soluções para os problemas que os afligem (Camargo, 2006). A presença das plantas nos rituais religiosos de origem e influência africana é primordial, visto que as religiões (Umbanda, candomblé), tais como conhecemos hoje, não poderiam existir sem elas. As folhas estão presentes nos banhos, nas bebidas rituais, nas comidas votivas, nos remédios, nas cremações em incensórios, cachimbos, cigarros e charutos, nos ritos de iniciação, assim como em oferendas. São muitas as espécies botânicas envolvidas por estes sistemas de crença, que nos levam a um questionamento sobre o porquê da escolha de cada uma delas e qual sua relação com os papéis que desempenham dentro dos rituais (Camargo, 2005). Essa pesquisa teve como objetivo Catalogar as plantas utilizadas na fitomagia na cidade de Limoeiro - PE. relacionar as plantas e suas atividades na fitomagia; determinar as plantas catalogadas em nome popular, linguagem afro – brasileira, família e espécie; verificar o uso místico e terapêutico das plantas utilizadas e identificar as entidades espirituais, linha de ação e as plantas citadas em cada ritual. MATERIAL E MÉTODO A pesquisa foi realizada em 20(vinte) terreiros de Umbanda e Candomblé junto a 2 (dois) pais e 18(dezoito) mães–de–santo no período de 27 de maio a 30 de junho de 2009, nos seus respectivos terreiros que funcionam ativamente no agreste de Pernambuco, na cidade de Limoeiro. O estudo foi exploratório, a pesquisa realizada in loco nos terreiros de Umbanda e Candomblé sendo todos regularmente cadastrados na Federação Pernambucana. Sendo por sua vez qualitativa e quantitativa a medida que foi organizado um questionário visando a situação sócio – econômica dos entrevistados. Localização e Caracterização da Área Pesquisada A cidade de Limoeiro localiza-se a uma latitude 07º52'29" sul e a uma longitude 35º27'01" oeste, estando a uma altitude de 138 metros acima do nível do mar. Sua religião varia entre católica, evangélica, espírita kardecista e umbandista. Crescente também a presença das Testemunhas de Jeová, tendo na cidade varias congregações, as quais se reúnem nos chamados Salão do Reino, alguns deles recém inaugurados (Wikipédia, 2009). 94 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 Fonte: Mapas do Brasil Amostra Foi escolhida através de indicação por parte dos Pais e Mãe-de-santo a Comunidade afro – brasileira da cidade de Limoeiro/PE que fica no agreste setentrional. Parte do material vegetal foi utilizada para confecção de exsicata que foi depositada no Herbário da ACAM/UEPB . Instrumento de Coleta de Dados Foi permitido o registro de fotos assim como a visualização de cultos nos referidos terreiros. Foi utilizado um questionário sócio – econômico (Anexo I), respondido pelos pais e mães de santo. E outro questionário (Anexo II) sobre as plantas utilizadas nos rituais. Análise dos Dados Após a coleta de dados, os mesmo foram adicionados ao Excel for Windows 2007, para confecções dos gráficos (Figuras) e as tabelas foram confeccionadas no Word for Windows 2007. RESULTADO E DISCUSSÃO: A tabela 01 indica o percentual das religiões citadas pelos entrevistados com maior número para a religião católica, verificando que 25% assumem pertencerem a religião espírita. No Brasil, o termo "espiritismo" é historicamente utilizado como designação por algumas casas e associações das religiôes afro-brasileira, e seus membros e frequentadores definem-se como "espíritas". TABELA 01: Frequência e percentual da religião considerada pelos pais e mães de Santo. RELIGIÃO FREQUENCIA PERCENTUAL 15 75 Católico 0 0 Evangélico 5 25 Espírita 95 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 Gomes et al (2008), observa-se que há uma certa confusão entre os seguidores da religião afro-brasileira, em definir qual a sua verdadeira religião. Acredita-se que esta dificuldade se dê devido ao sincretismo religioso que se formou, ao misturar as crenças da religião católica do Brasil, com os rituais das religiões africanas trazidas pelos negros durante o período da escravidão. Verifica-se que 60% dos babalorixás e ialorixás entrevistados têm ou tiveram vinculo com a religião católica. Segundo o recenseamento de 2000, apenas 0,3% da população brasileira adulta declaram-se pertencentes a uma das religiões afro-brasileiras, o que corresponde a pouco mais de 470 mil seguidores, embora pesquisas feitas com metodologia mais precisa indicam valores maiores, da ordem de pelo menos o dobro das cifras encontradas pelo censo (Pierucci e Prandi, 1996). Segundo Teixeira (1999), “o candomblé pode ser definido como uma manifestação religiosa resultante da reelaboração das várias visões de mundo e ethos provenientes das múltiplas etnias africanas”, além do ethos e visão de mundo de europeus e índios. Por exemplo, na formação do candomblé ketú, objeto deste estudo, os povos “jeje, em Salvador, teriam adotado a hierarquia sacerdotal, os ritos e a mitologia dos nagôs”, além de algumas contribuições absorvidas do catolicismo, embora sob a hegemonia do sistema religioso nagô. O catolicismo está muito ligado as religiões afro-brasileira, esse fato é histórico embora ligados a perseguições como relata Sá Junior (2004). Não é possível deixar de registrar, ainda sobre a figura do Caboclo das Sete Encruzilhadas ou Padre Malagrida, a lembrança que ele traz à tona sobre a igreja católica medieval e moderna. O relato não deixa de ser uma resposta às acusações que os macumbeiros e umbandistas sofrem da igreja, que os trata como atrasados, bárbaros e incivilizados, logo aquém de poder ocupar um espaço no progressista mundo da república. Ao lembrar o passado inquisitorial e das fogueiras católicas, a mensagem ganha um caráter acusatório. Ele traz à tona práticas que, por certo, seriam identificadas com os adjetivos acima imputados aos adeptos da Macumba e Umbanda. Como mostra a figura 01, dentre os oito guias espirituais os mais citados estão Xangô, Ogum e Zé Pelintra com 15% cada e o maior percentual ficou para Pomba-gira com 30%. Barros (2007) observa que cada um destes espaços “naturais” ou de “natureza construída” estão relacionados a um grupo de ou “guias”: a mata dos caboclos; a cachoeira de Oxum e das caboclas do rio; a praia de Iemanjá, marinheiros e sereias; o cemitério de Obaluaiê e a determinado grupo de exus; a encruzilhada dos exus e das pombas-gira; a rua de exus, pombas-gira e malandros. Pomba-gira Zé Pelintra 15% Ogum 10% 15% 5% 5% 15% Oxum 15% 5% 30% Xangô Iansã Exu Orixalá FIGURA 01: Percentual dos Guias Espirituais dos Pais e Mães de Santo. 96 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 Como destaca Melo et all (2001) com o Centro aberto, ele começou a receber seus Guias, e não recebia com frequência sua Pomba-Gira. Com o passar do tempo, ele começou a perceber a força espiritual feminina que precisava vir para lhe ajudar, e ajudar ao próximo com sua força, normalmente, os guias que dão consultas (Preto velhos, Exus e Caboclos) são os mais atuantes em um terreiro, fazendo com que essas sessões demorem mais que os rituais, e os Guias eram classificados em 7 linhas: a Linha de Iemanjá, Linha de Xangô, Linha de Oxóssi, Linha de Ogum, Linha de Pretos – Velhos, Linha de Criança e Linha de Exu. Benedito (2006) descreve o Exu é Seu Zé Pelintra, como um sujeito de terno branco, gravata vermelha, cravo na lapela, chapéu caído na testa. Oferecendo conselhos de amor ou resultados de jogos de azar, como loteria e bicho, Seu Zé ajuda seus consulentes menos favorecidos a resolver os problemas mais contumazes: os de caráter financeiro ou afetivos. Mas Zé Pelintra é bem mais do que o malandro que sempre se apresenta nas giras de exu. Em parceria com Tranca Ruas, Zé Pelintra redimensiona a gira de exu, ao contrário do ambiente soturno e obscuro da gira tradicional, Seu Zé traz consigo um novo elemento performático ao ambiente umbandista, na medida em que incorpora os valores sociais mais comuns às classes menos favorecidas. A Tabela 02, verifica-se que foram citadas 29 plantas, atribuídas aos Orixás, a freqüência em que as plantas foram citadas, seu nome popular e nome científico, observa-se que uma mesma planta é utilizada por vários orixás. TABELA 02: Frequência das Plantas atribuídas aos Orixás com nome popular e nome cientifico Orixás Nome popular Nome cientifico Frequência Exú Arruda Ruta graveolens 7 Aticum Annona sp 5 Capim-navalha Não identificada 17 Coça-coça Não identificada 3 Maliça Mimosa sensitiva 12 Mulungu Erythrina velutina 10 Urtiga-branca Urtica dioica 18 Ogum Espada-de-sào-jorge Sansevieria trifasciata 13 Mangueira Mangifera indica 11 Cajarana Spondias cytherea 6 Colônia Alpinia speciosa 8 Oddé Quebra-pedra Phyllanthus niruri 20 Colônia Alpinia speciosa 7 Macaça Aeolanthus suaveolens 3 Malva-rosa Pelargonium graveolens 9 Manjericão Ocimum Basilicum 14 Erva-santa Mentha Piperita 12 Vassoura-de-botão Spermacoce verticillata 11 Iansã Mangueira Mangifera indica 18 Macaça Aeolanthus suaveolens 20 Lacre Vismia guianensis 6 Erva-santa Mentha Piperita 17 Continua 97 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 Continua Xangô Pitangueira Colônia Urtiga-vermelha Romã Carrasco Stenocalyx michelli Alpinia speciosa Urtica urens Punica granatum Quercus coccifera 20 20 20 20 17 Malva-rosa Folha-da-fortuna Manjericão-menino Pelargonium graveolens Kalanchöe blossfeldiana Ocimum minimum 15 20 3 Manjericão-graúdo Erva-santa Alecrim Gorfe-azul Malva-rosa Ocimum Basilicum Mentha Piperita Rosmarinus officinalis Não identificada Pelargonium graveolens 19 3 20 20 4 Tapete-de-orixalá Pinha Corona-branca Alecrim Eucalipto Colônia Golfe-branco Tetradenia reparia Annona squamosa Bryophyllum calycinum Rosmarinus officinalis Eucalyptus citriodora Alpinia speciosa Não identificada 10 5 20 20 20 16 3 Manjericão-menino Malva-rosa Erva-doce Colônia Ocimum minimum Pelargonium graveolens Pimpinella anisum Alpinia speciosa 17 12 9 4 Carrasco Laranjeira Colônia Manjericão Erva-santa Quercus coccifera Citrus aurantium Alpinia speciosa Ocimum Basilicum Mentha Piperita 20 13 11 10 3 Figueira Golfe-roxo Mata-pasto Manjericão-graúdo Jambeiro-roxo Erva-santa Ficus sp Não identificada Senna occidentalis Ocimum Basilicum Eugenia malaccensis Mentha Piperita 7 5 1 16 20 19 Oxum Iemanjá Orixalá Ibeje Obaluaê Nana Uso Místico das Ervas O ato de enunciação ritual da encantação interfere, nestas culturas, tanto nos resultados decorrentes das práticas (medicinais ou mágicas) quanto no próprio nome atribuído às plantas, uma vez que os parâmetros de nomeação não obedecem, nestes grupos, aos mesmos códigos 98 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 da ciência moderna. Embora Ossain seja a divindade “dona das ervas”, a quem se pede permissão para colhê-las, cada orixá tem suas plantas específicas, o que remete a um complexo sistema classificatório das plantas utilizadas ritual e medicinalmente (Oliveira, 2008).. O ato de enunciação ritual da encantação interfere, nestas culturas, tanto nos resultados decorrentes das práticas (medicinais ou mágicas) quanto no próprio nome atribuído às plantas, uma vez que os parâmetros de nomeação não obedecem, nestes grupos, aos mesmos códigos da ciência moderna. Embora Ossain seja a divindade “dona das ervas”, a quem se pede permissão para colhê-las, cada orixá tem suas plantas específicas, o que remete a um complexo sistema classificatório das plantas utilizadas ritual e medicinalmente. Na Tabela 03 verifica-se o uso místico das plantas onde observou-se que as foram citadas 29 plantas, para o uso nas obrigações no terreiro, e indicações nos diversos tratamentos dos participantes: TABELA 03: Plantas com seus respectivos usos místicos. Plantas Uso místico Espada-de- são- Jorge usado no banho para limpeza do filho de Ogum antes de fazer a obrigação, ou seja, dar axé ao filho Quebra- Pedra usada no banho dos filhos de Oddé, limpando o filho para receber o axé Macassá é usado para preparar o amassi Manjericão miúdo, graúdo, golfe azul e figo ervas que servem para os filhos de Iemanjá para banho de limpeza Vassoura-de-botão é usado nos banhos de limpeza para os filhos de Orixalá e Oddé Matapasto, jambo roxo, laranja comum e é usado para banho de limpeza quando eles baía, golfe roxo vão dar obrigação ao seu santo (espécie de sacrifício) Cajá e cajarana servem como banho d limpeza e lavagem dos depósitos dos santos Tapete de orixalá, alecrim, golfe branco, são usadas para banho de limpeza dos filhos folha de pinha e de fortuna, corona branca de Orixalá além de servir para aguar as casas e o próprio terreiro Maliça, urtiga, capim navalha são batidas nos pés d Exu e são usadas como amassi para lavar os ibás (depósitos) não são usadas para o banho. Aticum, arruda, mulungu são usadas para banho de descargas para tirar maus fluidos e maus olhados Lacre, manga espada são usadas como amassi para banhos de limpeza dos filhos de Iansã e para lavar os depósitos Carrasco, folha de pitanga e de romã serve para banho de limpeza quando os filhos estão com algum atrapalho advindo de punição dos seus orixás O ato de enunciação ritual da encantação interfere, nestas culturas, tanto nos resultados decorrentes das práticas (medicinais ou mágicas) quanto no próprio nome atribuído às plantas, uma vez que os parâmetros de nomeação não obedecem, nestes grupos, aos mesmos códigos da ciência 99 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 moderna. Os elementos de distinção entre atos mágicos e atos religiosos são os agentes que efetuam um ou outro ritual e a escolha dos lugares onde estes devem acontecer. No caso das práticas brasileiras, considera-se que existe uma alternância destes elementos de distinção, sem regras rígidas: o mesmo agente pode efetuar ora um ritual mais litúrgico, ora um ritual mais ligado a práticas mágico-simbólicas, e essa alternância também é pertinente quando se trata dos locais em que as práticas acontecem, podendo ocorrer em espaços sacralizados pelas religiões envolvidas ou acontecer em ambientes não litúrgicos, no cotidiano e em espaços comuns (Oliveira, 2008). Uso Medicinal Na Tabela 04, verifica-se o nome popular, nome cientifico, parte usada da planta e as indicações terapêuticas destas plantas, foram citadas 15 plantas, as indicações foram diversificadas, recomendaram para problemas renais, dores diversas, febre, tosse, diarréia e problemas do estômago. TABELA 04: Plantas, parte usada e utilidade. Nome popular Nome cientifico Carambola Averrhoa carambola L Quebra-pedra Phyllanthus niruri L. Lacre Vismia guianensis (Aubl.) Pers, Colônia Alpinia speciosa Schum Eucalipto Eucalyptus citriodora Hook Malva-rosa Pelargonium graveolens Airt. Parte usada Folha Parte aérea Folha Folha Folha Macaça Aeollanthus suaveolens Mart Folha Romã Pitangueira Corona-branca Laranjeira Punica granatum L. Eugenia uniflora Linn. Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers. Citrus aurantium L. Fruto Folha Folha Folha Arruda Mulungu Mata-pasto Vassoura-debotão Ruta graveolens L. Erythrina vellutina Wild Senna Spermacoce verticillata G.F.W.. Meyer Folha Casca Raiz (L.) Utilidade Problemas renais Problemas renais Problemas renais Febre Febre Dor de barriga, comida que ofende Dores no coração (angina) Dor na garganta Diarréia Gastrite Acalma os nervos e para dormi. Dores intestinais Tosse Tosse Estômago Comparando com a pesquisa realizada por Gomes et al (2008), foi catalogadas 101 plantas, apenas 21 recebem a denominação em iorubá. Este desconhecimento por parte dos babalorixás e ialorixás ocorre, talvez, porque, além de antiga, a língua iorubana é oral e esta oralidade pode ter sofrido significativas perdas no decorrer dos tempos. O orixá Obá é cultuado, mas segundo relatos de pais de santo ele se encontra em um estágio mais avançado podendo não mais incorporar nos seus filhos e sendo apenas citado nas giras e cultos realizados pelos terreiros de Candomblé. No que se refere a Egum, poucos são os pais de santo que o cultua, uma vez que se trata de babalorixás e ialorixás que não fazem mais parte deste plano espiritual, ou seja, já faleceram e agora vem à terra como “ventos” que ficam por baixo de roupas especiais e que têm uma babalaô preparado para recebê-los. Entre os entrevistados apenas um revelou em conversa que existia em seu terreiro um lugar especial e isolado no qual cultuava os Eguns e que poucos sabiam da 100 _____________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 07– Número 02 – 2012 existência da mesma, este entrevistado preferiu manter oculta a citação deste lugar na entrevista realizada com ele. O uso racional das plantas obedece a regras que distinguem duas utilizações terapêuticas, a religiosa e a medicinal , sendo que no primeiro caso a ação é simbólica e no segundo é efetiva, participante . A relação das plantas com este ou aquele orixá, as ligações dos orixás com as várias partes do corpo humano (anatomia mística), ou as virtudes intrínsecas das plantas e ervas utilizadas podem interferir na seleção das mesmas para uso ritual ou medicinal. CONCLUSÃO Ao termino da pesquisa foram catalogadas 29 plantas atribuídas a diversos orixás, a maioria dos entrevistados se dizem católicos e trabalham com 11 entidades espirituais e linhas. Para fins terapêuticos foram citadas 15 plantas e quanto ao uso místico observou-se que foram citadas 29 plantas usadas nas obrigações no terreiro. REFERÊNCIAS Barros, S.C. (2007). Geografia Mítica da Umbanda: Usos e Apropriações Simbólicas dos Espaços Urbanos. Espaço & Geografia, Vol.10, No 1 23:49 Benedito, J.C. (2006). Religões e religiosidades populares. o conflito religioso e a simbiose de ritos e performances entre neopentecostais e afro-brasileiros. universitas humanística no.61 enero-junio pp: 231-253. Camargo, M. T.L. de A. (2005). As folhas dos ritos afro – brasileiros e seus agentes ativos, do ponto de vista etonofarmacobotânico. Disponível na internet<www.aguaforte.com/herbarium/FOLHASRITOSAFROBRASAGE... - 31k > Acesso em 28/05/2009. Gomes, H.H.S; Dantas, I. C; Catão, M.H.C. de V. 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