Pró-Reitoria de Graduação Curso de Letras Trabalho de Conclusão de Curso MÉTODOS E PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA PARA ALUNOS COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE Autor: Stela Maris Lima Martins Orientador: Prof. Drª. Virgínia Andrea Garrido Meirelles Brasília - DF 2011 STELA MARIS LIMA MARTINS MÉTODOS E PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA PARA ALUNOS COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE Monografia apresentada ao curso de graduação em Letras Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Letras com Habilitação em Inglês e Literaturas em Língua Inglesa. Orientador: Prof. Drª. Virgínia Andrea Garrido Meirelles Brasília 2011 BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________________ Prof. Drª Virgínia Andrea Garrido Meirelles _______________________________________________________________ Prof. MSc. Deise Ferrarini ________________________________________________________________ Prof. MSc. Layane Rodrigues de Lima Dedico este trabalho aos meus alunos, que me ensinam a cada dia. Aos professores, que me deram o caminho das pedras. AGRADECIMENTO Agradeço ao meu Senhor Jesus por ter me ajudado nos momentos difíceis desta caminhada. Sem ele não chegaria até aqui. Aos meus pais, pela paciência e dedicação. Aos meus professores, em especial a Virgínia, com quem tive aulas em todos os semestres desta minha segunda graduação e com quem aprendi muito durante todos eles. Agradeço também, com especial carinho, ao meu marido, que teve paciência, amor e que trabalhou muito para que eu realizasse este sonho. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Paulo Freire RESUMO MARTINS, Stela Maris Lima. Métodos e Práticas de Ensino de Língua Inglesa para alunos com Déficit de Atenção e Hiperatividade. 2011. 34p. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação. Curso de Letras. Universidade Católica de Brasília. Brasília. 2011. O presente trabalho objetiva analisar qual método de ensino de Língua Inglesa se ajusta melhor a realidade do aluno com Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e quais práticas de ensino favorecem o aprendizado destes educandos. A pesquisa inicia-se com uma discussão teórica dos sintomas de TDAH, das causas, das estratégias de ensino-aprendizagem adequadas para as características neurocomportamentais deste grupo de educandos e dos métodos de ensino de Língua Inglesa que podem ser utilizados no ensino regular. Com efeito, o primeiro capítulo apresenta a definição do termo Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); os sintomas, as possíveis causas e as características deste transtorno; os critérios do DSM-IV para o diagnóstico do TDAH, bem como a descrição e a análise destes critérios. Neste capítulo também há uma reflexão sobre os problemas escolares de crianças com TDAH. Diante disso, relatam-se algumas estratégias de ensino-aprendizagem para alunos com este transtorno e a busca de algumas soluções para amenizar os problemas causados por ele. Este capítulo é concluído com um estudo dos métodos de ensino de Língua Inglesa e a seleção de um destes métodos que tem melhor adequação às necessidades destes alunos. Segue-se, no segundo capítulo, a descrição da aplicação do método selecionado e do método tradicional de ensino de Língua Inglesa em salas de ensino regular. Ao final, faz-se uma análise dos dados comparando as aulas com o método tradicional e as aulas com o método selecionado. Também há uma reflexão das vivências e experiências dos educandos durante o processo de ensino-aprendizagem Palavras-chave: TDAH, Métodos, Práticas, Ensino-aprendizagem, Educandos. ABSTRACT MARTINS, Stela Maris Lima. Methods and Practices of Teaching English to students with Attention Deficit Hyperactivity Disorder. 2011. 34p. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação. Curso de Letras. Universidade Católica de Brasília. Brasília. 2011. The present work intended to analyze which method of teaching English language fits better the reality of the student with attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) and teaching practices which encourage the learning of these students. The research begins with a theoretical discussion of ADHD symptoms, causes, strategies for teaching and learning appropriate for the neurobehavioral characteristics of this group of students and the teaching methods of English language that can be used in mainstream education. Indeed, the first chapter introduces the definition of the term attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) symptoms, possible causes and characteristics of this disorder, the DSM-IV diagnosis of ADHD, as well as the description and analysis these criteria. In this chapter there is also a reflection on the school problems of children with ADHD. Therefore, we report some teaching and learning strategies for students with this disorder and the search for some solutions to minimize the problems caused by it. This chapter concludes with a study of methods of teaching English Language and a selection of these methods is proved adjustment to needs of these students. It follows, in the second chapter, the description of the method selected and the traditional method of teaching English in regular education classrooms. At the end, it is an analysis of data comparing with the traditional classes and classes with the selected method. There is also a reflection of life experiences and experiences of students during the process of education and learning. Keywords: ADHD, methods, practices, education and learning, students SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………... 9 2. TDAH – DEFINIÇÃO, SINTOMAS E CARACTERÍSTICAS......................................11 2.1. OS CRITÉRIOS DO DSM-IV.......................................................................................11 2.2. POSSÍVEIS CAUSAS DO TDAH................................................................................14 2.3. OUTRA PERSPECTIVA – CONVIVENDO COM O TDAH......................................15 2.4. PROBLEMAS ESCOLARES DE CRIANÇAS COM TDAH......................................19 2.5. ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM PARA ALUNOS COM TDAH.......................................................................................................................................20 2.6. MÉTODOS E PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA PARA ALUNOS COM TDAH.............................................................................................................................22 3. PRÁTICAS E ANÁLISE DO MÉTODO TOTAL PHYSICAL RESPONSE EM COMPARAÇÃO AO MÉTODO TRADICIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA EM ESCOLAR REGULAR................................................................................25 4. CONCLUSÃO.....................................................................................................................30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................31 ANEXO....................................................................................................................................32 9 1. INTRODUÇÃO A inclusão de alunos especiais em escolas regulares é uma realidade nos dias atuais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996, no artigo 58 define, “entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” (Lei nº 9.394, de 20 de dez de 1996). Hoje em dia, os alunos com diversos tipos de necessidades especiais estão inseridos no contexto escolar. Contudo, o aluno graduado em licenciatura, em geral, não conhece essa realidade em seu meio acadêmico. Somente em 2008 foi obrigatório o ensino de LIBRAS nas universidades e faculdades brasileiras. Porém, as necessidades especiais do educando de inclusão vão muito além da surdez. Ao abrir o diário em qualquer escola pública do DF, o professor pode se deparar com diversas siglas até então desconhecidas por ele em seu meio acadêmico: DI, DF, DV, TC, DA, TDAH1, etc. Essas siglas, na verdade, são um retrato das necessidades especiais dos alunos que deveriam ser assistidos de modo diferenciado no seu meio de inclusão. Uma das necessidades especiais mais frequentes nos diários e no dia-a-dia das salas de aula é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o TDAH. Nas escolas públicas e particulares do país há a prevalência de TDAH em 4% a 12% dos estudantes, de acordo com 11 estudos realizados no Brasil por Rodhe, Busnello, Chachamovitch, Vieira, Pinzon e Ketzer2. Os sintomas deste transtorno desencadeiam dificuldades acadêmicas consideráveis como fraco desempenho escolar, altas taxas de desobediência e agressividade e perturbações nos relacionamentos com colegas. Devido a essa realidade, esta monografia visa à busca de métodos e práticas que amenizem os problemas causados pelo TDAH. Este trabalho tem como finalidade o estudo e análise das possibilidades de ensino para alunos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hipertividade (TDAH) nas escolas de ensino regular. Devido a essa realidade nas salas de aula, pretendemos neste trabalho pesquisar qual método de ensino de Língua Inglesa se adequaria melhor às necessidades do aluno TDAH; qual deles seria mais 1 Estas siglas significam, respectivamente, deficiência intelectual (antigamente intitulada deficiência mental), deficiência física, deficiência visual, Transtorno de Conduta, deficiência auditiva e Déficit de Atenção e Hiperatividade. 2 Pesquisa realizada no Rio de Janeiro e publicada em: Rodhe LA, Busnello EA, Chachamovitch E, Vieira GM, Pinzon V, Ketzer CR. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: revisando conhecimentos. Revista ABPAPAL, 1998. 10 apropriado à realidade desses alunos e que estratégicas podem ser utilizadas para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem desses estudantes. Para isso objetivamos conhecer os sintomas de TDAH, as causas, as estratégias de ensino-aprendizagem para este grupo de educandos e os métodos de ensino de Língua Inglesa que podem ser utilizados no ensino regular. Em seguida, os alunos com TDAH, inseridos em suas turmas atuais, serão observados no momento da utilização de dois métodos selecionados. Os dados das observações serão relatados para que se conclua que métodos são mais apropriados para esses alunos. Ao me formar em Licenciatura de Língua Portuguesa e ao encarar o mercado de trabalho, me deparei com grandes dificuldades para lidar com a inclusão nas escolas. Já em minha primeira coordenação coletiva, na primeira semana antes começarem as aulas, fui questionada pelos coordenadores sobre como trabalhar com crianças com dislexia e com TDAH. Na hora, percebi que eu precisava deste conhecimento e que eu deveria buscá-lo para ser uma melhor professora. Entendi que mesmo diante de todo o conhecimento acadêmico a respeito de Linguística e Literatura, eu ainda precisava conhecer a realidade dos meus alunos, pois eu não os alcançaria sem entendê-los. De acordo com Lara, “a construção do conhecimento ocorre, também, por meio da interiorização da experiência sociocultural dos adultos e do meio que cerca a criança, por isso o ambiente da sala de aula deve ser de troca e de cooperação” (1996, p. 27). Percebi que, para transmitir de forma adequada o conhecimento que adquiri durante a graduação eu deveria me interar do “mundo” de meus alunos, de suas vivências e experiências. De acordo com Salvador: construímos significados integrando ou assimilando o novo material de aprendizagem aos esquemas que já possuímos de compreensão da realidade. O que empresta um significado ao material de aprendizagem é, precisamente, a sua assimilação, a sua inserção nesses esquemas prévios. (1994, p. 30) Para conseguirmos juntos quebrar as barreiras que os impediam ter acesso ao conhecimento formal, eu deveria ajudá-los a utilizar suas dificuldades como escadas para alcançarmos as habilidades e competências devidas para cada etapa de conhecimento. De acordo com Lara, “uma aprendizagem é significativa quando tem sentido para o aluno. Ele aprende o que quer saber, envolve-se como um todo, tanto o seu pensamento, como o seu sentir” (1996, p. 21). A aprendizagem significativa envolve, necessariamente, o significado, pois o conteúdo precisa fazer sentido para o aluno, levando-o a se sentir comprometido a assumir a sua parcela de responsabilidade pela própria aprendizagem. 11 2. TDAH – DEFINIÇÃO, SINTOMAS E CARACTERÍSTICAS O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é o distúrbio neurocomportamental mais comum da infância. De acordo com Mercuriano, “a apresentação clínica do TDAH compreende três categorias principais de sintomas — desatenção, impulsividade e hiperatividade — que se manifestam em ambientes diferentes e causam comprometimento funcional” (1999, p. 835). Sabe-se também que o TDAH começa no início da vida e pode persistir na adolescência e idade adulta. De acordo com Barkley e Pastor & Reuben, “estudos epidemiológicos indicam que aproximadamente 3-7% das crianças norteamericanas podem ter o diagnóstico de TDAH” (2008, p.3). Já no Brasil, 11 estudos epidemiológicos comunitários mostraram que a prevalência deste transtorno é ainda maior, ficando entre 4% e 12%. Um estudo brasileiro analisando amostras de escolas de Niterói – RJ encontrou uma prevalência de 17, 1%. Uma vez que a maior parte das salas de aula brasileiras de ensino fundamental e médio inclui pelo menos 35 alunos, estima-se que ao menos 2 crianças em cada uma dessas classes terá TDAH. De acordo com Thomas W. Phelan, “o nome Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) surgiu pela primeira vez em 1980, no assim chamado DSM – III (sigla em inglês para o Manual Diagnóstico dos Distúrbios Mentais, terceira edição)” (2005, p.14). Com o passar dos anos, este Manual foi se desenvolvendo até denominar este transtorno como TDAH, em que se reconhecia o fato de que tanto a desatenção quanto a inquietação estavam frequentemente envolvidas no distúrbio. A publicação do DSM-IV, em 1994, foram estabelecidos subtipos de TDAH. De acordo com esta publicação, vários critérios devem ser cumpridos para que um indivíduo se qualifique como portador de TDAH. 2.1. OS CRITÉRIOS DO DSM-IV Recentemente, há um consenso emergente no conceito de TDAH. De acordo com a American Psychiatric Association, “este transtorno é caracterizado pela exibição de frequências inapropriadas, em termos de comportamento, de desatenção e/ou hiperatividadeimpulsividade” (apud DU PAUL, 2000, p. 21). Conforme Barkley, “essas duas dimensões de comportamentos levam a prejuízo no funcionamento, no qual a criança com TDAH demonstra dificuldades com o adiantamento da resposta ao ambiente, o desenvolvimento de autocontrole e a manutenção do desempenho constante no trabalho ao longo do tempo” (2005, p. 75). Os comportamentos ou sintomas que compreendem o TDAH, de acordo com os critérios do DMS-IV, são relacionados na Tabela 1.1 a seguir extraída da American Psychiatric 12 Association (1994) e reimpressa no livro “TDAH nas escolas”, de J. DuPaul. Para serem considerados sintomas de TDAH, os comportamentos devem ter começado nos primeiros anos da infância e devem ser exibidos cronicamente em dois ou mais contextos. A criança deve exibir, de acordo com relatos, pelo menos seis dos nove sintomas de desatenção e/ou pelo menos seis dos nove comportamentos de hiperatividade-impulsividade. A definição atual de TDAH inclui uma lista de 18 sintomas comportamentais divididos em dois conjuntos (desatenção e hiperatividade-impulsividade) de nove sintomas cada, descritos na tabela abaixo: TABELA 1.1 – Sintomas do DSM-IV para Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade Sintomas de desatenção (1) Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram por pelo menos seis meses, em grau mal-adaptativo e incoerente com o nível de desenvolvimento: (a) frenquentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho e outras; (b) com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas; (c) com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra; (d) com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções); (e) com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades; (f) com frequência evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em atividades que exijam esforço mental constante ( como tarefas escolares ou deveres de casa); (g) com frequência perde coisas necessárias para as tarefas ou atividades (por exemplo, brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais); (h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa; (i) com frequência apresenta esquecimento a atividades diárias; Sintomas de hiperatividade-impulsividade (2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade-impulsividade persistiram por pelo menos seis meses, em grau mal adaptativo e incoerente com o nível de desenvolvimento: (a) frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira; (b) frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; (c) frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação); (d) com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; (e) está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo o vapor”; (f) frequentemente fala em demasia; (g) frequentemente dá respostas precipitadas antes das perguntas terem sido completadas; (h) com frequência tem dificuldade para aguardar sua vez; (i) frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo, intromete-se em conversas ou brincadeiras). 13 Existem três subtipos de TDAH: tipo combinado, tipo predominantemente desatento e tipo predominantemente hiperativo-impulsivo. As crianças com o tipo combinado exibem pelo menos seis dos nove sintomas de desatenção e pelo menos seis dos nove sintomas de hiperatividade-impulsividade. O tipo desatento é indicado para crianças que exibem pelo menos seis dos nove sintomas de desatenção, mas menos que seis sintomas de hiperatividadeimpulsividade. Inversamente, as crianças com TDAH do tipo hiperativo-impulsivo exibem pelo menos seis sintomas de hiperatividade-impulsividade, mas menos que seis sintomas de desatenção. As crianças com TDAH do tipo predominantemente desatento exibem problemas significativos de desatenção na ausência de impulsividade e hiperatividade perceptíveis. “Existem evidências iniciais de que crianças com TDAH com predomínio da desatenção têm maiores problemas de recuperação de memória e velocidade de perceptual-motora que seus colegas impulsivos-hiperativos” (BARKLEY, DUPAUL & MCMURRAY, 1990). “Além disso, essas crianças são descritas por pais e professores como mais “atrasadas” em termos cognitivos, sonhadoras e socialmente retraídas em comparação com crianças com TDAH do tipo combinado”. (HODGENS ET AL., 2000; MCBURNETT, PFIFFNER & FRICK, 2001 apud Barkley, 2005). Esses e outros achados levaram alguns investigadores a postular uma incidência maior de deficiência de aprendizagem nesse subtipo em relação a outras crianças com a síndrome completa de TDAH. Essa hipótese não foi sustentada por quaisquer estudos empíricos, embora pelo menos um dos estudos (BARKLEY, DUPAUL & MCMURRAY, 1990) tenha descoberto uma porcentagem maior de alunos com TDAH do tipo desatento (53%) colocados em salas de aula para estudantes com deficiência de aprendizagem em relação àqueles com TDAH do tipo combinado (34%). Contrastando com o subtipo de TDAH com predomínio da desatenção, “as crianças com a síndrome completa de TDAH exibem maiores taxas de impulsividade, hiperatividade, agressividade, desobediência e rejeição pelos colegas” (CARLSON & MANN, 2000 apud Phelan, 2005, p. 101). Além disso, as crianças com TDAH do tipo combinado são mais propensas que seus colegas com TDAH com predomínio de desatenção a serem diagnosticadas com outros transtornos de “comportamento disruptivo (por exemplo, transtorno oposicional desafiante e transtorno de conduta), a serem colocados em salas de aula para estudantes com perturbações emocionais, a receberem uma frequência maior de suspensões da escola e a receberem intervenção psicoteratêutica” (BARKLEY, DUPAUL & MCMURRAY, 1990). 14 O terceiro tipo de TDAH, o tipo predominantemente hiperativo-impulsivo (TDAH-HI), foi introduzido no DSM-IV. “Os experimentos de campo conduzidos antes da publicação do DSM-IV indicaram que uma pequena porcentagem das crianças com esse transtorno exibia comportamentos hiperativos-impulsivos significativos na ausência de sintomas de desatenção” (LAHEY ET AL., 1994 apud Barkley, 2005). Na verdade, pouquíssimas pesquisas têm sido conduzidas em termos de epidemiologia, características clínicas, desempenho escolar e resultados do tratamento do subtipo TDAH- HI. “Existem evidências preliminares de que crianças com TDAH-HI são propensas aos mesmos transtornos comórbidos (por exemplo, transtorno oposicional desafiante e transtorno de conduta) que as crianças com TDAH do tipo combinado” (WILLCUTT ET AL., 1999 apud Barkley, 2005). 2.2. POSSÍVEIS CAUSAS DO TDAH Não existe uma causa única aparente do TDAH. Em vez disso, a sintomatologia do TDAH pode resultar de vários mecanismos causais. “Variáveis internas às crianças, como fatores neurobiológicos e influências hereditárias, têm recebido a maior atenção na literatura” (BARKLEY, 2005). Diversas pesquisas realizadas em vários países reforçam a hipótese que o TDAH tem um caráter hereditário significativo. “A predisposição genética foi demonstrada em estudos usando famílias, casos de gêmeos e adoção” (THAPAR, 2005 apud Du Paul, 2007). “A probabilidade de que a criança terá um diagnóstico de TDAH aumenta até 8 vezes se os pais também tiverem o transtorno” (BIEDERMANN, 1992 apud Du Paul, 2007). Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento. É o que podemos comprovar por meio dos estudos de Solanto, dentre outros: no aspecto neuroquímico, o TDAH é concebido como um transtorno no qual os neurotransmissores catecolaminérgicos funcionam em baixa atividade. A ênfase está na desregulação central dos sistemas dopaminérgicos e noradrenérgicos que controlam a atenção, organização, planejamento, motivação, cognição, atividade motora, funções executivas e também o sistema emocional de recompensa (Solanto, 2001 apud Du Paul, 2007). O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas (neurônios). Existem causas 15 que foram investigadas para estas alterações nos neurotransmissores da região frontal e suas conexões. Contudo, estes estudos não são conclusivos e não colaboram ainda para o tratamento do indivíduo com TDAH. 2.3. OUTRA PERSPECTIVA – CONVIVENDO COM O TDAH O DSM-IV propicia uma visão precisa, mas ainda bastante clínica do TDAH. As listas de sintomas são uma parte útil e necessária do diagnóstico, mas não conseguem descrever o que é ser – ou conviver com – uma criança com TDAH. A seguir estão descritas oito características que normalmente acompanham o TDAH. Essas descrições da vida real darão uma imagem melhor de como o TDAH afeta a criança, sua família e sua vida escolar. Uma grande porcentagem das crianças com TDAH tem todas as características a seguir. Outras apresentarão apenas algumas (mais tarde descreveremos especificamente algumas das principais exceções). Crianças que poderiam encaixar-se no Tipo combinado quase sempre apresentarão todos os atributos de nossa lista. Por outro lado, as crianças Predominantemente Desatentas podem encaixar-se apenas nos itens A, F e H. O primeiro item a seguir, a desatenção, é considerado hoje em dia o sintoma mais importante ou central. Os itens B a E de nossa lista definem, em um certo sentido, o temperamento – ou personalidade – que normalmente acompanha o TDAH. Por fim, os itens F a H podem ser considerados como resultados das demais características: PONTO CENTRAL A. Desatenção ou tendência à distração TEMPERAMENTO B. Impulsividade C. Dificuldade de esperar a ser atendido D. Hiperatividade E. Superexcitação emocional RESULTADOS F. Desobediência G. Problemas sociais H. Desorganização Vamos examinar cada uma dessas características. 16 A. Desatenção ou Tendência à Distração A criança com TDAH tem uma amplitude de atenção pequena demais para a sua idade. Ela não consegue manter a atenção em uma só tarefa ou atividade, especialmente se encara essa atividade como chata ou um pouco chata. Segundo Phelan, “é um esforço significativo para essas crianças tentar concentrar-se na tarefa; elas enfrentam um problema invisível que não conseguem entender” (2005, p. 19). O estresse que sentem é considerável e – para alguém que não passou por isso – é difícil até de imaginar. Conforme vão ficando mais velhas, as crianças com TDAH começam a se sentir burras, e são muitas vezes acusadas de serem preguiçosas. É obvio que essas experiências prejudicarão sua autoestima. O que com frequência confunde mais a questão é que muitas crianças com Déficit de Atenção podem prestar atenção (ou ficar sentadas quietas) por períodos limitados de tempo. Segundo Phelan, “elas podem ser capazes de prestar atenção (ou ficar sentadas quietas) por períodos limitados de tempo” (2005, p. 22). Elas podem ser capazes de fazer isso quando estão em situações que têm uma ou mais de quatro características particulares. Essas características são: novidade; alto valor de interesse; intimidação; ficar a sós com um adulto. Outra maneira de examinar o problema de atenção e pensar nele como uma tendência à distração: a facilidade com que a criança pode ser desviada da tarefa por causa de algum outro estímulo. Crianças portadoras de TDAH reagem automaticamente a qualquer coisa nova. Muitas crianças com TDAH podem lhe contar como ficam incomodadas quando o caminhão do lixo pára no estacionamento durante a aula, quando alguém usa um apontador, ou quando suas meias estão do avesso. Geralmente, as distrações que ocorrem são de quatros tipos: visuais, auditivas, somáticas e de fantasia. Distrações visuais são coisas dentro do campo de visão da criança que atraem sua atenção, desviando-a do trabalho ou da tarefa. Por exemplo, se alguém anda por perto, ela vai levantar a cabeça para dar uma olhada, e, então, pode não conseguir retomar sua tarefa. Distrações auditivas são sons que a criança ouve que a incomodam. Podem ser sons claros e altos ou sons mais baixos, como o tique taque de um relógio, alguém batendo com um lápis na mesa, ou outra criança fungando. Essas coisas podem não lhe parecer perturbadoras, mas o são para uma criança com TDAH. Certas crianças podem ser mais vulneráveis a determinados tipos de distrações do que outras. Algumas, por exemplo, reclamam mais das coisas que ouvem do que de coisas que vêem. É por isso que o diagnóstico é facilitado se a criança for capaz de descrever com suas próprias palavras o que a distrai. 17 B. Impulsividade O segundo traço de nossa lista é a impulsividade: agir sem pensar ou fazer o que quer que venha à cabeça, sem se preocupar com as consequências. Os atos impulsivos de crianças portadoras de TDAH podem ir dos triviais aos extremamente perigosos. Em situações escolares, os professores com frequência reconhecem a criança TDAH pela tendência a responder quase tudo sem esperar sua vez na sala de aula. Algumas dessas respostas fora de hora podem ser uma tentativa de responder corretamente à pergunta, mas a criança esquece de levantar a mão antes. Outras vezes, a criança dirá coisas com a intenção de ser engraçada. De acordo com Phelan, “a impulsividade pode também prejudicar seriamente a interação social da criança com TDAH” (2005, pág. 21). Quando frustrada, ela pode gritar com as outras crianças e, às vezes, até mesmo agredi-las fisicamente ou empurrá-las, na tentativa de conseguir que tudo seja feito do seu jeito. A impaciência de querer ser sempre a primeira da fila e a tendência de agarrar coisas podem ser fontes constantes de irritação para outras crianças. C. Dificuldade de esperar ser atendido Quando uma criança com TDAH coloca na cabeça uma ideia de que quer alguma coisa, ela pode ser incrivelmente persistente até alcançá-la. A dificuldade de esperar ser atendido faz com que alguns pais se sintam derrotados antes mesmo de sair de casa, porque acham que qualquer ida às compras vai significar que terão de comprar algo para a criança. A mãe e o pai há muito tempo desistiram de qualquer desejo de suportar o constrangimento dos terríveis acessos em público. Na escola, a dificuldade de esperar sua vez pode se manifestar de várias maneiras. A criança pode empurrar outras para ser a primeira da fila, ou disparar pelo corredor, tropeçando nas pessoas, para ser a primeira a sair para o recreio. Nas tarefas escolares, a impaciência pode se fazer presente por meio de um trabalho bagunçado e feito às pressas. De acordo com Thomas W. Phelan, “já que muitas crianças com TDAH têm problemas com a coordenação motora fina, é difícil dizer se estavam apenas com pressa, se a caligrafia ruim é resultado de um problema com a coordenação visual – motora fina ou se é uma combinação de ambos” (2005, p. 23). Algumas crianças com Déficit de Atenção chegam mesmo a ter problemas de controle da urina e das fezes pela dificuldade de esperar. 18 D. Hiperatividade De acordo com Mecurgliano, “hiperatividade significa inquietação motora excessiva e agressiva, não apenas espasmos de nervosismo” (1999, p. 491). Os pais descreverão seus filhos como se estivessem sempre ligados na tomada ou “Ele parece movido à pilha”. Estar por perto dessa constante atividade pode ser muito cansativo e irritante para os pais. Nem todas as crianças com TDAH, no entanto, são hiperativas, como evidenciado nos critérios do DSM-IV para o tipo Desatento. E. Superexcitação Emocional Uma criança com TDAH fica com frequência excessivamente excitada. Ela entrará no que chamamos de rotina “hiperboba”, especialmente em grupos não relacionados com outras crianças. A criança vai correr de maneira frenética, falar alto, agir como um pateta e, em geral, fazer-se de tola. Conforme Mercugliano, “as crianças portadoras de TDAH são notoriamente insensíveis a insinuações sociais” (1999, p. 489). Elas não percebem a expressão de desprazer no rosto das outras pessoas, não percebem o tom negativo da voz, nem mesmo ouvem o que está sendo dito. F. Desobediência Crianças com TDAH têm dificuldades em seguir regras, e, muitas vezes, apresentam significativos problemas disciplinares, especialmente as crianças do Tipo Combinado. Parte da desobediência típica do TDAH envolve comportamento agressivo. De acordo com o Dr. Russel Barkley, “o transtorno de déficit de atenção é fundamentamente um déficit na capacidade da pessoa de se auto-regular ou de se auto-controlar” (2005, p. 79). G. Problemas Sociais Para muitas crianças com TDAH, problemas com colegas são uma parte importante de suas vidas. Com frequência se diz que as crianças portadoras de TDAH do Tipo Combinado vão rejeitadas, enquanto as crianças com TDAH do Tipo Desatento (mais chamadas de TDA, sem o “H”) serão ignoradas. A maioria das crianças com TDAH do Tipo Combinado tem dificuldade para se dar bem com outras crianças, especialmente as da mesma idade e sexo. Os problemas interpessoais da criança com TDAH normalmente são derivados do fato de elas serem 19 enérgicas, mandonas, agressivas e competitivas demais. De acordo com Barkley, “crianças com TDAH “sofrem” do que é muitas vezes chamado de Baixa Tolerância à Frustração” (2005, p. 101). A maioria desses jovens detesta perder e pode recorrer a trapaças, brigas ou mudanças de regra no meio do jogo para conseguir que as coisas sejam feitas do seu jeito. H. Desorganização Conforme W. Phelan, “as crianças com Déficit de Atenção são muitas vezes desorientadas e esquecidas; elas perdem a noção do tempo e com frequência perdem coisas também” (2005, p. 54). É comum a criança com este transtorno esquecer os livros da aula do dia, perder os trabalhos antes de entregá-los, etc. Ela também parece incapaz de chegar a casa na hora, mesmo que tenha um relógio. 2.4. PROBLEMAS ESCOLARES DE CRIANÇAS COM TDAH As características principais (isto é, desatenção, impulsividade e hiperatividade) do TDAH podem levar a diversas dificuldades para crianças em contextos escolares. Conforme Cantwell e Baker, “até 80% das crianças com esse transtorno exibem problemas com o desempenho acadêmico. Além disso, entre 20% e 30% das crianças com TDAH recebem o diagnóstico de “deficiência de aprendizagem” em razão de seus déficits na aquisição de habilidades acadêmicas específicas” (1991, p. 58 apud DuPaul, 2005, p. 31). Especificamente, uma vez que essas crianças muitas vezes têm problemas para manter a atenção em tarefas que exigem concentração, a finalização de trabalhos independentes, que devem ser executados na carteira, é um tanto inconstante. Seu desempenho na sala de aula também pode ser comprometido pela falta de atenção às instruções da tarefa. Outros problemas acadêmicos associados a problemas de atenção incluem fraco desempenho em testes; habilidades deficientes de estudo; cadernos, carteiras e trabalhos escritos desorganizados; e falta de atenção às explicações do professor e/ou discussões em grupo. Crianças com TDAH com frequência pertubam as atividades em sala de aula e, portanto, atrapalham a aprendizagem dos colegas. Por exemplo, as crianças com TDAH podem exibir impulsividade de várias maneiras, incluindo falar sem permissão, conversar com colegas em momentos inapropriados e ficar zangadas quando confrontadas com reprimendas ou tarefas frustrantes. A qualidade dos trabalhos em sala de aula e em casa também pode ser afetada negativamente devido a um estilo de resposta impulsivo e descuidado nessas tarefas. 20 Os problemas em sala de aula relacionados à hiperatividade incluem sair da cadeira sem permissão, brincar com objetos inapropriados (por exemplo, materiais na carteira que não estão relacionados à tarefa em mãos), batucar com os dedos, bater os pés ritmicamente e se remexer na cadeira. Embora estes últimos comportamentos possam parecer relativamente benignos. Quando ocorrem com frequência podem perturbar imensamente a instrução na sala de aula. Por fim, de acordo com Barkley e Pastor & Reuben, “os resultados de estudos prospectivos de acompanhamento de crianças com TDAH indicam risco aumentado de fracasso acadêmico crônico, medido por taxas superiores de repetência e abandono da escola em relação aos companheiros” (1999, p. 32 apud Phelan, 2005, p. 79). 2.5. ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM PARA ALUNOS COM TDAH Os professores devem conhecer técnicas e estratégias que auxiliem os alunos com TDAH a terem melhor desempenho, sendo que em alguns casos é preciso ensinar ao aluno técnicas específicas para minimizar as suas dificuldades. De acordo com Partel, “quando os alunos com TDAH se dedicam a fazer algo estimulante ou do seu interesse, conseguem permanecer mais tranquilos. Isto ocorre porque os centros de prazer no cérebro são ativados e conseguem dar um "reforço" no centro da atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em níveis normais” (2009, p.25). Uma das propostas de tratamento são as seções terapêuticas, sendo elaborada com envolvimento de profissionais e familiares. Além disso, professores e equipe pedagógica necessitam ser orientados no acompanhamento dos procedimentos necessários a serem empreendidos no dia-a-dia, em busca de melhorias no processo de ensino e aprendizagem. A Drª Cleide Heloísa Partel cita dicas para potencializar/promover a mudança de comportamento: • Evitar a utilização de reforços negativos, para que estes não sejam aumentados. • Utilizar mais reforços de extinção – um comportamento sem IBOPE provavelmente sairá do ar. • Sempre utilizar reforços positivos, pois se a qualquer comportamento adequado (mesmo que para pais e professores não passe de mera obrigação), houver recompensa e/ou reconhecimento, esse tipo de comportamento tende a aumentar cada vez mais. • Quando se pretende modificar um comportamento indesejável, deve-se decidir por qual comportamento positivo quer substituí-lo, para depois ir punindo o comportamento oposicional indesejável, com punições brandas, como por exemplo a perda de privilégios, mantendo a relação de uma punição para três ou mais situações de elogio e recompensa. A tendência é a extinção natural das punições. 21 • Não se deve perder a perspectiva dos objetivos, evitando a irritabilidade, a impaciência, a confusão e atitudes enfurecidas frente ao aluno com TDAH. • É necessário manter o ritmo, respirando fundo e lembrando que o adulto é o educador. • Deve-se ter muita sabedoria e paciência para equilibrar amor com regras e limites claros na educação. • Objetiva-se a preparação da criança e/ou adolescente para viver em sociedade, para que se integre, com boa autoestima, sabendo respeitar limites (seus e dos outros). • Olhar de fora da cena, como se fosse um estranho imparcial, racional, sem qualquer envolvimento emocional. • Deve-se enfocar o comportamento negativo, deficiente e destrutivo que necessita ser mudado, lembrando sempre que o aluno tem uma incapacidade, uma dificuldade, e não falta de caráter: ele não consegue controlar o que fala ou faz e com certeza tem qualidades e potenciais a serem valorizados. (2009, p. 61) Além disso, para atender alunos com TDAH, a sala de aula necessita ser organizada e estruturada, utilizando material didático adequado à habilidade da criança, havendo avaliação frequente e imediata, estabelecendo regras claras, planejamento previsível e carteiras separadas, deve-se utilizar os prêmios como meio estimulador ao aluno, sendo estes coerentes e frequentes, fazendo parte do trabalho com a turma. De acordo com Santos, “em alguns momentos as interrupções e pequenos incidentes devem ser ignorados, pois têm menores consequências. Deve-se sim trabalhar estratégias cognitivas que facilitam a autocorreção, assim como melhoram o comportamento nas tarefas” (2005, p. 30). As atividades devem ser variadas, mas buscando sempre ser interessantes para os alunos, e ainda as expectativas do professor devem ser adequadas ao nível de habilidade da criança. “Os professores devem ter conhecimento do conflito incompetência x desobediência, e aprender a discriminar entre os dois tipos de problema. É preciso desenvolver um repertório de intervenções para poder atuar eficientemente no ambiente da sala de aula de uma criança com TDAH” (PARTEL, 2009, p. 25). A Drª Lucy Santos traz sugestões para Intervenções do Professor para ajudar a criança com TDAH a se ajustar melhor à sala de aula: • Substituir as aulas monótonas por aulas mais estimulantes que venham prender a atenção do aluno. • Utilizar recursos variados que não são habituais na sala de aula (informática, experiências, construção de maquetes, atividades desafiadoras de criar, construir e explorar). • Procurar trazer os alunos para perto do quadro, podendo acompanhar melhor o processo educativo, se está conseguindo acompanhar o ritmo, ou se é necessário desacelerar um pouco. • Fazer um roteiro das atividades do dia, para que o aluno perceba as regras prédefinidas e que todos devem cumpri-las. • As tarefas devem ser curtas, para que ele consiga concluir a tarefa e não pare pela metade, o que é muito comum. 22 • Não utilizar cores muito fortes na sala e na farda como amarelo e vermelho, cores fortes tendem a deixar os alunos mais agitados, excitados e menos atentos. Procure colocar tons mais neutros e suaves. • Possibilitar a saída do aluno algumas vezes da sala para levar bilhetes, pegar giz em outra sala, ir ao banheiro, assim estará evitando que ele fuja da sala por conta própria. • Elogiar o bom comportamento e as produções, ajudando a elevar sua auto-estima. • Utilizar uma agenda de comunicação entre pais e escola, evitando que as conversas se dêem apenas em reuniões. • Aproveitar as aulas de educação física como auxílio na aprendizagem dos alunos que parecem ter energia triplicada (ginástica ajuda a liberar a energia que parece ser inesgotável, melhora a concentração com exercícios específicos, estimula hormônios e neurônios, a distinguir direita de esquerda já que possuem problemas de lateralidade que prejudicam muito sua aprendizagem). (2005, p. 15) De acordo com a Associação Brasileira de Déficit de Atenção, existem algumas estratégias que podem ser tomadas para facilitar o manejo de crianças e adolescentes com TDAH no dia-a-dia da escola. Essas estratégias, que estão no anexo, fazem parte de um programa de treinamento de manejo comportamental para professores e outros profissionais da área de educação, desenvolvido pela Equipe do Projeto Inclusão Sustentável (PROIS) e estão no site da ABDA. Dentre elas, destaquei algumas que identifiquei como principais: • Identifique quais os talentos que seu aluno possui. Estimule, aprove, encoraje e ajude no desenvolvimento deste. • Solicite ajuda sempre que necessário. Lembre-se que o aluno com TDAH conta com profissionais especializados neste transtorno. • Quanto mais próximo de você e mais distante de estímulos distratores, maior benefício ele poderá alcançar. • Estabeleça combinados. Estes precisam ser claros e diretos. Lembre-se que ele se tornará mais seguro se souber o que se espera dele. • Deixe claras as regras e os limites inclusive prevendo conseqüências ao descumprimento destes. Seja seguro e firme na aplicação das punições quando necessárias, optando por uma modalidade educativa, por exemplo, em situações de briga no parque, afaste-o do conflito porém mantenha-o no ambiente para que ele possa observar como seus pares interagem. • Estabeleça contato visual sempre que possível. Isto possibilitará uma maior sustentação da atenção • Determine intervalos entre as tarefas como forma de recompensa pelo esforço feito. Esta medida poderá aumentar o tempo da atenção concentrada e redução da impulsividade. • Evite atividades longas, subdividindo-as em tarefas menores. Reduza o sentimento de “eu nunca serei capaz de fazer isso”. • Mantenha constante contato com a família. Tente utilizar as informações fornecidas por ela com o objetivo de compreender o seu aluno melhor. • A agenda pode contribuir na organização do aluno e na comunicação entre escola e família. • Estimule a atividade física. (ROSÁRIO, 2011, p. 27 – 33). 23 2.6. MÉTODOS E PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA PARA ALUNOS COM TDAH Como o objetivo este trabalho é alcançar um método e práticas de ensino que se encaixem melhor ao aluno com Déficit de Atenção e Hiperatividade, pretendo analisar os métodos e práticas de ensino existentes para se lecionar em Língua Inglesa. Busco analisálos para escolher dentre eles o que melhor se adapta às necessidades do aluno com TDAH. Para obter uma visão geral dos principais métodos que se enquadra ao ambiente escolar, segue a baixo uma adaptação da tabela 2.1 “Approaches and methods – na overview (adapted from Nunan 1989)” (Nunan apud Brown, 2000, p. 34 e 35). TABELA 2.1 The Grammar Translation Method Teoria de aprendizagem As estruturas de Língua Estrangeira são melhor aprendidas quando comparadas à Língua Materna. Objetivos Ser capaz de ler e traduzir obras literárias e clássicos. Audiolingual Formação de hábito; habilidades são aprendidas mais efetivamente se a oralidade preceder à escrita; analogia e não análise. Controle das estruturas de som, forma e ordem. Domínio dos símbolos da linguagem; objetivo: domínio de um nativo da língua. Total Physical Response Aprender uma língua estrangeira é o mesmo que aprender a língua materna; Communicative Language Teaching Atividades que envolvam comunicação real; realização de tarefas significativas e uso da linguagem cujo significado para os alunos promova aprendizado. Ensinar habilidades orais para que os alunos possam se comunicar de forma desinibida e inteligível com os nativos da língua Os objetivos irão refletir as necessidades dos aprendizes; eles irão incluir habilidades funcionais bem como objetivos lingüísticos. Tipos de Atividades Alunos traduzem textos palavra por palavra toda e memorizam inúmeras regras gramaticais e exceções, bem como listas de vocabulário enormes. Diálogos e treinos, repetição e memorização. Atividades aos pares. Comandos imperativos que geram ações físicas. Encorajar os aprendizes à comunicação, envolvendo processos como a partilha de conhecimentos, interpretação de significados e recreação. O papel do aluno Realizar as traduções direcionadas pelo professor. O papel do professor É o detentor do saber. Suas traduções são o esteio e a base para os alunos. Organismos que podem ser direcionados por habilidades tecnicamente treinadas para produzir respostas corretas. Ouvir e executar; influência do conteúdo da aprendizagem Central e ativa dominação do professor pelo método. Fornece modelos, controla direção e ritmo. Aprendiz como negociador, interado, dando tanto como recebendo. Facilitador do processo de comunicação, das tarefas dos participantes e dos textos. Precisa analisar, aconselhar e administrar o processo. Atividade e ação direta; “o diretor de uma peça de teatro com os estudantes como atores”. 24 O Método “Grammar Translation”, retratado na segunda linha da tabela 2.1., é um método antigo derivado do método clássico de ensino grego e latino. Nele, os alunos e professores falam em língua nativa. Este método é utilizado com o propósito de ajudar os estudantes a ler e apreciar a literatura de língua estrangeira. Ou seja, a capacidade de se comunicar na língua-alvo não é uma meta do ensino de línguas estrangeira. Pois o objetivo é que os alunos sejam capazes de traduzir texto de um idioma para o outro. Para um aluno com TDAH este método não é aconselhado, pois é repetitivo e exige bastante concentração. Para realizar as traduções, o estudante deve ser bem disciplinado e ficar em sala de forma quieta e silenciosa. Isto é muito difícil de ser executado por um TDAH. Já a terceira linha da tabela 2.1. aborda o Método Audiolingual, que é baseado na teoria behaviorista em que todos podem ser treinados através de um sistema de reforço positivo e negativo. Quando os erros ocorrem, eles devem ser imediatamente corrigidos pelo professor. De acordo com este método, a aprendizagem de línguas é um processo de formação de hábito. Quanto mais vezes se repete algo, maior é a aprendizagem. Os professores devem proporcionar aos alunos um bom modelo. Ao ouvir como é o suposto som, os alunos deverão ser capazes imitar o modelo. Neste método, prioriza-se a oralidade. A repetição exaustiva de um mesmo diálogo e as atividades não diferenciadas não são aconselháveis para o aluno TDAH. O método “Total Physical Response”, que foi retratado na quarta linha da tabela 2.1., baseia-se no pressuposto de que ao aprender uma língua estrangeira, a linguagem é internalizada por um processo de quebra de código semelhante ao desenvolvimento da primeira língua e que o processo permite um longo período de audição e no desenvolvimento da compreensão antes da produção. Na sala de aula o professor e os alunos assumem papéis semelhantes ao de pai e filho, respectivamente. Os alunos devem responder fisicamente às palavras do professor. Neste método, o professor comanda as atividades e os alunos ficam sempre em movimento. Para interagir com a aula, os alunos ficam focados nos comandos do professor, pois querem sempre acertar o que está sempre desenvolvido. Por ser um método lúdico e divertido, ele é bastante apreciado pelos estudantes em geral. Para um estudante com TDAH, é um método direcionado para as suas especificidades e pode auxiliá-lo na aprendizagem de Língua Inglesa. A última linha da tabela 2.1. trata a respeito da “Abordagem Comunicativa”. Este método é baseado na idéia de que a aprendizagem de línguas com sucesso vem através de ter que comunicar o significado real. Quando os alunos estão envolvidos na comunicação real, suas estratégias naturais para a aquisição da linguagem serão utilizadas, e isso vai permitir que 25 eles aprendam a usar a linguagem. As aulas são normalmente baseadas em tópico ou tema, com a gramática-alvo "escondida" no contexto. Como a abordagem comunicativa dá muita liberdade ao estudante, o aluno com TDAH pode negligenciar a necessidade de orientação. Devido à deficiência de controle próprio, este método não é adequado ao aluno com TDAH. 26 3. PRÁTICAS E ANÁLISE DO MÉTODO TOTAL PHYSICAL RESPONSE EM COMPARAÇÃO AO MÉTODO TRADICIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA EM ESCOLAR REGULAR Nos dias 8 a 12, 15, 16, 18, 19 e 24 de agosto do ano de 2011 ministrei aulas de Língua Inglesa no período vespertino de uma escola pública do DF. Foram duas aulas duplas, de 100 minutos cada. Não houve uma sequência porque no dia 17 (uma quarta-feira) ocorreu as Olimpíadas Brasileiras de Matemática e a aula planejada precisou ser transferida para o dia 24. Lecionei para 15 turmas, sendo oito (8) de 5ª séries e sete (7) de 6ª séries. Cada turma tem em torno de 38 a 40 alunos, sendo que pelo menos três (3) têm diagnóstico de TDAH. Outros alunos tinham características de TDAH, mas não possuíam diagnóstico. Estávamos no período de seca, com umidade abaixo de 15%, em uma sala sem ventilação. Muitos alunos passavam mal devido ao tempo, o que dificultou um pouco o aprendizado. Na primeira semana, nos dias 8 a 12, as aulas foram baseadas no método “Total Physical Response”. Já na segunda semana as aulas foram soluções dos exercícios do livro, que segue o método “Grammar Translation”. Segue abaixo os dois planos de aula de cada série referentes aos dias citados. 1ª semana – 5ª série Tema: Objetos Escolares e cores. Objetivo geral: Reconhecer o vocabulário dos objetos e das cores. Objetivos específicos: Reconhecer as cores e os objetos escolares e nomeá-los; Desenvolver habilidades de ouvir, ler e identificar através de jogos; Procedimentos: Primeiramente, a professora irá demonstrar as cores em inglês por meio de cards com as cores e seus nomes em inglês. Os alunos receberão 9 cores (rosa, branco, preto, marrom, amarelo, vermelho, azul, verde e laranja). Novamente, a professora retomará o nome das cores, demonstrando-as e as escrevendo no quadro. Após formar uma lista com o nome de todas as cores, a professora dividirá a sala em dois grupos: A e B. Ao apontar para o nome escrito no quadro, todos os alunos do grupo terão que levantar a cor correspondente. A professora contará até cinco (5). O grupo que levantar mais cores corretas e que levantar em menor tempo ganha ponto. Vence o grupo com maior número de pontos. A segunda parte da aula e referente aos objetos escolares. A professora irá demonstrar os objetos em inglês por meio de cards com os objetos escolares e seus nomes em inglês. Depois com a mesma divisão de grupos, os alunos emprestarão seus objetos escolares para formar os materiais para brincadeira (lápis, borracha, apontador, régua, caderno, livro, mochila e estojo). 27 Cada grupo terá um conjunto com todos estes objetos. Um aluno diferente irá representar o grupo a cada rodada. Os dois representantes da rodada estarão apostos em uma linha de partida. Depois que a professora mostrar a palavra referente ao objeto, os alunos irão correr, pegar o objeto e voltar para a linha. O aluno que pegar o objeto correto e que chegar primeiro para linha de chegada dá ponto ao seu grupo. Ganha o grupo com maior número de pontos. Recursos: Cards informativos, cards de cores para cada aluno, materiais escolares, fita adesiva para a linha de chegada. 2ª semana – 5ª série Tema: Objetos Escolares e cores. Objetivo geral: Revisar o vocabulário dos objetos e das cores. Objetivos específicos: Reconhecer as cores e os objetos escolares através de atividades. Entender os comandos dos exercícios. Procedimentos/Avaliação: Os estudantes farão alguns exercícios do livro referentes às cores e aos objetos escolares com o auxilio do professor. Ao final, o professor irá corrigi-los. Recursos: quadro, giz, apagador, livros, lápis, borracha e apontador. 1ª semana – 6ª série Tema: Atividades diárias. Objetivo geral: Reconhecer o vocabulário dos verbos de ações. Estabelecer uma rotina diária listando as ações do dia-a-dia. Objetivos específicos: Reconhecer verbos de ação através de jogos e ações; Desenvolver habilidades de ouvir e falar através de jogos; Desenvolver habilidades de escrita e leitura através de uma lista da rotina diária; Procedimentos/Avaliação: Primeiramente, a professora irá demonstrar as ações diárias em inglês por meio de cards. Em seguida, o professor vai mostrar as ações e os verbos ensinando um jogo chamado jogo de mímica. Os alunos farão mímicas quando o professor disser o verbo de ação. Depois, os alunos se dividirão em dois grupos. Eles farão um jogo chamado imagem em ação. O grupo sorteará uma palavra e terá ou que desenhar a ação. Eles terão que adivinhar a ação que está sendo desenhada durante 30 segundos. O grupo que acertar o maior número de palavras dentro do tempo ganha. Recursos: Cards, giz, apagador, cronômetro. 2ª semana – 6ª série Tema: Atividades diárias. 28 Objetivo geral: Revisar o vocabulário dos de ações Objetivos específicos: Reconhecer as ações diárias através de atividades. Entender os comandos dos exercícios. Procedimentos/Avaliação: Os estudantes farão alguns exercícios do livro referentes às ações diárias com o auxilio do professor. No final, o professor irá corrigi-los. Recursos: quadro, giz, apagador, livros, lápis, borracha e apontador. Na primeira semana, no geral, as aulas fluíram com muito interesse por parte dos alunos. A maioria participou bem, principalmente os alunos com TDAH. O comportamento dos alunos com TDAH mudou durante as brincadeiras. Dos 50 alunos com diagnósticos de TDAH, apenas uma não participou dos jogos. Esta aluna se recusou a jogar porque o seu grupo não a aceitava. Na verdade, ela tem sérios problemas de relacionamento com a turma toda, o que dificultou a sua interação durante os jogos. Contudo, os outros 49 foram os líderes das brincadeiras, conduzindo e incentivando aos outros. Creio que o clima de competição instigou a estes alunos. Muitos responderam prontamente às perguntas referentes à matéria. Mas o barulho das comemorações dos pontos atrapalhou as outras turmas ao redor da escola. Tive problemas com a direção devido ao barulho das turmas durante o jogo. Contudo, o barulho da comemoração não atrapalhou o aprendizado destes alunos. Percebi que a maioria aprendeu o vocabulário ensinado. Uma das dificuldades que tive na execução dos jogos foram os materiais. Na escola, não há giz, apagador e nem cartolina a disposição dos professores. Tive que comprar tudo o que era necessário para as aulas acontecerem. Outro problema que ocorreu, foi que um aluno da 5ª serie com deficiência visual não conseguia ler as palavras referentes às cores. Com isso, nesta turma em específico, tive que dizer as palavras além de apontá-las no quadro. Como o foco do ensino regular é a leitura e a escrita em inglês, nas outras turmas preferi só apontar as palavras e no final, quando os alunos acertavam, eu as pronunciava. Outro problema ocorrido foi que um aluno TDAH, ao perceber que estava perdendo o jogo e que seu colega tinha errado a resposta, agrediu este colega de turma. Como resultado ele foi suspenso por três dias. Apesar de alguns problemas apontados, a primeira semana foi bastante produtiva. Já a segunda semana não foi tão instigadora para os alunos. No primeiro dia da segunda semana, metade dos alunos de cada turma esqueceu o livro de inglês. Como resultado, alguns foram em outras salas pedirem o livro emprestado e outros resolveram os exercícios no caderno. Com isso, pedi a um aluno que fosse avisar nas outras turmas do dia seguinte que era 29 necessário trazer o livro de inglês. Porém, mesmo sendo avisado, cerca de 30% dos alunos esqueceram o livro. Os alunos com TDAH, no geral, não realizaram as atividades. Os poucos que fizeram a atividade não a terminaram. Tentei estimulá-los, mais não conseguir ter êxito nos meus objetivos. Mesmo os colocando na frente, o menor barulho sempre os desconcentrava. Até o ato de balançar o pé de um aluno chegou a irritar um TDAH. Creio que por não poder sentar ao lado deles para ajudá-los e não poder dar exclusividade a eles, a concentração destes não foi estimulada. Mas, como cada turma tem entre 38 e 40 alunos, eu não poderia estar durante toda a aula estimulando só três alunos em detrimento dos outros. Percebi que a diferença entre uma aula com o “Total Physical Response” e uma aula tradicional para estes alunos é muito grande. O estímulo de não ficar sentado o tempo todo, de responder fisicamente aos comandos dados e de vencer uma competição não se comparam ao de ganhar um ponto por fazer o dever sentado e olhando para um papel durante 100 minutos. Mas também acredito que uma sala com 40 alunos e com condições físicas precárias não é o melhor para estes estudantes. A forma de inclusão adaptada pelo governo não dá a estes educandos recursos físicos e ambientais para a sua aprendizagem. Se eles estivessem em salas com um número menor de alunos, com uma acústica em que a uma sala não interferisse na outra e com condições físicas melhores, creio que estes estudantes conseguiriam se concentrar melhor nas aulas. 30 4. CONCLUSÃO Durante a pesquisa desse trabalho, percebeu-se que para lidar com as características neurocomportamentais dos alunos com TDAH era necessária uma releitura no processo de ensino-aprendizagem em salas de aulas de ensino regular de Língua Inglesa. Apesar das condições físicas e ambientais durante o desenvolvimento deste trabalho, é perceptível a aprendizagem significativa dos alunos com TDAH por meio de métodos e práticas que correspondam com a suas necessidades. Ao utilizar o método Total Physical Response, a aprendizagem destes alunos acontece a partir da combinação entre interação interpessoal e o contato direto com situações práticas. Isso propicia melhores condições de aprendizagem e dá ao aluno a possibilidade de ter uma aquisição de segunda língua mais significativa e, portanto, duradoura. Ao utilizar jogos e ao propor desafios para os alunos, percebemos que estes são estímulos para a construção de aprendizagens. O conhecimento vai se elaborando à medida que o aluno levanta e testa novas hipóteses, descartando algumas aparentes certezas, confirmando outras, enfim, investigando cada fato, cada variável, para construir princípios e conceitos próprios. Com isso, ocorre o conhecimento significativo por meio do estabelecimento de conexões de aprendizagens anteriores a atuais, projetando o conhecimento para outras dimensões, que sejam novos usos ou novos conhecimentos. Diante destas práticas, o professor valoriza o autoconceito e o potencial do aluno. Ao buscar novos métodos e práticas de ensino, o profissional de educação reconhece o aluno como centro de processo de ensino-aprendizagem. Esse reconhecimento traduz-se, na prática, pela consideração das peculiaridades e das necessidades de cada aluno. Assim, o ensino se torna eficaz e não uma utopia. Outro aspecto que também interfere na aprendizagem destes alunos são as condições físicas e ambientais. Ao incluir um aluno TDAH em uma sala regular, deve-se considerar a quantidade de alunos por sala, a acústica do local, a distribuição do espaço, etc. Não há como lidar com as deficiências destes alunos em um ambiente que desfavoreça o seu desenvolvimento cognitivo. No entanto, quando se fala em educação, percebe-se que não há um único caminho para a aprendizagem. Para cada indivíduo há um caminho diferente, pois cada um tem suas particularidades, vivências e experiências. Por isso, a cada dia em sala de aula o professor deve refletir sobre suas atitudes e condutas, avaliando-as. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARLEY, Russel. TDAH e a natureza do autocontrole. ISBN, 2005. BARKLEY, R.A., DUPAUL, G.J., & MCMURRAY, M. B. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: manual para diagnostico e tratamento (3º ed.). Porto Alegre: Artmed, 2008. BRASIL, LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 5. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010. BROWN, H. D. Teaching by principles: An interactive approach to language pedagogy. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall Regents, 1994. DUPAUL, George. TDAH nas Escolas. Orientações práticas para professores, educadores envolvidos com as necessidades de alunos com TDAH. Editora M. Books, 2007 LARA, Tiago Adão. A escola que não tive... o professor que fui. São Paulo: Cortez, 1996. MERCUGLIANO M. O que é distúrbio de déficit de atenção/hiperatividade? In Morgan AM (org.). Distúrbio de déficit de atenção/hiperatividade. Clínicas Pediátricas da América do Norte 1999;46:835-847. PARTEL, Cleide Heloisa. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. ed. Artmed, 2009. PHELAN, Thomas W. TDA/TDAH. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. 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Estimule,aprove, encoraje e ajude no desenvolvimento deste. • Elogie sempre que possível e minimize ao máximo evidenciar os fracassos. • O prejuízo à auto-estima freqüentemente é o aspecto mais devastador para o TDAH. • O prazer está diretamente relacionado à capacidade de aprender. Seja criativo e afetivo buscando estratégias que estimulem o interesse do aluno para que este encontre prazer na sala de aula. • Solicite ajuda sempre que necessário. Lembre-se que o aluno com TDAH conta com profissionais especializados neste transtorno. • Evite o estigma conversando com seus alunos sobre as necessidades específicas de cada um, com transtorno ou não. Organizando o espaço – Monitorando o Processo • A rotina e organização são elementos fundamentais para o desenvolvimento dos alunos, principalmente para os portadores de TDAH. A organização externa irá refletir diretamente em uma maior organização interna. Assim, alertas e lembretes serão de extrema valia. • Quanto mais próximo de você e mais distante de estímulos distratores, maior benefício ele poderá alcançar. • Estabeleça combinados. Estes precisam ser claros e diretos. Lembre-se que ele se tornará mais seguro se souber o que se espera dele. • Deixe claras as regras e os limites inclusive prevendo conseqüências ao descumprimento destes. Seja seguro e firme na aplicação das punições quando necessárias, optando por uma modalidade educativa, por exemplo, em situações de briga no parque, afaste-o do conflito porém mantenha-o no ambiente para que ele possa observar como seus pares interagem. • Avalie diariamente com seu aluno o seu comportamento e desempenho estimulando a auto-avaliação. • Informe freqüentemente os progressos alcançados por seu aluno, buscando estimular avanços ainda maiores. • Dê ênfase a tudo o que é permitido e valorize cada ação dessa natureza. 33 • Ajude seu aluno a descobrir por si próprio as estratégias mais funcionais. • Estimule que seu aluno peça ajuda e dê auxílios apenas quando necessário. Procedimentos facilitadores • Estabeleça contato visual sempre que possível. Isto possibilitará uma maior sustentação da atenção. • Proponha uma programação diária e tente cumpri-la. Se possível, além de falar coloque-a no quadro. Em caso de mudanças ou situações que fogem a rotina, comunique o mais previamente possível. • A repetição é um forte aliado na busca pelo melhor desempenho do aluno. • Estimule o desenvolvimento de técnicas que auxiliem a memorização. Use listas, rimas, músicas, etc. • Determine intervalos entre as tarefas como forma de recompensa pelo esforço feito. Esta medida poderá aumentar o tempo da atenção concentrada e redução da impulsividade. • Combine saídas de sala estratégicas e assegure o retorno. Para tanto, conte com o pessoal de apoio da escola. • Monitore o grau de estimulação proporcionado por cada atividade. Lembre-se que muitas vezes o aluno com TDAH pode alcançar um grau de excitabilidade maior do que o previsto por você, criando situações de difícil controle. • Adote um sistema de pontuação. Incentivos e recompensas, em geral, alcançam bons resultados. Realizando tarefas, testes e provas • As instruções devem ser simples. Tente evitar mais de uma consigna por questão. • Destaque palavras-chaves fazendo uso de cores, sublinhado ou negrito. • Estimule o aluno destacar e sublinhar as informações importantes contidas nos textos e enunciados. • Evite atividades longas, subdividindo-as em tarefas menores.Reduza o sentimento de “eu nunca serei capaz de fazer isso”. • Mescle tarefas com maior grau de exigência com as de menor. • Incentive a leitura e compreensão por tópicos. • Utilize procedimentos alternativos como testes orais, uso do computador, máquina de calcular, dentre outros. 34 • Estimule a prática de fazer resumos. Isto facilita a estruturação das idéias e fixação do conteúdo. • Oriente o aluno a como responder provas de múltiplas escolhas ou abertas. • Estenda o tempo para a execução de tarefas, testes e provas. • A agenda pode contribuir na organização do aluno e na comunicação entre escola e família. • Incentive a revisão das tarefas e provas. Contato com a família, deveres e trabalhos em casa • Mantenha constante contato com a família. Tente utilizar as informações fornecidas por ela com o objetivo de compreender o seu aluno melhor. • Procure nesses encontros enfatizar os ganhos e não apenas pontuar as dificuldades. • Evite chamá-los apenas quando há problemas. • Ajude seu aluno a fazer um cronograma de tarefas e estudos de casa. Isto poderá contribuir para minimizar a tendência a deixar tudo para depois. • Tente anunciar previamente os temas e familiarizar o aluno com situações que posteriormente serão vivenciadas. • Estimule a atividade física.