UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
ALETÉIA DO ROCIO SENGER
REVISÃO DE LITERATURA
CICLO ESTRAL CANINO
CURITIBA- PR
2012
ALETÉIA DO ROCIO SENGER
REVISÃO DE LITERATURA
CICLO ESTRAL CANINO
Monografia apresentada a Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA),
Departamento de Ciências Animais para
obtenção do título de Especialização em
Clínica Médica de Pequenos Animais.
Orientadora: Msc.Valéria Natascha Teixeira.
CURITIBA-PR
2012
ALETÉIA DO ROCIO SENGER
REVISÃO DE LITERATURA
CICLO ESTRAL CANINO
Monografia apresentada a Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA),
Departamento de Ciências Animais para
obtenção do título de Especialização em
Clínica Médica de Pequenos Animais.
Orientadora: Msc.Valéria Natascha Teixeira.
APROVADA EM: ........../........../...........
BANCA EXAMINADORA:
.......................................................................
Professor (a)
(UFERSA)
Presidente
.......................................................................
Professor (a)
(UFERSA)
Primeiro Membro
.......................................................................
Professor (a)
(UFERSA)
Segundo Membro
AGRADECIMENTO
Ao meu marido Marcelo, que sempre me apoiou e incentivou as minhas escolhas.
“Quando achei que tinha todas as respostas, mudaram as perguntas”.
Luis Fernando Veríssimo
RESUMO
Os estudos realizados sobre a reprodução da espécie canina baseavam-se apenas
na transferência de dados já conhecidos em outras espécies, porém muitos aspectos da
fisiologia reprodutiva e do desenvolvimento embrionário dos cães diferem dos modelos
clássicos. Atualmente, o interesse na espécie canina e o conhecimento de suas
particularidades reprodutivas aumentaram, pois, além de esses animais serem de
companhia, são utilizados como modelos experimentais para outras espécies de
canídeos e para o homem. Esta revisão bibliografia tem por objetivo esclarecer todas as
fases do ciclo estral canino, como as alterações hormonais, citológicas e anatômicas.
Palavras-chaves: cadela, ciclo estral, hormônios, citologia.
ABSTRACT
The studies on the reproduction of dogs based solely on the transfer of data
already known in other species, but many aspects of reproductive physiology and
embryonic development of dogs differ from classical models. Currently, interest in dogs
and knowledge of their particular reproductive increased, because in addition to these
are companion animals, are used as experimental model for other species canid and
man. This literature review aims to clarify all the canine estrous cycle phases, such as
hormonalchanges,citologicandanatomic.
Keywords: bitch, estrous cycle, hormones, cytology.
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
HEC Hiperplasia endometrial cística
cm centímetro (s)
E2 Estradiol
FSH Follicle stimulating hormone (hormônio folículo estimulante)
GnRH Hormônio liberador de gonadotrofinas
LH Luteotrophic hormone (hormônio luteotrófico)
μg Micrograma (s)
mg Miligrama (s)
mL mililitro (s)
ndn nada digno de nota
OSH Ovariossalpingohisterectomia
P4 Progesterona
pg picograma (s)
PGF2_ Prostaglandina
SRD Sem raça definida
LISTA DE FIGURAS E FOTOS
FIGURA 1: Anatomia dos ovários e cornos uterinoa......................................................12
FIGURA 2: Anatomia do aparelho reprodutor canino ....................................................14
FIGURA 3: anatomia do aparelho reprodutor canino .....................................................14
FIGURA 4: Eixo hipófise-hipotálamo-gonadal .............................................................16
FIGURA 5: Ação dos hormônios em cada fase do ciclo .................................................18
FIGURA 6: ilustração das alterações hormonais ............................................................19
FIGURA 7: Citologia do período proestro. ....................................................................21
FIGURA 8: Citologia do período estro...........................................................................21
FIGURA 9: Citologia do período diestro........................................................................22
FIGURA 10: Citologia do período anestro......................................................................23
FIGURA 11: Foto da vagina registra por vaginoscópio no período
Proestro............................................................................................................................24
FIGURA 12: Foto da vagina registra por vaginoscópio no período
Estro ................................................................................................................................24
FIGURA 13: Foto da vagina registra por vaginoscópio no período
Diestro ............................................................................................................................25
FIGURA14: Imagem fotográfica de uma hiperplasia vaginal de uma cadela Bulldog
Francês .................................................................................... .......................................27
FIGURA 15: Imagem fotografia do prolapso uterino de uma cadela da raça
Rotweiller........................................................................................................................27
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, os animais de estimação, principalmente os cães,
conquistaram lugar na sociedade, passando de animal doméstico a membro
da família. Esta transformação na interação homem-animal representou
mudança brusca no mercado pet, despertando crescente interesse por
produtos direcionados a cães e gatos e, consequentemente, gerando
faturamento anual próximo dos U$ 2 bilhões (Yabiku, 2009). Neste
segmento, a comercialização de animais tornou-se sinônimo de lucro
(Souza et al., 2001) e observou-se um aumento na procura por
acompanhamento reprodutivo.
Técnicas de reprodução assistida, tais como inseminação artificial e
congelamento de sêmen canino, vêm sendo realizadas, permitindo
intercâmbio mundial de material genético e motivando pesquisas para o
aprimoramento das condições que simulam os processos biológicos.
A maioria das cadelas quando vem para a investigação da fertilidade
e manejo de criação são normais, saudáveis férteis cuja aparente
infertilidade está relacionada a um mal-entendido da fisiologia reprodutiva
da fêmea. Muitas cadelas são acasaladas em momentos inapropriados. O
acompanhamento preciso de cada cadela durante cada ciclo estral permite
estimar o tempo necessário para o acasalamento ou inseminação.
Há necessidade de um maior conhecimento e padronização na
determinação precisa da ovulação, da maturação oocitária e da cronologia
do desenvolvimento embrionário para que se consiga mimetizar as
condições in vivo e alcançar bons resultados nas técnicas de reprodução
artificial (Reynaud et al., 2005).
O objetivo desta revisão de literatura é discutir os aspectos
fisiológicos do processo de ovulação, fertilização e desenvolvimento
embrionário inicial nas fêmeas caninas, para obtenção de um conhecimento
maior a respeito das particularidades reprodutivas dessa espécie e aplicação
posterior desses conhecimentos na prática veterinária e na área de
biotecnologia reprodutiva
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Anatomia -------------------------------------------------------------------12
2.1.1
Ovários ----------------------------------------------------------------12
2.1.2
Tubas uterinas --------------------------------------------------------13
2.1.3
Útero -------------------------------------------------------------------13
2.1.4
Vagina -----------------------------------------------------------------13
2.1.5
Vestíbulo --------------------------------------------------------------13
2.1.6
Vulva ------------------------------------------------------------------14
2.1.7
Clitóris ----------------------------------------------------------------14
2.2 Fisiologia Reprodutiva. Fases do ciclo estral -------------------------15
2.2.1
Proestro ---------------------------------------------------------------16
2.2.2
Estro -------------------------------------------------------------------17
2.2.3
Diestro ----------------------------------------------------------------18
2.2.4
Anestro ---------------------------------------------------------------19
2.3 Exames complementares ------------------------------------------------19
2.3.1
Citologia vaginal ----------------------------------------------------19
2.3.1.1 Citologia do proestro ------------------------------------------------20
2.3.1.2 Citologia do estro ----------------------------------------------------21
2.3.1.3 Citologia do diestro -------------------------------------------------22
2.3.1.4 Citologia do anestro -------------------------------------------------22
2.3.2
Endoscopia vaginal -------------------------------------------------23
2.3.2.1 Vaginoscopia do prostro --------------------------------------------23
2.3.2.2 Vaginoscopia do estro- ----------------------------------------------24
2.3.2.3 Vaginoscopia do diestro ---------------------------------------------25
2.3.2.4 Vaginoscopia do anestro --------------------------------------------25
2.4 Afecções do aparelho reprodutor --------------------------------------25
2.4.1
Período do proestro ------------------------------------------------25
2.4.2
Período do diestro --------------------------------------------------28
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ----------------------------------------30
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -----------------------------30
2. REVISAO DE LITERATUR
2.1. ANATOMIA
2.1.1Ovários
Os ovários estão situados junto à parede dorsal do corpo, aproximadamente 1
a 2 cm caudalmente ao rim correspondente. O ovário direito é geralmente encontrado
dorsal ou dorsolateral ao cólon ascendente e o esquerdo entre a extremidade dorsal do
baço e cólon descendente. São estruturas pequenas, de contornos irregulares e
formato oval achatado. Na cadela os ovários estão completamente cobertos por uma
bolsa ou bursa ovariana, composta de tecido gorduroso e músculo liso e possui
ventralmente uma abertura semelhante a uma fenda. O mesovário e o mesosalpinge
contribuem para a formação da bolsa (FELDMAN E NELSON, 1998)
Figura 1: Anatomia dos ovários e corno uterino
Fonte: Guanabara e Koogan. (1996)
2.1.2 Tubas uterinas
As tubas uterinas originam-se na superfície medial dos ovários. Apresenta
regiões bem definidas: o infundíbulo, região em forma de funil que “abraça” o ovário,
apresenta fímbrias que são projeções que partem do infundíbulo e “massageiam” a
superfície do ovário, facilitando a captação dos oócitos; ampola, região onde
geralmente ocorre a fertilização e o istmo, local onde a tuba uterina se abre no corno
uterino (HARVEY, 2006).
2.1.3 Útero
O útero é órgão muscular que abriga o feto durante o desenvolvimento, o útero
se estende longitudinalmente no abdome em sentido crânio-cauda. Os cornos uterinos
constituem a porção mais alongada do útero e o local onde ocorre o desenvolvimento
embrionário, apresentam comunicação cranial com a tuba uterina e caudal com o
corpo uterino. O corpo uterino apresenta comprimento relativamente curto, e sua
principal função é a de direcionar o feto para a cérvix no momento da expulsão. Por
último, a cérvix uterina, representa uma região muscular mais espessada, e que separa
o útero e a vagina. A cérvix mantém o útero fechado durante a maior parte do ciclo,
mantendo sua condição de esterilidade. O canal cervical é posicionado obliquamente
dentro da massa muscular (FELDMAN E NELSON, 1998).
O útero apresenta três camadas que são denominadas: endométrio, a camada
mais interna; miométrio, camada muscular e intermediária; e o perimétrio, camada
mais externa da parede uterina. A circulação é feita pela artéria uterina e através de
veias satélites (JOHSNTON, 2001).
2.1.4 Vagina
A vagina é relativamente longa, comunica-se cranialmente com a vulva e
caudalmente com o vestíbulo. Apresenta pregas longitudinais que contribuem para
sua capacidade de distensão. A irrigação se dá pela artéria vaginal e a drenagem pelas
veias satélites (HARVEY, 2006).
2.1.5Vestíbulo
O vestíbulo é a via de passagem comum ao útero e bexiga urinária. Apresenta
um tubérculo uretral, pequena elevação na parede ventral da região mais cranial do
vestíbulo, onde a uretra se abre (FELDMAN E NELSON, 1998).
2.1.6 Vulva
A vulva é a porção mais externa do trato reprodutivo, visível mesmo sem
manipulação da genitália. Está posicionada na terminação caudal do vestíbulo.
Composta por um par de lábios que formam uma comissura no sentido dorso-ventral.
Os lábios são compostos por tecido conjuntivo contendo abundante quantidade de
fibras elásticas, músculo liso e gordura. São relativamente pequenos nas cadelas em
anestro, mas tornam-se bastante edemaciados durante o proestro. Em gatas, as
alterações de vulva durante o proestro não são tão evidentes (JOHSNTON, 2001).
2.1.7 Clitóris
O clitóris é o órgão de ereção na fêmea, embora não desempenhe nenhum
papel importante na cópula canina. A fossa clitoriana é uma depressão na parede
ventral dos lábios vulvares, dentro da qual a porção livre do clitóris se projeta. O
clitóris, assim como o pênis, é composto de raiz, corpo e glande (FELDMAN E
NELSON, 1998).
Figura 3: Anatomia do Aparelho Reprodutor Canino
Fonte: Guanabara e Koogan, (1996).
2.2 FISIOLOGIA REPRODUTIVA
A descrição clássica das fases do ciclo estral em cadela é descrito baseado em
mudanças
comportamentais,
clínicas,
fisiológicas,
citológicas
e
endócrinas
(JOHNSTON, 2001).
A cadela doméstica normalmente apresenta dois ciclos estrais por ano, mas os
ciclos anuais podem variar de um a quatro, dependendo da raça. Na cadela a
quantidade de ciclos estrais ao ano também pode ser influenciada pelo porte da raça
do cão, e embora não seja uma premissa, as raças menores tendem a apresentar mais
de um ciclo por ano quando comparadas às raças maiores, sendo que este intervalo
interestro pode ter uma herdabilidade de 35% (Harvey, 2006).
A onda de LH induz a algumas modificações na estrutura do folículo. As
células da granulosa tornam-se responsivas ao LH e começam a secretar progesterona
(em vez de converter andrógenos em estrógenos sob influência do FSH). Assim, a
granulosa começa sua transformação em estrutura do tipo luteínica antes mesmo da
ovulação. No cão, a luteinização pré-ovulatória e a síntese de progesterona resultante
são importantes para controlar o início da receptividade sexual.
Outra ação da onda de LH é o estímulo de substâncias intrafoliculares, as
quais promovem a ruptura do folículo (CONCANNON e VERTEGEN, 2005).
Figura4:Eixohipófise-hipotálamo-gonadal
Fonte: Guanabara e Koogan, (1996).
2.2 FASES DO CICLO ESTRAL
As fases do ciclo estral das cadelas sofrem influência hormonal, que induzem
transformações morfológicas, clínicas, citológicas, vaginais e cervicais. Estas fases
são bem definidas e divididas em proestro, estro, diestro e anestro (inatividade
reprodutiva) (HARVEY, 2006).
2.2.1 Proestro
A duração média desta fase do ciclo é de nove dias, podendo oscilar entre o e
27 dias. Esta fase se caracteriza pelo edema vulvar e também pela presença de um
corrimento vaginal que varia de serosanguinolento a sanguinolento, dependendo do
animal. Este caráter sanguinolento da secreção é resultado da diapedese eritrocitária
oriunda ruptura dos vasos subepiteliais endometriais miscigenado com a secreção das
glândulas holócrinas uterinas
(CONCANNON, 2005).
As cadelas normalmente apresentam três reflexos clássicos que começam
nesta fase e se acentuam à medida em que elas avançam para o estro: contração da
região perineal ao ser tocada, lateralização da cauda e curvatura
dos membros
pélvicos em resposta ao toque na lateral da vulva (VERSTEGEN, 2008).
Estes sinais clínicos ocorrem devido à ação do estrógeno, que aumenta
progressivamente suas concentrações séricas. Durante este aumento o epitélio vaginal
sofre estratificação e proliferação celular. Assim, à medida que há progressão do
ciclo, há predomínio de células superficiais nos esfregaços vaginais, caracterizando a
expressão máxima deste hormônio (HARVEY, 2006).
2.2.2 Estro
A duração média desta fase é de sete dias, variando de cinco a nove dias. O
edema vulvar pode continuar presente, embora possa dar lugar a uma vulva mais
macia e flácida, acompanhada pela diminuição ou ausência da secreção vaginal,
assim como pela modificação de sua característica. O comportamento da cadela
também se altera e ela passa a ser receptiva ao macho no momento em que as
concentrações
de
estrogênio
diminuem
e
as
de
progesterona
aumentam
(CONCANNON, 2008).
O pico de LH persiste por 12 a 24 horas ou até 72 horas e após este período,
ocorre a ovulação, observando-se a luteinização dos folículos maduros, que evoluem
para corpos lúteos secretores de progesterona 36 a 50 horas depois. O pico de LH
pode ser considerado como o período mais importante do ciclo estral da cadela uma
vez que todos os eventos, da ovulação à parição, lhe são retroativos (JOHNSTON,
2001).
As ovulações são múltiplas e parecem ocorrer de forma sincronizada à
ruptura dos folículos. Os oócitos são liberados do folículo ainda imaturos, quando se
encontram na prófase I, diferindo de outras espécies que ovulam oócitos maduros (já
em metáfase II). Sendo assim, o oócito canino necessita de aproximadamente 24 a 96
horas para sofrer a completa maturação, a qual ocorre, assim como a fertilização, no
oviduto (HARVEY, 2006).
Figura 5: Ação dos hormônios em cada fase do ciclo
Fonte: Gobello, (2002)
2.3.3 Diestro
O intervalo que compreende esta fase do ciclo é referido como 56 a 68 dias na
fêmea prenhe e de 60-100 dias na não prenhe. O diestro é referenciado como a fase
do ciclo que, em níveis hormonais, se observa a predominância da progesterona, a
qual passa de 1 a 2 ng/mL para picos de 15 a 90 ng/mL (HARVEY, 2006).
As concentrações de progesterona não diferem entre fêmeas prenhes e não
prenhes principalmente entre os 15 dias pré e os 40 dias pós-pico de LH. Essa
exposição constante às concentrações deste hormônio em fêmeas não prenhes é única
entre os mamíferos. As concentrações crescentes de progesterona do diestro iniciam o
desenvolvimento do tecido mamário e quando a fêmea chega no final do diestro um
aumento na atividade secretória da prolactina, ocasionam a lactação. (FELDMAN e
NELSON, 1996). Essas alterações sao muito similares às que ocorrem em fêmeas
prenhes, e que pode ser considerada uma das explicações da grande incidência de
pseudogestação em cadelas (GOBELLO, 2001).
Figura 6: Ilustração das alterações hormonais e sequencia de eventos
envolvendo o momento de ovulação e fertilização em cadelas.
Fonte: Nelson (1996)
2.2.4 Anestro
O anestro é considerado a fase de quiescência reprodutiva em relação ao
comportamento e aos sinais clínicos, pois quando se avalia a concentração hormonal,
observam-se oscilações principalmente do LH e FSH. O tempo de duração varia entre
dois e dez meses, variação que pode estar relacionada a fatores raciais, sanitários,
ambientais, entre outros (CONCANNON, 2008).
O fim do anestro pode ser considerado quando se tem uma elevação nos níveis
de FSH (FELDMAN e NELSON, 1996).
O útero durante o anestro sofre processo de auto-reparação . Ele deve atingir a
condição de completamente involuido. Reparo uterino completo leva em média 120
dias em uma cadela não gestante e 140 dias num ciclo fértil (GOBELLO, 2001).
2.3. EXAMES COMPLEMENTARES
2.3.1. Citologia vaginal
A citologia vaginal é uma técnica diagnóstica simples e rápida que pode ser
empregada para a determinação da fase do ciclo estral, permitindo detectar o
momento ideal para a realização da inseminação artificial ou da monta natural
(FELDMAN, 1996). Determinar a data provável de parição, através do
acompanhamento diário das mudanças na citologia vaginal pode-se determinar o
primeiro dia do diestro. Sabendo-se que o diestro nas cadelas gestantes tem a duração
de aproximadamente 58 dias, pode-se calcular a data aproximada do parto.
A confirmação da cópula, o achado de espermatozóides na lâmina de citologia
vaginal confirma uma cópula recente, embora a ausência de células sexuais
masculinas não seja um indicativo de que a cópula não ocorreu (CONCANNON,
2008).
Quando há suspeita de um eventual cruzamento indesejável, a avaliação da
citologia vaginal pode indicar se um coito é fértil ou não, de acordo com a fase do
ciclo estral que a fêmea se encontra, ou seja, detectando proestro ou diestro as
chances de fertilização serão diminuídas (GOBELLO, 2001).
2.3.1.1 Citologia do Proestro
Proestro é marcado pela presença de hemácias. Entretanto, na fase inícial a
lâmina pode assemelhar-se muito à lâmina do anestro, em função da presença de
células parabasais, intermediárias, neutrófilos e bactérias. O aspecto microscópico da
lâmina é “sujo”, pois nesta fase do ciclo a fêmea produz grande quantidade de
secreções cervicais e vaginais que se coram ao fundo do esfregaço (SORRIBAS,
2006).
Na fase final são mais observados neutrófilos no esfregaço, pois com o
espessamento da camada epitelial, as células leucocitárias não conseguem penetrar a
barreira celular e desembocar no lúmen vaginal( VERTEGEN, 2006). A presença de
hemácias é variável e o aspecto citológico da fase final do proestro é bastante
semelhante ao estro. As células parabasais e intermediárias vão diminuindo durante o
proestro e a porcentagem de células superficiais vai gradativamente aumentando.
Nesta fase do proestro a maioria (80%) das células encontradas no esfregaço é do tipo
superficial nucleada e anucleada (SORRIBAS 2006)
Figura 7: Células superficiais e hemácias, na citologia vaginal (250x).
Observam-se células com núcleo denominadas superficiais e
hemácias.
Fonte: Harvey (2006)
2.3.1.2 Citologia do Estro
Durante o estro a citologia vaginal permanece relativamente constante. As
células superficiais nucleadas e as escamas anucleadas são a maioria ou totalidade das
células encontradas no esfregaço. Por ocasião da onda de LH, a maioria das células
tem sido descrita como superficiais anucleadas ou escamas. Essas escamas
anucleadas estão presentes durante todo o período de duração do estro (SORRIBAS,
2006).
Figura 8: Citologia vaginal apresenta células superficiais escamas (400x).
Na figura a maioria células apresentam-se anucleadas ou escamas e alguns
eritrócitos.
Fonte: Harvey, (2006)
2.3.1.3 Citologia do Diestro
O aspecto da lâmina nesta fase é inteiramente diferente do apresentado no
período do estro, e essa mudança pode ocorrer em 24 a 48hs do final do estro. A
porcentagem de células superficiais decresce para um número inferior a 20% e
predominam as células parabasais e intermediárias. As células intermediárias
normalmente mostram-se agrupadas e os neutrófilos reaparecem. Nesta fase são
encontradas as células do metaestro e a presença destas células tem sido utilizada para
diferenciar o diestro do início do proestro, quando as lâminas são analisadas
isoladamente. Após os dias iniciais do diestro, o aspecto da lâmina torna-se
semelhante às lâminas do anestro (SORRIBAS, 2006).
Figura 9: Citologia vaginal com células intermediárias, células do
“metaestro” e neutrófilos (400x). Nesta fase a citologia apresenta muitos
neutrófilos e a presença de núcleos nas células.
Fonte: Sorribas, (2006)
2.3.1.4 Citologia do Anestro
As células predominantes são as parabasais e as intermediárias em pequena
quantidade. Podem ser visualizadas bactérias da flora bacteriana normal e neutrófilos,
hemácias estão geralmente ausentes. O número de células por lâmina é pequeno e elas
se encontram bem espaçadas (SORRIBAS, 2006).
Figura 10: Células basais e parabasais na citologia vaginal (160x). A
citologia mostra células pequenas com núcleos, poucos neutrófilos e
ausência de hemácias.
Fonte: Sorribas, (2006)
2.3.2 Endoscopia Vaginal
A endoscopia vaginal ou vaginoscopia é o exame da superfície da mucosa
vaginal, geralmente utilizando um endoscópio rígido com capacidade de fibra óptica
(DAVIDSON,2006)
O procedimento é bem tolerado na cadela nao hevendo necessidade de
sedação, o procediemnto é realizado com o paciente em pé. O exame pode demorar
tão pouco minutos, e com experiência, informações valiosas podem ser coletadas de
forma rápida e com custo mínimo. A avaliação vaginoscópica para a gestão de
reprodução é baseada na observação dos contornos das mucosas dobras, a cor da
mucosa e de qualquer fluido presente, além de alterações durante proestro e estro
(FONTBONNE,2010).
2.3.2.1 Vaginoscopia no proestro
No início do proestro as pregas mucosas são largas, edemaciadas e rosa ou
rosa / branco na cor, com fluido serosanguinolento em fendas formadas pelas dobras.
Estas alterações são devido ao espessamento do epitélio da mucosa e acumulo do
edema na submucosa, ambos os quais são efeitos produzidos por concentrações
crescentes de estrogénio neste momento(OKKENS, 2010 ).
Figura 11: Foto da vagina registrada por vaginoscópio no período proestro.
Observam-se a mucosa edemaciada rosa, com fluído serosanguinolento.
Fonte: Concannon, (1986).
2.3.2.2 Vaginoscopia do estro
O início do período de pico fértil pode assim ser detectado observando o
aparecimento de encolhimento da mucosa sem angulações excessivas, enquanto que o
encolhimento bruto de inteiras pregas mucosas com angulação óbvia é característica
do período de fertilização
(VERTEGEN,2006).
Figura 12: Foto da vagina registrada por vaginoscópio no período estro.
Observa-se pregueamento e o ressecamento das dobras vaginais.
Fonte: Concannon, (1986).
2.3.2.3 Vaginoscopia do diestro
O término do período de fertilização pode ser detectado devido a diminuição
ou cessação do encolhimento da mucosa, um achatamento e adelgaçamento da
mucosa e, relacionado com a descamação da maior parte das camadas superficiais de
células epiteliais. Algumas áreas são brancas e ainda de espessura, enquanto que
outras áreas tornando-se avermelhado e bastante Isso ocorrer simultaneamente com o
início da diestro
( ENGLAND; CONCANNON, 2002)
Figura 13: Foto da vagina registrada por vaginoscópio no período diestro.
Fonte: Sorribas,(2006).
2.3.2.4 Vaginoscopia do anestro
Durante anestro a mucosa vaginal é relativamente plana, seca e vermelho na
aparência. Isto representa uma mucosa muito fina, frágil e friável, facilmente
traumatizados pela manipulação ou instrumentação. ( ENGLAND; CONCANNON,
2002)
2.4 Afecções do aparelho reprodutor da fêmea canina
2.4.1 Proestro
Prolapso vaginal ocorre em várias espécies, como bovinos, caprinos e ovinos.
Nestas espécie refere-se a um verdadeiro prolapso vaginal que envolve toda a parede
vaginal e por vezes, da bexiga também. Na cadela, este tipo de prolapso vaginal é
uma condição muito rara. Se um verdadeiro prolapso na cadela , tais como a bexiga,
mas também o corpo uterino e / ou parte distal do cólon também pode estar presente.
Mais frequentemente, na cadela ocorre um edema da mucosa vaginal imediatamente
cranial ao orifício da vagina e expandindo caudalmente ao longo do orifício da uretra,
pode desenvolver-se sob a influência de estrogênio. Isso pode se tornar grande o
suficiente para se projetar para fora dos lábios Esta condição tem sido
tradicionalmente referida como hiperplasia vaginal, uma vez que o tecido
envolvido é extremamente edemaciado, no entanto, é melhor usar os termos edema
vaginal
(VERTEGEN, 2006).
A hiperpasia vaginal é uma condição que pode ocorrer na cadela jovem
durante a fase folicular sob a influência de estrógeno e pode recorrer a cada estro
subsequente, se a cadela não é tratada adequadamente. Em casos excepcionais, pode
ocorrer no final da gravidez. Pouco se sabe sobre aspectos hereditários. Afigura-se
que a incidência da doença é maior em raças braquicéfalos, tais como o Boxer, Bull
Mastiff e Mastino Napolitano, mas a condição é também observada em Dálmatas e
Dobermanns (JOHNSTON, 2001).
O tratamento depende da extensão do prolapso. Em cadelas no pró-estro ou
cio, o edema geralmente diminue durante a fase lútea e a cadela pode ser
ovariectomizadas, de preferência durante o anestro. A ovariectomia durante o estro
aumenta o risco de hemorragias durante a cirurgia. Em casos moderados a graves, ou
na ausência de tratamento cirúrgico, a massa, que se projecta a partir da vulva, deve
ser mantida limpa e automutilação deve ser prevenida. Gel lubrificante, pomada
antibiótica e glicocorticóides, lágrimas artificiais, calças de protecção e
colar
elizabetano sao recomendados. ( ENGLAND E CONCANNON, 2002).
O tratamento médico não é aconselhável: repete-se um prolapso com
frequência, se não for tratato cirurgicamente. Além disso, os tratamentos com GnRH
ou hCG para induzir a ovulação prematura tem sido utilizados com sucesso limitado.
Se a ovulação prematura ocorre, ele irá fornecer uma vantagem de apenas um par de
dias de exposição prévia à influência de progesterona da fase lútea. Progestágenos
podem ter efeitos secundários, tais como hiperplasia endometrial cística ou
endometrite levando a piometra, especialmente quando administrados durante uma
fase estrogénio-dominado (VERTEGEN, 2006).
Nas fêmeas com prolapso vaginal que se repete várias vezes, e que se estende
para fora dos lábios vulvares, a amputação é o tratamento de escolha (JOHNSTON,
2001).
Figura 14 – Imagem fotografia de uma cadela 3anos, da raça
Bulldog Francês, com Hiperpasia Vaginal
Fonte: Hospital Veterinário Clinivet, (2009).
Figura 15- Imagem fotográfica do prolapso vaginal uterino de uma cadela,
da raça
Rotweiller.
Fonte: Hospital Veterinário Clinivet, (2009).
2.4.2 Diestro
O complexo hiperplasia endometrial cística (HEC) – piometra é uma das
afecções mais comuns na rotina clínica de pequenos animais, principalmente em
fêmeas caninas, e embora possa se manifestar em qualquer idade, animais mais
velhos tem maior incidência sendo esta próxima de 66% em fêmeas com idade acima
de nove anos, considerando ainda que as nulíparas apresentam maior risco de
desenvolvimento desta afecção em relação às primíparas e pluríparas (FIENI, 2006).
As sinonímias mais comuns desta afecção são: piometrite, metrite crônica,
endometrite catarral, endometrite purulenta, endometrite cística crônica e endometrite
purulenta crônica. Pode ser definida como uma afecção crônica do útero que se
desenvolve no período diestral. Sua patogenia ainda não está elucidada, mas é
irrefutável a complexidade do processo, decorrente da combinação dos hormônios
femininos estrógeno e progesterona e da presença de bactérias, caracteriza-se por uma
reação inflamatória exsudativa e degenerativa do endométrio associada ou não ao
miométrio e pela presença de bactérias no lúmen uterino. A ação da progesterona
sintetizada e liberada pelo corpo lúteo, é ampliada pela ação do estrógeno e, uma vez
que as alterações no útero são acarretadas, as bactérias se tornam as coadjuvantes do
processo. Essas alterações, que se repetem nos sucessivos ciclos reprodutivos, passam
a ter uma evolução local crônica e ocasionam o comprometimento progressivo do
estado geral, que pode evoluir até uma fase terminal aguda consecutiva a uma afecção
hepatorrenal (FIENI, 2006).
A piometra pode ser diferenciada da metrite pelo período do ciclo no qual
ocorre e também pela patogênese (JOHNSTON, 2001). A metrite é a inflamação do
útero causada por infecção bacteriana primária logo após o parto quando a
concentração de progesterona sérica é baixa. A piometra é uma doença mediada pela
progesterona e se inicia durante o diestro sendo causada pela repetitiva exposição do
endométrio à progesterona (JOHNSTON, 2001).
No entanto, vários estudos têm sido feitos bem como teorias têm sido
suscitadas para comprovar ou tentar explicar a exata patogenia da HEC. Uma delas,
propõe que o desenvolvimento da piometra esteja associado a excessivas
estimulações hormonais de estrógeno e progesterona (VERTEGEN, 2008).
Figura 15– Imagem fotográfica piometra e endometriose cística.
Fonte: Profa. Dra. Silvia E. Crusco
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a última década o objetivo do estudo da reprodução canina tem sido o
de organizar e entender os mecanismos reprodutivos na espécie. O entendimento do
padrão endócrino e suas inter-relações e de como a função reprodutiva é influenciada
pelo ambiente hormonal individual, tem papel crítico no desempenho do animal, pois
os mesmos apresentam peculiaridades que não são observadas em outras espécies
domésticas.
Muitas dúvidas necessitam ser esclarecidas no contexto da reprodução canina,
principalmente aquelas relacionadas à endocrinologia. O conhecimento de aspectos
reprodutivos básicos é imprescindível para o suporte à clínica e às biotécnicas
reprodutivas ainda limitadas na cadela.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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