28/4/2014 Com ‘efeito Copa’, empresários cariocas têm dificuldades para contratar Com ‘efeito Copa’, empresários cariocas têm dificuldades para contratar Taxa de desemprego no Rio é de 3,5%; no Brasil, de 5%, segundo o IBGE Clarice Spitz, Glauce Cavalcanti e Nice de Paula RIO - O mercado de trabalho no Rio exibe um vigor único no país. A taxa de desemprego na região metropolitana caiu de 3,9% em fevereiro para 3,5% em março e, assim, se tornou a segunda menor entre as seis maiores regiões metropolitanas do país, atrás apenas de Porto Alegre, informou na quinta-feira o IBGE. Um ano antes, o desemprego no Rio era de 4,7%. Na média nacional, a taxa de desemprego recuou de 5,7% em março de 2013 para 5% agora — a menor para o mês desde o início da atual pesquisa do IBGE, em 2003. O Rio foi também a única região do país em que o desemprego caiu e o número de vagas aumentou. Houve a criação de 55 mil postos de trabalho. Na média do Brasil, a taxa de desemprego recuou mesmo com o fechamento de vagas, porque menos trabalhadores têm buscado emprego, em fenômeno que vem se repetindo nos últimos meses. O bom momento do mercado de trabalho, porém, foi ofuscado pela alta da inflação. Com os preços subindo, a renda do trabalhador caiu 0,3% em março, frente a fevereiro. No Rio, a queda foi ainda maior, de 0,6%. — Existe uma interferência da inflação no rendimento — afirmou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. Empresas diminuem exigências para contratar Com a taxa de desemprego baixa do Rio, a falta de mão de obra é um problema para os empresários. Recentemente, a procura espontânea por emprego nas empresas do Grupo Trigo, que reúne Koni, Spoleto e Domino’s, encolheu em cerca de 40%, diz Cláudia Pombal, gerente de Gente, Gestão e Treinamento. Para contornar o problema, a empresa fez mudanças em sua estratégia de recrutamento. — Fizemos parcerias com ONGs, escolas e universidades. Vamos diretamente a várias comunidades falar sobre oportunidades nas três marcas do grupo. Nas lojas, adaptamos horários de trabalho — conta Cláudia. Outra estratégia foi ampliar o perfil dos funcionários, com a contratação de profissionais com mais de 50 anos. O cabeleireiro Marcos André Ventura, de 53 anos, trabalha há três meses numa filial do Spoleto no Centro. — Hoje, o mercado raramente dá oportunidade a maiores de 30 anos. Agora, tenho plano de saúde, benefícios e tempo para complementar a renda, em casa — conta ele, que tem horário flexível e alterna os sábados trabalhados. Para o economista Fernando de Holanda Barbosa, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o mercado de trabalho fluminense se beneficia do aquecimento da economia motivado por grandes eventos, como a Copa do Mundo, mas a saída de pessoas da força de trabalho mostra que o cenário não é tão favorável assim. Entre fevereiro e março, a parcela da população que não está empregada nem procura emprego no Rio aumentou 0,5%. — Os salários crescem acima da produtividade, isso impõe uma restrição ao crescimento que precisa ser compensada. A população vai crescer menos no futuro, o desemprego já não é tão alto, ou seja, já se absorveu toda a mão de obra que se poderia, é preciso flexibilizar a legislação trabalhista. O mercado de trabalho impõe uma restrição ao crescimento — afirma Holanda Barbosa. A economista Hildete Pereira, da Universidade Federal Fluminense (UFF) discorda. Apesar de também observar um cenário positivo, beneficiado pelo aquecimento com a Copa e as Olimpíadas e pela indústria, ela não vê uma restrição de mão de obra, mas uma resistência dos trabalhadores a aceitarem trabalhar por salários muito baixos. — Quando se olha o Nordeste, os salários estão no chão — afirma a estudiosa. Giovani Falcão, gestor de projetos da Top Quality, agência que oferece de 500 a 600 vagas por mês, diz que o número de pessoas que tem procurado emprego está diminuindo cada vez mais. http://oglobo.globo.com/economia/com-efeito-copa-empresarios-cariocas-tem-dificuldades-para-contratar-12234407?service=print 1/2 28/4/2014 Com ‘efeito Copa’, empresários cariocas têm dificuldades para contratar — A demanda por mão de obra no Rio tem sido maior do que a oferta, sobretudo nos setores de comércio, serviços, gastronomia e telemarketing. As empresas estão se adequando a essa realidade, flexibilizando os processos seletivos e abrindo mão de alguns critérios. Para vagas em que eram pedidos dois idiomas estrangeiros, aceitam um. Se pediam curso superior completo, passam a aceitar quem está cursando a faculdade — conta ele. Nos cargos que exigem maior qualificação, a situação não é diferente. Ao contrário. De acordo com Miriam MiriamSion Sion Adiffi, sócia-fundadora da MSA Recursos Humanos, quanto mais elevados os cargos, maiores as dificuldades Adissi de contratação. — Quando se encontra o profissional no mercado, em geral, o salário dele é tão mais alto que a contratação exigiria uma mudança em todo o quadro da empresa. Por isso, muitas empresas estão optando por investir nos talentos internos, porque sai mais barato e motiva a equipe. Ainda assim, está havendo uma pressão nos salários, sobretudo nos setores como infraestrutura, óleo e gás e tecnologia da informação. Salário médio no Rio ficou em R$ 2.198,50 No Rio, o salário médio em março ficou em R$ 2.198,50. Apesar de ser o maior entre as metrópoles, registrou queda de 0,6% em relação a fevereiro, mas avançou 6,2% na comparação anual. Na média do país, a renda foi de R$ 2.026,60 em março. Em São Paulo, segundo maior rendimento do país, os ganhos ficaram em R$ 2.133,20, estáveis em relação a fevereiro. Segundo dados do IPCA, a inflação na região metropolitana do Rio chegou a 7,87% nos últimos 12 meses terminados em março. No mês de março, a indústria no Rio abriu 31 mil postos de trabalho. Nas seis regiões, houve retração de 7 mil vagas no emprego industrial. Segundo Cimar Azeredo, do IBGE, é a indústria que sustenta o bom desempenho do mercado de trabalho e da renda. Para Azeredo, o efeito Copa ficará mais evidente em serviços mais perto do Mundial, sobretudo, no setor de hospedagem e alimentação. — O rendimento do trabalhador da indústria do Rio está acima do de São Paulo desde julho de 2012 e isso impulsiona a renda como um todo no Rio — afirma. Para o economista Manuel Thedim, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), a principal razão para a saída de pessoas do mercado de trabalho, dentro e fora do Rio, é o aumento da renda. Thedim não vê sinais de restrição de mão de obra, embora considere que alguns setores possam sofrer, de forma eventual, com a falta de pessoal. — Uma parte é muito saudável, as famílias estão ganhando mais e retardando a entrada de jovens no trabalho. Isso está acontecendo no Brasil como um todo e no Rio, em particular. Historicamente, o Rio tem baixo desemprego, mas isso não necessariamente se reverte em mais formalização — afirma Thedim. URL: http://glo.bo/1hSnG3t Notícia publicada em 18/04/14 - 6h00 Atualizada em 18/04/14 - 8h36 Impressa em 28/04/14 - 15h44 http://oglobo.globo.com/economia/com-efeito-copa-empresarios-cariocas-tem-dificuldades-para-contratar-12234407?service=print 2/2