Sexta-feira e fim de semana 24, 25 e 26 de outubro de 2014 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia 11 TRABALHO Menor procura por vagas reduz desemprego A redução na taxa de desemprego na passagem de agosto para setembro, que saiu de 5% para 4,9% - a menor para o mês desde 2002 —, teve mais uma vez ajuda da migração de pessoas para a inatividade, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira. A taxa vem recuando porque menos pessoas estão procurando trabalho. “O mercado não tem gerado novas vagas”, informou Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Ao longo deste ano, nestas comparações anuais (mês contra mesmo mês do ano anterior) mostram que tem redução de procura por emprego e aumento da inatividade. Essa redução da procura, de fato, acaba interferindo na taxa de desemprego. O indicador cai porque menos pessoas estão procurando trabalho”, explicou Adriana. A população desocupada recuou 10,9% em setembro ante setembro de 2013, o equivalente a menos 145 mil pessoas na fila do desemprego. No entanto, não houve geração de vagas no mesmo período. A população ocupada até encolheu 0,4%, devido à dispensa de 91 mil trabalhadores, embora a variação não seja considerada estatisticamente importante pelo IBGE. “O mercado também não vem criando vagas de forma significativa. A gente vem neste ano de 2014 com uma população ocupada praticamente parada, praticamente estável. Ou seja, estatisticamente falando, a população ocupada não vem se movimentando”, afirmou a técnica. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego tem atingido mínimas históricas ajudada pela saída de pessoas do mercado de trabalho. O total de inativos cresceu 3,7% em setembro, em relação a um ano antes, o equivalente a 690 mil pessoas que migraram para a inatividade. Queda mensal não gera otimismo, alertam analistas O recuo na taxa de desemprego para 4,9% em setembro não significa que o mercado de trabalho brasileiro esteja saudável, segundo Alexandre Póvoa, sócio da Canepa Asset Management. Ele explica que se trata de um efeito estatístico, em função do aumento na inatividade. “A taxa de desemprego está em um ponto de inflexão e deve começar a piorar gradativamente, o que será mais visível em 2016”, comenta. Ele aponta que a indústria demitiu 59 mil pessoas em setembro, mostrando uma fragilidade muito grande. Já o setor de serviços também começa a fraquejar. Os serviços prestados a empresas, por exemplo, tiveram aumento de apenas 0,2% no contingente de trabalhadores de agosto para setembro. “Já, já nós vamos começar a ver o efeito do desemprego nos serviços, que são o grande empregador.” Póvoa aponta que a estabilidade da massa de renda real habitual dos ocupados em setembro ante agosto mostra que muitas empresas estão na fase final do processo de tentar manter seus funcionários. “Elas seguraram as dispensas de funcionários até onde deu”, comenta. O analista explica que os dados dessazonalizados do Caged já apontam para uma forte queda na criação de empregos e diz que uma hora isso deve se refletir nos números do IBGE. “Em algum momento, o denominador (número de pessoas procurando emprego) vai se estabilizar, e com o numerador aumentando, o desemprego vai subir.” Na avaliação do estrategista-chefe do Crédit Agricole Brasil, Vladimir Caramaschi, a ligeira desaceleração da taxa de desemprego em setembro nas seis regiões metropolitanas do País reflete efeitos estatísticos e não indica que o mercado de trabalho está aquecido, pois houve demissão em alguns setores e a massa real está estável, disse. “A queda veio de população economicamente ativa, o número de vagas recuou. Isso não é sinal de força de trabalho. É um efeito estatístico”, afirmou. Para Caramaschi, o debate sobre o motivo do arrefecimento do nível do desemprego é amplo, mas pode ter algum reflexo dos programas sociais, que acaba por permitir que a pessoa tenha condições de se dedicar aos estudos, por exemplo. “Os dados do IBGE mostram piora do mercado de trabalho. Houve demissão em vários setores”, avaliou. “A redução da população desocupada tem sido acompanhada pelo aumento da inatividade”, disse Adriana. “Ainda que estável, você tem um acréscimo de 133 mil pessoas na população inativa em setembro ante agosto. Na comparação anual (ante setembro de 2013), o resultado é bem evidente, porque atinge patamares de variações estatísticas”, acrescentou. O IBGE afirma que o desalento, grupo formado por pessoas que desistiram de procurar emprego por não terem encontrado, está até diminuindo. O número de inativos tem aumentado por causa da fatia da população que não procura emprego porque não quer mesmo trabalhar. Segundo Adriana, essa população é formada por pessoas ou muito jovens, que estão em processo de escolarização e qualificação e adiam a procura por emprego, ou mais velhas, que já se aposentaram e saíram do mercado de trabalho. ANTONIO PAZ/JC Dado de setembro teve mais uma vez ajuda da migração de pessoas para a inatividade, segundo pesquisa do IBGE Ocupação encolheu 0,4%, com dispensa de 91 mil pessoas Indústria e construção foram campeões em dispensas Apesar do recuo da taxa de desemprego, os setores da indústria e da construção civil, que já vinham com problemas devido ao arrefecimento da atividade econômica no País, foram os que mais demitiram em setembro, apontou a Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE. No mês passado, houve uma redução de 59 mil postos de trabalho na indústria em relação ao verificado em agosto. Esse volume representa uma queda de 3,5% do número de ocupados no setor, que fechou setembro com 3,4 milhões de empregados. Na comparação com igual período do ano passado, a quantidade demissões disparou, com recuo de 6,4% da força de trabalho para 3,6 milhões de empregados. Já na construção civil, 63 mil trabalhadores perderam seus empregos de agosto para setembro, o que levou a uma queda de 3,5% no volume de ocupados no setor, que fechou o mês com 1,7 milhão de pessoas. Ante igual período de 2013, houve redução de 4,4% da força de trabalho. “Parte dos empregos da indústria e da construção foi absorvida pelo setor de serviços, que teve aumento na taxa de ocupa- ção”, explicou a técnica do IBGE Adriana Araújo Beringuy. O setor denominado na pesquisa como “outros serviços” inclui, por exemplo, alimentação, hospedagem e transportes e foi o que absorveu a maior parte desses demitidos. De agosto para setembro, 19 mil vagas foram criadas no segmento, o que ampliou em 0,4% o volume de pessoas ocupadas. Na comparação anual, os serviços colocaram 140 mil pessoas no mercado de trabalho em setembro, volume que representou aumento de 3,3% na taxa de ocupação do setor. Cresce o número de trabalhadores por conta própria O número de trabalhadores sem carteira assinada caiu 0,8% em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado. Já os por conta própria subiram 4,3% no período. A queda no emprego sem carteira na média das seis regiões foi bastante influenciada pela redução da ocupação da indústria de São Paulo, segundo Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE. Dos 108 mil postos sem proteção que foram suprimidos em setembro na comparação com o mesmo mês do ano anterior, cerca de metade estava na indústria, em que pesa o fato de o emprego industrial ser mais protegido. Outro fator que pode ter influenciado a redução dos sem carteira em um ano foi a dispensa no setor de construção em Belo Horizonte. “Em alguns momentos da série, sobretudo em 2010 e 2011, a redução dos sem carteira ocorreu com o aumento dos trabalhadores com carteira. Dessa vez, a queda dos sem carteira não foi acompanhada pelo aumento dos com carteira, mas dos conta própria”, afirmou Adriana. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na semana passada pelo Ministério do Trabalho, também mostraram recuo no mercado formal em setembro, quando houve geração líquida de 123.785 empregos — queda de 41,35% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram abertas 211 mil vagas. Foi o pior resultado para o mês desde 2001. Entre janeiro e setembro, foram criados 904.913 postos, considerando dados ajustados (declarações fora do prazo) — o que representa recuo de 31,6% na comparação com o acumulado nos nove primeiros meses do ano passado, quando o saldo ultrapassava um milhão de contratações.