Artigo - Sustentabilidade
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Mentes brilhantes e educação caótica
Arnaldo Niskier (*)
A inteligência, hoje, é concebida como fator estratégico. O conhecimento se tornou elemento explícito na teoria
econômica sobre o desenvolvimento. É claro que não se chega ao conhecimento, indispensável em qualquer
sistema de ensino, com a educação submetida, como no Brasil, a um processo nitidamente caótico.
Os números são valorizados temos 56 milhões de estudantes, atingimos praticamente a universalização do ensino
fundamental, aproximamo-nos dos 10 milhões de alunos no ensino médio, os universitários são mais de 2
milhões; mas a pergunta que não quer calar se refere à qualidade dominante. Péssima? Medíocre? Regular? Nem
com boa vontade, salvo honrosas exceções.
E, assim, como assegurar aos formandos o conhecimento que torne o país mais competitivo? Exceções existem,
mas são pontuais. Como é o caso dos profissionais da Embraer, que hoje exporta, com as suas eficientes
aeronaves, cerca de US$ 2 bilhões. Ou a soja brasileira, a de maior produtividade no mundo, que exporta US$ 3
bilhões. Ponto para a Embrapa.
As mentes brilhantes de que dispomos freqüentam um razoável número de boas instituições, como a USP, a
UFRJ, as PUCs, a Unicamp, o ITA, o IME, o IPT de São Paulo, a Faperj e a Fapesp. Tudo isso com menos de 30 mil
cientistas na ativa, enquanto os EUA contam hoje com mais de 800 mil.
Aí pode estar um fator objetivo que diferencia a renda per capita de uma nação e de outra. Esse abismo tem por
causa a forma de encarar a educação, desde o pré-escolar. Estamos há muitos anos-luz da prioridade norteamericana dada a esse estágio, como pudemos verificar na viagem feita aos Estados de Connecticut e
Massachusetts, para análise das condições em que é oferecida a 'high school' aos estudantes norte-americanos.
Para não ir longe, nesse assunto, basta que se recorde que tais escolas são de tempo integral, expressão que
envolve diretores, professores e alunos em turmas de no máximo 12 estudantes. Bibliotecas e laboratórios
primorosos. Ambiente de disciplina permanente e uma paixão apreciável pela qualidade em todos os
procedimentos. Não há escolas de mais de 500 alunos e a ênfase é humanística, com a valorização da língua
inglesa, da filosofia e da história.
São elementos para a indispensável comparação. Estamos bem longe desse tipo de atendimento. Quando
visitamos a Suffield Academy, a Williston Northampton School e a Deerfield School, percebemos um espírito de
coesão e seriedade que ainda nos falta. Vivemos o período da euforia estatística. Colocar 5.000 alunos numa
escola de segundo grau é motivo de alegria, mesmo que se conclua, sobretudo nas escolas públicas, que os
resultados são precários. Como competir com instituições que dispõem dos alunos cerca de oito a dez horas por
dia, se nos nossos grandes centros urbanos, com salas de 50 alunos, as aulas não passam de quatro horas?
Cálculos do IBGE garantem que há nas escolas brasileiras perto de 400 mil alunos superdotados ou portadores de
altas habilidades. Quem poderia afirmar que existe algum tipo oficial de atendimento a essas crianças e a esses
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O professor John Nash, matemático detentor do Prêmio Nobel de economia de 1994, foi retratado de forma
soberba. Tem imenso talento, mas é vítima da esquizofrenia, com a qual conseguiu conviver. Nossos
superdotados -se preferirmos essa expressão- podem perfeitamente receber assistência adequada, a fim de
canalizar as suas energias para grandes realizações. Isso sem desprezo à sua necessária socialização na escola.
O que não se pode é assistir, de braços cruzados, à ampliação do número de Lúcios Flávios e Escadinhas, que, à
falta de assistência nas regiões pobres em que nasceram e cresceram, tornaram-se bandidos terríveis, portadores
de uma grande inteligência e nenhum apreço pelos valores mais caros à nossa formação moral ou religiosa.
Einstein teve uma infância extremamente difícil. Não apreciava a escola, chegou a frequentar a lista dos
repetentes. Mas, bem orientado, sobretudo depois que fugiu da Alemanha, transformou-se num dos maiores
gênios da humanidade. Quando chegará a nossa vez de produzir gênios? Nunca tivemos a alegria de receber um
Prêmio Nobel.
O primeiro passo é dar a importância devida à primeira infância. É nessa faixa etária que se poderá investir, com
proveito, especialmente em educação, saúde e assistência social, para romper o ciclo da pobreza. Só um exemplo
dessa lamentável desídia: em São Paulo faltam 26 mil vagas nas escolas públicas para crianças de 4 a 6 anos. O
que dizer do resto do Brasil? Não se estará assim criando uma usina de menores de rua?
O Plano Nacional de Educação determina que o ano de 2006 seja o limite para que 30% das crianças brasileiras
que têm até 3 anos estejam matriculadas em creches. Dados do IBGE mostram que hoje só 10% são atendidas.
Quem acredita no cumprimento da meta estabelecida? Vivemos de fantasia em fantasia.
(*) Educador, é membro da Academia Brasileira de Letras. Foi presidente da ABL (1998-99) e secretário Estadual de Ciência e Tecnologia
(1968-71) e de Educação e Cultura (1979-83) do Rio de Janeiro
Fonte: Folha de São Paulo – Folha Opinião - Acessado em 27/5/2002
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Afinal, o que é sustentabilidade