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DEZEMBRO / 2011
REPRODUÇÃO ENTREVISTA ESPECIAL JORNAL DO COMERCIO - Com adaptaçõe de título e legenda - Por: Guilherme Kolling e Adão Oliveira
Ibsen afirma que mais uma vez o PMDB tem o papel de arrastar o Brasil
Com posições firmes como a distribuição justa dos royalties do petróleo e a defesa do desenvolvimento econômico com respeito ao meio ambiente o partido está credenciado para ser definidor dos rumos do País
O
presidente estadual do
PMDB, Ibsen Pinheiro,
avalia que o PT avançou ao
tornar-se mais moderado após chegar
ao poder. Mas aponta que houve um
exagero nesta mudança, que inclui uma
busca irrestrita de apoios. O peemedebista entende que os governos do Estado, com Tarso Genro (PT), e federal,
comandado por Dilma Rousseff (PT),
estão prisioneiros de um processo de
aparelhamento do Estado. “As corporações se apropriaram do processo decisório”, aponta. Para ele, falta “confrontação para compatibilizar o interesse
geral ao interesse corporativo”. Nesta
entrevista ao Jornal do Comércio, o peemedebista reitera que vai deixar o comando do seu partido, em março, por
razões pessoais e desconversa ao falar
sobre 2012. “Não ‘carto’ nem descarto
(ser candidato nas eleições pela prefeitura de Porto Alegre).”
JC - Como?
Ibsen - Está numa conduta que estou chamando de “Arenização” (relativo à Arena, partido de sustentação
do regime militar), que é de atrair
a todos, convoca inclusive a oposição para ser governo. Canoas é um
exemplo. Todos partidos estão no
governo. Tem um vereador de oposição, que foi escolhido pelo prefeito
(Jairo Jorge, PT). Esta “Arenização” é
a face mais recente do PT.
Jornal do Comércio - Qual é a sua
avaliação sobre os governos de
Tarso e de Dilma?
Ibsen Pinheiro - Os dois estão
prisioneiros de um aparelhamento
do Estado, com as corporações se
apropriando do processo de decisão.
Falo de “corporação”, no sentido
de trabalhadores, empregadores. O
governo Tarso é um prisioneiro satisfeito. A criação de CCs é sintoma
do aparelhamento do Estado... O PT
desenvolveu uma virtude no governo,
que foi a moderação - o partido radical era para ganhar a eleição. Mas exagerou nessa moderação, nas alianças.
Não limitou esse mecanismo.
JC - Quais são esses sinais?
Ibsen - Algumas mudanças ministeriais, declarações indicando resistência a isso, sobretudo, a falta de
carinho pelas corporações - aquele
carinho que o presidente Lula tinha.
O governo Dilma é prisioneiro rebelde das corporações.
JC - Mas o governador Tarso apontou, por exemplo, que o PMDB é
oposição aqui no Estado.
Ibsen - “Arenização” é isso: escolher
não só a situação, mas também a oposição. Isso é típico da apropriação do Estado. Dizer quem quer na oposição ao
governo. Isso está ocorrendo no Estado
e no plano nacional. Só que a presidente Dilma está dando sinais de reação.
JC - O senhor pode conceituar
quem são essas corporações?
Ibsen - Vou dar dois exemplos:
Fiesp e CUT, uma de empregadores
e uma de empregados. E tem as corporações regionais. Por exemplo, o
governo federal não propicia a alteração dos Fundos de Participações dos
Galileu Oldenburg
Estados (FPE) e dos
Municípios (FPM), que
devem ser atualizados.
Com isso, diminuiria os
privilégios da destinação anterior. Então, as
corporações regionais
se movem contra essa
mudança. E contra as
mudanças da reforma
tributária.
JC - E aqui no
Estado?
Ibsen - Vou exemplificar: indústria, comércio, agricultura - as corporações se mobilizam
e o governo é prisionei“O PT desenvolveu a conduta
ro delas. Não dá para
da Arenização, que é atrair
atender a todas, pora todos, convoca inclusive a
que o universo é 100,
as reivindicações são
oposição para ser governo”
1000. Mas o interesse
geral da sociedade inclui setores desorganizados, que não para eu continuar...
têm voz, sindicato nem ONG. E quem
fala por eles? Só uma instituição pode: JC - O PMDB não está disperso?
a instituição política. Por isso ela está Por exemplo, no congresso do
na mira das demais, que a estão patru- partido em Porto Alegre havia
lhando. Então, está faltando confron- uma faixa: “Sartori governador
tação para compatibilizar o interesse em 2014”. Aí, o deputado Edgeral ao interesse corporativo. Porque son Brum cobrou uma faixa com
o corporativo é legítimo, só não deve “Mendes Ribeiro governador”...
Ibsen - Isso tem grande visibilidade e
ser preponderante. E vejo, no governo Dilma, sinais de resistência, quando pouca importância. Não é divisão, é distoma atitudes que contrariam a lógica puta. Mais do que natural, é obrigatória,
da corporação. O salário-mínimo foi é salutar. Só no facismo se pode imaginar não ter isso. Como não ter disputa
um exemplo.
para (o candidato a) governador?
JC - Passando ao PMDB, por que
o senhor resolveu deixar a presi- JC - Mas nesse momento e aberta
assim?
dência da sigla no Estado?
Ibsen - Mas é assim mesmo. É
Ibsen - Só por razões pessoais. As
razões políticas só me deram bons aberta. E pode ter outros nomes...
resultados. Até disse que tenho duas
profissões e nenhum trabalho. E gosto JC - Nelson Jobim?
Ibsen - É um belo nome. Tem o (exda atividade profissional. Então, retomei o projeto que eu tinha para quan- governador Germano) Rigotto, o (exdo saísse da Câmara dos Deputados: prefeito José) Fogaça. Então, isso não
faz mal nenhum. O que faz mal é quanvoltar para a atividade profissional.
do a divergência luta pela exclusão das
JC - E a tese de que o senhor fica- partes: “Pô, só eles resolvem. Nós esria se tivesse consenso no PMDB, tamos fora”. No PMDB gaúcho não
mas um setor do partido, ligado temos isso. Temos unidade absoluta.
ao deputado estadual Marco Alba,
JC - Em quê?
fez restrições...
Ibsen - Somos oposição ao goverIbsen - Não, isso nunca aconteceu.
Marco Alba foi um dos que insistiram no do Estado. Temos consciência de
PERFIL
Ibsen Valls Pinheiro nasceu em São Borja e tem 76
anos. Formado em Direito pela Pucrs, atuou como advogado, procurador de Justiça e jornalista. Começou sua vida
política aos 14 anos, na juventude comunista. Foi militante do Partido Comunista Brasileiro até os 22 anos. Como
o PCB era ilegal, sua primeira filiação partidária oficial foi
em 1966, no MDB, a convite de Pedro Simon. Permanece
até hoje no partido, pelo qual foi eleito vereador de Porto
Alegre (1977-79), deputado estadual (1979-82) e deputado federal em quatro legislaturas. A primeira, de 1983
a 1986. Foi reeleito, atuando como parlamentar constituinte. No mandato seguinte, presidiu a Câmara dos Deputados em 1991 e 1992, tendo ocupado interinamente a
presidência da República em 20 de novembro de 1992. Em
1994, foi cassado. Voltou à vida pública em 2004, quando
se elegeu vereador de Porto Alegre. Permaneceu dois anos
no Legislativo municipal (2005 e 2006) e se candidatou
à Câmara dos Deputados. Retornou ao Congresso Nacional pelo voto. Não disputou a reeleição, mas assumiu a
presidência do PMDB no Rio Grande do Sul em dezembro
2010. Fica no cargo até março do ano que vem.
sermos um partido nacional. Quando
assumi (o comando do PMDB gaúcho), convidei o vice-presidente Michel Temer (PMDB) a reunir-se com
a executiva. Em relação ao governo
federal, fui a Brasília para tratar do
Código Florestal. Contribuí para que
unanimemente votássemos numa
posição diversa da do governo. Pelo
conteúdo, não por causa do governo.
Já na questão do salário-mínimo, o PT
se dividiu, e achamos que a presidente
Dilma cuidou bem da questão. Então,
o conteúdo é o que conta. E esse tipo
de construção faz com que convivamos com o PMDB nacional. Não quer
dizer que vamos adotar os métodos
de todos os seus figurantes nacionais.
Mas o conteúdo, vamos examiná-lo.
JC - Quem o senhor acha que vai
ser o sucessor do senador Pedro
Simon como líder máximo do
PMDB gaúcho?
Ibsen - Para ser presidente do partido existem regras, eventualmente, para
ser governador, também. Agora, liderança não tem regras. Esse tipo de figura não se adivinha. Pode ser até alguém
que não tenha nenhum grande nome
hoje. Vai se credenciando... As crises
destroem alguns e vão se gestando outros. Então, não posso dizer quem vai
ter a dimensão de Simon. Pense que Si-
mon nunca foi um aparelhador do partido, nunca
se manteve pela capacidade de somar votinhos.
Ficou acima de disputas
internas para ser um líder de todos. Não é fácil
aparecer outro.
JC - E as eleições de
2012 em Porto Alegre?
Ibsen - O PMDB está
na administração por
um acordo que nasceu
na urna com a eleição de
Fogaça. Mas fazer projeção é difícil porque não
depende só do PMDB.
Não podemos escolher
um caminho e desconsiderar o caminho do PT,
PDT ou PCdoB. Fortunati convidou o PT para
participar da administração. Se isso tivesse ocorrido, estaria
nascendo uma coligação PT-PDT. O PT
tendo candidato próprio, o outro polo
está se formando em torno do prefeito, e o caminho alternativo é o da Manuela (d’Ávila, PCdoB), cuja avaliação
é difícil de fazer porque é um grande
nome, mas uma estrutura partidária
muito pequena. Então, essas hipóteses
amarram os partidos uns aos outros. O
PT aqui é adversário. PMDB e PT - em
relação ao governo do Estado e prefeitura da Capital - fazem Grenal. Não se
misturam. Há sinais de que o PT terá
candidatura própria. Mas conheço petistas que não tem tanta certeza disso.
JC - O PMDB terá candidato a
prefeito ou a vice na Capital.
Ibsen - Se a coligação atual for
mantida, o PMDB é o primeiro da
lista para uma aliança com Fortunati
pela razão histórica. Se a coligação
não se mantiver, acho que o PMDB
vai ter candidatura própria.
JC - E o senhor descarta se candidatar a prefeito ou vice?
Ibsen - Eu não “carto” nem descarto.
JC - Não descarta concorrer?
Ibsen - Não carto nem descarto -
tem que ser junto.
JC - Na presidência do PMDB,
com foi o trabalho pela unidade?
Ibsen - Em sete meses (de abril a
outubro), a executiva rodou 25 mil
quilômetros, foram 26 encontros
regionais abrangendo os 497 municípios do Estado. Todo o partido veio
para essas concentrações - dirigentes, delegados, vereadores, prefeitos.
E além dos 26 encontros do PMDB
Que Eu Quero, houve mais 36 reuniões espontâneas, nas quais a executiva compareceu. Em Candelária, por
exemplo, tinha um churrasco com
950 pessoas, cada uma pagando a sua
conta. A diferença de quem vai a um
churrasco pagando a sua conta e de
quem vai carregado num ônibus é um
abismo. A interação é absoluta, quem
fala percebe na hora isso. Isso produziu a unidade orgânica. Tínhamos
produzido uma unidade de lideranças
na convenção (em 2010). E a verticalização foi pela participação da base
partidária.
JC - E isso se mantém?
Ibsen - Espero que sim. Mas isso
não se congela, é preciso ter manutenção, a base tem que se sentir participante, definidora dos caminhos.
Nessa série O PMDB Que Eu Quero,
a gente tinha dois objetivos: a unidade
orgânica e a formulação de objetivos,
das questões políticas. Lembrei que
em 1979, o PMDB, além de ser minoria, enfrentava censura da imprensa,
cassações de mandatos e tinha que se
manter o jogo político, senão fortaleceria o regime (militar). Ali o PMDB
lançou uma bandeira: a anistia. A direita dizia que era uma provocação ao
regime militar. E a esquerda dizia que
era um pedido de perdão humilhante.
O PMDB manteve. Depois, lançou a
bandeira da Constituinte, também
combatida pelos dois lados: “O PMDB
é linha auxiliar da ditadura”. E a direita dizia: “Não, isso aí é contestação”.
E a terceira bandeira foi a da eleição
direta. E assim o partido minoritário,
sem voz, com censura da imprensa,
com ditadura e ameaça de violência,
arrastou o Brasil. Então, é preciso formular com correção um caminho que
corresponda a uma necessidade real e
que tenha uma viabilidade. Que tenha
amplitude, mas que não seja genérico a ponto de ser unânime. O PMDB
teve a noção disso naquela ocasião.
Sustentamos agora que o PMDB tenha esse papel.
JC - Um exemplo desse tipo de
proposta foi a Emenda Ibsen, da
partilha dos royalties do petróleo.
Qual sua avaliação do encaminhamento que foi dado?
Ibsen - O aspecto principal foi a tomada de consciência de todo o País da
necessidade de uma distribuição justa
do dinheiro público. A segunda batalha, que já está vencida, é a jurídica.
Ninguém tem mais dúvida da constitucionalidade, especialmente depois que
o presidente (Lula) vetou e não evocou
a inconstitucionalidade. Ele vetou por
contrariedade ao interesse público.
JC - E o terceiro ponto da batalha
pela divisão dos royalties?
Ibsen - É o mais difícil, que é o político. E não se trata de estarem ali 25
estados contra dois. Um desses dois
é o Rio de Janeiro - talvez o segundo
do País em capacidade econômica,
mas o primeiro em capacidade de comunicação. A começar que é a sede
da principal emissora de televisão do
País. Esses fatores tornam difícil o enfrentamento. Olha o governo federal
querendo adiar: é típico! Não tem
uma solução, empurra com a barriga.
JC - O veto será derrubado pelo
Congresso Nacional?
Ibsen - Só não será derrubado se
não for apreciado, o Rio de Janeiro tem
muito peso entre as lideranças. Mas aí
vai judicializar esse debate, porque não
colocar o veto em apreciação é uma
violação constitucional e regimental...
O importante é que isso é uma batalha
da guerra. A guerra de uma reforma
tributária menos concentradora da receita. Essa é a questão maior.
JC - Que outras questões de fundo
poderiam ser postas?
Ibsen - Uma matéria que está radicalizada, o meio ambiente. Parece que
não há alternativa entre preservação e
devastação. Então, o PMDB procurou
cunhar uma expressão da sua luta que
é “fazer uma lei ambiental junto com
a legislação agrícola”.
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Ibsen afirma que mais uma vez o PMDB tem o papel de - PMDB-RS