Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios
Dívida portuguesa entre as que mais tem a
ganhar com medidas do BCE
Edgar Caetano | [email protected]
Juros da dívida devem continuar a cair. Inflação baixa torna ainda mais atractivos os juros
pagos na "periferia".
A perspectiva de inflação baixa por "um período prolongado", que Mário Draghi quer evitar que se
torne "demasiado prolongado", está a alimentar o apetite dos investidores pela dívida dos países
do Sul da Europa. Os juros destes países estão em mínimos de vários anos, mas a inflação baixa
amplia o retorno real destes investimentos. Aí, Portugal ainda paga dos juros mais elevados, pelo
que pode o País ser um dos mais beneficiados pelo apetite dos investidores. Um apetite que será
ainda mais reforçado se o BCE intervir no mercado com a compra de títulos.
O Tesouro italiano atraiu mais de 20 mil milhões de euros em procura numa emissão,
quarta-feira, de dívida pública com maturidade em 2030. No mesmo dia, rondou também os 20
mil milhões de euros a procura numa emissão de dívida indexada à inflação em Espanha. As duas
transacções são o espelho do forte apetite dos investidores globais por títulos que pagam
rendibilidades elevadas, apesar de a taxa absoluta ser a mais baixa de que estes países alguma vez
gozaram desde a criação da Zona Euro.
O apetite verifica-se não só nas emissões, mas também no mercado secundário, onde as
taxas de Portugal estão em mínimos de 2006. A expectativa do BCE de um período longo de
inflação baixa é "música para os ouvidos" de quem investe em obrigações, já que é neste tipo de
investimento onde a rendibilidade mais sofre com a inflação elevada. Para tentar estimular a
inflação, o BCE poderá intervir no mercado com a compra de títulos que assegura, de uma forma
ou de outra, que a dívida dos países do Sul da Europa pareça, nesta fase, um excelente negócio.
"A tendência continua a ser de descida dos juros. E ainda há um
potencial de valorização considerável nas obrigações da periferia,
incluindo Portugal", afirmou esta semana Richard McGuire, analista
do Rabobank em Londres. Em Portugal, "os últimos indicadores
económicos dão margem para que se mantenha o optimismo" e, no
geral na Zona Euro, "a especulação de que o BCE poderá anunciar
novas medidas expansionistas é um factor que sustenta o optimismo
dos investidores", acrescenta o especialista.
Richard McGuire explica, contudo, que, apesar de ser uma boa
notícia para os Estados e empresas que procuram o financiamento,
está a criar-se uma "dor de cabeça" para Draghi. É que "a especulação
de que vai haver um programa de compra de activos aumenta a atractividade da dívida dos países
periféricos, o que atrai mais investidores estrangeiros para a dívida, o que contribui para
fortalecer o euro, o que aumenta os receios de desinflação, o que, por sua vez, alimenta a
especulação de que terá de haver um programa de compra de activos", explica o especialista,
citado pela agência Bloomberg. "O ciclo continua", remata.
15-Mai-14
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Dívida portuguesa entre as que mais tem a ganhar com medidas do