32 SEXTA-FEIRA, 6 DE MARÇO 2015
MERCADOS
Governo irlandês recusa oferta do IAG
pela Aer Lingus
INE confirma crescimento de 0,9% no ano passado
O Governo da Irlanda recusou a oferta do grupo IAG, que integra a British Airways e a Iberia, pela companhia aérea nacional Aer Lingus. Dublin deu como justificação para a recusa
da oferta (a terceira feita pelo IAG), avaliada em 1,3 mil milhões de euros, a necessidade de
assegurar os postos de trabalho e o crescimento da companhia aérea antes de vender a participação estatal de 25%.
O INE confirma o crescimento económico de 0,9% em 2014,
mantendo também o valor do crescimento no quarto trimestre do ano passado, que foi de 0,7% em termos homólogos. O
crescimento do PIB de 0,9% no ano passado aconteceu depois
de em 2013 ter caído 1,4%. A procura interna determinou este
comportamento.
TESOURO GERMÂNICO COLOCOU 3281 MILHÕES DE EUROS A -0,08%
Segurança da economia alemã leva investidores a acei
As taxas de juro negativas
(-0,08%) a que o Estado
alemão se financiou
na semana passada
têm como justificação,
de acordo com os
especialistas contactados
pela “Vida Económica”,
a solidez da economia
germânica. As nossas
fontes acreditam, ainda
assim, que o objetivo
dos investidores é obter
retorno com as obrigações
alemãs ao vendê-las antes
do prazo de vencimento
por um preço superior ao
que compraram.
AQUILES PINTO
[email protected]
O Tesouro alemão colocou, no
dia 25 de Fevereiro, 3281 milhões
de euros em dívida a cinco anos
com uma taxa de -0,08%, segundo o Bundesbank. A segurança da
economia alemã é o facto que leva
os investidores a aceitarem taxas de
juro negativas, de acordo com os
especialistas consultados pela “Vida
Económica”. As mesmas fontes admitem ainda que os investidores podem estar na expectativa de vender a
dívida antes que esta atinja a maturidade, conseguindo aí retorno.
O momento dos mercados está,
com efeito, a ter repercussões na
forma tradicional de os investidores
pensarem os investimentos. Como
resultado, no presente, mais de 25%
do mercado de dívida soberana na
Zona Euro transaciona em mercado secundário com yields negativas,
não sendo a Alemanha o primeiro
país a conseguir taxas negativas no
momento de se financiar. No passado, países, da Zona Euro ou não,
já o tinham conseguido, como por
FILIPE GARCIA
“Há dois motivos racionais para que
um investidor compre uma obrigação
com rendimento negativo até à
maturidade. O primeiro é por uma
questão de refúgio (…) O segundo
motivo (…) acredita-se que possam ser
alienados no futuro a preço mais alto”
exemplo o Japão, a Finlândia e a
França. Mesmo países como Portugal estão a conseguir colocar dívida
com juros historicamente baixos.
Filipe Garcia, presidente da
IMF – Informação de Mercados
Financeiros, aponta dois motivos
racionais para que um investidor
compre uma obrigação com rendimento negativo até à maturidade.
“O primeiro é por uma questão de
refúgio, acreditando que as restantes
alternativas de investimento têm um
risco implícito mais alto - seja risco
de crédito ou de volatilidade de preço. Neste motivo inclui-se a detenção de ativos de um determinado
país, tendo em conta uma eventual
rutura da União Económica e Monetária. O segundo motivo é meramente especulativo: compram-se
estes títulos porque acredita-se que
possam ser alienados no futuro a
preço mais alto seja devido a perspetivas de deflação, receio de uma
crise financeira, alocação internacional de ativos ou qualquer outro
motivo”, disse à “Vida Económica”.
Venda antes da maturidade
pode trazer retorno
Steven Santos, gestor da XTB
Portugal, explica-nos que, com a
aproximação do programa de estímulo do BCE, os investidores institucionais cujo mandato os restringe
ao investimento em dívida acabam
por pagar só para ter o capital parqueado. Embora a procura por rentabilidade seja natural, o aumento da
complacência dos investidores é perigoso, de acordo com o especialista.
“No fundo, os investidores que
têm flexibilidade suficiente para
investir em várias classes de ativos
estão a ser incentivados a entrar em
instrumentos mais arriscados como
as ações e a diminuir a exigência
dentro do espetro do rendimento
fixo, comprando obrigações especulativas (junk) ou obrigações cujo
reembolso não é prioritário em caso
de incumprimento (subordina-
FILIPE SILVA
“Só faz sentido alguém investir em
dívida a taxas negativas, se achar
que o preço vai subir (…) Se um
investidor comprar a 102, mas o
vender a 104 (independentemente
de, na maturidade, ele ser
reembolsado a 100), ganhou”
O Tesouro alemão colocou 3281 milhões de euros em dívida a cinco anos com uma taxa de -0,08%.
das)”, afirma.
O gestor da XTB Portugal acrescenta que alguns investidores institucionais têm comprado obrigações
públicas com juro negativo, com o
objetivo de as negociar no mercado
secundário, vendendo-as mais caras
a outros investidores antes do vencimento. “Sendo títulos altamente líquidos, as Bobl (obrigações alemãs a
cinco anos) possibilitam este tipo de
estratégia de negociação”, explica.
“Uma vez que o programa do
BCE só começa em março, há a
expectativa de os juros caírem ainda
mais, havendo margem para realizar
mais-valias no mercado secundário.
Apesar do rendimento real negativo
de muitos títulos, as obrigações continuam a ser procuradas como meio
eficiente para diversificar o risco de
uma carteira”, refere Steven Santos.
O diretor da gestão de ativos do
Banco Carregosa, Filipe Silva, explica à “Vida Económica” que, à partida, nenhum investidor quer pagar
(perder dinheiro) para emprestar
dinheiro. “Só faz sentido alguém
investir em dívida a taxas negativa,
se achar que o preço vai subir e ganhar essa diferença. É verdade que
os títulos de dívida são todos reembolsados, no final do prazo (maturidade), pelo seu valor nominal (que é
de 100). Se um investidor comprar
a 102, mas o vender a 104 (independentemente de, na maturidade,
ele ser reembolsado a 100), ganhou.
Portanto, investe na divida alemã a
taxas negativas quem acreditar que
o preço ainda pode subir”, indica.
“Se a emissão é feita a cinco
anos, só os pode manter por cinco
anos, no máximo. Pode é vender
antes dos cinco anos, se entretanto
conseguir um preço melhor do que
aquele a que comprou. De preferência, vende antes porque se levar até
à maturidade perde”, refere Filipe
Silva.
“Com o programa de compra
de dívida do BCE e com as taxas
de juro baixas, é natural que o mercado de obrigações, apesar de estar
em alta, ainda valorize mais. Quem
compra vai tentar vender apenas
quando o preço subir. Outra questão que se coloca é em que mãos
vai estar esta dívida quando os preços caírem, ou quando chegarem à
maturidade? Muito provavelmente
nas mãos do BCE, que já disse que
repartirá prejuízos com os bancos
centrais nacionais”, acrescenta o diretor da gestão de ativos do Banco
Carregosa.
JORGE VASCONCELLOS E SÁ
“O que justifica (...) é: esperar-se
que elas valorizem pela procura do
BCE, pela queda generalizada ainda
maior das taxas de juro, a segurança
e o receio de uma deflação
generalizada dos preços”
LUÍS MATEUS
“Os investidores têm a expectativa
de poderem vender com ganhos estes
títulos antes da sua maturidade,
recebendo entretanto uma taxa de
cupão periódica (e positiva), em
termos relativos mais interessante
num ambiente deflacionário”
STEVEN SANTOS
“Os investidores que têm
flexibilidade suficiente para investir
em várias classes de ativos estão
a ser incentivados a entrar em
instrumentos mais arriscados como as
ações e a diminuir a exigência dentro
do espetro do rendimento fixo”
Clima de deflação justifica
Luís Mateus, responsável pela
área de dívida/obrigações da Golden Assets, afirma ser “importante
realçar que num clima de queda da
inflação (inflação negativa/deflação), rendimentos (cupões de uma
obrigação) fixos ficam mais interessantes em termos relativos”.
“Outro aspeto importante tem
que ver com o programa de ‘quantative easing’ anunciado pelo BCE,
cuja implementação deverá iniciar-
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Filipe Silva, Director da Gestão de Activos