A-6 • País • Segunda-feira, 21 de setembro de 2015 • Jornal do Commercio ORÇAMENTO Brasília-DF Governo diz a Congresso que ainda pode cortar mais Os próximos por Denise Rothenburg [email protected] Ideia é mandar propostas apresentadas e depois negociar mudanças no Legislativo. Expectativa é de que o envio ocorra no início da próxima semana DA REDAÇÃO O governo indicou aos parlamentares da Comissão Mista de Orçamento que poderá avançar ainda mais nos cortes de despesas durante as negociações da proposta de Orçamento de 2016 no Congresso Nacional. A ideia é mandar as propostas da forma como foram apresentadas e depois negociar mudanças no Legislativo. A expectativa é de que o envio ocorra no início da próxima semana. Um dos alvos é a ampliação da tesoura nos cargos de confiança. Até agora, a presidente anunciou o corte de mil do total de 22,5 mil. A economia com essa medida seria de R$ 200 milhões. A sinalização atende a pedido da cúpula do Congresso, que defende uma corte mais profundo nas despesas para conseguir apoio para aprovação da nova CPMF com recursos garantidos para a Previdência. Os ministros da equipe econômica Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) também avisaram que vão enviar ao Congresso em breve as medidas legais do pacote fiscal que foi anunciado na segunda-feira para reverter o rombo do Orçamento de 2016. Apesar das resistências públicas, a avaliação da área econômica sobre o aumento de impostos é de que há espaço para negociar a aprovação da CPMF, com redução do prazo de vigência combinada com o envio das propostas de reforma da Previdência. O governo ainda não tem prontas as medidas para Previdência, mas pretende construir uma proposta até outubro com apoio do Fórum que foi instalado para definir o rumo a ser tomado. A estratégia é acertar muito bem o diálogo para facilitar o encaminhamento. Na avaliação de uma importante liderança parlamentar, a ida dos ministros Levy e Barbosa à Comissão de Orçamento foi considerada positiva para as negociações. Os dois procuraram mostrar afinação. Lula e Mercadante O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na manhã desta sexta-feira com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para tratar da reforma administrativa do governo, que será feita nos próximos dias. PT e PMDB pressio- R$ 200 milhões Seria a economia com os cortes no Orçamento anunciados até agora pelo governo nam a presidente Dilma Rousseff a substituir Mercadante na Casa Civil. Até agora, porém, Dilma resiste a tirar Mercadante e avisou que não cederá às pressões. O nome da ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), chegou a ser cogitado para a pasta, mas ela não tem apoio integral do PMDB. Lula também disse que não aprovaria a troca. Na sua opinião, o mais indicado para substituir Mercadante seria o petista Jaques Wagner, titular da Defesa. O encontro de Lula com Mercadante é visto como um sinal de que o ministro permanece no cargo. Na primeira conversa com Dilma após a divulgação do pacote fiscal, Lula pediu a ela que faça uma reforma ministerial mais ampla, para garantir sustentação política no Congresso e evitar o processo de impeachment. Lula disse a Dilma que ela precisa aumentar o espaço dos aliados fiéis e diminuir os cargos dos traidores, porque somente assim conseguirá aprovar o ajuste e barrar iniciativas para afastá-la do Planalto. Na lista dos partidos que comandam ministérios e votaram contra medidas propostas pela equipe econômica na primeira fase do ajuste estão o PR, que controla os Transportes; o PDT, no Trabalho; e o PRB, no Esporte. A avaliação é de que tudo tem de ser feito para impedir que um pedido de impeachment seja aceito na Câmara comandada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Apesar de defender mudanças na política econômica e achar que Dilma deveria ter adotado outro caminho para reequilibrar o Orçamento, Lula disse que é necessário "pôr no Ministério quem ajuda o governo no Congresso" para aprovar o quanto antes o pacote fiscal, mesmo se houver recuos estratégicos, como um prazo menor de vigência da CPMF. (Com Agência Estado) EDUCAÇÃO Ex-governador de Mato Grosso se entrega Com greve de mais de 100 dias, crise ameaça universidades O ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB), que estava foragido desde que teve sua prisão decretada na terça-feira pela juíza da 7ª Vara de Combate ao Crime Organizado, Selma Rosane Santos Arruda, decidiu se entregar. Ele se apresentou acompanhado dos seus advogados, no Fórum da capital. Ele aguardava decisão de um pedido de habeas corpus impetrado no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT). Por ser advogado, o ex-governador teria de permanecer em cela especial, mas como não existe unidade com as características exigidas por lei, ele ficará em uma cela das unidades do Corpo de Bombeiros. Nesta sexta, Silval realizou exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML). Após o exame, foi levado à Delegacia Fazendária para ser ouvido sobre as acusações. O ex-governador e dois ex-secretários, Pedro Nadaf (Casa Civil) e Marcel Cursi (Fazenda), são acusados de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo um esquema de fraudes a incentivos fiscais concedidos por meio do Programa e Desenvolvimento Industrial e Comercial (Prodeic). Pelo Prodeic, a empresa obtém isenção parcial ou integral de tributos estaduais a título de fomento na geração de empregos e de estímulo à economia das regiões onde estejam instaladas. Investigações da Polícia Civil descobriram que pelo menos três empresas estavam sendo extorquidas para que pudessem permanecer no programa. Os dois ex-secretários foram presos na terça-feira durante a operação Sodoma. O advogado do ex-secretário Nadaf, William Khalil, disse que entrou com pedido de habeas corpus. As investigações do caso começaram há mais de quatro meses. » AUGUSTO BERTO E PAULO BRAGA A greve que atinge 63 universidades e institutos federais e já se arrasta há 111 dias é mais uma face da crise política e econômica enfrentada pelo governo federal. Nesta sexta-feira, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) enviou ao Ministério da Educação (MEC) nova proposta (a terceira desde maio) para pôr fim à paralisação, mas ainda não há previsão de retorno às aulas. O documento pede a abertura de concursos para 9.331 vagas, liberação de verbas para conclusão e início de obras, reajuste de 19,7% no salário inicial até 2017 e reestruturação de carreira dos professores. Segundo Paulo Rizzo, presidente do Andes, a tesourada no orçamento levou as universidades ao limite operacional. “Reitores das universidades federais da Bahia (UFBA), de Juiz de Fora (UFJF) e do Rio de Janeiro (UFRJ) me disseram ter dinheiro para pagar as contas de água e luz até o fim de setembro”, relata. “Ou (o MEC) volta atrás nos cortes, ou as universidades vão fechar”, diz. O orçamento da Universidade Federal de Juiz de Fora sofreu corte de R$ 36,2 milhões em 2015. No entanto, segundo a direção da instituição, a redução ainda não afetou a administração do campus. O pró-reitor de Planejamento e Gestão da UFJF, Alexandre Zanini, garantiu que “a instituição tem recursos para fazer os pagamentos necessários e retomar as atividades tão logo as greves sejam encerradas.” A UFRJ informou que recebeu R$ 70 milhões a menos que os R$ 438 milhões previstos para 2015. Também não foram depositados outros R$ 70 milhões referentes ao exercício de 2014. Segundo a reitoria, a universidade “enfrentou dificuldades para honrar diversos contratos no início do ano”. Para a reestruturação da carreira, o Andes reivindica O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), trabalhará muito mais para desgastar o governo na pauta das medidas anunciadas essa semana do que propriamente no pedido de impeachment que recebeu das mãos de Hélio Bicudo e de Miguel Reale Júnior. Embora esteja se preparando para responder amanhã ou na quarta-feira à questão de ordem da oposição sobre o impeachment, a primeira fase dos planos oposicionistas dos menos afoitos versa sobre a economia: é rejeitar qualquer proposta de aumento de imposto, deixando o governo no canto do ringue. Um pedido de afastamento é a segunda etapa, que não será feita no curto prazo. Com a resposta à oposição nos próximos dias sobre prazos e tramitação dos pedidos de impeachment, a ordem de Eduardo Cunha é manter o tema em fogo brando. Nem tão rápido que pareça vingança, nem tão devagar que pareça receio. O fato é que, na avaliação de muitos, o tema impeachment chegou para ficar no cardápio. Mas só irá para o fogo quando tiver recebido todos os temperos necessários. Por enquanto, ficará “marinando”. Na cobrança Foi um corre-corre na Esplanada na quinta-feira à noite. É que só agora o governo determinou aos órgãos que enviem ao Planalto o organograma das instituições e as devidas atribuições de cada cargo. Bem ao estilo Dilma, a recomendação era do tipo “é para ontem!” Demorou, hein? Alguns que trabalharam nesses levantamentos foram avisados de que a presidente passaria o fim de semana analisando esses estudos para promover cortes de funções. Ora, ela está há tanto tempo falando em reforma administrativa que o mínimo seria ter avaliado esses cargos com mais antecedência. Wagner socorre Mercadante FRAUDE DA REDAÇÃO passos Ou o MEC volta atrás nos cortes, ou as universidades vão fechar” Paulo Rizzo UnB A paralisação de servidores técnico-administrativos e os cortes orçamentários também começam a atingir a Universidade de Brasília (UnB). Por conta da greve dos funcionários, as atividades da biblioteca estão paralisadas por tempo indeterminado desde agosto. Os cortes começaram no início deste ano e afetaram os contratos terceirizados e construções em andamento na universidade. “Estamos priorizando as obras que haviam sido iniciadas”, explicou o decano de Planejamento e Orçamento, César Tibúrcio. A expectativa da UnB era de investir R$ 60 milhões em obras, mas Tibúrcio prevê que, em 2015, apenas metade do valor seja destinado a essa finalidade. Outra área que deve ser afetada pela falta de recursos or- Por falar em apoios… Os líderes do governo passam o fim de semana em contato com prefeitos em busca de apoios para a recriação da CPMF. Na região do Cariri (CE), o deputado José Nobre Guimarães (PT-CE) arregimentou um grupo expressivo que promete entrar em campo. Sabe como é, quando o assunto é dinheiro, a turma se mobiliza. Michel, o discreto O vice-presidente Michel Temer foi direto para São Paulo rever a família. Na sexta, sua ideia era pisar em Brasília antes de segunda-feira só se Dilma chamasse. Presidente do Andes que os professores com dedicação exclusiva ganhem 55% a mais em relação aos docentes com carga horária de 40 horas. Os ganhos de quem leciona 20 horas também deveriam equivaler à metade dos salários dos educadores que trabalham 40 horas por semana, de acordo com a proposta do sindicato. Além disso, o Andes pede a manutenção do abono permanência, que permite ao professor, ao atingir a idade para se aposentar, não ter descontado do salário os impostos relativos à previdência. Na última segunda-feira, quando anunciou o novo pacote de corte nos gastos públicos, o governo sinalizou a revogação da medida. “Se a medida se efetivar, teremos muitas aposentadorias imediatas”, prevê Rizzo. Foi o ministro da Defesa, Jaques Wagner, quem convenceu Lula, no jantar de quinta-feira, que Aloizio Mercadante não pode deixar a Casa Civil, porque é quem está cuidando dia e noite do ajuste fiscal junto com a equipe econômica. E foi ainda mais além: disse que nenhum ajuste começa com apoio total. çamentários são os contratos terceirizados. “Estamos renegociando todos, menos os de segurança”, explica o decano. Segundo ele, a universidade está no limite do orçamento previsto em lei e conta com os repasses do governo federal para finalizar o ano. “Não podemos prever como será o restante do ano para a instituição. Estamos contando com essa verba, ou pelo menos uma parcela. Espero que não passemos por situações mais graves, como não conseguir arcar com as contas básicas”, admite. No Hospital Universitário de Brasília (HUB), o atendimento nas áreas prioritárias não foi afetado pela greve dos servidores até o momento. Na terça-feira, os trabalhadores da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) entraram em greve por tempo indeterminado. Eles reivindicam melhores benefícios, mas os serviços do hospital não foram paralisados. Por meio de nota, a Assessoria de Imprensa do MEC disse que o ministério “tem se empenhado em manter o diálogo e buscar soluções para garantir o retorno das atividades nas instituições de ensino”. A pasta disse que mantém um canal de diálogo os docentes, por meio de reuniões frequentes, mesmo antes de a greve ter sido deflagrada. Já sobre o corte de concursos públicos e do abono permanência para professores, o ministério informou que “está negociando com os professores e servidores todas as demandas específicas do setor, inclusive a política de contratação de docentes e servidores técnicoadministrativos.” Por falar em Michel... Na próxima sexta-feira, a presidente embarca para Nova York, onde participará da Abertura da Assembleia Geral da ONU. Há quem diga que será a chance de Michel Temer tentar mostrar que, sob sua batuta, tudo fica mais tranquilo. Mercadante australiano Um experiente político resumiu assim a possibilidade de o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, passar longe da articulação política do governo: “É como pedir para o canguru não pular. Algo do tipo, agora você não pula mais porque está na Casa Civil. Não cola”. Olhar de Nise Esse é o título do documentário mais aguardado da Mostra Panorama Brasil do 48º Festival de Cinema de Brasília. A história da médica que revolucionou a psiquiatria com a arte-terapia e cerrou fileiras contra o eletrochoque estará em exibição hoje, 17h, no shopping Liberty Mall. A direção é de Jorge Oliveira. CNMP Presidente veta criação de cargos para Conselho do MP DA REDAÇÃO A presidente Dilma Rousseff vetou projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional que cria cargos efetivos e em comissão e funções de confiança no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O veto foi publicado na edição desta sexta-feira do Diário Oficial. A proposta prevê a criação de 90 cargos de auditor nacional de controle, 30 cargos de técnico nacional de controle, 26 funções de confiança nível FC-3 e 42 cargos em comissão no órgão, que é responsável pela fiscalização administrativa, financeira e disciplinar do Ministério Público. Na mensagem de veto, Dilma argumentou que a criação de cargos vai de encontro às medidas do governo para reequilibrar as contas públicas. "Apesar da importância do Conselho Nacional do Ministério Público, a sanção deste projeto, nesse momento, contrariaria esforços empreendidos pelo governo no sentido de perseguir o equilíbrio fiscal na gestão dos recursos públicos”. (Com Agência Brasil)