Fugas - Vinho (P + RV)
ID: 35714851
28-05-2011
Tiragem: 75458
Pág: 40
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Ocasional
Área: 28,72 x 35,07 cm²
Âmbito: Outros Assuntos
Corte: 1 de 2
Mercados
Verde,
o vinho
que
ainda é
como os
gelados
Mal o calor aperta, as
vendas de vinho verde
disparam. Será só
porque se trata de um
vinho leve e fresco? A
principal razão ainda é
essa, mas os vinhos que
provêm dos campos
húmidos do Minho
são cada vez melhores
e já oferecem outros
atractivos capazes de, a
prazo, contrariarem o
estigma da sazonalidade,
explica Pedro Garcias.
Paulo Pimenta captou
as imagens
O vinho verde é como os gelados:
quando chega o Verão, as vendas
sobem em flecha. Ao sufoco do
calor, até os enófilos mais exigentes
se deixam seduzir por um vinho
que é leve, aromático, seco e ácido.
Há cada vez mais enólogos a
tentarem produzir no Minho vinhos
um pouco mais maduros e menos
acerbos, a prescindirem do gás
carbónico que cria aquele efeito
“agulha” tão peculiar, no fundo,
a desconstruírem a imagem de
que o vinho verde se chama assim
porque é mesmo verdasco, feito
com uvas que não amadurecem.
Alguns colocaram-se mesmo à
margem das regras da região,
fugindo da denominação vinho
verde e fixando preços mais altos
para os seus vinhos brancos. Vários
produtores têm sido bem sucedidos
nesta estratégia de diferenciação.
Mas o que vende, o que é
representativo no bolo geral da
região, continua a ser o vinho verde
típico, um vinho pouco alcoólico,
seco, inebriante de aroma e com
uma boa acidez. E, já agora, barato.
O que para alguns é uma
adversidade, o próprio nome do
vinho, para a maioria é, nos dias
de hoje, o seu melhor trunfo. A
marca está estabelecida nacional
e internacionalmente e o tipo de
vinho que ela representa encaixa-se
como uma luva nas tendências de
consumo actuais, que privilegiam
vinhos leves, frescos e aromáticos.
Não há outro vinho em Portugal
com tanto potencial para
conquistar novos consumidores
como o vinho verde.
Mas há um reverso nesta
história cor-de-rosa: o vinho verde
vende bem porque é barato.
Esta realidade está de tal modo
enraizada nos mercados que há
pouca margem para fazer subir os
preços. E há um outro problema,
também comum aos gelados: o
Fugas - Vinho (P + RV)
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vinho verde é um vinho sazonal.
Há quem o beba durante todo o
ano, mas, pelo menos no mercado
nacional, o grosso das suas vendas
concentra-se no Verão.
Seja como for, o que vale a pena
destacar é o lado colorido da
história e esse representa uma boa
notícia para o consumidor: o vinho
verde, mesmo o mais comum, está
cada vez melhor. Claro que não é
possível esperar milagres de vinhos
que chegam a custar menos de
dois euros a garrafa. Mas mesmos
os mais baratos já são bem feitos,
tirando partido dos novos avanços
enológicos e da modernização
28-05-2011
da viticultura. Há cada vez mais
produtores a vinificar as suas
próprias uvas, fugindo à prática
habitual da região, em que o
grosso da produção era canalizado
de forma quase caótica, sem
diferenciação de castas, para meio
de dúzia de grandes operadores.
Nos últimos anos, a região tem
caminhado na direcção dos vinhos
varietais, inspirada e impulsionada
pelo sucesso do Alvarinho.
Hoje, além dos Alvarinho, já
encontramos nas garrafeiras vinhos
de Arinto (Pedernã), Trajadura,
Espadeiro, Avesso e Loureiro,
sobretudo destas duas últimas
castas, as mais promissoras a seguir
ao Alvarinho. A mudança é tal
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Área: 28,95 x 35,60 cm²
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que até já há vários produtores a
engarrafar Vinhão extreme, a casta
que está na base do tradicional
vinho tinto minhoto, um produto
étnico difícil de exportar para
outras latitudes. Um deles, um
Vinhão de 2007 engarrafado com
a marca Afros, da Quinta do Paço
Padreiro, foi mesmo eleito como
um dos 50 melhores portugueses
provados em 2008 pelo crítico
inglês Jamie Goode. Nessa lista,
sete dos vinhos escolhidos eram
provenientes da região dos Vinhos
Verdes, algo impensável há menos
de uma década.
O Alvarinho é a casta bandeira
e o motor desta nova vida da
viticultura minhota. Forma com
o Encruzado do Dão e o Rabigato
do Douro a tríade das grandes
castas brancas portuguesas. É das
poucas que consegue ter expressão
e reconhecimento internacional.
Mas o Alvarinho já não brilha
sozinho no palco fresco do Minho.
Nos últimos anos, o fenómeno
mais interessante da região tem
sido o renascimento do Loureiro,
a variedade que impera no vale do
Lima, “o rio do Esquecimento” dos
romanos e cuja maldição (quem
atravessasse o rio perdia a memória
para sempre) parece ter afectado
também durante demasiado tempo
aquela casta. Alguns dos mais
interessantes vinhos verdes da
actualidade são feitos de Loureiro,
a maioria dos quais ligados a
Anselmo Mendes (Quinta do Ameal
e Royal Palmeira como enólogo,
Muros Antigos como produtor).
É incontornável: quando falámos
em vinho verde somos obrigados
a falar em Anselmo Mendes, eleito
produtor do ano de 2010 pela
Revista de Vinhos. Como enólogo
ou como consultor, Anselmo é, a
par de António Cerdeira, da Quinta
do Soalheiro, um dos principais
rostos da mudança do panorama
vitícola do Minho. Não tanto pelas
quantidades que produzem, mas
mais pela inovação, criatividade e
consistência que têm revelado.
Claro que não são os únicos.
Há muitos mais. Mas são os mais
mediáticos e aqueles que definem
tendências e caminhos novos
para a região e a colocam sob os
holofotes dos críticos, nacionais
e internacionais. Obviamente que
não se podem esquecer os grandes
players da região, como a adega de
Monção, responsável por um dos
vinhos mais icónicos de Portugal,
o Muralhas, a Sogrape e, acima de
tudo, a Aveleda. Se há empresa que
faz bem a síntese do estado da arte
nos Vinhos Verdes, é precisamente
a Aveleda. Produz alguns dos
vinhos de volume mais conhecidos
da região, como o Aveleda, o Casal
Garcia e, mais recentemente, o
Ava, mas não se deixou confinar a
esse segmento e, nos últimos anos,
tem vindo a produzir vinhos de
um nível muito mais elevado, em
especial através da gama Follies. μ
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Verde, o vinho que ainda é como os gelados