O INSTITUTO MARISTA NA CONTEMPORANEIDADE Um sopro do Espírito que ainda nos inspira Francisco Pereira da Silva Neto 1 Um jovem camponês, nascido numa realidade de pós-guerra, num cenário em que a fé de tantos estava em crise e onde milhares de crianças e jovens sofriam com a pobreza e o abandono, inclusive espiritual, foi tocado por um auspicioso convite ao qual prontamente aceitou: ser Padre! (FURET, 1999). Com sua história de vida e inspirado por Deus, Marcelino sonhou com um grupo de Irmãos Educadores que pudessem levar às crianças e aos jovens, principalmente aos mais pobres da zona rural, o conhecimento do amor de Deus, a partir da educação, da catequese, do esporte e da cultura. (MISSÃO EDUCATIVA MARISTA, 1998). Tornar Jesus Cristo conhecido e amado foi o cerne de sua missão que passou para seus seguidores, como bem coloca o Documento Água da Rocha (2007): Tornar Jesus conhecido e amado: eis o sentido da nossa vocação e a finalidade do nosso Instituto. Se falharmos neste propósito, o nosso Instituto será inútil. Com estas palavras, Marcelino expressou com clareza a sua convicção, que deve ser a convicção permanente e crescente de todos os Maristas hoje: a centralidade de Jesus em nossa vida e em nossa missão. Os primeiros jovens Irmãos a escutarem este chamado eram advindos da mesma situação de pobreza e desamparo que Champagnat tanto conhecia. A estes, foi feita a acolhida e o acompanhamento necessários que tocou o coração e despertou a vocação 1 Atualmente é Diretor do Centro Marista de Juventude de Natal. de seguidores de Jesus, sob o carisma que nascia do convívio com Marcelino. De acordo com o Documento Missão Educativa Marista (1998, p. 24): Marcelino Champagnat impregnou esses jovens com o seu zelo apostólico e educacional. Viveu entre eles e como um deles. Ensinoulhes a leitura, a escrita e aritmética, a rezar e a viver o Evangelho no cotidiano, e a serem mestres e religiosos educadores. Com o passar do tempo, as virtudes maristas – humildade, simplicidade, modéstia – tornam-se marcas dos pequenos Irmãos de Maria ou, partindo das experiências bem sucedidas nas escolas, dos Irmãos Maristas das Escolas. Logo, o jeito Marista de educar toma proporções incríveis e novos desafios aparecem quando surgem convites para alargar a geografia do atendimento às crianças e aos jovens, o que é prontamente respondido por Champagnat com a célebre frase: “Todas as dioceses do mundo estão em nossos planos.” (Cartas, 112). Tais experiências, sob as bênçãos de Deus e intercessão de Maria, prosperaram e se desenvolveram tanto que, de acordo com o Documento Missão Educativa Marista (1998, p.28): 29. Durante seus cinquenta e um anos de vida, Marcelino Champagnat trabalhou à exaustão, para fundar uma família de educadores religiosos. [...] Quando morreu, no dia 6 de junho de 1840, esta família contava com 290 Irmãos, que atuavam em 48 escolas primárias. 30. O Irmão Francisco e os primeiros Irmãos assumiram a obra de Marcelino Champagnat, com entusiasmo. Com o mesmo espírito de fé e zelo apostólico, os sucessores estenderam a obra aos cinco continentes. Como educadores maristas de hoje, partilhamos e continuamos o sonho de Marcelino: transformar a vida e a situação das crianças e dos jovens, especialmente dos menos favorecidos, oferecendo-lhes uma educação integral, humana e espiritual, baseada no amor pessoal para com cada um deles. Hoje o Instituto Marista está presente em mais de 70 países, com culturas e línguas diferentes, convivendo com diferentes religiões e situações econômicas, superando diversas crises e sempre caminhando junto à Igreja, enquanto instrumento de educação católica no mundo e traz consigo a renovação do sonho de seu fundador. Talvez isso aconteça por causa das semelhanças com o tempo em que Champagnat viveu no que toca às necessidades de proteção às crianças, aos adolescentes e jovens, principalmente os mais vulneráveis, mais pobres e abandonados econômica, social e espiritualmente. Irmão Afonso Murad (2014), num vídeo sobre a Vida de São Marcelino Champagnat para o EAD Escola em Pastoral, apresenta elementos fundantes da história de nosso fundador, que servem de parâmetros para a Educação Marista. Dois destes elementos – Um educador para o nosso tempo e Um homem prático e inovador – demonstram bem o quanto os seguidores de Champagnat aprenderam com ele, sendo inovadores, antenados aos seus espaçotempos, ousando em novas formas de evangelizar e educar. O Instituto soube dar respostas às mudanças das sociedades e dentro da própria Igreja, em consonância com as novas situações promovidas pelo Concílio Vaticano II. De acordo com o Ir. Benito Arbués, então Superior Geral, na apresentação do Documento Missão Educativa Marista (1998), isto fez com que os Irmãos [...] em atitude de escuta do mundo e da Igreja, reestudassem as origens do Instituto e as intuições fundacionais de Marcelino Champagnat, avaliando, assim, nossa trajetória através da história, formulando novamente nossa identidade e, a partir daí, a nossa atual Missão de Evangelização, de uma maneira coerente com a inspiração que deu origem ao Instituto. Tudo isso foi maravilhosamente expresso nas Constituições do Instituto, texto fundamental para os Irmãos aprovadas pela Santa Sé, em 1986. Hoje, em continuidade com o sonho fundacional, buscamos viver plenamente o legado de São Marcelino nos mais diversos espaços educacionais e, mais ainda, estamos para além dos muros das Escolas formais. Nós Maristas, Irmãos, Leigas e Leigos estamos em diferentes espaços sociais, culturais, esportivos, religiosos, de incidência política na garantia e no monitoramento dos direitos de crianças, adolescentes e jovens, na promoção dos direitos humanos, entre outros. Para nós, a ousadia do jovem camponês é fonte inspiradora que atualiza o seguimento a Jesus Cristo, filho de Maria e José. Referências Bibliográficas FURET, Jean-Baptiste. Vida de São Marcelino José Bento Champagnat. São Paulo: Loyola, 1999. INSTITUTO MARISTA, Missão Educativa Marista: um projeto para o nosso tempo. Roma: Itália, 1998. _______. Água da rocha: Espiritualidade Marista fluindo na tradição de Marcelino Champagnat. São Paulo: Editora FTD, 2007.