O Instituto Marista na contemporaneidade Layza Maria Gomes Fonseca 1 O primeiro módulo do curso EAD Escola em Pastoral trouxe três temas distintos e, ao mesmo tempo, extremamente importantes para os pastoralistas das Unidades Educacionais Maristas: Marcelino Champagnat, fundador do Instituto dos Irmãos Maristas, O Concílio Vaticano II e O Pontificado do Papa Francisco. Pensar os caminhos do Instituto na contemporaneidade é entrar no “trem da história”, voltar às fontes para, em Marcelino, encontrar a paixão inicial que é a base onde o Instituto cresceu e atualizar a missão para as realidades do tempo presente. É no contexto onde cada um exerce a sua missão que a Boa Nova deve ser anunciada. Revisitar a vida e a história de Champagnat foi uma oportunidade de voltar às raízes do Instituto e às intuições que fundamentam esta obra. A família de Champagnat e o contexto social, econômico, político e educacional da França fortemente impactada pela revolução, foram o ponto de partida para a construção de sua identidade e do seu trabalho. Foi no cenário pós-revolução que Champagnat entrou para o Seminário e com esforço e muita perseverança tornou-se padre. O espírito tenaz e audacioso que o moveu a pensar e concretizar o Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria foi o mesmo que o permitiu encontrar-se com Jesus no Presépio, na Cruz e na Eucaristia. A experiência com o jovem Montagne foi decisiva para que tomasse a decisão de que queria anunciar o Evangelho a todas as crianças e jovens. A experiência de sentir-se profundamente amado por Deus fez com que ele desejasse manifestar esse amor às pessoas. A atitude 1 Atualmente é Diretora do Centro Marista de Juventude de Montes Claros. proativa de Marcelino e os valores que o moveram a criar um estilo diferente e humanizador de educar mantêm-se vivo até os dias atuais. A presença firme e amorosa, a simplicidadee o amor ao trabalho são algumas das características herdadas de seu jeito de ser. O seu exemplo de educador e evangelizador e a leitura assertiva que fez do contexto de sua época fazem dele um homem à frente de seu tempo e pela força de seu trabalho e a fecundidade da sua missão foi declarado santo pela Igreja. Ele deixa de ser o Santo dos Maristas e passa a ser um Santo da Igreja. A obra iniciada há quase duzentos anos continua viva. Ele dizia que todas as dioceses do mundo estavam em seus planos, mas foi muito além e hoje o Instituto está presente em 79 países e em cada lugar onde há um Marista Leigo ou Irmão, é Champagnat quem está ali querendo tornar Jesus conhecido, amado e seguido. A história do Instituto acompanhou muitas mudanças no cenário mundial e, sobretudo, na história da Igreja. A partir do Concílio Vaticano II um novo tempo começa para a Igreja. Ela iniciou um movimento de olhar para si mesma e percebeu a necessidade de mudar para alcançar o coração do povo. Assim, visualizou novos caminhos de abertura, de volta às origens, pensando na participação e no protagonismo dos leigos como Povo de Deus. Esta imagem da Igreja Povo de Deus tem movido o trabalho de diversos Pastoralistas. A vivência do protagonismo leigo e a igualdade dos ministérios são algumas das luzes trazidas pelo Concílio, na perspectiva de que todos são chamados a ser sal e luz, fermento na massa. Essa abertura foi muito importante para a vitalidade da Igreja e das pastorais. O diálogo inter-religioso e com as diferentes culturas ganha um novo vigor e é fonte de inspiração para os Pastoralistas. Na realidade plural em que as equipes maristas atuam, a acolhida e o diálogo sempre aparecem como caminhos fecundos para chegar ao coração daqueles que são os destinatários da missão educativa. O protagonismo juvenil é para a educação marista mais do que um indicador curricular, é uma opção de evangelização para o surgimento e desenvolvimento das lideranças, é um jeito de ser Igreja, de fazer-se Povo de Deus a partir do carisma Marista. O Papa Francisco chegou num momento em que a Igreja e muitos pastoralistas estavam desanimados, como “ovelhas sem pastor”, faltava um referencial, alguém cujas palavras fossem síntese da ação e do próprio testemunho. A imagem do pastor que acolhe, dialoga, acompanha, cuida e ama foram marcantes desde o primeiro momento do seu pontificado. Por isso, falar da alegria do anúncio é falar do testemunho do Papa que pediu a bênção de Deus pelas mãos do seu povo, que reabriu a janela aberta no Concílio Vaticano II e que depois foi fechada em muitos lugares por alguns grupos conservadores de dentro da Igreja. Falar da alegria de anunciar a Boa Notícia é resgatar a luz que cada pessoa traz consigo, é promover em nossa prática pastoral um verdadeiro encontro com Jesus que faz o convite universal para que todos se sentem no banquete do Reino e tenham vida em abundância. Enquanto pastoralistas, experimentamos as alegrias e as tristezas de alguém que põe a mão no arado e não pode mais olhar para traz. Na dinâmica do fazer pastoral ora somos as ovelhas, ora somos o pastor. Para alimentar a dimensão do cuidado e do amor pelas crianças e jovens a quem somos enviados como pastores é preciso fazer a experiência de nos deixar tocar por Jesus, o Bom Pastor, e nEle buscar inspiração para a práxis cotidiana. O apelo do XXI Capítulo Geral do Instituto dos Irmãos Maristas: Com Maria, ide depressa para uma nova terra e o tema da II Assembleia Internacional da Missão Marista: Maristas novos em missão evocam o ardor evangélico e missionário de todos nós pastoralistas e nos levam a pensar numa Escola Marista em saída. O processo de saída pressupõe olhar para fora, em outras direções, colocarmo-nos a caminho e correr os riscos. Encurtar as distâncias, não ter medo e nem vergonha de mudar o jeito de ver e fazer as coisas, se isso nos leva para mais próximo dos nossos ideais. É uma convocação para, a partir dos novos cenários e das diferentes organizações sociais, irmos ao encontro das infâncias, adolescências e juventudes ameaçadas; para sermos capazes de sair da zona de conforto e mudar nossas práticas pastorais muitas vezes ultrapassadas, que não falam ao coração daqueles para quem existimos.. É preferível ter feridas e ficar enlameados por termos saído pelas estradas, a nos tornarmos uma escola enferma pelo fechamento e a comodidade de nos agarrar às próprias seguranças. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6, 37). Quanto mais o trem da história anda em direção a novos horizontes, mais desafiadores se tornam os nossos espaços de atuação e muitas vezes nos encolhemos diante das dificuldades e dos medos que surgem nas curvas do caminho, mas não podemos perder de vista aquela esperança que nos moveu a sair do ponto de partida, rumo ao horizonte que vislumbramos. Há dias em que ficamos parados porque uma grande pedra está impedindo a passagem, então devemos chamar aqueles que fazem parte da nossa equipe e que viajam conosco para juntos movermos os obstáculos e continuarmos a nossa jornada, levando a todas as paragens as sementes da Boa Nova. É necessário e urgente atualizar a Boa Notícia para que as crianças e jovens, os Montagnes de hoje façam, no seu tempo e espaço, a experiência profunda de sentiremse muito amados por Deus, como Marcelino, os primeiros discípulos e, nós pastoralistas que, em algum momento de nossas vidas, fizemos a experiência de nos sentir enamorados por Deus e, como o profeta, dizer: “seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir”(Jr 20, 7).