DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA DOS RAMOS COLATERAIS DO ARCO AÓRTICO
NO CACHORRO-DO-MATO (Cerdocyon thous).
MORPHOLOGICAL DESCRIPTION OF COLLATERAL BRANCHES FROM
AORTIC ARCH IN CRAB-EATING FOX (Cerdocyon thous).
Breno Macedo ¹*, Érika Branco2, Luiza Corrêa Pereira3, Ana Rita de Lima2
Resumo
O arco aórtico do Cerdocyon thous apresentou em sua origem apenas dois vasos, o tronco
braquiocefálico e a artéria subclávia esquerda. Do tronco braquiocefálico originou-se o tronco
bicarotídeo, que se bifurcou nas artérias carótidas comum direita e esquerda, e artéria
subclávia direita. Das artérias subclávias ocorreu a formação do tronco costocervical, artéria
vertebral, artéria torácica interna, artéria cervical superficial e ao atingir o espaço axilar passa
a ser chamada de artéria axilar em ambos os antímeros.
Palavras-chave: arco aórtico, Cerdocyon thous, morfologia
Summary
The aortic arch of Cerdocyon thous presented in its origin only two vessels, the
brachiocephalic trunk and the left subclavian artery. The brachiocephalic trunk originated the
right subclavian artery and bicarotid trunk with left and right carotid common arteries. The
costocervical trunk, vertebral artery, internal thoracic artery and superficial cervical artery
originated from subclavian arteries and this reach in axillary area and starts to be called
axillary artery.
Key words: aortic arch, Cerdocyon thous, morphology
O cachorro-do-mato ou guaraxaim (Cerdocyon thous) é um mamífero da família dos
canídeos, amplamente distribuído pela América do Sul (FACURE e MONTEIROFILHO,1996). A aorta é o grande vaso ímpar que emerge do ventrículo esquerdo
medialmentente ao tronco pulmonar. Tendo um breve segmento ascendente seguido por uma
acentuada curva para a esquerda onde recebe o nome de arco aórtico e continua como aorta
descendente (SCHALLER, 1999). O arco aórtico da origem aos principais vasos que irão
fornecer sangue para a cabeça, pescoço, membros torácicos e junção cervicotorácica (DYCE
et al.,2004) de modo que o conhecimento das características anatômicas do arco aórtico e seus
ramos colaterais são de grande interesse para o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas
(DEMERTZIS et al., 2010).
Para tal foi estudado um exemplar macho jovem de cachorro-do-mato (Cerdocyon
thous), proveniente da Mina de Bauxita - Paragominas, Pará, Brasil / Empresa Terra LTDA,
sob autorização SEMA-PA Nº455/2009 que morreu por causas naturais e foi doado ao
Instituto de Saúde e Produção Animal - ISPA da Universidade Federal Rural da Amazônia –
UFRA. O animal teve o sistema arterial preenchido com látex corado em vermelho por meio
de infusão pela artéria femoral e foi fixado com solução aquosa de formaldeído a 10% através
da infusão intramuscular e preenchimento de todas as cavidades seguido de submersão do
animal nesta mesma solução por um período de 7 dias. Posteriormente as artérias foram
_______________________
¹ Acadêmico de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia.
² Docentes e Doutoras da Universidade Federal Rural da Amazônia. Av. Tancredo Neves, nº 2501, CEP 66077530, Belém – PA, Brasil
³ Medica veterinária, Mestra, da Mina Bauxita Paragominas - Pará.
*Autor para correspondência: Avenida 25 de Setembro, 1788, apto 3, CEP 66093674, [email protected]
dissecadas a partir da remoção da pele e musculatura torácica, esterno e costelas expondo o
arco aórtico e possibilitando a dissecação de suas ramificações.
As dissecações revelaram a existência de apenas dois vasos que se originam
diretamente do arco aórtico, o tronco braquiocefálico após a emergência da aorta do
ventrículo esquerdo, e a artéria subclávia esquerda. O tronco braquiocefálico passa
obliquamente à direita, pela superfície ventral da traquéia e se ramifica formando a artéria
subclávia direita e o tronco bicarotídeo que, por sua vez origina as artérias carótidas comum
direita e esquerda que apresentaram um trajeto ascendente, seguindo lateralmente a traquéia
no lado direito e o esôfago no lado esquerdo em direção a cabeça.
A primeira ramificação da artéria subclávia direita ocorreu ao nível da primeira
costela, seguiu cranial e ventrolateralmente a traquéia e deu origem ao tronco costocervical,
este por sua vez deu origem à artéria vertebral direita que segue cranialmente até atravessar os
forames transversos das vértebras cervicais. Oposta a origem da artéria costocervical direita
encontramos a artéria torácica interna direita que segue caudalmente na cavidade torácica, na
sequência observa-se a artéria axilar direita e a artéria cervical superficial direita.
A artéria subclávia esquerda originou o tronco costocervical esquerdo, a artéria
vertebral esquerda, a artéria torácica interna esquerda, a artéria cervical superficial esquerda e
a artéria axilar esquerda. As origens destas artérias foram similares ao que ocorreu com as
mesmas no lado direito.
A literatura apresenta divergências quanto ao numero de vasos originados diretamente
do arco aórtico nos animais domésticos, Nusshag (1966) afirmou que o arco aórtico dos
animais domésticos em geral, origina as artérias carótidas comuns e as artérias subclávias,
contudo Schwarze e Schröder (1970) comentam que originam do arco aórtico três vasos, a
artéria subclávia esquerda, a artéria carótida comum esquerda e o tronco braquiocefálico
ambos diferindo do padrão observado neste trabalho no qual apenas o tronco braquiocefálico
e a artéria subclávia esquerda se originam diretamente do arco aórtico.
A ramificação do tronco braquiocefálico originando um tronco bicarotídeo no
Cerdocyon thous diverge do descrito por Evans e Lahunta (1994) no cão e no gato nos quais
as artérias carótidas comuns não se originam de um tronco comum. Filho e Borelli (1970)
estudando 240 gatos (Felis catus domestica) encontraram em 165 animais este mesmo
arranjo, sendo a presença de tronco bicarotídeo relatada no restante. Este mesmo arranjo foi
descrito em pacas (Agouti paca) e chinchilas (Chinchilla lanígera) (OLIVEIRA et al., 2001;
ARAUJO et al., 2004).
As artérias subclávias observadas neste trabalho emitiram os mesmos ramos arteriais
descritos por Dyce et al. (2004) para os animais domésticos, originando quatro ramos: artéria
vertebral, tronco costocervical, artéria cervical superficial e artéria torácica interna.
O arco aórtico deste exemplar de Cerdocyon thous apresentou todos os vasos descritos
pela literatura clássica para os animais domésticos, no entanto, estes apresentarão
divergências quanto suas origens. Desta forma, com a descrição do arco aórtico desta espécie
buscamos enriquecer o estudo morfológico dando base ao estudo da anatomia dos animais
silvestres assim como a anatomia comparada.
Referências
ARAUJO, A. C. P.; OLIVEIRA, J. C. D.; CAMPOS, R. Ramos colaterais do arco aórtico e
suas principais ramificações em chinchila (Chinchilla laríngea), Revista Portuguesa de
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DEMERTZIS, S., HURNI, S., STALDER, M., GAHL, B., HERRMANN, G., VAN DEN
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SCHALLER, O. Nomenclatura anatômica veterinária ilustrada. São Paulo: Manole, Brasil,
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