Revista da filiada à Federação dos Radialistas Valorização profissional no centro da pauta Fitert completa 22 anos de lutas em defesa dos trabalhadores de rádio e TV Em debate nesta edição: gênero, saúde do trabalhador, raça e etnia Entidades lutam por novo marco regulatório das comunicações DIRETORIA Coordenador: José Antônio Jesus da Silva (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo) Secretário de Relações Internacionais: Eurípedes Correa Conceição (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de Goiás) Vice-Coordenador: Miguell Walther Costa (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado do Rio de Janeiro) Secretário de Saúde e Segurança no Trabalho: Arnaldo Marcolino da Silva Filho (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo) Secretário Geral: José Marcos de Souza (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo) Secretária de Política da Mulher: Celene Rodrigues Lemos (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão do Distrito Federal) Tesoureiro: Antônio Edisson Peres (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado do Rio Grande do Sul) Secretário de Política Institucional: Marco Antonio da Cruz Gomes (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado do Rio de Janeiro) Secretário de Política Sindical e Organização: Antônio Fernando Ferreira Cabral (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de Sergipe) Secretário de Registro Profissional: José Alves do Nascimento Filho (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado do Piauí) Secretário de Formação: Ricardo Córdoba Ortiz (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão, Televisão, Publicidade e Similares do Mato Grosso do Sul) Secretário de Imprensa e Divulgação: Manoel Vicente dos Santos (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado do Mato Grosso) Secretário de Políticas Sociais: Jailson Gomes de Oliveira (representante do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado do Rio Grande do Norte) Suplentes: 1º: Valter Albano (SE) 2º: Paulo Roberto Moreira (RJ) 3º: Lúcio Rodrigues Maciel (MS) 4º: Valdeci Rodrigues Moraes (PI) 5º: Paulo Mesquita (RR) 6º: José Loureiro (SP) 7º: José dos Santos Freitas (MA) 8º: Éder Carlos Lourenço (SP) 9º: Antônio Mendonça de Lima (SP) CONSELHO FISCAL TITULARES: José Eduardo Figueiredo (RR); João dos Reis (SP); Elto Luiz Basei (RS); SUPLENTES: 1º - William Leal (SE); 2º - Galdino Ferreira Campos Neto (RN); 3º - Josemar Emílio Silva Pinheiro (MA) EXPEDIENTE REVISTA DA FITERT é uma publicação da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão. SEDE: Rua Conselheiro Ramalho, 992/988 - Bela Vista - CEP: 01325-000 - São Paulo – SP - Fone/Fax: (11) 3284-9215. ESCRITÓRIO/DF: SCS QD 06, Edifício Presidente – CEP: 70927-900 – Brasília – DF – Fone: (61) 39631065. www.fitert.org.br • @Fitert • Facebook: Fitert PRODUÇÃO EDITORIAL: Traço Livre Comunicação LTDA. Luciana Araújo (jornalista responsável - MTb 39.715/SP) Leon Cunha (editoração e projeto editorial – MTb 50.649/SP). Colaboraram nesta edição: Bruno Castanho, Débora Prado, Marco Antônio Ribeiro e os sindicatos filiados. As fotos desta edição foram gentilmente cedidas pelos sindicatos filiados. IMPRESSÃO: Gráfica Satélite. TIRAGEM: 20.000 exemplares. editorial nesta edição 5 • Campanha exige respeito e valorização do trabalhador em rádio e televisão brasileiro 7 • Fitert completa 22 anos firme na luta dos radialistas 10 • Filiação à UniMei fortalece luta internacional dos comunicadores 11 • Destaques da organização sindical dos radialistas pelo país 19 • Marco regulatório da comunicação, um desafio para o Brasil 22 • Fortalecer a participação da Fitert e dos radialistas no FNDC 24 • A difícil tarefa de concretizar os Conselhos Estaduais de Comunicação 26 • Efetivar as resoluções da 1ª Conferência Nacional de Comunicação 29 • OPINIÃO: Emissoras de rádio e de TV são concessões públicas, não são mercadorias 30 • Enfrentar a discriminação é tarefa cotidiana 32 • ‘Não entendemos o mal que foi o modelo escravista adotado no Brasil’, alerta diretor 33 • Combater os riscos vividos pelo trabalhador radialista 35 • HOMENAGEM: Gelson Domingos, presente! A Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (FITERT) chega aos 22 anos com uma diretoria renovada e importantes desafios. O principal deles é a luta pelo respeito à profissão diante do avanço das novas tecnologias. Ao longo das últimas duas décadas, defendemos regulamentação da profissão e estruturamos sindicatos em diversos estados, garantindo aos trabalhadores o respeito à data-base e conquistas salariais. Construímos uma pauta de reivindicações nacional sem esquecer das particularidades de cada estado e fortalecemos a luta em defesa de direitos. Derrotamos o peleguismo, construindo um sindicalismo independente e autônomo. Conquistamos respeito profissional com a obrigatoriedade do registro para exercício das atividades inerentes aos radialistas. Atuamos fortemente no movimento pela democratização da comunicação no Brasil. Formulamos, pesquisamos, ocupamos espaços públicos. Ajudamos a construir o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e a Associação Brasileira de Rádiodifusão Comunitária (Abraço). Fomos linha de frente na organização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Também fortalecemos nossa luta enquanto categoria ao nos filiarmos à Uni Mei Panartes. Tudo isso só foi possível porque garantimos em nível nacional a unidade da categoria e a atuação em conjunto com os demais trabalhadores da comunicação por melhores condições de trabalho e de vida. Agora que lançamos o primeiro número da Revista da FITERT, saudamos o conjunto da categoria e as diretorias anteriores da Federação pela construção dessa história. E reafirmamos nosso compromisso com uma Federação democrática, independente de patrões e governos, solidária, autônoma e defensora dos direitos humanos. Agora é hora avançar na valorização profissional e conquistar o piso salarial nacional, uma política de Estado para a concessão do registro profissional que coíba a “pirataria”, garantia da qualidade dos cursos de rádio e TV, a instituição da Carteira de Nacional de Identificação dos Radialistas e melhores condições de trabalho com a preservação da segurança dos profissionais. Sigamos na luta! FITERT: 22 anos de lutas em defesa dos trabalhadores de rádio e televisão Diretoria colegiada 4 - Revista da FITERT FITERT EM AÇÃO Campanha exige respeito e valorização do trabalhador em rádio e televisão brasileiro Uma das principais resoluções do 9º Congresso da Fitert, campanha de valorização profissional combaterá desrespeito à regulamentação profissional e buscará garantir qualificação e salários dignos. Luciana Araújo O 9º Congresso da Fitert, ocorrido em novembro do ano passado na cidade de Aracaju (SE), aprovou entre as ações prioritárias da Federação uma campanha pela valorização profissional. As empresas e grandes grupos de comunicação continuam tendo lucros recordes, mas os trabalhadores que garantem esses lucros seguem superexplorados e precarizados. Só para ficar em dois exemplos, recentemente foi divulgado que as Organizações Globo encerram 2011 com R$ 5,2 bilhões em caixa e o Grupo Bandeirantes fatura mais de R$ 280 milhões por ano só com a venda de horários na programação para igrejas (o que é ilegal). Mesmo nas emissoras públicas o que tem primado é a lógica empresarial, com demissões em massa, desrespeito à legislação trabalhista e humilhações aos profissionais. É necessário defender os empregos com carteira assinada e as conquistas históricas da categoria e dos trabalhadores brasileiros, não compactuando com propostas de “flexibilização de direitos” ou “pactos sociais”. É preciso garantir o respeito às jornadas de trabalho regulamentadas e combater a superexploração que significa o “profissional multitarefas” (que não recebe multissalários). Também é importante defender a efetivação da regionalização, que gera empregos e abre espaço à diversidade cultural. E é fundamental garantir que o ingresso na categoria se dê em condições que não contribuam para vilipendiar os trabalhadores em radiodifusão e televisão, combatendo a “pirataria” na emissão de registros. “Essa é a função da FITERT: articular as lutas estaduais em um processo de mobilização nacional que fortaleça a pauta de reivindicações da categoria para garantir direitos”, ressalta o coordenador da Federação, José Antônio Jesus da Silva (o Zé Antônio). Critérios para a concessão de registro profissional Por isso, a FITERT defende uma política nacional de emissão do registro profissional, que dê conta inclusive das localidades onde não existem cursos técnicos ou superiores de rádio e TV. No caso das cidades onde há cursos de formação na área, o registro profissional só deve ser emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego para pessoas que se formaram em instituições reconhecidas e regularizadas pelo Ministério da Educação. Os cursos devem ter carga horária mínima de 800 horas/aula e grade interdisciplinar. E as escolas picare- tas devem ser descredenciadas pelo MEC, o que só é possível com a implementação de um sistema de fiscalização adequado. A diretoria da FITERT tem realizado inúmeras reuniões com o Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério da Educação para efetivar essa política. O primeiro passo nesse sentido é a homologação pelo MTE das diretrizes aprovadas na plenária de Salvador, em 2010. O desafio das novas tecnologias A diretoria da Federação vem discutindo com o governo federal, tanto no MEC como no MTE, para que o Executivo estenda a política de formação para os radialistas nacionalmente, ao invés de deixar os profissionais nas mãos do mercado educacional. Uma as iniciativas que a FITERT tem buscado é inserir os radialistas no projeto pedagógico do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico). “Diante do advento das novas tecnologias, a diretoria da FITERT entende que é necessário que a categoria se capacite para atuar com os novos equipamentos, mas as inovações tecnológicas não podem servir de desculpa para os patrões descartarem trabalhadores com anos de Revista da FITERT - 5 dedicação. Também é responsabilidade patronal garantir condições para que o trabalhador se capacite. Assim como é papel do Estado ampliar a rede de formação em rádio e TV, tanto em nível médio como superior”, destaca Zé Antônio. Outra medida que a diretoria da Federação vem buscando é a aprovação do projeto de lei 1005/2007, que institui a Carteira Nacional de Identificação do Radialista. A propositura está na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e é uma das prioridades diante da aproximação dos megaeventos esportivos. As dificuldades enfrentadas cotidianamente pela categoria para se credenciar em eventos oficiais e esportivos sem uma identificação reconhecida em todo o território nacional só aumentam. “Não podemos chegar à Copa do Mundo de 2014 sem um instrumento que impeça a discriminação dos trabalhadores radialistas”, afirma Zé Antônio. Assim como acontece com os jornalistas, a Carteira Nacional dos Radialistas deve ser emitida pela FITERT, por meio de seus sindicatos filiados, que - como na emissão dos atestados de capacitação - têm a responsabilidade pela veracidade das informações que deverão constar no documento. A Federação chama toda a categoria a contatar os parlamentares do seu estado para garantir a aprovação da CNR e alerta: parlamentar, votar contra a identificação dos radialistas é bola fora! Piso nacional unificado Outro ponto da campanha de valorização é a busca da retomada de campanhas salariais unitárias em todo o país para luta pelo estabelecimento de um piso salarial nacional. A categoria é nacional e as emissoras também atuam de forma nacionalizada em seus conglomerados, com alta rentabilidade. Não faz sentido as diferenças salariais hoje existentes. “Não é possível que um radialista do Norte ou do Nordeste do país ganhe diferente de um radialista de São Paulo para fazer as mesmas funções”, afirma Zé Antônio. 6 - Revista da FITERT Principais resoluções do 9º CONFITERT em defesa da valorização dos radialistas - Defesa do registro profissional, da qualificação e da lei regulamentação da categoria - Redução da jornada de trabalho sem redução dos salários - Contra os bancos de horas, horasextras contratuais, pejotização, flexibilização das jornadas e quaisquer formas de desregulamentação do trabalho - Reposição das perdas salariais, aumento real e participação nos lucros e ou resultados (PLR) - Contra reformas previdenciárias que atacam direitos, pelo fim dos redutores de aposentadorias (fator previdenciário, fator 85/95 e quaisquer outros) - Pelo fim da “alta programada” no INSS - Melhores condições de trabalho para garantir a saúde e a vida dos trabalhadores - Garantia da instalação de CIPAs em todas as empresas com mais de 50 trabalhadores, incluindo os terceirizados ou PJs - Ampliar a organização nos locais de trabalho - Defesa da ratificação da Convenção 103 (proteção à maternidade) - Combate ao assédio moral e sexual - Defesa da remuneração igual por trabalho igual e do fim da segregação do trabalho feminino - Reformulação ou implementação de Planos de Cargos, Carreiras e Salários nas emissoras de rádio e televisão - Defesa de processos de seleção interna para preenchimento de cargos vagos baseados em critérios objetivos, como testes de conhecimento - Proibição da exigência de comprovação de esterilização, prova de gravidez ou sorologia de HIV/Aids na admissão ou preenchimento de cargos - Defesa da licença maternidade de 180 dias para todas as trabalhadoras e respeito à legislação que assegura liberação das gestantes para exames e consultas pré-natais, das mães para amamentação e dos progenitores para consultas dos filhos - sem prejuízo das funções ou cargos - Mudança de setor de trabalho ou função para as gestantes quando houver risco à mãe ou ao feto - Garantia de estabilidade no emprego para o pai até um ano após o nascimento de filhos - Defesa das políticas afirmativas e de cláusulas antidiscriminatórias nas convenções coletivas - Contra as terceirizações em geral e o desmonte dos serviços e emissoras públicas - Intensificar a luta pelo pagamento imediato dos passivos da extinta TV Manchete pela Rede TV! - Lutar pelo fim do “videorrepórter” ou “abelha” e toda forma de acúmulo de função sem o devido pagamento - Contra a “satelitização” e em defesa da produção regional, que gera empregos e assegura a diversidade - Garantia de segurança nos locais de trabalho, equipamentos compatíveis com as coberturas externas e limites que não exponham as vidas dos profissionais - Lutar por um piso salarial nacional unificado, referenciado no salário mínimo do DIEESE - Por uma política de atualização profissional contra as demissões motivadas pelos avanços tecnológicos História de lutas Fitert completa 22 anos firme na luta dos radialistas Fundada na concepção do sindicalismo combativo, a Federação cumpre o papel de articular a categoria nacionalmente para garantir a defesa dos direitos e respeito à legislação. Luciana Araújo Quando, em 11 de fevereiro de 1990, os trabalhadores em radiodifusão e televisão reunidos no 1º Congresso dos Radialistas, no Estado de São Paulo, decidiram formalizar a criação da FITERT, talvez não soubessem que estavam fazendo história. No entanto, a criação da Federação foi decisiva para enfrentar os anos de neoliberalismo que se instalaram no Brasil na década de 1990 e preservar direitos. E ela só foi possível pela articulação dos sindicatos de Alagoas, Distrito Federal, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e São Paulo - o Movimento Nacional dos Radialistas - vanguarda no combate à estrutura confederativa que dificultava a integração da categoria nacionalmente e a mobilização contra os desmandos patronais. “A gente precisava ter um instrumento de luta” Se aqueles radialistas não tivessem decidido romper com a estrutura sindical vigente na categoria e ir à luta, o mais provável é que hoje a profissão estivesse em vias de extinção. Foi a luta articulada pela FITERT que, nos anos 2000, impediu que o Congresso Nacional modificasse a lei que garante o exercício de determinadas funções aos radialistas. A hora da virada O primeiro coordenador da FITERT, Francisco Campos Pacheco Neto (Chico Pacheco), lembra do período em que o movimento sindical dos radialistas ainda era controlado pela “pelegada” e avalia que se, à época da fundação do PT e da CUT, na esteira das greves metalúrgicas do ABC e da derrubada da ditadura, os radialistas tivessem uma federação de luta, poderiam ter influenciado o rumo do debate sobre o marco regulatório das comunicações. “A Tupi estava fechando. Não tinha a unidade que a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) depois consolidou, com a Globo, para fazer valer as suas posições. Se naquele momento a gente tivesse um sindicato dialogando e fazendo uma proposta de trazer o Poder Legislativo para a discussão da radiodifusão, a gente poderia ter um saldo diferente”, afirma. “A federação (Fenarte) era a instância que representava nacionalmente a categoria. E, por sua vez, deliberava com votos por estados. E sempre que a gente ia para alguma reunião e tentava colocar alguma discussão, a gente era patrolado porque tinha vários sindicatos pelegos. E a gente começou a discutir entre nós que a gente tinha demandas semelhantes e tinha que transformar a federação num instrumento de luta porque existiam redes nacionais, existiam políticas no âmbito da comunicação que tinham caráter nacional. E a gente precisava se organizar para dar respostas nacionalmente. Então, esses sindicatos começaram a se organizar como Movimento Nacional dos Radialistas”. Naquele momento a entidade nacional de representação dos radialistas ainda não tinha carta sindical. Quando surgiu a possibilidade de organização de entidades estimuladas pelos patrões, o MNR cobrou à direção nacional que “peitasse o governo” para consolidar a legalização da entidade contra essa brecha legal. A resposta do presidente da Fenarte, que era funcionário da Radiobras, foi licenciar-se do mandato sindical para não se indispor com o governo. “Ali ficou claro o limite da federação pelega”, lembra Chico. Logo depois da confirmação da vitória de Fernando Collor, em 1989, o MNR avaliou que se manteria a Revista da FITERT - 7 estrutura sindical vigente e se aprofundariam os ataques aos direitos dos trabalhadores. “A gente precisava ter um instrumento de luta ágil e representativo para fazer frente a isso”, conta. A partir daí consolida-se a trajetória do sindicalismo combativo na categoria. “A defesa da CUT, do socialismo, de uma estrutura sindical classista que atenda as demandas das lutas dos trabalhadores está muito presente na fundação da FITERT”, relata Chico Uma história de lutas e conquistas Liorcino Mendes Pereira Filho (Léo Mendes), também ex-coordenador da Federação, ressalta que “a FITERT acabou com o peleguismo da Fenart, levantou autoestima dos radialistas brasileiros, trouxe a categoria para as lutas sindicais, lutas por políticas públicas, por democracia e socialismo no Brasil. Foi uma mudança de paradigma para os trabalhadores em rádio e TV no Brasil”. Liorcino destaca entre as principais 8 - Revista da FITERT conquistas da categoria após a criação da FITERT “o respeito profissional, aumento salarial, confiança nos dirigentes sindicais, início da democratização da comunicação no Brasil, a integração com radialistas do Mercosul, melhoria na saúde dos radialistas, garantia de direitos e participação nas políticas públicas”. “Trabalhamos sem dinheiro. Tínhamos poucas contribuições voluntárias de sindicatos filiados. Não tínhamos sede, eu era liberado com um salário mínimo por mês, não tínhamos dirigentes liberados, quadro de servidores, tudo era difícil. Mas avançamos muito na formação sindical e enfrentamento patronal”, comemora. Para Nascimento Silva, coordenador da FITERT entre 2009 e 2012, “os trabalhadores brasileiros ganharam em todas as áreas através da construção da FITERT. Vivíamos sob a tutela de uma federação que só existia para recolher imposto sindical dos trabalhadores e agora temos uma Federação que mostra a cara e luta pelo bem estar dos trabalhadores, e que construiu ao longo dos anos uma série de benefícios para os trabalhadores. Posso enfatizar a defesa da regulamentação da profissão, a obrigatoriedade do registro profissional e a luta por cursos de formação, tentativas de campanhas salariais nacional”. Nascimento defende que a FITERT é “a única entidade brasileira capaz de falar em nível nacional e internacional sobre qualquer tema representando os trabalhadores radialistas”. Ele fez questão de lembrar durante a entrevista a contribuição dos ex-diretores “Chico Pereira, de Brasília, Chico Pacheco, de São Paulo, Marta, do Rio Grande do Sul, Liorcinio, de Goiás, Tião Santos [RJ], Orlando Guillhon[RJ], Ricardo Freitas, do Rio, entre tantos outros que eram mentores de uma política de enfretamento ao governo e aos patrões, com visões definidas em defesa do socialismo”. José Marcos de Souza (o Zé Marcos) considera um dos avanços mais importantes “que hoje, na maioria dos estados, e essa foi uma luta muito grande da categoria junto ao Minis- tério do Trabalho, as Delegacias Regionais não aceitam os atestados de capacitação profissional fornecidos pelos sindicatos patronais ou pelas empresas. Os únicos atestados aceitos hoje são os emitidos pela Federação ou pelos sindicatos. Ainda temos muitos problemas, como a questão da venda de registros, mas já melhorou bastante e esse é sem dúvida um grande avanço da luta da categoria”. Na opinião de Zé Marcos, se as propostas aprovadas na plenária da FITERT de Salvador, ocorrida em 2010, forem homologadas pelo Ministério do Trabalho será possível regularizar tudo o que está ilegal hoje. Foi a FITERT também que levou ao Legislativo a demanda do projeto de lei que institui a carteira de identificação nacional dos radialistas (PL 1005/2007), que tramita na Câmara dos Deputados. E em 2006, após muita luta da Federação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promulgou a Lei 11.327, que institui o 7 de novembro (data de nascimento do grande Ary Barroso) como o Dia do Radialista. É em função dessa história que o ex-coordenador e atual tesoureiro da Federação, Antônio Edisson Peres (o Caverna) ressalta que “hoje a classe patronal respeita a FITERT como uma Federação que está na vanguarda do movimento sindical”. A luta pela democratização da comunicação Desde a sua fundação a FITERT sempre teve uma participação muito destacada na luta pela democratização da comunicação e pelo acesso da população aos meios de produção da comunicação. A Federação foi uma das entidades fundadoras do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), em agosto de 1995, e da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), um ano depois, em agosto de 1996. Além disso, ao associar-se à UniMei Panartes, em 2000, fortaleceu internacionalmente a organização, articulação e lutas dos trabalhadores da comunicação e pela democracia nessa área. Da mesma forma, quando foi convocada a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), a FITERT esteve na linha de frente dos debates e da organização do fórum que pela primeira vez no país discutiu o modelo de comunicações brasileiro e a necessidade de políticas públicas na área para acabar com a concentração atual. Desafios Caverna avalia que “a maior dificuldade continua a ser a fiscalização nas empresas sobre a questão do registro profissional. E não coloco o problemas apenas como sendo nosso. O Ministério do Trabalho não tem fiscais suficentes para fiscalizar as empresas que continuam a contratar sem o registro profissional”. A nova realidade da comunicação no Brasil e no mundo coloca para a categoria a necessidade de dar um salto na sua organização. “A atual gestão foi eleita no maior congresso da história da FITERT, num momento em que estamos atravessando a instalação de um novo paradigma nas comunicações, com o avanço tecnológico, e retomou-se com força a discussão sobre a necessidade de um novo marco regulatório das comunicações e sua democratização. Então, os desafios para os trabalhadores são muitos e o que nos dá força para enfrentá-los é a aposta na unidade da categoria para lutar e a história da nossa entidade”, diz o atual coordenador, José Antônio Jesus da Silva (Zé Antônio). Revista da FITERT - 9 TRABALHADORES DO MUNDO, UNI-VOS Filiação à Uni-Mei fortalece luta internacional dos comunicadores Organização internacional favorece a troca de informações sobre a dinâmica de funcionamento dos meios de comunicação e sua relação com os trabalhadores e respostas aos ataques. Bruno Castanho Desde 2000 a FITERT está filiada à Uni-Mei, um braço da Union Network Internacional - uma rede global de sindicatos do setor de serviços, que representa mais de 15 milhões de trabalhadores e 8 mil sindicatos, em aproximadamente 70 países. São 12 setores, incluindo o de meios de comunicação, entretenimento e artes. Para o coordenador da Federação, José Antônio Jesus da Silva, a participação dos radialistas brasileiros nas organizações internacionais fortalece os trabalhadores de comunicação. “A Uni-Mei tem um papel fundamental, pois a categoria necessita trocar informações e estabelecer um intercâmbio com os sindicatos, federações e confederações de radialistas do resto do mundo”. Em âmbito nacional, os sindicatos brasileiros filiados à UNI estão congregados no Conselho de Enlace Brasil, que se reúne periodicamente para articular posições e medidas práticas na relação entre o segmento dos trabalhadores no Brasil e de outros países. “Através do Conselho, consegue-se colocar os trabalhadores no mesmo espaço, onde se discute ações e metas que fortaleçam a classe trabalhadora, efetivando grandes mobilizações em defesa do conjunto dos trabalhadores”, explica Zé Antônio. A FITERT vem tomando frente nessas organizações em busca de novas formas de luta, mobilização das categorias e resultados práticos em políticas sociais. Zé Antônio lembra que o movimento dos trabalhadores no Brasil vive uma crise de identidade e é preciso repensar o sindicalismo. “A nova cena produtiva inibe a tendência reivindicativa, desafiando os sindicatos a alterarem sua agenda histórica, de modo a produzir novas estratégias de ação e, principalmente, repensarem o próprio lugar dos sindicatos em uma sociedade na qual a precarização das relações de trabalho vem crescendo a cada dia que passa”, afirma. “A Uni-Mei tem um papel fundamental, pois a categoria necessita trocar informações e estabelecer um intercâmbio com os sindicatos, federações e confederações de radialistas do resto do mundo” 10 - Revista da FITERT BRASIL AFORA Destaques da organização sindical dos radialistas pelo país Sergipe tem campanha salarial conjunta de radialistas, publicitários e jornalistas Até o fechamento desta edição estava a pleno vapor a mobilização da Campanha Salarial Unificada dos radialistas, publicitários e jornalistas sergipanos. A unidade dos comunicadores no Estado de Sergipe já está se tornando uma tradição e as categorias inclusive debatem a possibilidade de unificação dos sindicatos. A importância dessa atuação conjunta se reforça diante do “sumiço” da representação patronal, o que tem emperrado a realização da audiência de mediação da Superintendência Regional do Trabalho pedida pelos sindicatos e o atendimento da pauta de reivindicações. As categorias pedem 14% de aumento real mais a reposição do INPC; R$ 200,00 de ticket alimentação; participação nos lucros e ou resultados (PLR); auxílio creche no valor de R$ 311,00 por filho até 5 anos de idade; adicional de 10% para quem tem especialização ou pós-graduação, 15% para quem tem mestrado, 20% para doutorados e 25% para pós-doutores; horas extras pagas com adicional de 100% e 150% após a sétima hora trabalhada; liberação de dirigentes sindicais, entre outros pontos. A CUT e a CTB têm acompanhado a campanha salarial no Estado. Revista da FITERT - 11 No Maranhão, Sinrad tem nova diretoria e Sindijori prepara campanha salarial Os radialistas filiados ao Sindicato dos Radialistas do Maranhão (Sinrad-MA) reelegeram em março deste ano a diretoria que estará à frente da entidade até 2016. A única chapa que disputou o pleito recebeu 80% dos votos válidos e apenas quatro eleitores votaram em branco. De acordo com presidente do sindicato, José Ribamar dos Santos, a principal meta da nova gestão é dar continuidade ao processo de interiorização da organização sindical. No município de Imperatriz, onde a entidade que organiza os radialistas é o Sindijori (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Jornalísticas e de Radiodifusão de Imperatriz), a categoria se prepara para dar início à campanha salarial 2012-1013. Além disso, segue priorizando a fiscalização do exercício profissional. A principal vitória em Imperatriz no último período foi derrotar o clã Sarney e garantir a reintegração de uma trabalhadora demitida da TV Mirante – afiliada da Rede Globo. O presidente do Sindijori, Josué Aquino, informa que a funcionária fora demitida injustamente após contrair problemas respiratórios no local de trabalho. A data-base da categoria é em setembro, mas já no início do junho o sindicato começará a mobilizar a categoria. Em Minas, categoria luta para manter conquistas Os radialistas mineiros estão em plena campanha salarial. A data-base, que acontece tradicionalmente em abril, foi adiada para 21 de maio, por solicitação do sindicato patronal e com a concordância da categoria. Os trabalhadores reivindicam 5% de reajuste salarial para o conjunto da categoria e 10% no valor do piso salarial, 4% de aumento real, R$ 2 mil a título de participação nos lucros, pagamento de horas extras com adicional de 100% e fim dos bancos de horas. A direção do Sindicato dos Radialistas de Minas Gerais (Sintert-MG) convida toda a categoria a conhecer o novo site da entidade (www.radialistasdeminas.com.br) e acompanhar as negociações. Em 2011, o Sintert-MG completou 50 anos de luta em defesa da categoria. Mato Grosso garante meia-entrada para radialistas Em janeiro deste ano o prefeito de Cuiabá sancionou lei municipal garantindo aos radialistas e jornalistas da cidade o direito de pagar meia-entrada em eventos culturais. A lei já está em vigor e só é necessário apresentar nas bilheterias documento comprovando o exercício das profissões (como a carteira de trabalho, por exemplo). Organização - Ainda neste ano, os filiados ao Sintert-MT elegerão nova diretoria. O atual presidente do 12 - Revista da FITERT sindicato, Jolinei Ribeiro da Cruz, se apresenta à reeleição e tem boas chances de obter sucesso na avaliação do Secretário de Imprensa da FITERT, Manoel Vicente dos Santos (o Kid Noel). Noel destaca a importância da luta por um piso para a categoria, dificultada porque no Estado as negociações com os patrões se dão por empresa, já que não existe sindicato patronal. Piauí entrega sede nova à categoria e retoma Festa do Radialista Sindicato roraimense completa 23 anos garantindo conquistas para a categoria Os radialistas piauienses voltarão a ter a Festa do Radialista neste fim de ano, após dois anos de “recesso” forçado pelo investimento na quitação do terreno adquirido pelo Sindicato dos Radialistas do Piauí, que custou R$ 31 mil, e a construção da sede própria da entidade, que totalizou mais R$ 55 mil. A valorização do patrimônio da categoria é vista pela diretoria do sindicato como uma importante vitória, já que pela primeira vez os radialistas têm um espaço adequado às suas necessidades e que é dos trabalhadores. Agora a diretoria do sindicato vai se dedicar a preparar a campanha salarial para que na data-base, em 1º de maio, os trabalhadores obtenham novas conquistas. Diante da dificuldade das negociações por empresa, é fundamental acelerar a preparação dos embates. Outro desafio que a direção sindical se deu é interiorizar a organização dos trabalhadores. O Sindicato dos Radialistas de Roraima completou 23 anos em março. No mesmo período os trabalhadores da TV Imperial (vinculada à Igreja Universal e afiliada à Record) puderam comemorar a assinatura de acordo para estabelecimento do novo valor do piso salarial (R$ 800,00), com reajuste de 7,5%, e aumento nos valores dos auxílios alimentação (R$ 11,00) e creche (R$ 135,75). Na TV Caburaí, retransmissora da Record News, o acordo já havia sido fechado. Na Rádio Alto Astral o piso salarial ficou definido em R$ 622,00. Os operadores receberão adicional de 20% sobre os vencimentos. O Estado não tem sindicato patronal, e por isso as negociações se dão por empresa. No fechamento desta edição a campanha salarial seguia para os trabalhadores da TV Roraima, afiliada da Rede Globo. Lá, a categoria reivindicava o estabelecimento de um piso salarial inicial, no valor de R$ 933,00, e a vinculação das demais faixas ao salário mínimo, sobre a base de dois ou dois e meio mínimos. Radialistas baianos garantem reajustes Após muita mobilização, os radialistas do Estado da Bahia fecharam a campanha salarial com vitórias. De acordo com o Sindicato dos Radialistas e Publicitários da Bahia (Sinterp), o reajuste de 6% oferecido em audiência de mediação realizada na Superintendência Regional do Trabalho foi aprovado em assembleia pela categoria, no dia 24 de abril. O piso salarial da capital será de R$ 1.082,00 - reajuste de 7%. No interior, exceto em Juazeiro da Bahia (Norte do Estado), o piso será R$ 670,00 – o que significa um reajuste de 12%. Para as funções não regulamentadas o valor fica em R$ 631,00 (13,58% de reposição). O quinquênio ficará em R$ 63,41 na capital e R$ 33,43 no interior. A convenção coletiva de trabalho será mantida com reajuste em 6% dos valores expressos em todas as demais cláusulas. Em Juazeiro, foi fechado ainda em março o acordo com o sindicato das emissoras de rádios do município, com um reajuste salarial de 7,5% para essa parcela da categoria. A partir de 1º de abril o piso salarial dos radialistas de Juazeiro da Bahia passou a R$ 826,70. Revista da FITERT - 13 Pará, em plena campanha salarial, tem 1ª convenção estadualizada Pela primeira vez na história do Sindicato dos Radialistas do Pará a convenção coletiva 2012/2013 será obrigatoriamente estendida a todos os trabalhadores da capital e do interior do Estado. A proposta da categoria já foi encaminhada ao sindicato patronal e inclui reivindicações como creche, seguro de vida, participação nos lucros e resultados (PLR), ticket alimentação, adicional por tempo de serviço, grades protetoras nos veículos para separar os trabalhadores dos equipamentos, coletes a prova de balas e licença para empregada adotante. “Decidimos também pelo fim do banco de horas, tendo em vista que as empresas nunca cumpriram esta cláusula. Agora, se o trabalhador faz hora extraordinária a empresa é obrigada a pagar no contracheque do mês. E não mais reconhecemos a função de Editor Multimídia, portanto o Editor de Imagem, a partir desta convenção, terá direito a quantos acúmulos exercer”, afirma o diretor Franck de Castro. O sindicato também encaminhou a proposta de acordo coletivo a todas as TVs a cabo, TVs por assinatura, produtoras de áudio e vídeo e à produtora ligada à Igreja Universal (IURD-Mundial-Nazaré). E, desde o mês de abril deste ano, o sindicato esta interpelando judicialmente todas as empresas de radio, televisão e produtoras para que comprovem que os funcionários contratados detêm o Registro Profissional de Radialista. O resultado dessa ação será encaminhado ao Ministério Público do Trabalho para providências. Categoria em SP toca campanha salarial, defesa da RTV Cultura e luta na Rede TV! Quando fechávamos esta edição, a campanha salarial deste ano em São Paulo estava mais agitada do que nunca. Além da luta por um piso salarial estadual (no valor de R$ 1.306,00), aumento real de 5%, PLR, estabelecimento de cotas de produção regional e outras reivindicações, a categoria ainda enfrenta demissões em massa e desrespeito aos direitos trabalhistas na Rede TV! e resiste ao desmonte da Rádio e TV Cultura, a emissora pública do Estado. A Rede TV! demitiu mais de 50 funcionários, entre eles a apresentadora Rita Lisauskas (pelo fato dela ter comentado os constantes atrasos salariais numa rede social). Quem continua trabalhando é obrigado a conviver com atraso de pagamento, contratações via PJs, não pagamento de férias, brigas entre os sócios e boatos de venda da emissora. A situação lembra a triste história da TV Manchete, que faliu em situação semelhante e cuja concessão foi comprada pela Rede TV! – que até hoje não pagou as dívidas trabalhistas deixadas com centenas de trabalhadores. A concessão da emissora está vencida desde agosto de 2011 e em março deste ano os concessionários entraram com pedido de renovação, mas não apresentaram todos os documentos necessários. Enquanto isso, o governo tucano desmonta a Rádio e TV Cultura, controlada pela Fundação Padre Anchieta. 14 - Revista da FITERT Diversos programas foram extintos, mais de mil funcionários foram demitidos nos últimos dois anos, contratos de trabalho foram alterados sem o devido pagamento de indenizações. E agora a TV está vendendo espaços na grade de programação a grupos privados, como a Abril e a Folha. Um patrimônio da população paulista vem sendo dilapidado escancaradamente, o que levou a uma campanha de diversas entidades contra a privataria tucana na RTV Cultura. No fechamento desta edição estava prevista a realização de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em 10 de maio, para discutir a situação. No RN, sindicato qualifica profissionais e busca reconquistar filiados A atual diretoria do Sindicato dos Radialistas do Rio Grande do Norte tem priorizado assegurar aos trabalhadores em radiodifusão e TV a necessária qualificação profissional frente às novas tecnologias para garantir a manutenção de empregos nos 105 municípios do Estado que integram a base sindical. O sindicato vem realizando uma Oficina de Rádio e TV que envolve 12 áreas de conhecimento (técnicos e gerais) e já beneficiou quase 140 trabalhadores em 40 cidades. Até o fevereiro de 2014, a direção da entidade quer atingir todo o Estado. Outra tarefa que vem sendo priorizada pela gestão é refiliar centenas de radialistas que deixaram a entidade na administração anterior, buscando revigorar o sindicato. A data-base no Estado é em 1º de setembro e extensiva aos publicitários, também representados pelo sindicato. E entre os principais problemas que a entidade vem enfrentando está o desrespeito às normas trabalhistas estabelecidas nas cabeças de rede, além do combate ao assédio moral. “A questão do assédio moral é recorrente em todos os Estados da federação. A nossa luta, enquanto representantes da categoria, é acabar com esta prática nociva, fomentando no trabalhador o sentimento de luta de classe, mostrando aos mesmos que juntos, embora poucos, seremos fortes. A denúncia, quando é levada ao conhecimento do sindicato, é tratada com o rigor que a lei exige”, ressalta Jailson Gomes de Oliveira, secretário de políticas sociais da FITERT e presidente do sindicato. Sinrad-DF realiza campanhas em defesa da saúde dos radialistas e contra terceirizações O Sindicato dos Radialistas do Distrito Federal vem realizando duas campanhas que a direção da FITERT considera de caráter nacional. A primeira delas diz respeito à defesa da saúde dos trabalhadores em radiodifusão e TV. A última edição do jornal do sindicato – o “Rádio Frequência” – publicou entrevista com a professora da UnB Anadergh Barbosa sobre o alto índice de afastamentos do trabalho na categoria em função de problemas de saúde relacionados ao stress cotidiano da profissão. Anadergh é mestra em Enfermagem e doutora em Medicina. De acordo com pesquisa realizada pela professora, no INSS há um alto índice de pedidos de licença saúde entre radialistas jovens, na faixa entre 20 e 29 anos. Em muitos casos foi verificado um aumento dos transtornos neurológicos relacionados ao abuso de entorpecentes, além de doenças mentais (como a depressão). “O estudo revela dados alarmantes sobre as condições de trabalho no Brasil, como a carga horária excessiva e o acúmulo de funções”, informa a pesquisadora, que limitou sua pesquisa aos afastamentos por mais de 15 dias, considerados de gravidade média ou alta. Os radialistas ocupam o terceiro lugar em licenças-saúde num universo de 82 ramos de atividade pesquisados. A secretaria de Segurança do Trabalho da FITERT buscará divulgar a íntegra do trabalho da professora Anadergh ao conjunto dos sindicatos da categoria. A outra campanha realizada pelo Sinrad-DF defende a rejeição do PL 4330/2004, do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), que legaliza a terceirização em qualquer atividade profissional. Na opinião de procuradores e juízes do Trabalho, assim como da CUT e outras centrais, o projeto é uma contrarreforma trabalhista, que coloca vários riscos aos direitos já adquiridos pelos trabalhadores no Brasil. Revista da FITERT - 15 Unidade da categoria fortalece sindicato e dá vitória à chapa da CUT no RJ No Rio de Janeiro, em março deste ano, a categoria reconduziu à direção do sindicato a chapa composta por trabalhadores que reivindicam a Central Única dos Trabalhadores e era apoiada pela diretoria da FITERT e diversos sindicatos cutistas. A chapa 1 obteve 72,9% dos votos e venceu a disputa em 14 das 15 urnas. Dois dias após o encerramento do segundo turno da eleição, em 15 de abril, o Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro completou 63 anos e, então, a comemoração foi dupla. Na verdade, tripla, porque em agosto do ano passado consolidou-se a unificação da base do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Radiodifusão e Televisão de Campos (Sinrad/Campos) com o sindicato estadual, fortalecendo a categoria. Esta foi a primeira eleição com toda a base unificada. Agora, o presidente do sindicato e vice-coordenador da FITERT, Miguel Walther Costa, ressalta que entre as primeiras tarefas da diretoria eleita está a tentativa de responder às denúncias de assédio moral e desrespeito a direitos trabalhistas e à regulamentação profissional feitas pela categoria durante a campanha eleitoral. A campanha salarial no Estado acontece em outubro e o fim dos bancos de horas continuará entre as prioridades dos trabalhadores. 16 - Revista da FITERT Pernambuco quer campanha salarial unificada dos comunicadores Ao longo do ano passado o Sindicato dos Radialistas de Pernambuco atuou em diversas frentes para assegurar os direitos da categoria, inclusive para combater os registros falsos vendidos na Paraíba e no Ceará. A Superintendência Regional do Trabalho foi acionada para garantir que só tivessem o registro legal pessoas que cumpriram o mínimo de 800 horas/aula em cursos reconhecidos. Empresa que contratam pessoas em situação irregular também foram denunciadas e o sindicato acompanha o processo de criação do curso da Associação de Imprensa de Pernambuco para garantir que atenda às exigências legais. O sindicato também está em litígio com o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, que iniciou um Programa de Aposentadoria Compulsória (PAC) que vem acelerando o desemprego, o endividamento e a insatisfação na categoria. Trabalhadores que chegaram ou passaram dos 65 anos de idade, com anos de serviços prestados à empresa, têm sido forçados a se demitir. O caso está sendo analisado também pelo MPT a pedido do sindicato. Para este ano, a direção do sindicato buscará a unificação com outras entidades para realização de uma campanha salarial dos trabalhadores da comunicação (radialistas, jornalistas, gráficos e publicitários). E o índice a ser reivindicado pela categoria será baseado em estudo solicitado pelo sindicato ao Dieese sobre as perdas acumuladas pelos radialistas nos últimos anos. Também será analisado o acúmulo de lucros das empresas. NO RS, TV Pampa é obrigada a reintegrar dirigente sindical Os radialistas gaúchos têm travado duras batalhas com a Rede Pampa (afiliada da Rede TV! e da Rádio Jovem Pam no Rio Grande do Sul). Há contratados sem registro profissional, problemas na garantia de plano de saúde e contrato de trabalho, e também profissionais exercendo diversas tarefas mediante um único contrato. Além disso, a empresa havia demitido ex-diretor do sindicato e delegado sindical Ilson Kievel, ação que foi obrigada judicialmente a reverter em função da estabilidade para dirigentes sindicais prevista na CLT. Os procedimentos trabalhistas da Rede Pampa são bastante compatíveis com a emissora cabeça de rede, também conhecida na categoria como “Errei de TV”, em função dos constantes desmandos e burlas legais. Mas os problemas de desrespeito aos trabalhadores em TV e radiodifusão gaúchos não se limitam à Pampa. A Rádio Cultura AM de Jaguarão foi denunciada pelo sindicato ao Ministério do Trabalho porque funcionários estão sem receber salários desde o mês de dezembro. A empresa vem fornecendo somente vales, de valor baixíssimo. Na TV Record/Guaíba é cada vez mais comum a prática de assédio moral. Nas emissoras da Rede Meridional de Rádios os salários dos trabalhadores também estão em atraso (no caso da Rádio Camaquã, já são dez meses sobrevivendo unicamente com o fornecimento de vales e sem o depósito do INSS e FGTS). A direção do sindicato vem atuando para reverter tais situações e a FITERT passará a denunciar nacionalmente tais crimes trabalhistas. Os trabalhadores gaúchos vêm buscando fortalecer a luta contra os desmandos patronais também em nível internacional. No dia 9 de março deste ano, dirigentes do sindicato participaram 1º Encontro Trinacional de Comunicadores do Mercosul, em Campo Vieira Missiones, na Argentina. A atividade reuniu jornalistas e radialistas da Argentina, do Paraguai e do Brasil para troca de informações e discussão de iniciativas. MS discute violência contra profissionais da comunicação tes e autores de tais crimes. Durante o evento, foi lembrado o assassinato do jornalista Paulo Rocaro (foto abaixo), em 12 de fevereiro na cidade de Ponta Porã. Representando o Ministério Público Estadual, o promotor de Justiça Paulo Cezar dos Passos destacou a importância da liberdade para o exercício da profissão jornalística. “A impren- O Sindicato dos Radialistas de Mato Grosso do Sul (Sintercom/MS) tem participado ativamente da luta para acabar com a violência contra profissionais da comunicação no Estado. Em março, uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, reuniu representantes de várias entidades de classe, radialistas, jornalistas, um representante do Comando da Polícia Militar e outros setores da sociedade para pedir o fim da impunidade dos mandan- Revista da FITERT - 17 sa livre é um direito básico de toda democracia”, definiu. “Qualquer ataque contra a imprensa, contra o profissional da comunicação, é um ataque à própria sociedade e à democracia. É evidente que há traços de crime de pistolagem, é evidente que há traços de que a morte foi encomendada. Em que tipo de sociedade estamos vivendo em Mato Grosso do Sul?”, questionou Passos ao comentar a morte de Rocaro. O Presidente do Sintercom e suplente da direção da FITERT, Lúcio Maciel, também defendeu a punição aos mandantes e executores de crimes contra trabalhadores da mídia e repudiou atos de censura. O comandante da PM do Estado, coronel Carlos Alberto David dos Santos, frisou que “a Polícia Militar tem a obrigação de se juntar as outras forças para solucionar esses crimes”, emendou. “Não somente em Mato Grosso do Sul, mas em todo Brasil os profissionais da comunicação não têm amparo legal ou proteção do Estado para exercer a profissão. Ficam a mercê da sorte”, salienta Ricardo Ortiz, Secretário de Formação da FITERT. Para a diretoria da Federação, o combate à violência contra os trabalhadores da comunicação é parte da luta pela valorização profissional. Campanha salarial no Espírito Santo busca resolver queda de braço com grandes redes Os radialistas do Espírito Santo estão em campanha salarial (a data-base no Estado é em 1º de maio) e seguem na queda de braço com as grandes emissoras da região metropolitana. Essas empresas não integram o sindicato patronal e se recusam a reconecer os reajustes conquistados pela categoria em 2009/2010 e 2010/2011. Por isso, o Sindicato dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Sintertes) impetrou dois dissídios coletivos perante a Justiça do Trabalho para garantir aos trabalhadores dessas redes os direitos conquistados pelo restante da categoria. “A maioria das empresas do interior fecharam esses percentuais em acordo separadamente”, ressalta o presidente do sindicato, Mário Castro. Os dois processos estão no Tribunal Superior do Trabalho aguardando julgamento e contemplam os trabalhadores com percentuais de 10% entre outras vantagens. Na campanha salarial 2011/2012, a categoria conquistou reajustes de 10% para os pisos, acrescidos dos 18 - Revista da FITERT 10% relativos a esses dissídios. Na primeira reunião de negociação deste ano o patronato não quis garantir nem mesmo o respeito à data-base. A direção do Sintertes então solicitou essa garantia em juízo, para resguardar o direito dos trabalhadores. A expectativa da direção do sindicato é resolver rapidamente e com vitória a campanha salarial deste ano e ver julgados os dois dissídios, até porque em 20 de outubro o sindicato completa 30 anos de existência - o que daria aos profissionais de radiodifusão e TV do Espírito Santo vários motivos para comemorar. Também neste ano haverá eleições para composição da diretoria que estará à frente do Sintertes no triênio 2012-2015. DEMOCRATIZAÇÃO Marco regulatório da comunicação, um desafio para o Brasil Frente parlamentar e entidades da sociedade civil preparam atividades para reforçar a mobilização por um marco regulatório para as comunicações, enquanto o governo federal segue paralisado em relação ao tema. Débora Prado Os próximos meses prometem ser agitados para os atores sociais engajados na criação de um novo marco regulatório para as comunicações no Brasil. De um lado, o governo federal promete a realização de uma consulta pública sobre o tema ainda para esse semestre. Mas, como a consulta vem sendo adiada desde o final de 2011, de outro lado, entidades e parlamentares se movimentam para fortalecer a luta pela democratização da comunicação no Brasil e popularizar o assunto. O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) preparou um seminário para traçar estratégias de uma campanha ampla de mobilização para envolvimento da população brasileira na aprovação do marco regulatório. A Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular (FrenteCom) também deve realizar audiências públicas, para trabalhar propostas de regulamentação do campo de comunicação pública brasileiro. Empresariado trava ações do Governo Para o representante da Arpub (Associação das Rádios Públicas) na executiva do FNDC, Orlando Guilhon, as fortes pressões do setor empresarial contra a regulamentação devem estar travando a ação do governo federal. Ele lembra que, no final de 2010, o então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins defendeu a adoção de um novo marco legal e declarou ter preparado a minuta de anteprojeto sobre o assunto a ser entregue à presidenta Dilma Rousseff. “Ninguém conhece o conteúdo dessa minuta até hoje, a não ser os técnicos do Ministério das Comunicações. Está assim há 1 ano e 4 meses, o debate está represado”, avalia Guilhon. Diante do silêncio, integrantes do FNDC se reuniram com o ministro Paulo Bernardo em abril para conversar sobre o tema. “Saímos de lá com a promessa de que ainda nesse semestre seja feita a tal consulta pública sobre o assunto, que o Ministério promete desde o ano passado. Tudo indica que a consulta será composta de cerca de 50 perguntas relacionadas ao marco regulatório, mas não ainda um texto oficial do governo sobre o marco. Ou seja, deve ser apenas uma sondagem”, relata o representante da Arpub. Como a data para realização da consulta não está clara e existe um histórico de atrasos, o FNDC teme que o governo esteja cedendo às pres- “Ministério não contesta peso da pressão empresarial contra regulação” sões do setor empresarial. “O Ministro pareceu firme, garantiu que vai fazer a consulta, mas não contestou que exista uma pressão muito forte das empresas e concordou que a correlação de forças, atualmente, está desfavorável para aqueles que querem a democratização das comunicações”, conta Guilhon. Para ele, diante da força das empresas de comunicação no Brasil, é preciso que além da consulta pública, o Ministério prepare uma campanha de esclarecimento da população. “Cobramos do ministro medidas para evitar o risco de se colocar no Revista da FITERT - 19 ar uma consulta pública sobre um tema delicado sem antes fazer também uma campanha, dialogar com a população brasileira e explicar o conceito de liberdade de expressão, de marco regulatorio, a diferença entre regulamentação e censura, etc”, frisa. “O ministro Paulo Bernardo disse que tem consciência de que esta campanha de esclarecimento será necessária, agora se vai ela acontecer mesmo ou não, nós vamos ver né”, complementa. Enquanto a consulta do governo não sai, o FNDC prepara sua própria campanha de consientização sobre a importância do marco legal. “Esperamos conseguir mobilizar diferentes atores da sociedade civil organizada que dialogam com essa pauta da comunicação, sabemos que o FNDC não pode atuar sozinho. Mas essa não será uma campanha só para especialistas no tema, queremos dialogar com as classes C e D da população, mostrar que a comunicação faz parte do cotidiano dessas pessoas”, explica Guilhon. A expectativa é conseguir mobilizar um bloco na sociedade ci20 - Revista da FITERT vil para mudar essa correlação de forças que pende para o empresariado. Quanto ao conteúdo necessário para o marco regulatório, Guilhon sintetiza: “a regulamentação dos artigos na Constituição Federal que tratam desse tema, do 220 ao 224, já seria um enorme passo, mas esse marco precisa dialogar também com a convergência de mídias e as novas tecnologias, ou seja, precisa ir além do que a Constituição de 1988 fala”. Frente Parlamentar A FrenteCom também prepara atividades para reforçar as fileiras do setor que defende o marco regulatório. A FITERT, representantes de emissoras públicas, educativas, culturais, legislativas, universitárias e comunitárias, organizações da sociedade civil e movimentos sociais estiveram reunidos, em março deste ano, no Seminário Internacional de Regulação da Comunicação Pública, promovido pela Frente e pela Secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados. O encontro resultou num manifesto com propostas para o marco regulatório e ressaltou o papel da comunicação pública como espaço da diversidade, pluralidade e exercício do direito à comunicação, além de instrumento estratégico para a construção de uma cidadania participativa. Além do manifesto, no encontro a frente deliberou a necessidade do campo público participar da campanha iniciada pelo FNDC. No dia 8 de maio, a Frente promove uma audiência pública para encaminhar propostas aprovadas durante o seminário. Entre elas, está a criação de um Grupo de Trabalho para organização do I Fórum Nacional do Campo Público de Comunicação. Além disso, a FrenteCom solicitará audiência com o Ministro das Comunicações, Presidência da Anatel, Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Presidência da EBC, Presidência da Câmara dos Deputados e Presidência do Senado Federal. Uma delegação de parlamentares também viajará para conhecer as experiências regulatórias de Portugal e México. Plataforma pela democratização das comunicações tem 20 diretrizes fundamentais Para os defensores do novo marco regulatório, ele deve abordar as questões que estruturam o sistema de comunicações. Ele é necessário, uma vez que há uma ausência de pluralidade e diversidade na mídia atual, o que esvazia a dimensão pública dos meios de comunicação. Além disso, a legislação brasileira no setor das comunicações é arcaica e defasada, não está adequada aos padrões internacionais de liberdade de expressão e não contempla questões atuais, como as inovações tecnológicas e a convergência de mídias. A legislação é fragmentada, multifacetada, composta por várias leis que não guardam coerência entre elas. Também, a Constituição Federal de 1988 continua carecendo da regulamentação do capítulo dedicado à comunicação, deixando temas importantes como a restrição aos monopólios e oligopólios sem nenhuma referência legal, mesmo após 23 anos de aprovação. Impera, portanto, um cenário de ausência de regulação, o que só dificulta o exercício de liberdade de expressão do conjunto da população. Este cenário beneficia as poucas empresas que hoje se favorecem da grande concentração no setor. Esses grupos muitas vezes impedem a circulação das ideias e pontos de vista com os quais não concordam. Diversas entidades e atores sociais elegeram 20 diretrizes necessárias para o marco regulatório das comunicações corrigir estes problemas. O documento aprovado na 16ª Plenária do FNDC pode ser lido no site da Federação na internet: <www.fitert.org.br>. (DP) “A legislação brasileira das comunicações é arcaica” Revista da FITERT - 21 DEMOCRATIZAÇÃO Fortalecer a participação da Fitert e dos radialistas no FNDC Campanha nacional em defesa de um novo marco regulatório das comunicações e em defesa da liberdade de expressão deve ser tomada por todos os sindicatos filiados à FITERT como uma prioridade, já que essa pauta está na constituição da própria Federação e tem tudo a ver com a defesa da valorização profissional. Marco Ribeiro Durante o processo de mobilização para a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM) muitas entidades, sindicatos, federações e setores dos movimentos sociais se envolveram e abraçaram a luta pela democratização da comunicação. Muitas cidades e categorias, incluindo-se aí os radialistas, fizeram atividades específicas de preparação à conferência. O resultado desse processo é que em alguns estados foram constituídas as Frentes pela Democratização da Comunicação, mais amplas que os comitês regionais ligados ao Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). A 16ª Plenária do FNDC Ao final do ano de 2011, em São Paulo, aconteceu a 16º Plenária do FNDC. O Fórum estava completando 20 de lutas. Era o momento de fazer uma avaliação da direção da entidade nos últimos mandatos. Muitas teses foram inscritas, e a principal crítica comum à maioria delas apontava a necessidade do FNDC sair do imobilismo. Muito já fora feito, é verdade, mas ao privi22 - Revista da FITERT legiar negociar com o governo sem mobilização, as gestões anteriores enfraqueceram o Fórum. Tal política fez com que algumas entidades que eram filiadas se afastassem do FNDC - o que está começando a se reverter. Baseados nessa avaliação e com intuito de fortalecer o Fórum, os participantes da plenária decidiram aprovar algumas importantes resoluções. Destaco a ampliação de 6 para 9 entidades na composição da executiva; a política de estruturar os comitês regionais e ampliá-los tanto em relação à quantidade de entidades que participam quanto do ponto de vista do número de cidades onde os comi- tês possam ser constituídos; reunir o conselho deliberativo regularmente, dando-lhe força de decisão política; e, por último, a convocação de um seminário específico para reformulação do estatuto da entidade. Nesse processo, depois de 20 anos ocupando a coordenação geral do Fórum, a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) resolveu não compor a executiva. A coordenação foi assumida pela CUT Nacional e ocupada por Rosane Bertotti. A FITERT assumiu a tesouraria, tendo no autor deste artigo o responsável pela sua representação. Esta também é uma mudança no funcionamento do Fó- rum e na relação da FITERT com esse espaço, tendo em vista que não integro a direção da Federação. A nova gestão da Federação optou por ampliar a participação da base da categoria nas tarefas que exigem acompanhamento cotidiano e deslocar um representante para dedicar-se exclusivamente à luta pela democratização da comunicação – evidenciando a importância que essa pauta assume para a entidade. Permaneceram na coordenação executiva do FNDC o CRP (Conselho Regional de Psicologia), a Abraço Nacional (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária) e a Aneate (Associação Nacional das Entidades de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões). E passaram a compor esta instância o Intervozes, o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Arpub (Associação das Rádios Públicas do Brasil). Campanha Com os objetivos de iniciar a campanha por uma nova Lei Geral de Comunicações (ou novo marco regulatório), de inserir mais entidades nas discussões da luta pela democratização da comunicação e dar mais capilaridade e oportunidades de participação às entidades que compõem o FNDC, a executiva convocou um seminário para o dia 4 de maio deste ano, em São Paulo. Para os radialistas este é um espaço muito importante, pois a luta por um novo marco regulatório será o centro das preocupações dos lutadores em defesa da democratização nesse ano e em 2013. O governo federal anunciou que tem um projeto de nova Lei Geral das Comunicações, mas não divulgou suas propostas para a sociedade civil. E, como todos sabemos, os grandes grupos de mídia transformaram esse debate num verdadeiro tabu no Brasil, para evitar que a Constituição Federal seja cumprida e que as concessões de radiodifusão sejam obrigadas a respeitar a diversidade cultural e regional brasileira, promover uma programação de caráter cultural e educativo e acabar com a difusão de preconceitos. Mais do que os aspectos de conteúdo, preocupa os grandes grupos midiáticos a regulamentação do capítulo V da Constituição, para impedir a manutenção dos oligopólios. Para os trabalhadores de rádio e televisão é a oportunidade de colocar nossas propostas para o conjunto de entidades que compõem o FNDC e participar coletivamente na construção dessa campanha e da luta por um novo marco regulatório que respeite as históricas reivindicações da sociedade. Do seminário sairão os eixos e o mote da campanha, os instrumentos, dinâmica e objetivos. Serão propostas também várias manifestações de rua, podendo culminar numa grande marcha à Brasília no próximo ano. Para a FITERT, essa ações de diálogo com a sociedade e mobilização são fundamentais para enfrentar os tubarões da mídia e também para que o Ministério das Comunicações coloque as nossas propostas em consulta pública. Dentro do marco regulatório várias propostas nos atingem diretamente, como a regionalização da produção, o controle público (com efetiva participação popular nos conselhos das rádios e TVs), novos Luta por novo marco legal será prioridade em 2012 e 2013 critérios para concessão e renovações das outorgas de rádios e TV, a proibição da chamada propriedade cruzada (vários veículos nas mãos de um mesmo grupo empresarial), a liberdade de existência das rádios comunitárias, a diversidade de programação, o respeito aos direitos humanos e o equilíbrio entre as concessões públicas, estatal e privada. Todos esses temas envolvem um debate político sobre o tipo de comunicação que queremos para o Brasil e também estão intimamente relacionados à geração de empregos. Até o fechamento da Revista da FITERT 33 radialistas estavam inscritos para participar do seminário, abrangendo 15 estados, mas a perspectiva era que a participação fosse ainda maior. Isso demonstra a importância política que os radialistas, sindicatos e a FITERT vêm dando à luta pela democratização da comunicação e, em particular, por uma nova lei geral das comunicações para por fim ao latifúndio midiático. * Marco Ribeiro é radialista e jornalista, atualmente integra a Executiva Nacional do FNDC representando a FITERT. Revista da FITERT - 23 CONTROLE SOCIAL A difícil tarefa de concretizar os Conselhos Estaduais de Comunicação Apesar de estarem previstos na Constituição e em legislações estaduais, só a Bahia conseguiu implementar de fato seu conselho. O debate, porém, segue aceso em diversos Estados e o Rio Grande do Sul promete ser o próximo a conseguir concretizá-lo. Débora Prado A criação dos conselhos de comunicação em nível estadual está prevista na Constituição brasileira de 1988 (artigo 224) e é recomendada pelos atores sociais que buscam a democratização da comunicação no país. Até hoje, porém, apenas um estado conseguiu realizar tal feito, e com 24 anos de atraso: em janeiro deste ano, a Bahia deu posse aos membros do primeiro Conselho Estadual de Comunicação Social (CECS) no Brasil. Esse atraso acontece porque, apesar de serem mecanismos democráticos 24 - Revista da FITERT para pensar a política pública estadual, os CECSs nos estados sofrem a mesma resistência que no plano nacional: forte pressão das empresas de comunicação para que nada mude e, muitas vezes, falta de vontade política de governadores e deputados para enfrentar o setor privado. Apesar da resistência, o debate sobre a criação de tais instâncias, que andava adormecido, ressuscitou após a 1ª Conferência Nacional de Comunicação recomendar a medida, entre as 672 propostas aprovadas. Já no ano seguinte, a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou, por unanimidade, o Projeto de Indicação 72/2010, que recomendava ao governador Cid Gomes (PSB) a criação do CECS, em outubro daquele ano. No entanto, até o momento a proposta não andou passados dois anos. “O governador não tomou uma decisão, ele não disse nem que sim, nem que não, só ficou no silêncio”, conta o professor Venício Lima, Titular aposentado de Ciência Política e Comunicação da UnB. Os conselhos estaduais estão previstos ainda em pelo menos treze constituições estaduais e em leis orgânicas regionais. Como no Rio Grande do Sul, que promete ser o próximo Estado a criar seu Conselho, de acordo com Venício. “Muitos estados, ao se adaptarem à Constituição [Federal], na década de 1990, incluíram capítulos sobre a comunicação social e também previram conselhos em nível estadual”, explica. “Além do Ceará, há setores engajados na consolidação dos conselhos em Pernambuco, Piauí, Sergipe, Paraíba, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, e no Distrito Federal. Mas, o que está mais adiantado é o Rio Grande do Sul. Lá, na campanha para governador em 2010, o então candidato Tarso Genro (PT) assumiu o compromisso de apoiar a criação do CECS. Então, isso abriu espaço. Eles aprovaram a criação do conselho já com uma minuta de projeto e tem uma comissão fazendo a redação final desse projeto para ser encaminhado para a Assembleia Legislativa votar”, aponta Venício. Bahia sai na frente Na Bahia, o CECS realizou sua primeira reunião em março e deve ter encontros ordinários a cada três meses. O conselho baiano tem 27 membros (9 do segmento empresarial, 10 da sociedade civil, um da universidade e 7 representantes do poder público estadual), nomeados pelo governador Jacques Wagner (PT). Uma vez criado, o conselho enfrenta novos desafios. “O prazo de três meses para se reunir é muito extenso e, além disso, aprovou-se que as propostas precisam de dois terços dos votos. Ou seja, para a sociedade civil aprovar uma decisão no conselho, vai ser preciso uma espécie de consenso geral. É claro que isso vale para os empresários também, mas é pra gente que interessa uma alteração na política. Se não tiver consenso e não encaminhar nada, quem sai ganhando são os empresários”, critica Pedro Caribé, membro do conselho e do Intervozes. No curto prazo, a questão central para o conselho é qual será o método usado para a elaboração do plano estadual de comunicação. “Essa é a primeira vez que vai se elaborar uma política pública [estadual] de comunicação, nós não temos tanto acúmulo como em outras áreas. Então, o grande desafio é conseguir utilizar estratégias de áreas mais avançadas no país, como a saúde e a educação, que trabalham com princípios de uma política universalizante, participativa, distributiva, com questões regulatórias e estruturantes”, explica Pedro. “É a primeira vez que vai se elaborar uma política pública de comunicação” Revista da FITERT - 25 DEMOCRATIZAR É PRECISO Efetivar as resoluções da 1ª Conferência Nacional de Comunicação Estabelecer um novo marco regulatório no Brasil é fundamental para garantir o interesse da sociedade, o respeito às diversidades regionais e direitos da categoria. Luciana Araújo Passados mais de dois anos da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada por convocação do governo federal em de26 - Revista da FITERT zembro de 2009 após amplos debates em conferências estaduais ocorridas em todos os estados do país, quase nada foi implementado em termos de políticas públicas para a democratização do acesso à comunicação no país. As mais de 600 resoluções aprovadas viraram um bonito caderno que sequer foi impresso para o conjunto dos delegados presentes (o arquivo em PDF pode ser baixado no site da Fitert: www.fitert.org.br). Nem mesmo propostas aprovadas consensualmente entre sociedade civil, empresários e governo federal, tais como: a institucionalização das conferências nacionais de comunicação; a mudança da legislação sobre rádios e TVs comunitárias para atendimento das demandas da sociedade e fim da criminalização das rádios comunitárias sem outorgas, com anistia dos processados e condenados e criação de mecanismo para reparação das emissoras penalizadas; ou o respeito à legislação vigente que impõe limite diário de 25% da grade de programação destinados à publicidade. A garantia de mecanismos de fiscalização com controle social e participação popular, o plano de universalização da banda larga em regime público, a proibição da sublocação de espaços na grade de programação das concessionárias de radiodifusão – todas propostas aprovadas na 1ª Confecom – ficaram no papel. Temas que dizem respeito somente ao poder público – em relação aos quais não se pode recorrer ao argumento da “correlação de forças” – também não foram implementados. Estão entre eles a simplificação da contratação de conteúdos regionais “As mais de 600 resoluções viraram um bonito caderno” e independentes pela EBC e outras empresas públicas gestoras de canais de rádio e TV. E o atual Governo Federal se mostra pouco disposto a avançar nesse sentido. O atraso na abertura do debate sobre a implementação de uma nova lei geral das telecomunicações (marco regulatório) evidencia a falta de vontade política de discutir seriamente o tema no Brasil. Alterações pontuais favorecem o mercado As mudanças até agora implementadas no sistema de comunicações brasileiro foram todas condicionadas pelo empresariado da comunicação. Pequenas modificações por meio de decretos presidenciais que mantêm a estrutura do sistema monopolista. Assim foi com o Programa Nacional de Banda Larga (que continua banda lenta porque as operadoras não asseguram mais que 10% da velocidade contratada) e com as novas regras para o serviço de TV por assinatura. As alterações nas regras de concessão de rádio e TV também foram apenas no sentido de exigir garantia financeiras para participar dos leilões. Sob o argumento do impedimento ao uso de “laranjas”, mais uma vez o poder econômico falou mais alto e não se colocou uma linha referente ao cumprimento dos dispositivos constitucionais que, se aplicados, levariam à cassação da ampla maioria das concessões em vigor. Embora a Confecom tenha aprovado por consenso a garantia de um mínimo de 50% do mercado nacional de radiodifusão e TV por assinatura para a produção de conteúdo nacional, a Lei 12.485/2011 assegura apenas três horas e meia por semana até 2014 em 12 dos inúmeros canais disponíveis. E o empresariado quer sempre mais, por isso reclama dessa pífia regulação. Enquanto isso, na Comunidade Europeia é obrigatória a veiculação de 50% de produção nacional. Na Argentina, a nova Lei de Meios de 2009 estabeleceu cota de 60% de produção nacional. As rádios comunitárias continuam sendo criminalizadas em favor das grandes redes, sob o argumento já ridículo de que comprometem as operações aéreas. E agora debate-se condicionar a liberação de outorgas ao não exercício das rádios comunitárias sem autorização. Em 2011, cerca de 700 rádios foram fechadas pela Anatel. Revista da FITERT - 27 Mobilizar em defesa de um novo marco regulatório democrático A FITERT participou ativamente da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, desde o princípio, integrando a Comissão Nacional de Organização. Em todo o país os sindicatos realizaram atividades preparatórias e participaram das conferências estaduais. A delegação da categoria na Confecom contou com a presença de 16 delegados radialistas eleitos nas conferências estaduais. Em março deste ano a Federação participou do Seminário Internacional Regulação da Comunicação Pública, realizado na Câmara dos Deputados. O coordenador José Antônio Jesus da Silva foi um dos debatedores da mesa ‘Regulação de conteúdo e diversidade na comunicação pública’, que discutiu propostas para que a mídia pública cumpra seu papel na complementariedade dos sistemas, na regionalização da produção e no fomento à diversidade. Zé 28 - Revista da FITERT “A diretoria da FITERT convida toda a categoria a fortalecer a campanha em defesa da liberdade de expressão e por um novo marco regulatório” Antônio defendeu que os meios de comunicação públicos contemplem a pluraridade cultural, de gênero, de classe e regional brasileira. “O sistema público de radiodifusão deve atender a toda a sociedade brasileira, inclusive a que mora nos lugares mais longínquos, e não pode se concentrar no eixo Sul-Sudeste”, disse. Ele também lembrou que “os movimentos sociais e os movimentos dos trabalhadores querem ter espaço e voz nas emissoras públicas”. Outra preocupação levada pela diretoria da FITERT ao seminário foi a questão do acesso aos meios de produção de conteúdo. “A produção de conteúdo deve observar as necessidades da sociedade brasileira, bem como ter sua participação através de mecanismos que devem ser criados para atender essas demandas”, ressaltou Zé Antônio. Agora, a diretoria da Federação convida toda a categoria a fortalecer a campanha em defesa da liberdade de expressão e por um novo marco regulatório para as comunicações do Brasil organizada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). As informações sobre a campanha estão disponíveis na página da Fitert na internet e todos os trabalhadores devem tomar conhecimento e se integrar. Defender a democratização da comunicação é um compromisso da Federação desde a sua fundação, em 1990, porque além de ser um direito humano é também a defesa dos interesses da categoria. OPINIÃO Emissoras de rádio e de tv são concessões públicas, não são mercadorias “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.” Einstein Por Valter Albano* Há cerca de 10 anos escrevi esse artigo para um jornal de grande circulação em Sergipe. Naquele momento vivíamos o auge das discussões sobre rádio comunitária no Brasil. Mas como democratizar os meios de comunicação é um tema tão atual, após alguns ajustes merece ser publicado novamente. Está no dicionário Aurélio: concessão - sf. 1, ação ou efeito de conceder sf. 2, privilégio concedido pelo Estado a empresa ou indivíduo para que explore, ou um serviço de utilidade pública ou recursos naturais. Comunicar através de ondas eletromagnéticas, ocupar democraticamente a radiofrequência, deveria ser sempre um direto de todos. A radiofrequência nada mais é do que o transporte da nossa voz, quando batemos palmas estamos produzindo uma autofrequência que chega até nossos ouvidos. Quando o alemão Heinrich Hertz (provou a existência das ondas de rádio em 1887) e o italiano Guglielmo Marconi (captou sinais do alfabeto Morse em 1895) aprimoraram de forma surpreendente uma invenção histórica do escocês Alexander Graham Bell de 1876 (o telefone), que transportava autofrequência por um fio, descobriram que na natureza também existe um “fio”, só que invisível: o ar. Esse mesmo que a gente respira e que, portanto, é de todos e a lei chama de “finitude do espectro eletromagnético”. Foi assim que nasceu a radiodifusão. Se Marconi, Hertz e Graham Bell estivessem vivos, com certeza estariam envergonhados com o que estão fazendo com suas brilhantes invenções, do ponto de vista administrativo, comercial e político. A “finitude do espectro eletromagnético”, ou seja, o ar, é o transporte invariável da autofrequência, não pertence a uma única pessoa ou a segmentos, não tem como ser demarcado ou estocado. O rádio, por exemplo, esse maravilhoso canal de comunicação e entretenimento do homem moderno, historicamente tão mal conduzido por seus pretensos “donos”, deveria ser realmente um meio de utilidade pública e condutor do conhecimento. Sobretudo num país como o Brasil, de dimensões continentais. Em muitos países do 1º mundo as concessões são dadas preferencialmente às associações organizadas, a sociedade por sua vez exerce forte poder, tanto de gestão quanto de fiscalização. Já no Brasil, especialmente no Nordeste onde muita gente nem radiodifusor é, o desrespeito é total. Se analisássemos o conteúdo das programações destinadas à população e a forma que os “donos de canais” adotaram para administrar esse bem público, não poderíamos oferecer de maneira alguma a maioria dessas emissoras à sociedade, sob pena de condenação por falta de bom senso, pois sequer ao capitalismo chegaram. São feudais, porque no interior nem a carteira de trabalho muitos deles assinam. Tudo isso por conta de “um privilégio concedido pelo Estado...” sem nenhum tipo de critério para esses apaniguados do poder. Relendo jornais e revistas da época, constatamos a festa que foi a distribuição de FMs quando do prolongamento do mandato do então presidente José Sarney, de quatro para cinco anos. Naquele período, a moeda de troca alcançou sua cotação mais alta. “Foi um verdadeiro banquete”, sentenciou o jornalista Flavio Pinheiro em artigo para a revista “Veja”. A Fitert e seus sindicatos filiados estão na linha de frente na luta pela democratização dos meios de comunicação. E não poderia ser diferente, pois da forma como as coisas estão ocorrendo só falta os “donos do poder” inventarem o monopólio sobre o ar. É a velha prática das elites de confundir o público com o privado e levar vantagem em tudo. * Valter Albano é historiador, diretor social do Sindicato dos Radialistas de Sergipe e 1º suplente da FITERT Revista da FITERT - 29 opressões Enfrentar a discriminação é tarefa cotidiana Em pleno século XXI, mulheres e homossexuais continuam sendo discriminados e violentados em seus direitos e sua integridade física. Bruno Castanho Apesar dos visíveis avanços no que se refere aos direitos das mulheres no Brasil, ainda há muito a ser superado a partir do entendimento que a diferenciação de gêneros foi algo criado pelo homem. O acesso das mulheres ao mercado de trabalho, por exemplo aumentou muito nos últimos anos, porém está longe de representar uma efetiva emancipação feminina ou mesmo superação do modelo patriarcal e da divisão sexual do trabalho. “Historicamente, o feminismo posicionou os papeis de gênero como construídos socialmente, independente de qualquer base biológica”, explica Celene Rodrigues Lemos, secretária de política da mulher da FITERT. O que se verifica é que o capitalismo colocou a mulher como “o segundo sexo”, para usar a expressão da filósofa feminista francesa Simone de Beauvoir. No Brasil, apesar de estarmos sob o governo de uma mulher, pautas históricas dos movimentos feminista e LGBT têm sido postergadas e os cortes de verbas das políticas de combate à violência machista têm mostrado seus efeitos. As mulheres e homossexuais ainda são discriminados no trabalho e têm menos acesso a cargos de chefias. As mulheres recebem salários cerca de 30% menores para realizar as mesmas funções que trabalhadores homens. Dez mulheres 30 - Revista da FITERT são assassinadas por dia no Brasil, a maioria por seus próprios companheiros (Mapa da Violência 2010), 28% morrem em casa (Anuário das Mulheres Brasileiras 2011). Cresce também a incidência de Aids entre mulheres de 13 a 19 anos (Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, junho de 2011). Recentemente a própria presidenta Dilma Rousseff reconheceu: “a pobreza no Brasil é negra e feminina”. Levantamento realizado pela ONG Grupo Gay da Bahia informa que um homossexual é assassinado a cada dois dias no Brasil. A mídia é um dos principais mecanismos de difusão da opressão de gênero, tanto contra as mulheres, que são constantemente coisificadas por propagandas machistas, como também contra os homossexuais, difundindo-se o pensamento homofóbico. “Não é possível continuarmos vivendo em uma sociedade preconceituosa, reacionária, com tanta violência contra as minorias e que inverte o discurso do que é público e do que é privado. Vivemos em um Estado laico, assegurado pela Constituição Federal de 1988. A questão de fé é uma questão privada, de foro íntimo. Di- reitos Humanos é questão de direito público e como tal deve ser tratado”, enfatiza José Antônio Jesus da Silva, coordenador geral da FITERT. Entre os trabalhadores da comunicação, o debate sobre gênero deve ser constante, visando tanto a formação de uma mídia menos reacionária e patriarcal, como também a igualdade de direitos no mercado de trabalho. “Nós radialistas sofremos muito preconceito, principalmente quando a orientação é a do homossexualismo. Tanto o homem como a mulher sofrem muito, porque o ser humano ainda não sabe separar as diferenças e na maioria das vezes acha que você ser gay ou lésbica é uma doença”, afirma Celene. Dentro do próprio movimento de organização dos trabalhadores a participação feminina segue minoritária, deixando a condução dos processos de enfrentamento a cargo dos homens. “Texto” Federação realiza encontro internacional de gênero de 28 a 30 de junho Como parte da luta contra a opressão e em defesa da igualdade substantiva entre homens e mulheres no mercado de trabalho, a FITERT realizará o Encontro Internacional Mulher Radialista na Mídia e Radiodifusão. A atividade acontece de 28 a 30 de junho, em Natal. O evento também pretende fortalecer a presença das mulheres na luta por melhores condições de trabalho. “A participação das mulheres radialistas em movimentos sindicais e federativos ainda é muito fraca. Então, nossa ideia é formar uma Rede de Mulheres Radialistas do Brasil, dentro da FITERT. E neste encontro esperamos ter bastante adesão para acumular ideias e propostas para a constituição dessa rede”, diz Celene. Mais informações e inscrições para o Encontro na página da Federação na internet: <www.fitert.org.br>. Revista da FITERT - 31 BASTA DE HIPOCRISIA “Não entendemos o mal que foi modelo escravista adotado no Brasil”, alerta diretor A mídia brasileira ainda é a principal difusora de um pensamento reacionário e mesmo racista, resultado do modelo de comunicação mercantilista e também das especificidades históricas do país. Em entrevista à Revista da FITERT, o diretor do Sindicato dos Radialistas de São Paulo e Secretário de Segurança do Trabalho da Federação, Arnaldo Marcolino Silva Filho, fala sobre a difícil luta contra o racismo nos meios de comunicação, no mercado de trabalho e na sociedade em geral. Leia abaixo os principais trechos da conversa com o jornalista Bruno Castanho. RF - A participação popular no processo de comunicação é importante para ampliar o debate racial? Com certeza a participação popular é essencial. Quando as rádios comunitárias e os movimentos sociais são criminalizados, os culpados somos nós, na sua maioria nós negros, nós mulheres, nós pobres. Nesse aspecto, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a FITERT, essa revista têm que ter um espaço para fazer a discussão sempre. Um espaço de provocação. Qual a sua opinião sobre as duas recentes condenações de racismo que recaíram sobre o radialista e jornalista Paulo Henrique Amorim? Eu acho que ele foi infeliz, e ele mesmo percebeu isso e pediu desculpas. Mas vejo que ele está no senso comum da mídia. Sair do senso comum é uma coisa muito difícil. É um processo muito lento. Como você vê as recentes polêmicas envolvendo programas humorísticos como o “Pânico”, “CQC”? Quais os limites do humor? É na piada que você passa ideologia. Para nós é ainda mais violen32 - Revista da FITERT to, porque é isso que todo mundo espera, a gente ser ridicularizado. Quais foram, em sua opinião, as contribuições do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial, criado pela CUT, nessa luta contra a discriminação? O movimento sindical dos trabalhadores mesmo que muito timidamente ajudou, mas acho que o movimento social foi muito mais forte. A rede feminista e o movimento negro foram muito mais agressivos, mas as centrais sindicais e o Instituto deram sim as suas contribuições, não foram omissos. O que a nova gestão da FITERT pretende fazer como política de combate ao racismo? A FITERT, enquanto federação, deve entender que combater o racismo é ter uma política para tal. No campo racial é necessário sempre trabalhar sob a ótica das determinantes sociais. A partir dos anos 1970, o movimento negro teve algumas conquistas e hoje já se alterou um pouco a participação do negro, por exemplo, na mídia televisiva, dando outra conotação. Ele deixou de aparecer meramente como escravo, empregado ou bandido, mas é uma coisa ainda muito incipiente e nós nem temos uma compreensão ainda do que significa isso. Muitos de nós, negros, não temos entendimento do mal que foi o modelo de escravidão agressivo adotado no Brasil, diferente dos outros países. Aqui, as etnias foram separadas. Vinham homens escravos de uma etnia e mulheres de outra. Isso era exatamente acabar com uma cultura, a violência de fragmentar. Ainda hoje, o mercado de trabalho não consegue nos absorver e é difícil ver um professor negro, engenheiro, médico. Então, a FITERT começa a criar uma política de absorção que vem através de ações sociais. Nosso papel é ajudar a implementar e, lá na frente, quem sabe, tenha uma outra história pra contar sobre a questão da igualdade racial no meu país, tendo a FITERT como ancoradouro dessa política. A FITERT comemora a decisão do STF reconhecendo a constitucionalidade das cotas raciais para ingresso nas universidades públicas brasileiras. Saúde Combater os riscos vividos pelo trabalhador radialista Secretário de segurança do trabalho da FITERT problematiza a questão da saúde do trabalhador radialista. Bruno Castanho As doenças relacionadas ao trabalho, via de regra, são associadas às ocupações industriais, segmento em que constantemente operários adoecem ou se acidentam devido ao contato com situações de alta periculosidade. No entanto, as condições precárias em que se estabelecem diversas outras profissões são responsáveis por várias enfermidades, que são pouco divulgadas. É o caso do trabalhador radialista. O secretário da segurança do trabalho da FITERT e representante da Federação no Conselho Nacional de Saúde, Arnaldo Marcolino da Silva Filho, enfatiza que “a nossa categoria está ligada ao psicossocial, que faz nascer a fantasia, criar um mundo de histórias, que tem levado, hoje, muitos companheiros a extrapolarem a sua realidade. Então, temos, por exemplo, um número alto de suicídios ou de pessoas que se dissociam da sociedade e moram na rua. São os perigos do entretenimento, da fantasia e até mesmo da religião difundida. É isso que a mídia faz com as pessoas”, explica. Mesmo dentro da categoria, costuma-se entender o trabalho do radialista como diferenciado e o próprio funcionário sente-se um privilegiado, colaborando para a construção desse mundo à parte. “O radialista brasileiro não se envolve com movimento social, muitas vezes não “A maioria das empresas têm mutilado seus funcionários” se considera um trabalhador comum, mas sim especial. Isso não é verdade”, afirma Marcolino. Diversos fatores de precarização fazem com que radialistas adoeçam ou adquiram complicações físicas ou mentais, sendo comum o abandono da profissão por impossibilidade de nela permanecer. Um exemplo disso é a exposição excessiva à imagem e ao som, que pode trazer problemas visuais, auditivos e até psicológicos. O ritmo acelerado, as jornadas extenuantes e o número reduzido de profissionais nas equipes também acabam com a qualidade de vida do trabalhador. “A maioria das grandes empresas de comunicação têm mutilado seus funcionários física e mentalmente. A Record, por exemplo, tem cerca de três mil funcionários, sendo que aproximadamente 25% estão afastados por problemas de saúde e desses 17% por enfermi- dade mental”. São numerosos entre os radialistas, os casos de doenças do sistema nervoso, fruto das tensões geradas pelas péssimas condições de trabalho, baixa remuneração e, principalmente, o ritmo frenético do trabalho, muitas vezes precisamente cronometrado. Arnaldo Marcolino também cita os problemas decorrentes do contato com imagens violentas ou ainda o aumento, dentro da categoria, da incidência da Síndrome do Edifício Doente, em funcionários que permanecem muitas horas enclausurados em um ambiente e passam a ter sintomas como irritação nos olhos, náusea, fadiga mental, que deixam de se manifestar tão logo eles deixam o edifício. Entre outras mazelas físicas, estão aquelas decorrentes da própria natureza do trabalho, como problemas nas cordas vocais, de ergometria, lesão por esforço repetitivo (LER), principalmente no caso dos que estão na ilha de edição e dos cinegrafistas, que carregam os equipamentos na maioria das vezes em condições pouco cômodas. Essas doenças ocupacionais levam muitos profissionais a sofrer com sequelas durante o resto da vida ou a se submeterem a frequentes cirurgias. Sem contar os que são obrigados a abandonar suas funções e passam ao esquecimento, mesmo após anos de vínculo com grandes empresas de comunicação. O avanço tecnológico, sem preceRevista da FITERT - 33 dentes dentro do setor de comunicação, trouxe também a possibilidade do empregador precarizar ainda mais a saúde do trabalhador ao valorizar o profissional multimídia, que opera câmera, entrevista, capta o som, edita e muitas vezes dirige o carro da reportagem. Isso, além de aumentar a incidência de afastamento por doenças profissionais, traz a demissão daqueles empregados especializados apenas em uma função, aumentando a contradição e o poder do patrão. “A Federação, o radialista, ninguém é contra o avanço tecnológico. O que nós somos contra é a exploração. O avanço tecnológico não deu a esse cara o direito de tirar o trabalho do motorista. Isso aproximou uma série de funções, sem dúvida, mas a edição ainda continua como algo necessário, uma coisa não inviabiliza a outra. Esse profissional é ainda mais explorado, está mais vulnerável. O capital o assedia com mais violência e ele 34 - Revista da FITERT fica quase sem saída. Isso não podemos admitir”, critica Marcolino. CIPAs: mecanismos de defesa da saúde do trabalhador Um dos principais instrumentos para a garantia de melhores condições, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), conquista histórica do movimento dos trabalhadores, vem sendo muito sucateada. Todas as empresas com mais de 50 funcionários são obrigadas a constituir uma CIPA. No entanto, um dos principais instrumentos de precarização, a informalidade, é tão comum no meio que dificilmente uma empresa de médio porte tem 50 empregados registrados. “A CIPA ainda não tem a seriedade necessária. A partir dessa constatação e outros diagnósticos, na 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, entendemos que essas empresas que mais mutilam são um problema de saúde pública. Eles mutilam e quem paga é o SUS, fica tudo por conta do Estado e essa empresa não tem nenhuma punição. Então, os Conselhos Estaduais e Municipais devem fiscalizar isso”, afirma. O âmbito da saúde do trabalhador é de fundamental importância, pois o combate deve sempre ser preventivo. A ação posterior na justiça, por mais que garanta indenizações, nunca irá repor o dano à saúde. Para Arnaldo Marcolino “é imprescindível que se discuta a saúde do trabalhador sob a ótica da relação de trabalhado e da seguridade social e não a partir da doença”. Além de todas as ações efetivas de combate propostas pelos sindicatos, Marcolino acrescenta a preocupação dessa gestão da FITERT em sensibilizar as diretorias desses sindicatos para que tenham outro olhar para a questão da saúde do radialista. Homenagem Em sua primeira edição, a REVISTA DA FITERT homenageia o cinegrafista Gelson Domingos, assassinado por um tiro de fuzil que atravessou o colete a prova de balas que usava durante a cobertura de uma ação policial na Favela de Antares (Zona Oeste do Rio de Janeiro), no dia 6 de novembro de 2011. A morte de Gelson escancarou a insegurança dos profissionais de comunicação no trabalho em situações de conflito. Gelson era contratado como operador de câmera, mas trabalhava como repórter cinematográfico na Band (por onde cobria a ação policial quando morreu) e na TV Brasil. As diretorias da FITERT e de todos os sindicatos filiados se solidarizam com a família de Gelson - que deixou esposa, três filhos e dois netos - em sua reivindicação de que a emissora custeie os estudos dos dois filhos do repórter cinematografico até a conclusão do ensino superior. E as entidades sindicais da categoria seguirão na luta para que as empresas deem condições efetivas de segurança a seus funcionários - equipamentos compatíveis com o risco e limites à cobertura - especialmente nas pautas policiais, que hoje são o carro-chefe das programações sensacionalistas da maioria das redes televisivas. Gelson Domingos, presente! filiada à Federação dos Radialistas São Paulo R. Conselheiro Ramalho, 992/988 Bela Vista - Cep: 01325-000 São Paulo – SP Telefone: (11) 3284 – 9215 Brasília DF SCS QD 06, Edifício Presidente Cep: 70927900 Brasília – DF Telefone: (61) 3963 – 1065 www.fitert.org.br