DISCURSO DE WALTER MEDEIROS NA SESSÃO COMEMORATIVA DOS 50 ANOS DO SINTERT/ RN EM30/09/2013 MEIO SÉCULO DE SINDICATO DOS RADIALISTAS Excelentíssimo Senhor Presidente (...) “As minhas mãos colocaram pedras nos alicerces do mundo; mereço meu pedaço de pão” (Antônio Agostinho Neto) Com estas palavras de Antônio Agostinho Neto iniciei uma fala há quase 40 anos, em solenidade de posse do Sindicato dos Radialistas. Essa frase dá uma ideia de algumas mudanças que tivemos no mundo durante esse tempo. Aquele homem que era revolucionário em Angola conquistou a independência do seu país, tornou-se seu presidente e depois morreu vitimado por doença. Venho até aqui trazer algumas lembranças, de coisas que tiveram grande significado em minha vida e que foram determinantes para a história da categoria profissional dos radialistas, principalmente durante os anos 70 do século passado. Ao mesmo tempo em que trago a missão honrosa de falar em nome dos que estão sendo homenageados nesta Sessão Solene, cuja propositura agradecemos ao Excelentíssimo Senhor deputado Antônio Jácome; e cuja realização agradecemos a todos os membros e servidores desse parlamento. A entidade sindical dos radialistas do Rio Grande do Norte nasceu num momento de imensa mudança na história da humanidade. No ano de 1963. Naquele ano o mundo recebeu estarrecido a notícia do assassinato do Presidente norte-americano, John Kennedy. O presidente João Goulart já enfrentava dificuldades para governar o Brasil. 1 DISCURSO DE WALTER MEDEIROS NA SESSÃO COMEMORATIVA DOS 50 ANOS DO SINTERT/ RN EM30/09/2013 No Rio Grande do Norte, Aluízio Alves governava com os ecos da histórica campanha da Cruzada da Esperança, com realizações que a história política já conta. E em Natal o povo vivia a memorável administração do prefeito Djalma Maranhão, com as suas Escolas de Pé no Chão – “De pé no chão também se aprende a ler”. Naquele tempo rádio era feito com equipamentos da geração de válvulas; o rádio portátil, a transistor, começava a se popularizar. Tivemos a oportunidade de conviver com equipamentos que causam grande surpresa a quem os vê nos dias atuais: gravadores com fitas imensas e dimensões de verdadeiros móveis; discos de 60 centímetros de diâmetro; a saudosa fita k-7, hoje tão pouco usada; e aqueles equipamentos transmissores das chamadas frequências moduladas, que possibilitavam o grande feito de transmitir flashes de notícia ao vivo pelo rádio. Telefone celular e microcomputador eram inimagináveis poucas décadas atrás. Falar em luta sindical naquela época não era fácil. Quem tomava a frente de entidades desse tipo tinha têmpera de luta e grande dedicação às causas da sua categoria. A luta inicial da nossa categoria era pela regulamentação da profissão. Aí o caminho era o debate, a informação e a participação nos eventos promovidos Brasil afora, inclusive no Congresso Nacional, onde a regulamentação começava a ganhar apoio parlamentar. Não se falava inicialmente em salários nem greves, pois ainda se tratava de época de organização da própria categoria; e nisso residia a força da entidade, para somar-se às lutas do dia a dia dos trabalhadores. Além da organização, tinha o cunho de entrosar os radialistas no mundo associativo sindical, em dias tão difíceis de censura, perseguição e arbítrio. A obrigação de enquadra-se à legislação trabalhista para poder funcionar aproximava a associação do Ministério do Trabalho; embora visto como ambiente de cerceamento da liberdade dos trabalhadores e de apoio aos chamados pelegos – sindicalistas ligados aos patrões e ao regime instalado em 1964. 2 DISCURSO DE WALTER MEDEIROS NA SESSÃO COMEMORATIVA DOS 50 ANOS DO SINTERT/ RN EM30/09/2013 A carteira de radialista era um instrumento forte, que abria portas e dava acesso a fatos e informações que precisavam chegar ao conhecimento da população. Mesmo sem reuniões políticas, sem manifestações fora do que rezavam as leis autoritárias, os radialistas tinham em mãos instrumentos importantes para ajudar na libertação do nosso povo. Nas músicas, nas notícias e até nas jornadas esportivas, levavam sinais que ajudavam o povo a manter acesa a chama da liberdade. Tanto é assim que o povo ouvia pelo rádio, emocionado, falas corajosas de lideranças como Teotônio Vilela, o Menestrel das Alagoas; e Tancredo Neves, o líder da Nova República, em visitas a Natal, e cada palavra e frase que diziam era como um grito de libertação. Para que isto fosse possível, havia toda uma retaguarda, e a própria linha de frente formada pelos radialistas da terra potiguar. Lembro de um momento em que o colega Assis de Paula deixou de colocar no quadro de avisos telegrama da Censura proibindo notícias sobre uma manifestação de cerca de 100 estudantes em São Paulo. Como não fomos avisados, publiquei a matéria às 10 horas da noite. Minutos depois Dr. José Gobat Alves, nosso diretor ligou para informar que a notícia estava proibida. Ele estava na Polícia Federal; já o tinham ido buscar em casa para dar explicações – ele morava perto da sede, que ficava na Avenida Afonso Pena. Apesar de termos de entregar ao censor diariamente cópia do que escrevíamos nos noticiários e gravar toda programação da rádio, a censura não podia tudo e os artistas também tiveram importante papel, ao transformar versos e melodias em gritos de clamor democrático, que só seriam cerceados em caso de medidas mais drásticas e violentas como a retirada do ar da programação. A vibração, o profissionalismo, a dedicação e tantas outras qualidades sempre fizeram os nomes dos nossos colegas representarem a imagem do Rádio potiguar. Muitos já não estão entre nós, como Assis de Paula, o repórter boca larga; Wellington Carvalho, a pantera; Adiodato Reis, no esporte e com a sua Mesa de Botequim; Sousa Silva, homem de muitas tarefas; Tom Borges, sempre um meninão; Nice Fernandes, mulher das mais amorosas; José Augusto, o repórter de pista; Rubens Lemos, grande amigo e homem de luta; Adalberto Rodrigues, grande desbravador; Luth Lopes, o alemão, entre aspas; Pedro Dias, homem leal; Paulinho Andrade, grande amigo; e Ailson Bonifácio, o maior técnico de rádio da nossa história. 3 DISCURSO DE WALTER MEDEIROS NA SESSÃO COMEMORATIVA DOS 50 ANOS DO SINTERT/ RN EM30/09/2013 Entre nós, os que fizeram a história de todos esses inesquecíveis anos, alguns se aposentaram e outros continuam na ativa, emprestando seu talento, sua voz, sua arte para o melhor entretenimento do povo potiguar. Aqui não cito os nomes, pois todos formam a imagem da nossa entidade e serão citados na chamada dos homenageados. Naquela época atuava-se da forma que definiu anos depois o anticandidato a Presidente da República, Ulisses Guimarães - ao citar versos de Fernando Pessoa: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. E para navegar precisávamos de um comandante, um líder, um timoneiro. E este nosso maior representante naquele momento, para quem rendemos nossas mais altas homenagens pelo seu trabalho, sua humildade e sua luta, era o nosso presidente, o radialista João Rodrigues. Hoje temos nossa entidade completando meio século, sob o comando do grande batalhador Jailson Gomes, agora com novas lutas, novos projetos. Entre eles um projeto grandioso e fascinante, de resgatar a história da nossa entidade, indo buscar nas fontes disponíveis todas as informações e documentos capazes de mostrar a real dimensão da nossa vida. Que o seu trabalho seja coroado de êxito; e para isto conclamo a todos a o ajudarem. É para mim uma imensa emoção poder estar nesta solenidade trazendo um pouquinho da memorável história do nosso Sindicato. Emoção que tem o peso imenso da responsabilidade de estar aqui representando tantos profissionais de maior destaque e importância na história de Natal e do Rio Grande do Norte. Em nome de todos eles agradeço o convite para aqui representar os colegas e esta homenagem, que é para mim uma das maiores honrarias da minha vida. E tenho certeza de que os demais homenageados também se sentem emocionados e reconhecidos por esta incomparável honraria. Honraria que soa como bela canção de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito - surgida naquela mesma época em que firmava-se nossa entidade – e que fazia um apelo hoje realizado nesta solenidade. Dizia a Música: “Me dê as flores em vida.”. Parabéns a todos, e vida longa para o Sindicato dos Radialistas! Muito Obrigado! 4