Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 ANÁLISE DA TERAPÊUTICA CIRÚRGICA DA ACALÁSIA IDIOPÁTICA DO ESÔFAGO Juliana Carolina Alves de Lima José Luis Braga de Aquino Faculdade de Medicina da PUC-Campinas Centro de Ciências da Vida [email protected] Terapêutica Cirúrgica das Afecções da Transição Cérvico-Torácicas Centro de Ciências da Vida [email protected] Resumo: Introdução: A acalásia idiopática do esôfago (AIE) é uma doença inflamatória de etiologia desconhecida, caracterizada por aperistalse do corpo do esôfago e falha do relaxamento do esfíncter esofágico inferior em resposta às deglutições. Objetivo: O objetivo deste estudo foi demonstrar os resultados da terapêutica cirúrgica de pacientes com AIE, avaliando suas complicações locais e sistêmicas. Método: Foram estudados cinco pacientes portadores de AIE com condições clínicas de serem submetidos à terapêutica cirúrgica. O diagnóstico foi realizado por meio de uma análise minuciosa clínica, endoscópica, cardiologia, radiológica e manometria esofágica. Inicialmente fizemos uma avaliação préoperatória com um questionário baseado nos fatores mais predisponentes ao desenvolvimento da doença, e a indicação da técnica cirúrgica foi baseada no Grau da doença. Resultados: Os pacientes submetidos ao melhor procedimento indicado apresentaram resultados satisfatórios, com complicações que foram resolvidas com tratamento específico. Todos relataram acentuada melhora na qualidade de vida com o retorno da deglutição. Conclusão: Apesar da pequena casuísta, concluímos que o tratamento cirúrgico proposto da AIE de acordo com Grau da doença foi compatível com nossas expectativas e de grande valia. disfagia, evoluindo o seu portador para a desnutrição [1,2,3,4]. Dentre as principais causas que pode predispor a esta afecção é relatado lesão por agente tóxico devido a exposição prolongada com químicos potentes, sendo referido com mais frequência os herbicidas [1,4,5]; doença autoimune como as colagenoses [6,7,8]; infecções virais prévias em especial as da infância como varicela , caxumba, sarampo e herpes vírus tipo I [1,9]; histórico familiar com esta afecção [10,11]; fator emocional com uso contínuo de medicamentos principalmente da esfera psiquiátrica[12]; uso prolongado de tabaco e etilismo [5,7,12]. Alguns estudos têm demonstrado que comparativamente, entre a acalásia idiopática e a de origem chagásica, há semelhanças e diferenças. Em relação à destruição do plexo nervoso intramural do esôfago, apesar de não haver consenso bem aceito, ela é considerada semelhante nas duas afecções [3,4,7]. Já o esfíncter esofágico inferior costuma ser mais hipertensivo na acalásia idiopática do que na doença de etiologia chagásica e a dilatação do esôfago é mais intensa nesta [4,7]. O diagnóstico da AIE é feito após a exclusão da possiblidade da doença ser de origem chagásica, ou seja, sorologias negativas para o TRYPANOSOMA CRUZI, a não associação com megacólon, exclusão de cardiopatia e ausência de antecedentes epidemiológicos para a Doença de Chagas [3,4,5,7,8,12]. A AIE é encontrada praticamente em todos os países, podendo acometer todas as raças e com incidência variável de um a três casos por 100.000 habitantes por ano [3,4,5,12]. No Brasil esta afecção é pouca conhecida, pois existe a esofagopatia secundária a doença de Chagas sendo esta endêmica em vários Estados, apresentando sinais e sintomas semelhantes aos da AIE. Assim, a exata incidência desta afecção é Palavras-chave: Megaesôfago, Esofagectomia, Acalásia Idiopática. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde – Medicina-Cirurgia – FAPIC/Reitoria. 1. INTRODUÇÃO A acalásia idiopática do esôfago (AIE) é uma doença inflamatória de etiologia desconhecida, caracterizada por aperistalse do corpo do esôfago e falha do relaxamento do esfíncter esofágico inferior em resposta as deglutições, com a consequente Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 difícil de estimar. Logo, no meio nacional poucos autores referem experiência com o tratamento cirúrgico da AIE, o que fez com que se tivesse a idéia de realizar este estudo, o qual tem por objetivo demonstrar a indicação e os resultados da terapêutica cirúrgica em pacientes com AIE, no tocante as complicações locais e sistêmicas. 2. MÉTODO 2.1. Casuística No período compreendido entre Agosto de 2011 a Julho de 2012, foram estudados no Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Celso Pierro da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, cinco pacientes com acalásia idiopática do esôfago. Três eram do sexo masculino e o restante feminino, com idade variável de 24 a 55 anos, com média de 37,8 anos. Todos com indicação de tratamento cirúrgico. 2.2. Avaliação pré-operatória O diagnóstico da (AIE) foi realizado através: a) Avaliação Clínica - Dois pacientes apresentavam disfagia progressiva para alimentos sólidos e pastosos com tempo variável de 8 a 10 anos, e os outros três disfagia somente para sólidos com tempo variável de 2 a 4 anos. Dois pacientes referiram também regurgitações frequentes nos últimos 18 meses; todos referiram emagrecimento de 5 a 10 kg, mas que não comprometeram suas atividades habituais. Nenhum dos pacientes referiu constipação intestinal progressiva, nem história pregressa de fecaloma ou volvo do colo sigmóide.. Quatro pacientes eram procedentes da região da cidade de Campinas e referiram que não nasceram e nunca residiram em região endêmica da doença de Chagas. O paciente restante era procedente de cidade interiorana da Bahia, mas refere que não foi contaminado pelo triatomídeo transmissor. Três pacientes referiram contato com herbicidas por trabalharem em lavoura de café e de algodão por tempo variável de 7 a 20 anos; esses mesmos pacientes referiram varicela e ou caxumba. Um outro paciente refere que além de varicela, também apresentou hepatite A. O paciente restante refere que seus avós tinham acalásia e que fazia uso de Benzodiazepínicos por comprometimento emocional. Três pacientes referiram tabagismo (média de 20 cigarros /dia), por tempo variável de 12 a 26 anos, tendo dois cessado há 8 e 11 anos, e o restante ainda mantém este hábito. Dois pacientes referiram etilismo de 1 dose de destilado/dia por tempo variável de 13 a 22 anos, sendo que um deles ainda mantém este hábito. Em todos os pacientes, a Imunofluorescência para doença de Chagas, com três amostras, foi negativa. b)Avaliação Cardiológica – Esta avalição excluiu em todos os pacientes a cardiopatia chagásica. c)Esofagograma -- Este exame evidenciou em três pacientes acalásia com dilatação Grau II e nos outros dois com dilatação Grau III e IV, segundo a classificação de megaesôfago proposta por REZENDE et al [13]. d)Endoscopia Digestiva Alta -- Em dois pacientes este exame evidenciou esôfago de grandes dimensões, sem apresentar lesões associadas e nos outros três não evidenciou qualquer anormalidade. e)Enema Opaco – Este exame radiológico do cólon foi realizado em três pacientes, sendo que em nenhum deles foi evidenciado megacólon. f)Manometria Esofágica -- Foi realizada em dois pacientes com megaesôfago avançado, sendo evidenciado relaxamento incompleto do esfíncter esofágico inferior, associado a baixa amplitude das ondas de contração do corpo do esôfago. Em todos os pacientes foi realizada avaliação clínica e nutricional demonstrando que os mesmos tinham condições de serem submetidos aos procedimentos cirúrgicos propostos. 2.3. Técnica Cirúrgica A indicação do procedimento cirúrgico foi seletiva de acordo com o grau da acalásia. Assim, para os graus menos avançados (grau I, II) no caso 3 pacientes, a técnica cirúrgica preconizada foi a CARDIOMIOTOMIA proposta por HELLER (1913) com modificações: a)Laparotomia mediana xifo-umbilical; b)Inventário da cavidade abdominal com identificação, dissecção e isolamento do esôfago abdominal; c)Exposição da face anterior do esôfago abdominal e realização da miotomia de 9 cm de extensão desde a cárdia até o hiato esofágico, com ampla exposição da mucosa; d)Fundoplicatura anterior de 270º, para reangulação do ângulo de Hiss; e)Revisão e hemostasia da cavidade abdominal; f)Fechamento da parede abdominal por planos. Para 2 pacientes com doença avançada (grau III, IV), a técnica cirúrgica preconizada foi a MUCOSECTOMIA ESOFÁGICA COM CONSERVAÇÃO DA TÚNICA MUSCULAR descrita por AQUINO (1996): a)Laparotomia mediana xifo-umbilical e isolamento do esôfago abdominal; b)Incisão da musculatura na face anterior do esôfago abdominal Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 desde a cárdia até o hiato diafragmático, com exposição da mucosa do órgão; c)Dissecção da camada mucosa em toda a sua circunferência em relação à camada muscular, com isolamento da mesma; d)Preparo do estômago para substituição do esôfago, pela liberação do ligamento gastrocólico e ligadura das artérias gástrica esquerda e gastroepiplóica esquerda; e)Cervicotomia lateral esquerda supraclavicular e isolamento do esôfago cervical; f)Incisão da musculatura na face anterior do esôfago cervical desde 3 cm da transição faringo-esofágica até a fúrcula esternal, com exposição da mucosa do órgão; g)Dissecção da mucosa em toda a sua circunferência em relação à camada muscular, com isolamento da mesma; h)Abertura da luz da mucosa do esôfago abdominal e introdução de sonda até ao nível da mucosa do esôfago cervical; i)Abertura da mucosa do esôfago cervical e fixação da extremidade da sonda a este nível; j)Secção do esôfago cervical com todas as suas túnicas a montante da fixação da sonda e a 3 cm da transição faringo-esofágica; k)Tração da sonda por via abdominal com retirada da mucosa do esôfago por dentro da túnica muscular deste órgão, e conservando por inteiro a camada muscular; l)Transposição do estômago pelo mediastino posterior por dentro da túnica muscular esofágica até a região cervical e anastomose do coto do esôfago cervical com o estômago pela técnica de sutura mecânica com o aparelho circular DHC 29 mm; para confecção desta anastomose, a ogiva do aparelho foi fixada no coto do esôfago cervical e o aparelho introduzido pela face anterior do estômago; a face anterior do estômago por onde o aparelho foi introduzido foi suturado com a técnica mecânica com aparelho linear 75 mm; m)Jejunostomia para suporte nutricional enteral no pós-operatório imediato; n)Fechamento por planos das incisões cervical e abdominal com colocação de dreno de Penrose por contrabertura. 2.4. Avaliação pós-operatória A avaliação foi em relação: a) Complicações sistêmicas, notadamente as cardiovasculares, respiratórias e infecciosas. O diagnóstico das mesmas foi baseado na evolução clínica diária dos pacientes e nos resultados provenientes da realização de exames laboratoriais e de imagens quando necessário. b) Complicações locais, relacionadas principalmente com a deiscência e a estenose da sutura esôfagogástrica. Em relação à deiscência da sutura esôfagogástrica com a conseqüente fístula, o diagnóstico foi clínico, através da observação da saída de secreção salivar pela região cervical até o 7º dia de pós-operatório. Em relação à estenose da anastomose esôfagogástrica, o diagnóstico também foi clínico, orientado pela sintomatologia de disfagia, principalmente a partir do 30º dia de pósoperatório e corroborado pelo exame radiológico contrastado da faringe e endoscopia digestiva alta. c) Qualidade de vida, nesse item foi avaliado o dia de pós-operatório no qual os pacientes iniciaram sua deglutição normal, e se havia disfagia sendo avaliado o grau da mesma: leve, moderada ou intensa. 3. RESULTADOS Na avaliação precoce até com 30 dias de pósoperatório, um dos pacientes portador de megaesôfago avançado e submetido à técnica da mucosectomia esofágica apresentou duas complicações, sendo uma delas evidenciada por fístula com saída de secreção digestiva pelo dreno da região cervical a partir do 2º dia de pósoperatório, a qual foi consequente à deiscência da anastomose esofagogástrica cervical; por esta complicação ter sido precoce, foi indicado a reoperação, sendo realizada ressecção parcial da anastomose e nova sutura, tendo o paciente boa evolução. No 7º dia desta reoperação, por não haver evidência clínica de fístula digestiva a nível cervical, foi realizado Raio-X contrastado que não evidenciou nenhum extravasamento de contraste ao nível da anastomose; foi então introduzida dieta oral, inicialmente líquida e progressivamente pastosa e sólida de acordo com a aceitação do paciente. Outra complicação que este paciente apresentou foi infecção pulmonar no 5 º dia de pósoperatório da 2ª intervenção cirúrgica, tendo boa evolução com tratamento clínico específico. O outro paciente com acalásia Grau III, submetido à mucosectomia esofágica, não apresentou qualquer complicação; este paciente iniciou dieta via oral progressivamente de líquida para sólida, a partir do 7º dia de pós-operatório, após o RaioX contrastado não ter evidenciado nenhum extravasamento de contraste ao nível da anastomose esofagogástrica cervical. Já os três pacientes com megaesôfago Grau II, que foram submetidos à cardiomiotomia, não apresentaram nenhuma complicação seja sistêmica ou local, tendo iniciado dieta oral no 2º ao 3º dia de pós-operatório, inicialmente líquida e progressivamente sólida de acordo com sua aceitação. Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 A avaliação a médio prazo entre 2 a 6 meses (média de 5,6 meses) de pós-operatório, foi realizada em quatro pacientes mensalmente no ambulatório de cirurgia. No paciente restante, esta avaliação não pôde ser realizada, pois ainda se encontrava no 16º dia de pós-operatório de cardiomiotomia na última avaliação realizada (24/07/2012). Os dois pacientes submetidos à mucosectomia esofágica, em um não houve qualquer queixa sendo que o mesmo referiu deglutição adequada com boa qualidade de vida e retorno de suas atividades habituais até no último retorno. O outro paciente apresentou a complicação da anastomose esofagogástrica cervical, referiu disfagia para sólidos a partir do 65º de pós-operatório. O Raio X contrastado e a Endoscopia digestiva alta evidenciaram estenose da anastomose esofagogástrica, sendo indicado dilatação endoscópica. Após 5 sessões deste procedimento, o paciente conseguiu resgatar sua deglutição de modo adequado e associado ao fato do mesmo ter retornado suas atividades habituais, proporcionou uma boa qualidade de vida. Os dois pacientes submetidos à cardiomiotomia referiram estarem satisfeitos com o procedimento, pois apresentam deglutição normal com qualidade de vida. 4. DISCUSSÃO Apesar de serem aventados vários fatores para etiologia da AIE, a alteração básica é um defeito neuromuscular, porém, o lugar de origem e o seu mecanismo de falência, permanece ainda bastante discutível. Têm sido demonstrados alterações tanto no sistema nervoso intrínseco como extrínseco do esôfago, além de anormalidades no número de neurônios [2,6,7,8]. Estudos histológicos têm demonstrado que estão presentes lesões nos plexos intramurais do esôfago, tornando- se mais grave à medida que a doença progride. Estas alterações são mais prevalentes no corpo do esôfago, ocorrendo desde infiltrado inflamatório mononuclear no plexo de Auerbach até total substituição das células ganglionares intramurais por tecido fibroso[2,7,9,15] Mais recentemente tem sido demonstrado na fisiopatologia da AIE, que deve ocorrer uma inflamação prévia do plexo nervoso mioentérico do esôfago, consequente as vários fatores e que poderia concorrer para uma posterior resposta autoimune crônica, nas pessoas com maior predisposição genética e que destruiria em sequência essa inervação esofágica[1,8].Talvez isto explique o potencial diagnóstico da AIE nos cinco pacientes do nosso estudo, pois todos relataram nos seus antecedentes um ou mais fatores que poderiam predispor a uma inflamação prévia do plexo nervoso intramural do esôfago, como contato prolongado com agentes químicos, uso de medicação da esfera psiquiátrica, doenças virais prévias e o hábito de tabaco e etilismo por longa data. Tais fatores já foram bem estudados por outros autores [1,4,5,6,7,8,10,11,12]. A semelhança da acalásia idiopática do esôfago com a esofagopatia de etiologia chagásica do ponto de vista de sintomas, achados radiológicos e estudos histopatológicos é muito grande, tornando as duas afecções praticamente idênticas no Brasil sendo, então, difícil diagnosticar a AIE. Em outros continentes como na América do Norte, Europa e Ásia em que a AIE é encontrada com relativa frequência, não existe a doença de Chagas [4,5,12]. Pelo fato das formas não avançadas serem mais prevalentes na AIE, têm como consequência menor duração do tempo de disfagia em relação a doença chagásica, como bem demonstrou OLIVEIRA et al, em que os doentes com AIE, apresentaram em média 4,4 anos deste sintoma para 10,7 anos nos chagásicos [12]; também correlacionaram com a idade e demonstraram que os doentes com AIE eram mais jovens, com média de 37,6 anos para 49,4 anos para os chagásicos. Apesar da pequena casuística devido ao tempo limitado de estudo, também se demonstrou que houve predominância da duração da disfagia em menor tempo de 2 e 4 anos em três dos pacientes e a média de idade de todos relativamente jovem de 37,8 anos. As alterações manométricas do paciente portador de AIE são muito semelhantes às encontradas na esofagopatia chagásica, como a hipomotilidade esofágica, caracterizada por ondas de contração de baixa amplitude, e com esfíncter inferior do esôfago apresentando ausência ou diminuição de relaxamento as deglutições [4,5,12]. Estas alterações também foram demonstradas nos dois pacientes do nosso estudo em que este exame foi realizado. Embora a Endoscopia Digestiva Alta realizada nos pacientes do nosso estudo não ter demonstrado lesões na luz esofágica, a realização deste exame é de fundamental importância, pois como no megaesôfago chagásico, pode também ocorrer esofagite crônica e ulcerativa secundária à estase crônica dos alimentos, ocasionando a longo prazo leucoplasia, displasia epitelial e até mesmo evoluir Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 25 e 26 de setembro de 2012 para carcinoma com incidências variáveis de 0,3 a 20% [5,17]. Em relação à terapêutica, com a melhor evolução da técnica cirúrgica e dos cuidados pré e pósoperatórios que se tem nos dias atuais, fez com que vários autores, a semelhança do megaesôfago chagásico, preconizassem o tratamento cirúrgico na maioria dos pacientes portadores de AIE [5,21]. Varias técnicas cirúrgicas conservadoras ou de ressecção já foram preconizadas para tratar a AIE, sendo a mais utilizada a esofagocardiomiotomia, descrita por HELLER[22] em 1913. Nos dias atuais, como no megaesôfago chagásico, esse procedimento tem uma indicação mais seletiva sendo preconizado em grau não avançado(I e II) e associado à válvula anti-refluxo, com bons resultados na avaliação realizada a curto e longo prazo e com morbidade e mortalidade mínimas [5,23,24]. Esses dados vêm confirmar nos pacientes da nossa série com doença não avançada, pois na avaliação precoce realizada em três deles, em que se realizou a cardiomiotomia, não houve nenhuma complicação e na avaliação a médio prazo em dois pacientes, ambos referiram estarem satisfeitos com o ato cirúrgico, pois, além de retornarem as suas atividades habituais com qualidade de vida, também apresentavam deglutição normal. Já na doença avançada seja grau III e principalmente grau IV, como no megaesôfago chagásico, a preferência tem sido pela esofagectomia, por se atuar diretamente na fisiopatologia da afecção sendo a técnica por via transmediastinal preconizada por PINOTTI [26] a mais utilizada. Entretanto, em uma análise mais crítica, demonstrou-se que esta técnica não é isenta de complicações. Dentre elas destaca-se as complicações pleuromediastinais, traduzida por hemomediastino e hemopneumotorax, que pode contribuir com grande morbidade no pós-operatório do paciente [27,28]. Isto pode ocorrer, já que o megaesôfago avançado por apresentar periesofagite, faz com que este órgão fique aderido as estruturas nobres do mediastino e assim durante a dissecção pode predispor lesões destes. Isto fez com que AQUINO[14] propusesse a técnica da mucosectomia esofágica com conservação da túnica muscular e transposição do estômago por dentro da túnica muscular do esôfago para reconstrução do trânsito digestivo e anastomose do estômago com o coto do esôfago cervical.Com isto demonstrou em pacientes com megaesôfago chagásico avançado, tanto na avaliação precoce como tardia, menor índice de complicações em relação à esofagectomia transmediastinal sem toracotomia, por não transgredir o mediastino durante a dissecção do esôfago [29,30]. Devido aos bons resultados obtidos com a mucosectomia esofágica em pacientes com megaesôfago avançado de origem chagásica, fez com que preconizasse também este procedimento nestes dois pacientes do nosso estudo que apresentavam AIE de grau avançado. Apesar dos resultados serem pouco significativos, devido à pequena casuística e o tempo limitado de estudo, a mucosectomia esofágica parece inferir ser bem adequada, pois nenhum dos pacientes apresentou complicações pleuromediastinais, embora um deles evoluiu com fístula e estenose ao nível da anastomose esofagogástrica e também infecção pulmonar, mas que apresentaram boa resolutividade com tratamento precoce e adequado Assim, como a AIE se confunde com o megaesôfago chagásico, na grande maioria das vezes torna-se difícil identificar seus portadores. Alguns antecedentes presentes na história pregressa dos pacientes do nosso estudo e os critérios utilizados para identificar casos de AIE já citados, parecem bem lógicos para excluir a esofagopatia de origem chagásica, como também tem sido demonstrado por outros autores [5,12]. A introdução de novas técnicas sorológicas com elevada sensibilidade para diagnóstico da doença de Chagas, poderá permitir a exclusão dos chagásicos e facilitar a identificação dos portadores de AIE no meio nacional [2,6,8]. Portanto, podemos concluir que a AIE é existente no Brasil e que para identificá-la entre os portadores de megaesôfago seria necessário a utilização de vários critérios. E o tratamento cirúrgico, a semelhança do megaesôfago chagásico é adequado, desde que se faça uma indicação bastante seletiva de acordo com o grau da doença; com cirurgias conservadoras como a cardiomiotomia na doença não avançada e as ressecções de preferência a mucosectomia esofágica com conservação da túnica muscular na doença avançada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Park, W., Vaezi, M. F.(2005), Etiology and pathogenesis of acalasia: the current understanding. 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