RESULTADOS PRELIMINARES DO INFORME NACIONAL DE ESPÉCIES
EXÓTICAS INVASORAS
Danielle Kioshima Romais¹; Joachim Graf Neto²; Rafael Dudeque Zenni²; Rodrigo Chaves
Ribeiro²; Sílvia Renate Ziller³
RESUMO
O Informe Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras vem sendo realizado desde 2003 na
forma de entrevistas e buscas em fontes bibliográficas e possui em sua base de dados 201
espécies exóticas invasoras registradas para ambientes brasileiros, sendo 103 vegetais e 98
animais. Destas 201 espécies, existem 8.536 registros de ocorrência em todo o País.
Praticamente 75% das introduções de espécies exóticas no Brasil são voluntárias e
principalmente com finalidades econômicas. Observa-se que a ciência das invasões biológicas
ainda não é consolidada no País e que os técnicos que atuam no campo e em pesquisas não
possuem uma visão formada sobre o tema. Neste sentido é fundamental a criação de políticas
públicas que revertam este panorama bem como a evolução da legislação para que incorpore a
problemática das invasões biológicas no Brasil de forma clara.
INTRODUÇÃO
Tratando-se as invasões biológicas de um tema ainda novo no Brasil, a existência de
referências bibliográficas é escassa e pouco representativa da situação concreta. Ainda não
existe uma referência oficial de quais são as espécies exóticas invasoras registradas para o
Brasil, seus locais de ocorrência, danos e impactos causados. Neste contexto, a coleta de
dados sobre espécies exóticas invasoras e seus locais de ocorrência foi iniciada em 2003 pela
The Nature Conservancy e pelo Instituto Hórus através de contatos por correio eletrônico,
telefone e pessoais. O nível de resposta apresentado foi baixo, cerca de 10%, denotando a
falta de conhecimento técnico e a precariedade com que o assunto é tratado no país.
Em 2004, com a entrada de recursos do Probio / Ministério do Meio Ambiente para a realização
de um informe nacional sobre espécies exóticas invasoras, foram contratados técnicos em
cada bioma brasileiro para a realização de entrevistas. As instituições envolvidas foram
Secretarias do Meio Ambiente, Agricultura e/ou Pesca, IBAMA, Universidades e Faculdades,
ONG’s, EMBRAPA, instituições de pesquisa e técnicos autônomos. As pessoas entrevistadas
receberam uma orientação sobre invasões biológicas e foram consultadas sobre a ocorrência
de espécies nos respectivos estados ou região em que atuam.
MATERIAL E MÉTODOS
Os técnicos responsáveis pela coleta das informações receberam um treinamento sobre
invasões biológicas e sobre quais informações seriam necessárias para o informe nacional.
Através das respostas obtidas nas entrevistas, preencheram fichas de ocorrência de espécies
exóticas invasoras no Brasil. A informação das planilhas foi triada para fins de padronização
anteriormente à sua incorporação na Base de Dados. A base de dados é composta por 9
planilhas. Os dados obtidos das entrevistas foram complementados a partir de pesquisas
bibliográficas.
As informações contidas na planilha Espécie caracterizam os aspectos ecológicos e
taxonômicos de cada espécie. O ambiente natural e a área de ocorrência ajudam a separar
limites ambientais de espécies sem consideração por limites políticos. O conhecimento do
ambiente em que a espécie evoluiu mostra que tipo de condições ambientais a espécie está
adaptada e qual a capacidade de tolerar novas condições.
1
O resgate do histórico da introdução de espécies no Brasil está contemplado na planilha de
Introdução e consiste numa descrição das introduções registradas, na data em que ocorreram,
na(s) causa(s) da introdução e ainda se a introdução foi voluntária ou acidental.
Para caracterizar a invasão biológica, uma espécie precisa ultrapassar primeiramente uma
barreira geográfica, depois uma barreira ambiental para se estabelecer e por último a barreira
da dispersão. Isso ocorre quando a espécie consegue produzir descendentes e disseminá-los
além do local de introdução. As características que cada espécie possui, ou que desenvolve
para vencer estas três barreiras estão apresentadas na planilha Características, que contém
informações sobre as formas de dispersão de sementes, hábito alimentar da fauna, formas de
reprodução, forma biológica, rotas e vetores de dispersão.
A classificação de uma espécie como invasora ou ainda como potencial invasora foi
fundamentada na existência de casos de invasão biológica pela espécie em outros locais do
mundo. Essas informações estão registradas nos campos “locais onde a espécie é invasora” e
“ambientes preferenciais para invasão”, que contemplam países onde se tem registro de
invasão de determinada espécie e o ambiente invadido. Na mesma planilha está incluído o
campo “uso econômico”, maior motivo de introdução de espécies no Brasil.
Os impactos causados pela introdução de espécies exóticas invasoras podem ser econômicos,
sociais, ecológicos ou atingir a saúde e estão agrupados na planilha Impactos.
A prevenção, o controle e, quando possível, a erradicação de espécies exóticas invasoras de
ambientes naturais geram tanto mais benefício quanto mais cedo são iniciados, pois o
processo de invasão biológica tem crescimento exponencial. O número de indivíduos da
população e o conseqüente impacto causado é pouco perceptível no início e, com o passar do
tempo, aumenta até que a invasão se torne irreversível. Os custos são proporcionalmente mais
elevados. Espécies exóticas invasoras favorecem a si mesmas e a outras espécies invasoras no
processo de substituição de ambientes naturais. Muitos métodos de controle estão em uso ao
redor do mundo e podem viabilizar a erradicação de espécies desde que a intervenção ocorra
precocemente. Havendo-se perdido essa oportunidade, pode-se manter sob controle o
tamanho de uma população. Métodos mecânicos (arranquio, caça, etc.), químicos (herbicidas,
envenenamento, etc.) e biológicos (agentes de controle) são utilizados de forma combinada e
específica para resolver invasões em diferentes contextos e tempos. Embora o controle
biológico não tenha tradição no Brasil, está consagrado em outros países como método de
grande eficiência para reversão de invasões biológicas, especialmente quando os outros
métodos já não podem ser eficientes devido ao tamanho da área invadida.
Ainda na planilha de Controle constam medidas preventivas, referentes a práticas de manejo
que minimizam e/ou impedem a dispersão de espécies exóticas invasoras bem como medidas
legislativas que impedem a introdução, criação ou produção de determinadas espécies. São
exemplos a criação de barreiras para quebra-vento, planejamento da produção integrado com
vistas a sistematizar o controle da dispersão de espécies invasoras, introdução de agentes de
controle biológico para predação de sementes em espécies de uso florestal e normas
legislativas que impedem a introdução ou criação de espécie de risco.
O campo destinado à análise de risco incorpora dados de processos realizados em outros locais
do planeta que podem servir como indicadores para o país, dada a ausência no Brasil de
análise de risco que envolva fatores ambientais no momento de introdução de espécies
exóticas. A falta de um sistema de triagem que considere riscos ambientais é uma premência
no país, especialmente dado que as estatísticas de introdução apontam que quase 90% das
espécies exóticas invasoras atualmente existentes no Brasil foram introduzidas para uso
econômico – obviamente sem qualquer análise prévia estendida além dos sistemas produtivos.
Na planilha de Ocorrências estão registrados os locais onde foram identificados processos de
invasão biológica. O registro está associado à localidade (fazenda, morro, rio, etc.), município
e estado. As referências do ambiente estão fundamentadas no Manual Técnico da Vegetação
2
Brasileira publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1992 para
ambientes terrestres e em termos técnicos específicos para ambientes aquáticos, marinhos e
de água doce, além de termos genéricos para casos em que falta informação específica. Bacias
hidrográficas servem de referência para espécies aquáticas. Há espaço para coordenadas
geográficas, porém esse dado mostrou-se difícil de se obter durante o informe nacional, em
função da escassa dedicação científica ao assunto no país. A situação populacional da espécie
foi dividida em contida, detectada em ambiente natural, estabelecida e invasora, referindo-se
às diferentes etapas desde a introdução até a invasão. Outros campos permitem incluir uma
descrição do processo de invasão, a data de entrada na base de dados, a data de observação
em campo e o nome do contato que forneceu a informação, cadastrado em detalhes na
planilha de Contatos.
A planilha de Contatos contém todas as informações das pessoas que forneceram registros de
invasão relacionados na planilha de Ocorrências. As informações disponíveis sobre o contato
são: nome completo, formação profissional, instituição, cargo, especialidade, endereço, cidade,
estado, país, código postal, e-mail, telefone, fax e website. Cada informação inserida no banco
de dados ficará sempre vinculada à fonte de informação. Desta forma ficará mantida a
confiabilidade dos dados e é possível voltar a consultar os informantes sempre que necessário.
A planilha de Projetos agrupa informações sobre projetos já realizados e em andamento sobre
invasões biológicas. Objetiva-se possibilitar maior comunicação entre pesquisadores e
responsáveis pelo controle de espécies exóticas invasoras, assim como receber os resultados
de desses projetos para constante atualização da base de dados. As informações disponíveis
são: título do projeto, área geográfica, contato, data de início e término do projeto, objetivos
principais, breve descrição do projeto e observações relevantes.
A planilha de Referências Bibliográficas serve como referência científica dos dados existentes,
assim como para a difusão do conhecimento sobre invasões biológicas. Cada referência está
diretamente relacionada a uma ou mais espécies.
No presente, está em desenvolvimento uma interface para a Internet em parceria com a
Universidad del Sur e I3N – Rede Inter-Americana de Informação sobre Espécies Invasoras. O
objetivo é disponibilizar o banco de dados no website do Instituto Hórus para consulta pública,
facilitar as consultas sobre espécies e dados correspondentes e, no futuro, criar um corpo de
colaboradores que terão acesso direto à inserção de novas informações no banco de dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Características das espécies registradas no informe nacional de espécies exóticas
invasoras
Os grupos de fauna e flora encontram-se distribuídos de forma aproximadamente igual nos
registros obtidos durante o Informe Nacional de Espécies Exóticas Invasoras. Do total de
espécies cadastradas na base de dados até 01 de agosto de 2005 (201 espécies), 51% são
plantas e 49% são animais.
As 103 espécies invasoras de flora registradas para o Brasil foram classificadas em oito grupos
quanto à forma biológica: arbórea (36%), herbácea (31%), arbustiva (12%), gramínea (11%),
enquanto as bromeliformes, palmeiras, suculentas e trepadeiras formam os 10% restantes
(ANEXO 1).
As 98 espécies invasoras da fauna foram classificadas em 15 grupos, segundo as formas
biológicas. Os grupos mais representados são moluscos (20%), peixes (20%), crustáceos
(19%) e mamíferos (13%). Água-viva, anêmona, anfíbios, aves, camarão-de-água-doce,
caranguejo-siri, anelídeos, répteis e insetos representam os demais 24% das espécies (ANEXO
2).
3
Para melhor retratar as espécies exóticas invasoras presentes no Brasil foram analisadas
características morfofisiológicas, hábitos alimentares, reprodução, dispersão e ecologia.
As formas de dispersão de sementes mais relevantes registradas na base de dados foram:
anemocórica (42%), zoocórica (22%) e ornitocórica (18%) (ANEXO 3). A forma de dispersão
das espécies influencia o potencial de invasão, porém essas tendências variam de acordo com
o ambiente invadido.
As espécies de fauna foram classificadas quanto ao seu hábito alimentar: canibal, carnívoro,
detritívoro, frugívoro, generalista, granívoro, gumívoro, hematófago, herbívoro, insetívoro,
malacófago, nectarívoro, onívoro, piscívoro, planctívoro, polinívoro ou zooplanctívoro. Das 98
espécies de fauna invasora registradas atualmente para o Brasil, 25% são herbívoras, 19%
são onívoras e 16% são carnívoras (ANEXO 4). Dados referentes à dieta de espécies invasoras
são indicadores de impacto sobre ecossistemas e espécies nativas, sendo também de utilidade
na definição de métodos de controle e erradicação.
A partir dos dados coletados no Informe Nacional, observou-se que 76% das espécies foram
introduzidas propositalmente. Isso significa que a maioria das espécies exóticas invasoras no
Brasil foi introduzida com alguma expectativa de uso econômico e conseqüente benefício ao
homem. Exemplos de espécies que trouxeram prejuízos já superiores a quaisquer benefícios
gerados são o caramujo gigante africano (Achatina fulica), javali (Sus scrofa) e capim-annoni
(Eragrotis plana), amplamente reconhecidos pelos impactos negativos que trazem. Apenas
18% das espécies foram introduzidas de forma acidental, o mexilhão dourado (Limnoperma
fortunei) é uma delas.
A causa de introdução de espécies exóticas invasoras que agrega o maior número de espécies
é o uso ornamental, agrupando 19% das espécies registradas, inclusive pets e animais de
função ornamental como peixes de aquário. Espécies introduzidas para criação somam 10%
dos registros. As causas de introdução são fundamentais para a definição de estratégias e
medidas preventivas à introdução de novas espécies ou mesmo à reintrodução e dispersão de
espécies no território nacional.
Na TABELA 1 pode-se observar a classificação das introduções utilizada no Informe Nacional.
Percebe-se um maior número de introduções do que espécies registradas porque as
informações provêm de diferentes fontes, fazendo com que algumas espécies apresentem mais
de um registro de introdução e outras espécies não apresentam nenhum.
TABELA 1: Somatório das formas de introduções registradas na base de dados.
INTRODUÇÃO
%
Voluntária
75,65
Acidental
18,15
Desconhecida
6,2
Os impactos mais freqüentemente atribuídos à flora exótica invasora foram competição por
espaço, luz e nutrientes, perda de biodiversidade local, redução da regeneração de espécies
nativas por alelopatia, impactos à fauna nativa, substituição da vegetação nativa e alteração
de regime hídrico. Os principais impactos atribuídos à fauna exótica invasora foram competição
por alimento e espaço, predação de espécies nativas e perda da biodiversidade local.
Ocorrência de invasões biológicas nos biomas brasileiros
Foram registradas na base de dados 8.536 ocorrências de espécies exóticas invasoras no país
até o início do mês de agosto de 2005 (TABELA 2). A categoria de Contida aplica-se a espécies
4
nunca registradas em ambientes naturais e em geral restritas a laboratórios ou pet shops,
como a versão albina de Xenopus laevis, e espécies contidas em criação ou plantios. Essas
espécies estão registradas na base de dados em função de já estarem presentes no país e
representarem alto risco em caso de escape. A categoria de Detectada em ambiente natural
refere-se a espécies que estão fora de áreas de cultivo, porém sem informação suficiente para
enquadrá-la em outras categorias. A categoria de Estabelecida refere-se a situações em que a
espécie está adaptada e reproduzindo localmente, não havendo quebrado barreiras de
dispersão para além do ponto de introdução. Essas categorias devem ser consideradas na
definição de prioridades para ação de erradicação e controle, com vistas a otimizar relações de
custo/benefício iniciando o controle por áreas de baixa densidade de invasão e estabelecimento
de medidas preventivas para que espécies já estabelecidas não possam se tornar invasoras.
TABELA 2. Ocorrências por situação populacional.
SITUAÇÃO POPULACIONAL
%
Contida
1,79
Detectada em ambiente natural
3,51
Estabelecida
30,19
Invasora
63,72
Sem informação
0,78
O maior número de ocorrências registradas foi para os ambientes Urbano e Periurbano
(26,99%), seguido de ambientes de água doce em geral (16,42%) e Savana Estépica
(8,59%). No caso específico de ambientes naturais terrestres, o maior número de ocorrências
está na Savana Estépica, seguida da Floresta Estacional Semidecidual e da Floresta Ombrófila
Densa, conforme Tabela 3.
TABELA 3. Número de ocorrências registradas para cada ambiente brasileiro e suas respectivas
porcentagens para o número total de ocorrências registradas.
AMBIENTES
%
Periurbano + Urbano
26,99
A Verificar + Indeterminado + Em Branco
19,95
Água Doce + Cursos d'água + Lago/Lagoa
16,42
Savana Estépica
8,59
Floresta Estacional Semidecidual
6,64
Floresta Ombrófila Densa
6,48
Savana
2,96
Floresta Ombrófila Mista
2,16
Formações Pioneiras de Influência Marinha + Praia
1,89
5
AMBIENTES
%
Floresta Ombrófila Aberta
1,55
Áreas de Tensão Ecológica
1,41
Estepe
1,32
Formações Pioneiras de Influência Fluvial
1,01
Costão Rochoso + Marinho + Estuarino
0,75
Floresta Estacional Decidual
0,69
Formações Pioneiras de Influência Fluviomarinha
0,41
Açude + Reservatório de água doce + Tanque escavado
0,30
Plantio florestal com espécies exóticas
0,26
Refúgios Vegetacionais
0,18
Campinarana
0,05
As ocorrências mostram onde os casos de invasões biológicas foram observados com maior
freqüência pelos entrevistados. Como o levantamento foi realizado através de entrevistas e
não de estudos de campo, não se devem tecer conclusões sobre a realidade de cada ambiente
com base nessa tabela. A Savana Estépica não deve ser considerada um ecossistema mais
ameaçado por espécies exóticas invasoras do que as demais formações simplesmente por
haver-se obtido um maior número de registros de ocorrência. Algumas espécies exóticas
invasoras foram reportadas como existentes em todos os municípios de estados da Caatinga,
conseqüentemente gerando um volume de registros maior. Cada ambiente deve ser observado
de forma particular e não comparativa, pois o risco de invasão não está relacionado ao número
de espécies e sim aos danos e impactos causados.
A forma de coleta das informações (entrevistas presenciais) influenciou os resultados do
levantamento, uma vez que eles ficaram totalmente atrelados a um conhecimento
previamente existente que, por sua vez, se mostrou pouco consolidado à exceção de alguns
cientistas. O levantamento nacional é, portanto, um demonstrativo do estado atual do
conhecimento sobre invasões biológicas no Brasil, reconhecendo-se que há muita informação
ainda a coletar para produzir um retrato fiel da situação. Outro fator que tirou precisão do
resultado obtido sobre ocorrências de invasão em ambientes naturais foi a falta de
padronização na adoção de sistemas de classificação da vegetação. Para o Informe foi adotada
a classificação da vegetação brasileira do IBGE (1992), não compreendido por diversos dos
entrevistados em regiões que dão preferência a nomenclaturas locais. Essa divergência
impediu que todos os ambientes fossem enquadrados, pois os responsáveis pela informação
não souberam identificar a categoria correta do IBGE para alguns ambientes. Diversos destes
dados estão separados aguardando aprofundamento e revisão.
Desde o início deste levantamento era sabido que não seria viável identificar e registrar todas
as ocorrências de espécies exóticas invasoras no país. Sendo a ciência relativamente nova no
Brasil, está visto que a grande maioria dos técnicos que trabalham na área ambiental, em
campo ou com pesquisa, não têm visão consolidada ou conhecimento aprofundado sobre o
tema.
Disponibilização da informação gerada no levantamento
6
O site do Instituto Hórus está online desde outubro de 2002 e desde então está totalmente
dedicado ao tema de invasões biológicas. O website é bilíngüe e funciona como integrador de
informações, organizações e pessoas da esfera pública, civil e privada. O site começou com
apenas 5 páginas em outubro de 2002, recebendo cerca de 500 visitas por mês, e hoje é
composto por cerca de 25 páginas principais, mais de 150 fichas técnicas e páginas para fotos
de espécies exóticas invasoras. Recebe, atualmente, mais de 25.000 visitas ao mês.
Os dados do informe nacional de espécies exóticas invasoras estão disponíveis no site em
forma de fichas técnicas, geradas a partir do conteúdo total do banco de dados. Atualmente,
das 154 fichas técnicas dispostas no site do Instituto Hórus, 81 são referentes à flora e 73
referentes à fauna.
Também é possível encontrar no site artigos científicos e marcos legais referentes ao tema
invasoras, links para sites vinculados ao tema, notícias da mídia e diversas outras sobre
espécies exóticas invasoras.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Embora o Informe Nacional de Espécies Exóticas Invasoras não tenha exaurido as informações
sobre o assunto no Brasil, especialmente no que se refere aos locais de ocorrência de espécies,
configura um passo importante na formação de uma visão anteriormente inexistente. Mais
dados poderão ser coletados sempre, porém os dados coletados são inicialmente suficientes
para gerar diversas ações práticas no âmbito da prevenção, erradicação e controle de espécies
exóticas invasoras.
Dentre essas ações estão a criação de políticas públicas e marcos legais específicos para tratar
problemas existentes. Inicialmente, é fundamental que o problema seja oficialmente
reconhecido e que sejam estabelecidas prioridades de governo para abordagem do tema.
Observa-se a partir dos resultados obtidos que pouco mais de 75% das espécies hoje
presentes no país foram introduzidas voluntariamente, para algum uso econômico. A adoção
de um sistema de análise de risco no Brasil, a exemplo do utilizado na Nova Zelândia e na
Austrália, é fundamental para estancar o processo de entrada de novas espécies que serão
problemas no futuro. Da mesma forma, espécies exóticas de uso comercial precisam de
regulamentação específica que permita compatibilizar seu valor econômico com valores
ambientais hoje desprezados.
É também urgente a revisão de marcos legais que não diferenciam espécies exóticas de
nativas em áreas protegidas e a abertura, sem subjetividade legal, para remoção de espécies
exóticas invasoras de quaisquer ambientes, até mesmo urbanos. Outro item pendente é a
revisão de sistemas estaduais de uso de herbicidas, em diversos casos desatualizados, ainda
permitindo uso de produtos de alta residualidade enquanto há produtos novos no mercado de
melhor efeito e residualidade menor. Rótulos de herbicidas precisam igualmente ser revistos
pelos fabricantes, pois de modo geral não há previsão de uso para controle de espécies
exóticas invasoras, dificultando o trabalho de controle.
Recomenda-se ainda que sejam realizadas campanhas informativas acerca do tema, para
evitar crimes ambientais básicos que muitos realizam por pura falta de conhecimento. Os
recursos hídricos estão gravemente comprometidos pela introdução de espécies exóticas. Até
mesmo no rio Amazonas há registro de ocorrência de tilápia, conseqüência de um programa de
governo que estimulou a produção da espécie nas várzeas do rio. Os escapes são uma questão
de tempo. A mesma estória é contada em muitos países, sobre as mesmas espécies, as
mesmas intenções econômicas, os mesmos impactos ambientais. Esperamos que no Brasil,
onde está 20% da biodiversidade do planeta, tenhamos tempo de tomar consciência de que
temos mais a perder do que todos os outros países do mundo. Esperamos também ver ao
concluir este trabalho o final de um esforço teórico e o início de muitos esforços que gerem
7
resultados práticos, qualificando sistemas produtivos, limpando ambientes
impedindo a formação de novas invasões biológicas para as gerações futuras.
naturais
ANEXOS
40%
FIGURA
36%
1.
Gráfico do total de espécies de flora classificados quanto à forma biológica.
35%
31%
Arbórea
25%
30%
Água - Viva
Arbustiva
20%
25%
19%
Anêmona
Bromeliforme
Anfíbio
Gramínea
Herbácea
Camarão-de-água-doce
Palmeira
Caranguejo,
siri
Suculenta
Crustáceo
Inseto Trepadeira
20%
Ave
20%
12%
15%
15%
11% 13%
10%
Lagarto
10%
5%
Mamífero
Minhoca
0%
Forma Biológica - Flora
5%
Molusco
Peixe
Réptil
Tartaruga
0%
Forma Biológica - Fauna
FIGURA 2. Gráfico do total de espécies de fauna classificados quanto à forma biológica.
45%
42%
40%
Anemocoria
35%
Autocoria
30%
Barocoria
22%
25%
20%
18%
Blastocoria
Entomocoria
Hidrocoria
Ornitocoria
15%
Quirocoria
10%
Zoocoria
5%
0%
Tipo de Dispersão
8
e
FIGURA 3. Gráfico do total de espécies de flora classificadas quanto à dispersão de sementes.
Canibal
30%
Carnívoro
25%
Detritívoro
25%
Frugívoro
Generalista
19%
20%
Granívoro
Gumívoro
16%
Hematóf ago
15%
Herbívoro
Ins etívoro
Malacóf ago
10%
Nectarívoro
Onívoro
5%
Pis cívoro
Planctívoro
Polinívoro
0%
Zooplanctívoro
T ipo de Dieta
FIGURA 4. Gráfico do total de espécies de fauna classificadas quanto à dieta.
2 5 ,0 %
C erc a-viva
C riaç ão
C om érc io de A nim ais de
E s tim aç ão
C om érc io de A quic ultura
2 1 ,5 %
C om ida V iva
2 0 ,0 %
C om érc io Internac ional
E s tabiliz aç ão de D unas
Indús t ria Q uím ic a
F orrageira
1 5 ,0 %
P rogram a de A juda
O utros
1 2 ,0 %
1 1 ,0 %
1 1 ,5 %
C ontrole B iológic o
F ins A lim entares
1 0 ,0 %
F ins de P es quis a
F ins O rnam entais
P es s oas troc ando rec urs os
N ão O bs ervaç ão
A quic ultura
5 ,0 %
M inhoc ultura
Int eres s e F lores t al
Int eres s e M edic inal
Q uebra-vento
0 ,0 %
R es tauraç ão de H abitat
C a u s a s d e In tro d u ç ã o
Trans porte de A nim ais
D om és tic os
FIGURA 5. Gráfico do total de espécies classificadas quanto às causas de introdução.
9
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