TEXTO 7 RESUMO DE TRABALHO ACADÊMICO Dóris Reis de Magalhães RESUMO Este texto tem a finalidade de contribuir para a produção de resumos para trabalhos científicos. Em experiência própria, em um Curso de Mestrado em Educação, na Universidade Federal do Espírito Santo, diante da tarefa em produzir um resumo para uma dissertação, o auxílio das professoras da linha de Pesquisa em Educação Matemática gerou segurança e estabilidade para seu cumprimento, agora solidarizado a partir dessa contextualização. Após o texto, propõe-se uma atividade que promove a crítica da produção de três resumos científicos, que se encontram disponibilizados no Banco de Dados de Teses da Capes, disponível em http://servicos.capes.gov.br/capesdw/ . Introdução Ao produzirmos um texto científico, seja um artigo, um trabalho de conclusão de curso (TCC), uma monografia, dissertação de mestrado ou tese de doutorado, temos que desenvolver esse tipo de texto segundo normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ou segundo normas técnicas estabelecidas na Instituição em que o trabalho acadêmico está vinculado. Essa é de longe, uma tarefa fácil, principalmente, para quem está desenvolvendo seu primeiro trabalho científico. Devemos nos preocupar com essas normas ao mesmo tempo em que produzimos um texto coeso e bem estruturado. O gênero de texto acadêmico tem sido alvo constante de pesquisadores da área e sua estrutura é estudada há bastante tempo. Nos dias de hoje já existem ferramentas computacionais que auxiliam sua rigorosa construção, o que não minimiza a complexidade do processo de escrita já que, produzir um texto, sintaticamente, é uma tarefa complexa. Nesse sentido, o jovem escritor precisa de ajuda e orientação, pois a complexidade envolvida para o desenvolvimento desse tipo de texto trás, geralmente, sobrecarga cognitiva imposta a ele, que precisa lidar com as exigências envolvidas no processo de escrita e ficar atento às exigências específicas do gênero daquele texto. Em artigo científico Feltrim (et alli, 2003) aponta que vários autores, como Oliveira (2001) Eco (2000), Feitosa (1991), Weissberg & Buker (1990) concordam quanto à estrutura esquemática que um texto científico deve seguir. Segundo os autores, essa estrutura pode ser enunciada como Introdução – Desenvolvimento – Conclusão, sendo que o Desenvolvimento pode desdobrar-se nas seções de Materiais e Métodos e Resultados, ou ainda Materiais e Métodos, Resultados e Discussão. Essa forma de estruturação tem como objetivo apresentar o texto a partir do contexto no qual ele está inserido. Para isso, cada um dos componentes da estrutura desempenha um papel bem definido. Em linhas gerais, essa estrutura deve guiar o leitor e fazer com que ele siga o movimento geral-para-específico, realizado na Introdução, e específico-para-geral, realizado na Conclusão ou Considerações Finais. Dessa forma, cada um dos componentes do esquema apresenta particularidades relacionadas a cada área de pesquisa científica. Depois do trabalho concluído a preocupação deve ser voltada para a produção de seus elementos pré-textuais, onde o seu Resumo está inserido, como veremos mais detalhadamente a seguir. A construção do Resumo O Resumo, um componente independente do trabalho que aparece no corpo dos elementos pré-textuais não interfere no movimento geral-específico-geral dos elementos textuais. É desarticulado do texto como um todo. Entretanto, o Resumo é um componente importante, pois é ele que informa o leitor sobre detalhes importantes do trabalho, que nem sempre satisfaz esse leitor fazendo-o, por vezes, adentrar no corpo do trabalho, já que as informações contidas nele nem sempre são satisfatórias para quem o lê. Por isso, entendemos que devemos ter muito cuidado no momento de redigirmos um Resumo, de forma que ele seja completo, interessante e informativo, dispensando a consulta ao restante do texto. É importante que a partir da leitura do Resumo o leitor tenha a idéia do que trata o trabalho, ao mesmo tempo em que se sinta estimulado em ler o texto completo. Mas existem normas para produção de um Resumo? Sua produção segue algum modelo? Alguns autores, Oliveira (2001) e Feitosa (1991), indicam que o Resumo constituinte de um texto acadêmico deve ser preferencialmente informativo, descrevendo quais os propósitos, resultados, e conclusões do trabalho em vez de indicativo, ou seja, apenas sinalizando que os resultados são encontrados no texto. Os resumos de quase todas as áreas de estudo são escritos de uma maneira muito similar (Weissberg & Buker, 1990). Os tipos de informação incluídos e a ordem em que aparecem são muito convencionais, de modo que podem ser enunciados como modelos que visam guiar o escritor na escolha do tipo de informação que deve ser incluída no resumo e da ordem que devem obedecer. Vários autores apresentam modelos de resumo. Embora cada autor tenha a sua forma de expressar o modelo, existe um consenso sobre os elementos típicos e sua ordem. Apresentamos o modelo de Weissberg & Buker (Quadro 1), por ser detalhado e abranger também os outros modelos citados. 1. Alguma informação de contextualização (background); 2. A principal atividade do estudo (seu propósito) e seu escopo; 3. Alguma informação sobre a metodologia usada no estudo; 4. Os resultados mais importantes do estudo; 5. Uma afirmação de conclusão ou recomendação; Quadro 1. Modelo de resumo típico (Weissberg & Buker, 1990) Feltrim (et alli, 2003), em seu texto que trata de produção e escrita de Resumo, observa que os cinco elementos citados no modelo de Weissberg & Buker direcionam para a composição de um resumo informativo, onde todos os elementos principais do texto são citados. Esses elementos são semelhantes aos encontrados nas introduções, porém escritos de forma tão concisa quanto possível. Para situações de limite de palavras, um tipo mais curto de resumo pode ser escrito por meio da eliminação ou combinação de alguns dos elementos citados anteriormente - apenas dois ou três elementos dos cinco citados no modelo anterior, com a ênfase sendo colocada nos resultados do estudo. A informação de background nesse caso é retirada, sendo apresentados primeiramente os propósitos e a metodologia utilizada, combinadamente. Em seguida, deve ser feito um resumo dos resultados mais importantes do trabalho e, finalmente, pode ser colocada uma conclusão (opcional) em uma ou duas sentenças. Essas informações são suficientes para que possamos produzir um bom Resumo? É importante ressaltar que, segundo ABNT, o Resumo deve ser escrito em parágrafo simples, em tempo verbal presente, devendo ser produzido em um único parágrafo. Ainda como parte do mesmo contexto mostrar, logo após o Resumo, as palavras-chaves, as que norteam o trabalho desenvolvido. Em síntese, segundo indicações obtidas pessoalmente durante um Curso de Mestrado em Educação na linha de pesquisa em Educação Matemática, um Resumo consistente, sejam os de trabalhos como de Conclusão de Curso (TCC), Monografia, Dissertação ou Tese, em geral devem apontar o que está destacado no quadro a seguir. O que: breve contextualização associando o objetivo geral do trabalho - e hipótese se houver; Como: metodologia (apontando um ou dois principais referenciais teóricos) e instrumentos utilizados; Onde: lugar onde foi feita a pesquisa; Com quem: apontar os sujeitos de pesquisa e de onde são; Quando: período em que foi realizada a pesquisa; Considerações Finais: apontar um ou dois resultados encontrados na pesquisa, manifestando alguma sugestão futura; Palavras-chave: apresentar quatro palavras (esse número pode ser alterado segundo indicações em manual de Normas Técnicas de cada Instituição). Quadro 2. Modelo de resumo dado pelas professoras da linha de pesquisa em Educação Matemática (PPGE-UFES). Segundo as três professoras, Lígia Arantes Sad, Circe Mary Silva da Silva Dynnikov, e a partir das atividades propostas pela professora Vânia Maria dos Santos-Wagner neste contexto, o pesquisador deverá compor essas informações em seu Resumo segundo uma ordem adequada perfazendo um texto coeso, exaltando suas próprias características literárias, ao mesmo em que deve prestar atenção em utilizar o menor número de palavras (algumas Instituições definem número máximo de palavras para essa produção). Assim, esperamos que essas indicações, ao serem utilizadas, possam favorecer positivamente a produção do Resumo de um trabalho científico, uma tarefa nem sempre fácil quando não se têm informações adequadas. Referências Bibliográficas ECO, U. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2000 FEITOSA, V.C. Redação de textos científicos. Campinas: Papirus, 1991. FELTRIM, V. D.; ANTIQUEIRA L.; NUNES, M. G.; ALUÍSIO S. M. A construção de uma ferramenta de auxílio à escrita de resumos acadêmicos em português. Disponível em <ttp://cyvision.ifsc.usp.br/~lantiq/publicacoes/2003%20-%20feltrim%20et%20al%20-%20ENIA.pdf>. Acesso em agosto de 2006. OLIVEIRA, S.L. Tratado de metodologia científica. São Paulo: Pioneira, 2001. WEISSBERG, R.; BUKER, S. Writing up research: experimental research report writing for students of english. New Jersey: Prentice Hall, 1990. Atividade Proposta: A seguir apresentamos três resumos colhidos em http://servicos.capes.gov.br/ capesdw/. Identifique, criticamente neles, os 6 itens apresentados no Quadro 2 contido no corpo do texto. a)Título: Investigando a concepção de frações de alunos nas séries finais do ensino fundamental e do ensino médio. RESUMO: O estudo das frações tem se tornado, ao longo dos anos, tema de discussões por grande parte dos educadores matemáticos. resultados publicados pelo Sistema de Avaliação Educacional de Pernambuco (SAEPE) se mostram pouco animadores em relação ao ensino deste tópico, seja no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio. Com o objetivo de identificar a concepções de frações e de equivalência de frações de alunos nas séries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, foi realizado um teste diagnóstico com 630 alunos de escolas, uma da Rede Municipal do Recife e outra da Rede Estadual de Pernambuco. Este instrumento foi composto de dez questões, que foram tabuladas e graficamente analisadas, envolvendo frações como, parte-todo, quociente e operador, a influência das figuras nas questões, quantidades discretas e contínuas, além de equivalência das frações. Os resultados revelam que os melhores desempenhos estiveram nas séries centrais (6a. e 7a. séries) e a partir do 2o. ano do Ensino Médio. Várias concepções foram encontradas, como, por exemplo: entre duas frações, quanto maiores os seus termos correspondentes; para determinar a fração correspondente numa figura de partes pintadas está ligada à cotiguidade das partes e a não equidade entre as partes pintadas, dentre outras. b) Título: Um estudo sobre a formação do conceito de multiplicação. RESUMO: Esta pesquisa baseou-se essencialmente na teoria sócio-histórica de Vygotsky, na qual embasamo-nos para descrever a relação existente entre o sujeito e o meio social, a importância da linguagem como ferramenta do pensamento, o papel do outro e da cultura no desenvolvimento da criança, e o processo de formação de conceitos. Com base em outros referenciais, tais como: Smole (1998; 2000; 2001); Nunes & Briant (1999); Machado (1992); Ariès (1981); Zilberman (1994); Góes (1991); Cunha (1999); Frantz (2001); Palo (1992) e Yunes (1984), procuramos ampliar a compreensão acerca do processo ensino-aprendizagem de multiplicação, o ensino de matemática nas séries iniciais, o papel da leitura literária na formação do sujeito e a importância da Literatura Infantil para o ensino de matemática. O trabalho visou como objetivo principal analisar a possibilidade de construção significativa do conceito de multiplicação, tendo por base a Literatura Infantil, em uma sala de aula de 2ª Série do Ensino Fundamental, de uma escola da Rede Municipal de João Pessoa - PB, centrando a investigação, mais especificamente, em três alunos. Optamos por desenvolver uma pesquisa de base qualitativa, na qual a descrição, análise e interpretação dos fenômenos foram observados à luz da pesquisa etnográfica, descrita por Lüdke & André (1986). Adotamos como hipótese que o trabalho, de forma interdisciplinar e contextualizado, envolvendo a conexão da Literatura Infantil e Matemática, possibilita ao educando desenvolver a leitura, o entendimento de conceitos matemáticos, a linguagem matemática, a representação numé- rica, promovendo a aprendizagem significativa e, com isso, possibilita meios para que o aluno estabeleça relações entre a matemática e outras áreas do conhecimento, despertando no educando o senso crítico em relação à Matemática. A pesquisa foi realizada em três etapas: atividade piloto; conjunto central de atividades e avaliação. A análise dos dados foi realizada considerando-se: (i) a capacidade de leitura e interpretação (ii) a formação do conceito de multiplicação. Procuramos identificar possíveis conexões entre a Matemática e a Literatura Infantil através da resolução de problemas. Os resultados apontaram que os alunos investigados atingiram um crescimento substancial e qualitativo quanto à capacidade de leitura e a formação significativa do conceito de multiplicação, e de outros conceitos matemáticos, tais como: proporcionalidade, reversibilidade e comutatividade, apresentados na análise, indispensáveis no processo de alfabetização e aprendizagem significativa da Matemática. c) Título: A universidade e os professores de escolas rurais: suas concepções e sua prática docente RESUMO: Este estudo, inserido na linha de pesquisa “Universidade, Docência e Formação de Professores”, analisa a situação de professores que atuam em escolas públicas rurais. A metodologia utilizada, o registro da história oral dos professores pesquisados, possibilitou conhecer e compreender suas reais condições de trabalho e suas concepções; suas dificuldades e necessidades para a docência na área rural; detectou pontos significativos sobre a sua formação e, numa interface analítica com as questões da educação no Brasil, foi possível conhecer a situação dos professores rurais no contexto da educação nacional. A análise qualitativa dos dados obtidos, com algumas referências quantitativas, permitiu levantar questões significativas para possíveis soluções de problemas sobre a qualidade do ensino e desempenho dos professores das escolas rurais brasileiras, como falta de formação específica para atuar na área rural e carências metodológicas e estruturais nas condições de trabalho. Dentre as conclusões apresentadas destaca como uma das muitas necessidades, a reorganização das políticas para a educação do campo. Nelas devem ser priorizadas questões como formação para a docência na área rural, programas educacionais coerentes com a realidade do campo, condições mais adequadas de funcionamento, gerenciamento e alocação de recursos financeiros para as escolas rurais. Com as conclusões, pretende-se fomentar o debate acadêmico e social sobre as instituições formadoras e os currículos dos cursos de formação de professores, que devem enfatizar estudos e reflexões sobre as questões sociais, históricas e culturais das populações do campo.