XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Produção e comercialização agro-extrativa na Amazônia: o caso da comunidade de
Pindobal Grande em Igarapé-Miri, estado do Pará.
Ismael Matos da Silva
Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA
Proascon – Projetos Agropecuários Assessoria e Consultoria Rural
Av. Generalíssimo Deodoro, 556
Marcos Antônio Souza dos Santos
Filiação Institucional Filiação Institucional Filiação Institucional
Filiação Institucional Filiação Institucional Filiação Institucional Filiação Institucional
Endereço Endereço Endereço Endereço Endereço Endereço
E-mail e-mail e-mail e-mail e-mail
Mário Corino Siqueira Guerreiro Filho
Proascon – Projetos Agropecuários, Assessoria e Consultoria Rural.
Rua Abaetetuba, 205. Médici II
[email protected]
Nicolle Rafaella Costa Bezerra
Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA
Rua São Luiz, 29. Montese.
[email protected]
Comercialização, Mercados e Preços
Oral com debatedor
1
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Produção e comercialização agro-extrativa na Amazônia: o caso da comunidade de
Pindobal Grande em Igarapé-Miri, estado do Pará.
Resumo
A presente pesquisa tem por objetivo investigar a estrutura de produção e coleta de
produtos agro-extrativos da comunidade de Pindobal Grande, localizada no município de
Igarapé- Miri, no estado do Par, bem como as relações de comercialização dos produtos.
Para isto empregou-se a metodologia de Levantamento Rápido Rural – LRR, com o fim de
proceder ao levantamento das informações sócio-econômicas da comunidade abarcando
questões referentes a produção e comercialização dos produtos da floresta. Os resultados
gerados indicam que as relações de comercialização da comunidade são incipientes, em
que o maior percentual é comercializado com os produtores, fato que também mostra uma
moderada coesão e espírito de união entre os agro-extrativistas que pertencem a
associação de Produtores da comunidade.Por conta disso, sugere-se que ações e projetos
voltados para o desenvolvimento da comunidade, inclua ações de consciência coletiva e de
fortalecimento da Associação de Produtores.
PALAVRAS-CHAVE:
Amazônia.
Comercialização,
Agro-extrativismo,
Pindobal-grande,
2
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Produção e comercialização agro-extrativa na Amazônia: o caso da comunidade de
Pindobal Grande em Igarapé-Miri, estado do Pará.
1. INTRODUÇÃO
O estado do Pará destaca-se no cenário regional e nacional na produção agrícola e
pecuária, sobretudo nos tempos atuais com a expansão da fronteira de soja, produção de
bovinos de corte e exploração madeireira, além do fortalecimento da agricultura familiar
com as culturas de subsistência, que garante o emprego e a renda de um numero
expressivo de pequenos produtores rurais. Entretanto, apesar dos esforços centrados na
melhoria do setor rural, ainda persiste um cenário de pobreza e subdesenvolvimento de
uma gama de famílias rurais, sobretudo das regiões ribeirinhas do Estado, as quais se
constituem um desafio para o governo, as instituições de pesquisa e extensão.
Diante desse contexto, ações institucionais que possam viabilizar a melhoria dos padrões
de produção e de qualidade de vida nas comunidades rurais assumem uma importância
crucial como instrumento de desenvolvimento local.
Todavia, existem consideráveis diferenças entre comunidades rurais, mesmo quando são
consideradas dentro de um único município. Tais diferenças residem em múltiplos aspectos
variando desde as características dos sistemas de produção, até as relações estabelecidas
com o mercado, passando, logicamente, pelos padrões e valores socioculturais.
O reconhecimento destas peculiaridades é ponto fundamental na formulação de estratégias
de intervenção visando estimular o desenvolvimento rural. Nessa perspectiva, antes da
implementação de qualquer estratégia é necessário realizar um diagnóstico
socioeconômico, visando caracterizar aspectos fundamentais das famílias, dos sistemas de
produção e comercialização vigentes, ocupação de mão-de-obra, renda entre outros
aspectos.
As informações geradas dentro desse processo de natureza participativa, permitem maior
visibilidade acerca das características e necessidades da comunidade alvo da pesquisa.
Adicionalmente, identificam-se as ameaças e oportunidades a serem enfrentadas,
viabilizando a formatação de um plano de ação adequado para a orientação concernentes a
produção e extração sustentável dos produtos da floresta bem como, da comercialização
dos destes produtos no mercado com o fim de garantir ganhos reais mais elevados para os
produtores destas comunidades.
Ressalte-se que este procedimento é o mais adequado para tratar das questões relacionadas
ao desenvolvimento de comunidades rurais, sendo preconizado por diversas instituições de
desenvolvimento na América Latina, África e outros continentes, como é o caso da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO e do Centro
Internacional de Agricultura Tropical – CIAT.
Neste trabalho essa metodologia foi empregada para efetuar o diagnóstico socioeconômico
do conjunto de produtores agroextrativistas associados à Associação de Produtores de
Pindobal Grande, no município de Igarapé-Mirim/PA. Com objetivo de subsidiar a tomada
de decisão dos produtores, principalmente a aspectos vinculados à produção e
comercialização dos produtos da floresta, com o fim de incrementar a renda e
conseqüentemente, contribuir para uma melhoria do bem-estar dos povos ribeirinhos do
Estado do Pará.
3
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a execução dos levantamentos de campo utilizou-se de instrumentais exploratórios, a
partir de entrevistas informais e aplicação de questionários, preconizados pelo método
rapid rural appraisal (Levantamento Rápido Rural - LRR).
Essa metodologia possibilita avaliar e gerar informações sobre os processos dos sistemas
produtivos, em curto lapso de tempo e economia de recursos financeiros, sendo um método
de utilização consagrada, empregado por instituições como a Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Centro Internacional de Agricultura
Tropical (CIAT) entre outras. Aprofundamentos sobre esse método podem ser vistas em
Hartmann (1991) e Mitlewski (1994).
Os resultados apresentados neste documento foram gerados a partir dos seguintes
procedimentos:
Entrevistas: com produtores, especialmente os pioneiros na área, e com o Senhor Ronaldo
Xavier Gomes - Presidente da Associação, no sentido de levantar a cronologia dos fatos
relevantes da Associação, as características dos sistemas de produção, dos mercados, os
principais problemas enfrentados entre outras questões.
Aplicação de questionário de diagnóstico socioeconômico de comunidades rurais:
envolvendo 18 produtores da Associação (70% dos associados), que engloba questões
associadas à educação, saúde, organização social, acesso à crédito, sistemas de produção,
comercialização entre outros aspectos;
Análise estatística: aplicação de recursos estatísticos para elaboração de distribuições de
freqüência, cálculos de média, desvio padrão, coeficiente de variação e elaboração de
gráficos e tabelas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Características produtivas e econômicas da comunidade
Os produtores ribeirinhos da comunidade de Pindobal – Grande podem ser enquadrados na
categoria de agro-extrativistas, pois suas atividades estão diretamente vinculadas à coleta
de produtos da floresta como: açaí, andiroba, buriti, cacau e cupuaçu, além da pesca
artesanal e da agricultura de subsistência, voltada para a produção de feijão caupi,
mandioca e milho, e em menor proporção, no cultivo de pimenta e do próprio açaizeiro.
Destaca-se, entretanto que as principais culturas econômicas exploradas pela comunidade
são o açaí e a andiroba, cuja receita bruta média por hectare é de R$ 182,60 e R$ 430,00,
respectivamente.
Atualmente o preço do quilo do fruto do açaí para o produtor gira em torno de R$ 0,25, na
safra, e o litro da andiroba em torno de R$ 5,00, embora nas comunidades circunvizinhas
este preço pode chegar a R$ 2,00. Há que se considerar que o fruto do açaí em períodos de
entressafra alcança preços bem elevados, em que a rasa atinge até R$ 35,00.
Os demais produtos obtidos do ecossistema local, em sua maioria, constituem a parcela da
renda que dificilmente pode-se mensurar, uma vez que compõe basicamente o consumo
das famílias. Somente em ocasiões que haja excedentes, este é comercializado no mercado
local. Exceção feita ao açaí, que embora seja o principal produto comercializado pela
comunidade, também se constitui na principal fonte de consumo das famílias, em média as
4
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
famílias consomem uma rasa por dia, ou seja, aproximadamente 14 kg de frutos, o que
corresponde a sete litros de suco de açaí.
Características sazonais e de comercialização
Características Sazonais
Os produtores de Pindobal Grande dispõem de uma diversidade de produtos obtidos
diretamente do ecossistema natural local, ou das culturas já cultivadas na comunidade.
Porém de toda produção gerada pelos produtores e aquela proveniente da floresta, somente
o açaí, a andiroba e o pescado, incluindo o camarão, apresentam potencial de economia de
escala. Contudo precisa-se incorporar um maior nível de tecnologias nas lavouras para
obtenção de maior produtividade das culturas, como também, propiciar o cultivo destas
principais culturas em período de entressafra, proporcionando aos produtores maiores
níveis de renda. O Quadro 1 apresenta a distribuição sazonal das espécies cultivas e
extrativas exploradas pelos produtores de Pindobal Grande.
Quadro 1. Distribuição sazonal das principais espécies exploradas pelos agroextratores da
comunidade do rio Pindobal grande, Igarapé-Miri, no Estado do Pará.
Meses
Produtos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Açaí
Andiroba
Cacau
Buriti
Cupuaçu
Hortaliça
Pesca (inclui o camarão)
Pimenta
Fonte: Dados da pesquisa de campo.
No período da safra do açaí, os produtores recebem, no início da safra, R$ 3,00 pela lata,
aproximadamente 14 kg, porém no final da safra, entressafra, o preço do produto chega a
R$ 35,00 a lata. Isto implica que aprimorando-se o manejo e adotando-se técnicas simples
de irrigação,por exemplo, que permitam alongar o ciclo da cultura de forma que o produtor
se beneficie daqueles períodos em que os preços são mais elevados. Por exemplo, no caso
do açaí, a estratégia poderia se concentrar no cultivo até os meses de janeiro, fevereiro e
março, que é a entressafra do produto e conseqüentemente, período de preços mais
elevados.
A Figura 1 ilustra muito bem as possibilidades de auferir preços elevados particularmente,
no mercado de Belém, que é o maior centro de comercialização e consumo de açaí. Pelo
que se observa, no período de março a junho os preços atingem, patamares
5
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
substancialmente elevados em relação à média anual, o que representa uma oportunidade
muito interessante para os produtores que consigam ofertar frutos neste período. Os
resultados ilustrados na Figura 1 foram gerados a partir de dados da Secretaria de
Economia do Município de Belém, empregando o método de média aritmética móvel
centrada em 12 meses.
250
200
L. Inferior
IEP
L. Superior
IEP (%)
150
100
50
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Figura 1. Índices Estacionais de Preço (IEP) do fruto de açaí comercializado no mercado
de Belém/PA, 1995/2003.
Fonte: Dados da Pesquisa.
Características de Comercialização
A comunidade comercializa a produção com três agentes distintos, a associação, a
cooperativa e os atravessadores, sendo que a proporção maior das vendas é feita com o
atravessador, fato este que pode mostrar um certo nível de enfraquecimento ou
desarticulação da associação e da cooperativa, uma vez que 93,33% dos produtores
amostrados na pesquisa são de alguma forma associados, logo seria esperado que a maior
proporção das transações ocorressem ou por meio da associação ou da cooperativa. A
Tabela 1 apresenta os principais agentes que comercializam com a comunidade de
Pindobal Grande.
6
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Tabela 1. Distribuição percentual dos agentes de comercialização de Pindobal – Grande,
em Igarapé-Miri/PA.
Agentes de Comercialização
Distribuição Percentual (%)
Associação
20
Cooperativa
7
Atravessador
33
Não Informou
40
TOTAL
100
Fonte: Dados da Pesquisa
Há que se justificar o elevado número de não informantes com relação aos aspectos de
comercialização, isto ocorre em virtude da falta de controle e gestão da produção,
principalmente devido ao baixo nível educacional e de informação dos produtores, que em
sua maior parte não contabilizam a produção extrativa e cultivada. Ressalte-se que este fato
se constitui em uma das principais dificuldades de realização da pesquisa.
Os principais locais em que os produtos são transacionados são o mercado local e os
municípios vizinhos. No caso particular da andiroba, já existe comercialização co produto
diretamente com uma empresa de perfumaria situada na capital, Belém. A Tabela 2 ilustra
os locais de venda da produção dos produtores de Pindobal Grande.
Tabela 2. Distribuição percentual dos locais de comercialização dos produtores de
Pindobal Grande, Igarapé – Miri/PA.
Locais de Comercialização
Distribuição Percentual (%)
Feira do Município
40
Municípios vizinhos
7
Outros
133
Não Informou
40
TOTAL
100
Fonte: Dados da Pesquisa
Observa-se que quase metade da produção, cerca de 40%, é comercializada no próprio
município e 7% nos municípios vizinhos. Fato este que pode-se dever ao caráter artesanal
da produção cuja produtividade ainda é muito baixa, o que impede a projeção da produção
em mercados mais promissores, porém mais exigentes em escala e qualidade.
7
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Os resultados gerados pela pesquisa podem ser úteis na elaboração de planos e estratégias
de comercialização da produção agro-extrativa da comunidade de Pindobal Grande,
permitindo o aprimoramento das transações comerciais dos produtores com os demais
agentes econômicos que atuam junto à comunidade. Assim sugere-se que projetos e ações
institucionais considerem em seu escopo as conclusões e sugestões listadas a seguir.
Ö O baixo nível de escolaridade dos chefes de família se constitui em um ponto fraco
da associação, pois dificulta o acesso a informações e inovações tecnológicas,
limitando conseqüentemente, a execução de modo mais eficiente das atividades de
planejamento, organização e controle da atividade agro-extrativa, o que limita
fortemente a exploração de nichos de mercado que poderiam assegurar maiores
níveis de renda para os produtores.Por conta disso sugerem-se iniciativas de cunho
educacional e de fortalecimento da Associação dos produtores com o fim de
aprimorar os resultados finais tanto econômicos, quanto sociais e ambientais dos
produtores de Pindobal-Grande.
Ö Há um nível moderado de coesão entre os componentes da Associação, o que é um
atributo importante pois permite maior eficiência na busca dos objetivos comuns.
Ö O sistema de produção agro-extrativo opera sem nenhum controle da produção, no
que dia respeito a quantidade produzida, custos de produção, administração e
gestão do processo produtivo. O controle desta variável é condição sumária para o
planejamento da verticalização da produção com o objetivo de gerar maior renda
por meio da agregação de valor.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
HARTMANN, W. D. Levantamento Rápido Rural – LRR. Belém: IBAMA, 1991. 16p.
MITLESWSKI, B. Levantamento Rápido Rural – LRR. Belém: IBAMA, 1994. 18p.
SANTOS, M. A. S. Análise de preços e margens de comercialização na avicultura de
corte paraense. Belém, 2001.
SILVA. I.M.da; SANTOS, M. A. S. FILHO, M. C. S. G.; Diagnóstico sócio-econômico
da associação de produtores Pindobal Grande em Igarapé-Miri/Pa. Belém: SEBRAE/PA,
2003. 18p.
8
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
Download

Produção e comercialização agro-extrativa na Amazônia: o caso da