NATURALIDADE TÁCITA África”214, e solicitava da chancelaria de Lisboa “providências para o transporte desses (...) colonos para a África, o que é extremamente difícil por não haver navegação portuguesa nem directa, entre o Brasil e a África do Sul, e achar-se interrompida a pouca que havia para Dacar”.215 Os portugueses de Salvador não conseguiram transferir-se da Baía para África, ainda que surjam notícias esparsas de imigrantes regressados a Portugal no ano anterior, 1913, e que depois se dirigiram para Angola.216 A embaixada de Portugal no Rio de Janeiro chegou a propor um plano para iniciar a transferência em massa dos seus cidadãos residentes na jurisdição consular baiana.217 A ideia era aproveitar a festa da posse do novo presidente da República, Venceslau Brás Pereira Gomes (1914-1918), marcada para 15 de Novembro de 1914, no Rio de Janeiro, e trazer à costa brasileira, como participante das comemorações oficiais, o navio português Almirante Reis. No regresso, “poderia o cruzador tocar também na Baía, levando um grupo [e] aproando depois, de novo, a uma das colónias de África, onde os desembarcasse, no seu regresso a Lisboa”.218 O plano tomava como precedente o ancoradouro do barco luso Adamastor na baía de Guanabara, nos festejos do aniversário da proclamação da República brasileira, em 1913, quando ofereceu abrigo a imigrantes que pediam para retornar a Portugal. Mas devido ao seu pequeno tamanho, o Adamastor “só levou 21 [retornados] por não ter mais espaço, nem na tolda”.219 De modo geral, o início da Grande Guerra desenhou na Europa um cenário pouco favorável à emigração transatlântica. Ainda que nos locais de origem muitos talvez desejassem partir, as dificuldades para fazê-lo multiplicaram-se no decorrer da luta. A exacerbação dos nacionalismos europeus em dimensão continental imprimiu um carácter inusitado à guerra, que opôs a Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Áustria-Hungria) à Tríplice Entente (Reino Unido, França e Rússia), vencedora do conflito, entre reivindicações nacionais e a insurreição dos 214 Ofício n.º 59-B de Amadeu Ferreira de Almeida Carvalho a Alfredo Augusto Freire de Andrade; Rio de Janeiro, 12.09.1914; EPRJ, correspondência recebida, maço 8, caixa 231, AHD, MNE. 215 Ibidem. 216 Ofício n.º 17-A de Bernardino Machado Guimarães, ministro de Portugal no Brasil, a António Caetano Macieira Júnior, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal; Rio de Janeiro, 29.03.1913; em LPRJ, correspondência recebida, caixa 231, maço 4, AHD-MNE. 217 Ofício n.º 59-B de Amadeu Ferreira de Almeida Carvalho a Alfredo Augusto Freire de Andrade; Rio de Janeiro, 12.09.1914; em EPRJ, correspondência recebida, caixa 231, maço 8, AHD-MNE. 218 Ibidem. 219 Ibidem. 218