Rede das Escolas de Comunicação da Bahia – REDECOM Grupo de Estudos em Jornalismo Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação – Abril / 2002 As últimas notícias do rádio e das redes digitais Raquel Porto Alegre S. Alves1 Introdução Frases curtas, diretas e objetivas. Com um aglomerado de orações interligadas – que possuem geralmente esse formato – surge a notícia radiofônica. Claramente não é simples assim, como parece à primeira vista. O discurso radiofônico exige uma série de cuidados (alguns relatados no decorrer desse texto) para ser estabelecido e concretizado. Da mesma forma são constituídas as notícias de “última hora” disponibilizadas pelos jornais que estão presentes na rede. A chamada notícia “em tempo real” tem de ser rápida, precisa e clara para atingir a um público ávido por informação instantânea. O rádio para propagar notícias, precisa de uma única pessoa que apure a informação, que a escreva e a transforme em discurso escrito/oral/auditivo; e de um outro alguém que a ouça e decodifique sua mensagem. A internet, para fazer o mesmo exercício, precisa, muitas vezes, de um apurador, de alguém para escrever e disponibilizar as informações na rede e de um terceiro alguém que leia e interprete a notícia. A diferença entre os dois dispositivos/suportes é primária. Claro, estamos falando de dois meios completamente distintos. Mas no íntimo dessas duas práticas é possível encontrar proximidades. O que pode haver, então, de semelhante entre o modo de produção das notícias do radiojornalismo e das notícias de última hora dos jornais já ambientados na rede? Para relatar tais proximidades, primeiro começarei pelo modo de produção radiofônico e pela descrição de algumas características do rádio enquanto meio de 1 Jornalista e mestranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia. 1 comunicação. Em seguida partirei para as notícias “em tempo real” disponibilizadas na rede e suas características. Depois de descritos os processos de cada um dos dois suportes, farei uma equiparação. Será analisada, de forma separada, a questão da interatividade em ambos os meios. Por fim serão tratadas as diferenças básicas existentes entre o rádio e a rede. O radiojornalismo e as últimas notícias Como ponto de partida utilizarei o exemplo que se segue: A vinheta sinaliza a entrada do repórter que anuncia: “o Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, acaba de manter em 18,5% a taxa básica de juros brasileira, sem viés”. A notícia, advinda do autofalante de um aparelho de rádio ecoa pelos quatro cantos. Da recepção da informação, à entrada do repórter na programação da emissora não se deve ter passado mais do que cinco minutos (quando muito). De uma forma bem resumida, é dessa maneira que se dá a notícia radiofônica que chega a milhares de ouvintes todos os dias. Mas antes de a informação ser transmitida pelo repórter, ela, certamente, teve de passar por um trabalhoso, porém, quase instantâneo processo de produção. Como descreve, Eduardo Meditsch (2001:101) as emissoras de rádio traçam estratégias e táticas para tomar conhecimento, apurar, produzir e apresentar as informações mais pertinentes a cada momento. A jornada diária de um repórter de rádio começa como a de qualquer outro jornalista dos diferentes meios de comunicação. Apurar a informação é, em qualquer veículo, a primeira etapa do processo de noticiabilidade de um fato. Só que para o repórter de rádio esse tempo de apuração tem de ser o menor possível. O profissional necessita ser rápido, preciso e cuidadoso para levar a notícia correta ao ar o quanto antes. Isso se deve à característica de instantaneidade do rádio. Seguindo ainda a posição de Meditsch, “o ideal de instantaneidade dos meios eletrônicos faz com que o momento da apuração das informações seja o mais próximo possível da sua divulgação. Fatos com maior proximidade temporal, em relação aos deadlines principais, recebem maior destaque, por reafirmarem ao público esse potencial do veículo” (2001:104). 2 Vencida a etapa de apuração, o repórter recebe o desafio de escrever um texto que deverá ser lido/falado posteriormente (ele pode também, se achar mais conveniente, apenas apontar palavras-chave para um discurso improvisado). A dificuldade que acompanha o discurso do rádio informativo, desde que surgiu, é encontrar uma maneira de expressar, de forma sonora, um conteúdo que tomou forma originalmente na tecnologia impressa. No início, tão logo surgiu, o radiojornal procurou reproduzir as características da imprensa. Como descreve Meditsch (1999:114), “a linguagem do radiojornalismo foi pensada naturalmente como uma nova forma de apresentação da mesma mensagem escrita. Tudo o que era dito ao microfone deveria ter sido escrito antes, tanto como modo de controle de conteúdo quanto como garantia de correção”. Analisando o discurso do rádio em tempos mais recentes, Cabello chama a atenção para o fato de que “a construção do texto radiofônico exige, além de certa dose de correção gramatical, adequação técnico-lingüística concernente à estrutura do rádio” (1999:15). Para que a mensagem do veículo seja facilmente compreendida e visualizada mentalmente (o rádio é tido por alguns autores, dentre os quais Meditsch e Camargo, como um veículo de informações invisíveis) pelo ouvinte, quase que de forma instantânea (como, nesse caso, impõe o rádio), são necessárias algumas adequações. A construção do discurso radiofônico, como definem alguns autores, requer o uso de um estilo próprio, escrito/oral/auditivo. Camargo (cit. in Cabello) afirma que “o texto tem uma única chance de ser ouvido. Com isso, deve explorar sua única oportunidade de emissão ao criar imagens mentais, que projetem as palavras; e ao criar as idéias, frases, situações, o conteúdo deve ser claro e expressivo, que, praticamente, não exija esforço do ouvinte”. Em função dessas características próprias do suporte, é importante estar atendo às condições de tempo, dinâmica, melodia, sons complementares e às estruturas gramaticais do texto da notícia do rádio. Para Cabello (1999:21,22), que descreveu cada um desses conceitos, o tempo se refere à velocidade da fala. “Os textos devem ter em média de seis a oito linhas para serem considerados ‘enxutos’”. Já a dinâmica, segundo a autora, está ligada à ênfase da frase, aos elementos estilísticos, às pausas, às alternações rítmicas etc. A melodia caracteriza-se pela seleção de palavras eufônicas. “A construção adequada do texto, em termos de seleção de palavras, é indispensável. De preferência usa-se a forma singular e conjuntos que soem harmonicamente, evitando-se cacofonias”. Sons 3 complementares são as declarações e os testemunhos que, conforme coloca Cabello, só ampliam os dados. Por fim, as orações que compõem o texto devem seguir a ordem direta para uma formação adequada do discurso radiofônico. A ordem direta, sob a ótica gramatical, propicia uma melhor compreensão da mensagem. O ideal é que o texto tenha sempre frases que possuam sujeito, verbo e predicado explícitos. Sempre nessa ordem se possível. Além disso o uso de frases curtas, bem pontuadas, que evitem o uso constante de vírgulas, também se faz necessário. O texto deve ainda, de preferência, começar com o lead da notícia. É preciso dar valor à novidade para tornar o fato o mais atraente possível. Tudo pela fácil e rápida compreensão da mensagem. Seguindo a mesma linha cognitiva, Armand Balsebre, em sua análise, propôs que a linguagem radiofônica não se restringe apenas à palavra. “Se constitui de sistemas expressivos da palavra, da música e dos efeitos sonoros” (1994:24). Para Balsebre, nenhum dos sistemas expressivos isolados dão conta da produção de sentido no rádio. No entanto, ele reconhece a importância fundamental da palavra para o discurso. “Instrumento habitual de expressão direta e veículo da nossa socialização, a palavra é indispensável no conjunto da linguagem radiofônica” (1994:33). Balsebre chama a atenção também para o caráter estético-comunicativo do rádio. Para o autor o veículo não pode ser visto apenas como meio de comunicação. Ele deve ser utilizado e divulgado como um meio expressão, já que conjuga funções diversas como serviço, “companhia”, ambiente musical, informação. Voltando ao modo de produção do texto radiofônico, toda medida adotada para a elaboração da mensagem a ser dispersa auditivamente, tem um único objetivo: fazer com que o ouvinte não “perca” a mensagem da notícia do rádio. Aliás, essa é uma ameaça constante, já que o exercício de ouvir rádio dificilmente é exclusivo. Castells (1999: 358,359) observa que “ser ouvinte da mídia absolutamente não se constitui uma atividade exclusiva. Em geral é combinada com o desempenho de tarefas domésticas, refeições familiares e interação social. É a presença de fundo quase constante, o tecido de nossas vidas. (...) A mídia, em especial o rádio e a televisão, tornou-se o ambiente audiovisual com o qual interagimos constante e automaticamente.”. De fato Castells está absolutamente certo. Nos impressos, o leitor é obrigado a dispensar um tempo determinado para ler o texto disponível, já que tem em mãos a notícia; no caso da televisão, o telespectador, que conta com o auxílio das imagens e do som para a 4 decodificação das mensagens, é seduzido pelo visual, pelo show quase real; e no caso do rádio, o ouvinte dispõe apenas do som para “visualizar” a notícia. Por não possuir suportes visuais que auxiliem o ouvinte na interpretação do fato que lhe está sendo colocado, é que o rádio não monopoliza a atividade de quem o ouve. Além de não possuir essa característica, o rádio é um veículo que pode ser solicitado a qualquer momento, a qualquer hora do dia ou da noite. Graças ao seu fluxo2 de produção, esse é um veículo constante. As pessoas que acompanham as emissoras não estão preocupadas com a programação, com as microestruturas. O que é interessante para o ouvinte é a macroestrutura, que pode ser sintonizada a qualquer momento, em qualquer lugar. Para finalizar a descrição do rádio e das informações de última hora desse suporte, citarei o conceito de linearidade. Roger Fidler (1997:47) descreve que toda forma de domínio audiovisual coloca seus conteúdos de forma seqüencial ou linear. “Telespectadores ou ouvintes não podem seguir em frente, ver ou ouvir o que vem adiante numa programação ou alterar de forma individual uma seqüência”. Seguindo o pensamento do jornalista americano, rádio é de fato um veículo linear. Ele possue uma programação que não pode ser alterada, atrasada ou adiantada pelo receptor. Cabe ao ouvinte aguardar as informações que estão por chegar. A grande imprensa na rede e as notícias “em tempo real” Para descrever o processo de produção das chamadas notícias “em tempo real” das redes digitais, vou recorrer ao mesmo exemplo utilizado no item anterior. Vale ressaltar que tanto o processo vivido pelos profissionais de rádio, que já foi descrito, quanto o que será relatado aqui são reais. Ambos os exemplos foram presenciados durante minha permanência no Banco Central enquanto setorista da Rádio CBN, em Brasília. No auditório do Banco Central o diretor do Comitê de Política Monetária anuncia: “ao final de dois dias de reunião, o Copom considerou pertinente manter em 18,5% a Selic, a taxa básica de juros brasileira. E não há previsão de tendências para baixo ou para cima”. 2 O conceito de fluxo foi desenvolvido por Raimund Williams que tratou da natureza dos meios tecnológicos, em especial a televisão. 5 Quase que de forma instantânea, os repórteres “do tempo real”, como são conhecidos, que já estavam com seus telefones celulares pregados aos ouvidos, ligados às suas redações, transmitem a notícia a um redator de plantão. Esse, por sua vez, tecla e disponibiliza imediatamente a informação em um microcomputador que vai, em questão de segundos, enviar a notícia à rede. Esse é, em geral, o processo de fabricação das chamadas notícias em “tempo real” que são disponibilizadas pela grande mídia já ambientada no ciberespaço. Obviamente, nem sempre o processo é esse, já que redatores e arquivistas também apuram notícias da própria redação e, ás vezes, utilizando a própria rede. Como observa Recio (1999:77) agora as possibilidades de se apresentar uma notícia mais compacta são maiores: “Poderíamos pensar que não existe uma notícia para uma só pessoa, sendo que a informação é trabalhada de forma conjunta. Nela participam além do redator, o documentalista que cobre a área e os leitores, que até o momento são passivos”. Esse é um dos produtos diferenciados oferecidos pelos grandes jornais que disponibilizam também suas edições diárias na internet: as notícias “em tempo real”, como são metaforicamente classificadas. Presentes num território multifacetado e heterogêneo, disponíveis a toda hora, essas notícias são espécies de “pílulas” de informação. Elas são curtas, rápidas, objetivas e dinâmicas. Buscam atender a um público impaciente, que não pode perder tempo. É o usuário das redes que vive a angustia constante pelo dinamismo das informações que são dispostas à tela do microcomputador. O processo de apuração da notícia “em tempo real” também é a primeira etapa da produção da informação da rede. Para os repórteres desse tipo de jornalismo, a apuração também tem de ser quase imediata. Não só pelo imediatismo que o ciberespaço impõe e cobra, mas também, e principalmente, pelo fato de a concorrência entre os grandes jornais ser grande. A briga pelo “furo” é constante entre eles. Gouazé e Ferreira observam que apesar das limitações técnicas, os jornais abrem um novo nicho de concorrência em relação ao tempo de apresentação da notícia. “Uma sensação de que a notícia chega a tela ao mesmo tempo da realização do fato. O serviço ‘últimas notícias’, geralmente com indicação da hora e minutos de sua chegada, é uma demonstração de tal ambição temporária”. Depois de apurada a informação, o jornalista, conforme foi ilustrado anteriormente, deve passar a mensagem para o redator que irá disponibilizar texto na rede. Um texto que deve ter obrigatoriamente os conhecidos elementos do lead – o que aconteceu, em que 6 lugar, quando, com quem e por que. Isso se deve à rapidez com que a informação tem de ser processada e, por conseqüência disso, ao breve espaço disponível para essas informações. A notícia deve também chamar a atenção do leitor. Caso contrário ela não será acessada. Mas não se trata apenas de texto, o jornalismo no ciberespaço reúne uma multiplicidade de significantes. Ele se articula por meio de palavras, imagens, seqüências sonoras, páginas, documentos complexos, que dão suplementação à informação. Tudo pela atenção do usuário das redes digitais. Um outro aspecto da notícia de última hora da internet é que ela se torna defasada muito rapidamente – o que também acontece no radiojornalismo. Recio (1999:78) verifica que “este tipo de jornalismo está vivo, não termina morto em um papel, ele é feito constantemente a cada vez que vão aparecendo novos dados”. É que os fatos não páram. Se uma notícia foi dada, em primeira mão, às oito horas da manhã; às cinco e meia da tarde o conteúdo dela já pode ter sofrido alterações significativas em função do seu desdobramento. De qualquer forma, a primeira informação disponibilizada na internet sobre a mesma notícia continua armazenada no ciberespaço, na memória viva dos jornais que estão na rede, para quem quiser acessa-la. Isso mostra que o público desse tipo de informação não está preso a nenhuma microestrutura. Ele procura a macroestrutura, a rede, a imprensa digital. O usuário, habituado a visitar páginas de grandes jornais, procura a última informação. Dificilmente alguém procura uma notícia defasada. É a macroestrutura, o bloco de notícias de última hora, atualizando constantemente e que não pára, o alvo desse público. Pode se dizer então que o fluxo das notícias de última hora é “amarrado”, ou seja, é estruturado de forma a dar a informação a qualquer hora. Um outro fato interessante do jornalismo em rede é que as informações disponibilizadas pelas agências noticiosas podem também ser alteradas pelo próprio centro de documentação dos jornais. Dependendo do fato, os arquivistas podem providenciar o histórico de tal situação ou pessoa e coloca-lo na rede. “Um dos trabalhos do jornalista de informação eletrônica é completar a informação com o centro de documentação”, coloca Recio (1999:78). Essa complementação de informações normalmente se dá com o uso de um dispositivo próprio do ciberespaço: o hipertexto. Depois que a informação compactada vai para a rede, os profissionais dos centros de documentação trabalham na complementação das notícias utilizando essa ferramenta. De acordo com Lévy, 7 “tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós interligados”. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos.(...) Finalmente, um hipertexto é um tipo de programa para a organização de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação”(2001:33). A heterogeneidade da estrutura discursiva ou as matérias significantes, do hipertexto em geral, e do jornalismo no ciberespaço em particular devem ser levados em conta pelo estudo que busca descrever o posicionamento discursivo desse meio. Em função dessa característica própria – o hipertexto – pode-se classificar o discurso das notícias urgentes da rede como não lineares. Apesar de o ciberespaço ser um domínio audiovisual (como propunha Roger Fidler, toda forma de domínio audiovisual coloca seus conteúdos de forma seqüencial ou linear) o discurso disponibilizado à tela pode seguir trilhas diferentes dependendo dos questionamentos despertados no leitor. Um exemplo: se o usuário que acessou a notícia sobre a nova taxa Selic quiser informações sobre quem são os integrantes do Comitê de Política Monetária do Banco Central ela vai seguir um caminho totalmente adverso daquele leitor que acessou a mesma informação e quer saber quais serão os impactos causados nos mercado de câmbios em função da nova taxa adotada. Dessa forma fica evidente que as informações estão na rede e podem ser acessadas de forma não linear. Uma outra forma de se chegar a informação da nova taxa básica de juros brasileira é acessar o comentário de um economista que a certa altura de seu discurso fala da nova porcentagem. Dentro do texto dele pode haver, então, uma ligação para a notícia advinda do Banco Central. Equiparação – as semelhanças As descrições dos dois sistemas, modos de produção, acima dispostas, explicitam por elas mesmas, as diferenças e semelhanças entre o rádio e a rede – no que diz respeito às notícias de última hora. Portanto esse item e o que se segue irão apenas fazer apontamentos para tornar mais clara a equiparação. 8 Por mais que estejamos tratando de dois veículos distintos, de formas de produção, a princípio, adversas e de suportes diferentes, rádio e ciberespaço, possuem particularidades em comum no que diz respeito às notícias de última hora. A primeira delas é o texto dos dois meios de comunicação. Ambos, rádio e rede, procuram disponibilizar para seus ouvintes e usuários textos curtos, rápidos e objetivos. A idéia é colocar a notícia com rapidez para o receptor (ambos os meios são imediatistas em função dos suportes). O quanto antes a notícia chegar, mais eficiência tem o veículo. Esse sempre foi o objetivo do rádio informativo: levar ao ouvinte o fato cada vez mais rápido, cada vez mais próximo de seu acontecimento. A grande imprensa levou para o ciberespaço a mesma proposta. Como classificou Meditsch (2001:226) quem sai das faculdades dominando a linguagem do rádio se adapta muito mais facilmente tanto à expressão audiovisual quanto ao texto utilizado na internet. “Os grandes sites de notícias estão copiando das redações de radiojornalismo o seu modo de produção – desde o serviço de radioescuta até a edição em fluxo contínuo – porque ninguém como o rádio tinha antes o know how de trabalhar com informação jornalística em tempo real” Independente do veículo, a apuração de uma informação, como já foi dito, é o primeiro passo para a idealização de uma notícia. Mas no caso do rádio a apuração sempre foi um processo quase que instantâneo, em função da velocidade que o veículo exige do repórter. No caso das agências de notícia em tempo real o modo de apuração também tem se apresentado da mesma forma. Os repórteres estão cada vez mais primando pela urgência. Esse era e é o modo de produção do radio informativo. Será que a grande imprensa, que oferece serviços em tempo real está, de fato, copiando o modelo do radiojornalismo, como propõe Meditsch? Se está ou não, é delicado definir. O fato é que as agências noticiosas da internet já se tornaram concorrentes das emissoras da rádio informativo. O rádio, que estava acostumado a pautar os demais veículos, vê-se agora, freqüentemente, pautado pela internet. A tabela (1) que se segue resume os itens que aproximam os modos de produção do radiojornalismo e das notícias em “tempo real” do ciberespaço. 9 Tabela 1 Rádio Apuração Texto Imediatismo Instantânea Curto e direto Presente Fluxo Contínuo voltado para a macroestrutura Ciberespaço Instantânea Curto e Presente objetivo Contínuo voltado para a macroestrutura Interatividade A interatividade não poderia deixar de ser um subitem à parte. Ela, que sempre foi uma das mais fortes características do rádio, está presente também no ciberespaço. Eis aí mais uma particularidade em comum de ambos os meios de comunicação. Seguindo os estudos propostos por Mielniczuk (2000:124), “a interatividade não pode ser vista meramente como um acontecimento técnico. Mesmo não a considerando um aspecto revolucionário do jornalismo on line (...) não se pode deixar de considerar a relevância da interatividade para este tipo de jornalismo”. É que com a interatividade, o jornal em rede, conseguiu estabelecer uma forma de conexão mais rápida com seu leitor. Graças ao correio eletrônico foi possível mediar o contato entre produtor e receptor. O rádio, por ser um equipamento barato e de grande alcance, é considerado um veículo bastante popular. E essa característica é reforçada por permitir a participação do público dentro da sua programação. Isso ocorre principalmente nas emissoras de entretenimento, que têm programações que giram em torno de música e comportamento. Dentro da rádio informativa, há também a participação do ouvinte, mas com um pouco mais de cuidado. Não é usual, por exemplo, colocar, no ar, ao vivo, comentários e reclamações de ouvintes sem uma prévia seleção. Se não for ao ar ao vivo, a participação da audiência pode ser exibida por meio de gravação, por meio da leitura de cartas ou fax e também por meio da leitura de correios eletrônicos, graças à interface com a internet. O 10 rádio é um veículo que já nasceu interativo e a relação com a internet só veio reforçar essa característica. Equiparação – as diferenças A grande adversidade entre os dois veículos é o suporte. Enquanto o rádio se apóia em ondas eletromagnéticas, em um sistema analógico e, mais recentemente, em um sistema de transmissão digital, via satélite; o ciberespaço se manifesta por meio das redes telemáticas que dão sustentação ao meio digital. Sob a ótica técnica, essa é a diferença básica. Praticamente e esteticamente falando, a diferença está no modo como as mensagens em ambos os meios são dispostas. O rádio oferece um dispositivo auditivo e oral. Enquanto a rede um meio audiovisual. A linearidade é segunda diferença entre rádio e rede. No rádio os ouvintes não podem seguir em frente, ouvir o que vem adiante na programação ou alterar de forma individual uma seqüência. Isso, conforme o conceito formulado por Fidler (1997:47) e, de certa forma, contrapondo-o, já não acontece na rede. No ciberespaço, o usuário pode, conforme sua própria vontade, ler as informações da forma que julgar mais conveniente. Ele pode, por exemplo, começar a ler as informações mais antigas para depois chegar às mais recentes. A “navegação” fica a cargo do próprio usuário. Considerações finais A proximidade entre o rádio e a rede, no que tange o modo de produção das notícias de última hora, deixa claro que a interface entre os dois meios de comunicação é inevitável. Tanto o é, que já acontece: emissoras de rádio já estão inseridas nesse novo sistema eletrônico de comunicação. Estações de rádio informativo e de entretenimento já se fazem presentes na rede mundial de computadores. Porém ainda precisam descobrir formas de diferenciação no novo meio. Não basta apenas estar presente, é preciso oferecer algo mais para ser notado nesse mar de informações. A aproximação de ambos os meios é sadia e só tem a acrescentar aos profissionais que trabalham tanto com o rádio informativo quanto com as notícias “em tempo” real da 11 internet. Como aponta Castells, “a integração potencial de texto, imagens e sons no mesmo sistema – interagindo a partir de pontos múltiplos, no tempo escolhido (real ou atrasado) em uma rede global, em condições de acesso aberto e preço acessível – muda de forma fundamental o caráter da comunicação”. 12 Bibliografia BALSEBRE, Armand. El Lenguaje Radiofónico. Madrid: Ediciones Cátedra,1994. CABELLO, Ana Rosa Gomes. A expressão verbal na linguagem radiofônica. In DEL BIANCO, Nélia R. & MOREIRA, Sônia V. (orgs). Rádio no Brasil: tendências e perspectivas. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999. CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. A sociedade em rede. Volume 1. 5ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 1999. FIDLER, Roger. Mediamorphosis. Califórnia: Pine Forge Press, 1997. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Ed. 34, 1993. MEDITSCH, Eduardo. O rádio na era da informação. Teoria e técnica do novo radiojornalismo. Florianópolis: Insular, Editora da UFSC, 2001. __________________. A nova era do rádio: o discurso do rádio jornalismo como produto intelectual eletrônico. In DEL BIANCO, Nélia R. & MOREIRA, Sônia V. (orgs). Rádio no Brasil: tendências e perspectivas. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999. __________________. O ensino do radiojornalismo em tempo de internet. In MOREIRA, Sônia V. & DEL BIANCO, Nélia (orgs). Desafios do rádio no século XXI. Rio de Janeiro: EdUERJ, INTERCOM, 2001. MIELNICZUK, Luciana. Interatividade como dispositivo do jornalismo on line. In GOMES, Itânia; MIELNICZUK, Luciana; OLIVEIRA, Augusto & SANTOS, Suzy (orgs).Temas em comunicação e cultura contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2000. ORTRIWANO, Gisela. A informação no rádio. Os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus, 1985. RECIO, Juan Carlos Marcos. La documentación electronica en los medios de comunicación. Madrid: 1999. 13