9 772358 022003
ISSN 2358-0224
São Paulo, Ano I, n. 02, MAI./aGO. de 2014
O ser humano
é um capital que
pode ser gerido?
Espaço Ética
REvista
Educação, Gestão e Consumo
Família: gerar e gerir pessoas
Autor: José Ulisses Leva
O homem: entre a coisificação
do capital e a unidade física e
espiritual
Autor: Robert Gonzales Jr
O capital humano: um olhar
baseado no budismo de Nitiren
Daishonin
Autor: Luiz dos Santos Vieira
Marques
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Educação, Gestão e Consumo
Família: gerar e gerir pessoas
José Ulisses Leva1
Introdução
Para responder à proposta apresentada pela revista na sua segunda edição – “É possível gerir pessoas?” –, articulei uma possível
resposta tendo como referência a Família. A Família é lugar adequado
para gerir pessoas? A Família busca parceria com a Igreja e a Universidade para gerir pessoas? A Família e a Universidade geram valores
às pessoas que estão sob sua responsabilidade? A Família, célulanúcleo da Sociedade, administra e transmite os valores e princípios
universais?
Gerar na Família
Na Família, de fato, aprendemos nossas primeiras noções teórico-práticas e vivenciamos as nossas primeiras reações (LEVA, 1996). Sendo neto
de imigrantes italianos, fui a fundo para descobrir minhas origens.
No centenário da chegada dos LEVA às terras bandeirantes
e no sexagésimo aniversário da Festa em Louvor a Nossa Senhora da Penha, introduzida pelos ZECHINEL, no bairro rural
Cachoeira dos Martins, município de Monte Alto, apresento
“Famiglia Zechinel Leva”, como memória resgatada, registrada e perpetuada, compreendendo a formação do povo
1 Mestre em Teologia Dogmática pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e
doutor em História Eclesiástica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Itália). É professor de
História Eclesiástica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail: [email protected]
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paulista, a História da Imigração Italiana e mostrando ao
mundo hodierno e à posteridade o caráter, a conduta e o
valor dessa bravíssima gente (LEVA, 1996, p. 5).
Carinho eterno e inestimável aos meus antepassados e reconhecimento dos valores humano-cristãos recebidos dos meus pais. Objetivamente, na Família encontramos um canteiro favorável para exercitar o
que aprendemos. No Dicionário Houaiss achamos a definição para o verbo
gerar: “dar existência ou origem; fazer nascer” (HOUAISS, 2004, p. 1446).
Entendemos que fazer nascer significa vir ao mundo, mas, também, significa oportunizar conhecimentos e aprendizagem. Portanto, nascemos na
Família e em Família aprendemos gerenciar as noções básicas que atuam
no conjunto da Sociedade.
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Gerir valores e princípios éticos
O Dicionário Houaiss apresenta o verbo gerir com as seguintes definições: “administrar; dirigir, cuidar de um negócio; proceder como alguém;
nutrir” (HOUAISS, 2004, p. 1447). A Família administra e cuida das pessoas,
e essas passam a dirigir e cuidar dos seus próprios negócios. Assim dizemos que o que aprendemos em Família também nutrimos e administramos
na Família, na Empresa e na Sociedade. Saindo das Famílias, muitos jovens
ingressam nas Universidades gerindo o que em suas casas aprenderam
como valores. “A Faculdade de Teologia produz os ensaios teológicos e protagoniza o diálogo com a sociedade em transformação [...] A Universidade
é composta na pluralidade das ideias e na diversidade de opiniões” (LEVA,
2014, p. 166-167).
Gerenciar princípios éticos aprendidos e apreendidos
Gerenciar significa “dirigir empresa, negócio, serviço; desempenhar
função de gerente; organizar em conjunto” (HOUAISS, 2004, p. 1446). Na
Família em que somos gerados, recebemos as noções de princípios éticos.
Podemos assim dizer que esses mesmos valores apreendidos nos laços familiares utilizaremos em quaisquer lugares em que estivermos e atuarmos,
seja numa empresa, num negócio como gerente ou no conjunto de uma
organização.
Até quanto as Famílias influenciam a Sociedade? Até quanto a Sociedade influencia as Famílias? Como gerir pessoas, com princípios éticos,
nos espaços sociais onde pouco se valoriza a Ética? Podemos sonhar uma
Sociedade com valores e princípios éticos universais? Como pensar nas famílias que não valorizam valores e princípios e não possuem espaços para
preparar seus pares?
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Acredito no papel da Família e no desempenho que ela proporciona
quando chamada a gerir pessoas. Valorizo, também, o papel da Igreja e
da Universidade, convocadas a guiar os homens através do conhecimento
e do valor dado aos princípios éticos. Mesmo e apesar dos conflitos nas
Famílias e nas Universidades, elas são canal imprescindível na formação
humano-afetiva dos seres humanos. Estudando caso a caso e chegando à
maturação oportuna, devemos entender gerir pessoas como alcance possível a todos.
Conclusão
Somos homens e mulheres do nosso tempo. Somos gerados nas Famílias para perpetuar e gerenciar o que acreditamos e vivemos. A Família, a Igreja Católica e a Universidade devem promover parceria para o
bem comum na Sociedade Contemporânea. “A Teologia na PUC-SP não
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somente se expressa, mas está em sintonia com alunos de todas as Faculdades que compõem a Universidade, trabalhando e produzindo argumentos científicos para o bem da Sociedade” (LEVA, 2014, p. 168).
Partindo do pensamento cristão e do ambiente de produção técnica,
falamos da Família e da Universidade como bens fundamentais para gerir pessoas. Sugerimos dizer, também, que é imprescindível promover a
pessoa em qualquer situação em que ela nasce e é educada. Mantenho o
firme propósito de um ambiente familiar e um campus universitário para
gerir pessoas, ao mesmo tempo, pensando em todos e quaisquer outros
ambientes de laços afetivos e instrumentais de conhecimento. A Família e
a Universidade devem sempre exercer o papel de parceria e de inclusão.
Não devem jamais proporcionar a exclusão de quem quer que seja.
Referências bibliográficas
Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
2004.
LEVA, J. U. Famiglia Zechinel Leva. São Paulo: Loyola, 1996.
______. A teologia católica e a ética no consumo. In: Revista Espaço
Ética, ano I, n. 1, p. 164-169, jan./abr. 2014.
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