CONCLUSÕES O Rio de Janeiro é o Estado brasileiro que apresenta as maiores taxas de densidade demográfica e de urbanização do País, além da maior concentração populacional no município da capital e na Região Metropolitana em relação ao total estadual. Embora o Rio de Janeiro tenha crescido nos últimos 20 anos a taxas inferiores às brasileiras – 1,15% a.a. entre 1980 e 1991 e 0,93% a.a. entre 1991 e 1996, contra 1,93% a.a. e 1,36% a.a. do Brasil, nos dois períodos, respectivamente – a evolução da distribuição dos municípios fluminenses, segundo classes de tamanho, mostra que a concentração da população estadual nas cidades de maior porte é crescente e a maior entre os Estados brasileiros. Em 1996, eram 21 municípios com mais de 100 mil habitantes, quatro deles com mais de 500 mil, e localizados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ). Essa região abrigava mais de 75% da população do Estado numa concentração sem similar no país. Dentre os nove municípios fluminenses com população superior a 250 mil habitantes, apenas dois não pertenciam à metrópole, Campos dos Goytacazes e Petrópolis. O município do Rio de Janeiro sozinho abrangia, em 1996, 54% da população da Região Metropolitana e 41% da população estadual. Os dez maiores municípios em população eram também os dez mais importantes na formação do PIB estadual. A economia fluminense sempre apresentou pouca articulação espacial e uma frágil integração produtiva. Com forte presença do setor terciário, graças à condição de capital federal até 1960, o crescimento econômico se ressentiu da separação entre a capital metropolitana e o interior. A produção estadual, historicamente, concentrava-se na cidade do Rio de Janeiro e em alguns municípios da Baixada Fluminense, estimando-se que, ainda hoje, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro seja responsável por cerca de 80% do PIB estadual. A dinâmica do desenvolvimento econômico do Estado do Rio de Janeiro continua marcada pela concentração das atividades industriais e terciárias no núcleo metropolitano. Essa tendência, entretanto, pode ser alterada em função da localização dos novos investimentos SEADE 207 anunciados para o Estado, pois quase metade dos novos investimentos industriais aprovados estão localizados fora do Grande Rio. Em 1998, de acordo com o IPEA, o Rio de Janeiro, segunda maior economia do País, registrava um Produto Interno Bruto (PIB) de, aproximadamente, R$85,7 bilhões, representando 11,1% do PIB total da Região Sudeste e 18,6% do PIB total do País (IPEA), atrás apenas do Estado de São Paulo. Essas participações apresentaram ligeira redução desde 1985 quando eram, respectivamente, 11,7% e 19,8%. A estrutura de produção fluminense está centrada principalmente no setor de serviços, responsável por 73,4% do PIB do Estado, 12,8% do total nacional e 21,5% do total da Região Sudeste. A análise da evolução dos setores na composição do PIB do Rio de Janeiro entre 1985 e 1998 mostra que a participação do setor de serviços cresceu aproximadamente 10%, em contraposição à redução de quase 10% da participação da indústria, que representa 10% do total brasileiro e 15,1% da Região Sudeste. A agricultura, que já tinha um pequeno peso na composição do PIB carioca em 1985 (1,8%), também perdeu espaço, caindo para 1,2% em 1998. A participação da agropecuária no Produto Interno Bruto está muito abaixo dos demais setores: 1,5% no total do Brasil e 4,2% no da Região Sudeste. A evolução do emprego formal no Estado do Rio de Janeiro, de 1986 a 1997, sofreu diminuição de aproximadamente 230 mil postos de trabalho, mesmo sendo criados 41.365 novos estabelecimentos. Em 1986, a média por estabelecimentos era de 19,1 ocupados, caindo para 13,8 em 1997, portanto um crescimento de estabelecimentos muito maior que o de postos de trabalho, que pode ser decorrência de três fatores: criação de micro empresas, mudança de gestão e emprego maior de tecnologia. Na indústria de transformação, pelo menos quatro segmentos (indústria metalúrgica, indústria do material de transporte, indústria do papel, papelão, editorial e gráfica, e indústria química de produtos farmacêuticos) apresentaram crescimento do número de estabelecimentos, no período de 1986 a 1997, sem aumento do pessoal ocupado. Isso pode ser conseqüência do maior uso de tecnologia e das alterações na forma de gestão, para a SEADE 208 redução de custos. Os ramos de serviços industriais de utilidade pública e construção civil também cresceram em número de estabelecimentos mas diminuíram o número de pessoal ocupado. Os setores de serviços e comércio tiveram crescimento tanto de estabelecimentos como de postos de trabalho, embora com redução na média de pessoal ocupado por estabelecimento. Os segmentos de administração pública direta e autárquica, serviços de alojamento, alimentação, reparo, manutenção, etc. e instituições de crédito, seguros e capitalização apresentaram redução no número de pessoal ocupado, entre 1986 e 1997, mas apenas o de administração pública apresentou queda em número de estabelecimentos nesse período. O exame dos dados de evolução das ocupações e do emprego, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), no período entre 1992 e 1999, mostra que o aumento da população ocupada no Estado do Rio de Janeiro ocorreu, principalmente, pelas atividades relacionadas a serviços, as quais apresentaram as maiores taxas de crescimento no período entre 1992 e 1999. Os segmentos de serviços auxiliares e serviços sociais, embora não estejam entre os que mais empregam, apresentaram as maiores taxas anuais de crescimento no período analisado. O pessoal ocupado (PO) em atividades não-agrícolas nas áreas urbanas cresceu tanto na Região Metropolitana quanto fora dela. Todos os segmentos que obtiveram taxas de crescimento anual do PO positivas, no período de 1992 a 1999, estão ligados ao setor de serviços. Entretanto, fora da Região Metropolitana, não apenas as atividades de serviços apresentaram crescimento, como também os ramos da indústria da construção e outras atividades industriais. Apenas os ramos da indústria de transformação e da administração pública apresentaram taxas de crescimento negativas entre 1992 e 1999. A análise da dinâmica da população do Estado do Rio de Janeiro determina a necessidade de se concentrar os equipamentos fixos de educação profissional sobretudo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Isso não SEADE 209 significa, contudo, que as demais regiões do Estado devam permanecer desassistidas na oferta dessa modalidade de educação. No entanto, nesses casos, a instalação de novos equipamentos de educação profissional ou até a ampliação da capacidade de atendimento daqueles já existentes devem levar em conta, ao mesmo tempo, o grau de concentração urbana da localidade ou região a ser atendida, bem como a vocação econômica específica de cada uma delas. No caso particular das instalações de educação profissional fixas destinadas exclusivamente à atividade industrial, vale considerar que boa parte dos novos investimentos previstos para o setor deve ser direcionada para fora da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Dadas as características peculiares da distribuição da população pelo território do Estado do Rio de Janeiro e levando-se em conta sua pequena dimensão física, deveria haver a possibilidade de se oferecer educação profissional de nível básico ou mesmo cursos de qualificação profissional que integrassem planos de curso de habilitações profissionais para a população do interior do Estado a partir de estruturas móveis ou, então, instalações e equipamentos já existentes nas comunidades, em articulação com instituições educacionais ou assistenciais interessadas na promoção social da população. A análise da atividade econômica no Estado do Rio de Janeiro registra de forma inequívoca a preponderância da participação da prestação de serviços na composição do PIB estadual, pois a atividade agropecuária é pouco expressiva e a atividade industrial encontra-se, hoje, fortemente concentrada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, como foi visto anteriormente. Ao se imaginar as áreas profissionais a serem atendidas por programas de educação profissional no Estado do Rio de Janeiro para os setores industrial e de prestação de serviços, deve-se levar em conta a diversidade das atividades econômicas desenvolvidas e simultaneamente as características regionais bastante particulares da economia fluminense. Como foi mostrado, o Rio de Janeiro é um dos Estados onde a agricultura tem baixíssima participação no total do PIB. Com exceção da olericultura e da fruticultura na região Serrana, predomina uma agricultura de baixo padrão tecnológico no Estado: em 1995, somente 11% dos estabelecimentos SEADE 210 possuíam tratores, 51% usavam fertilizantes e 32% realizavam controle de pragas e doenças em suas lavouras. Apenas 31% dos estabelecimentos tinham assistência técnica e quase 24% do total de estabelecimentos usavam técnicas de irrigação. O Estado do Rio de Janeiro é um dos menores em superfície (0,5% do território nacional), tem uma topografia bastante acidentada e áreas agricultáveis relativamente menores que as dos demais Estados. Essa topografia acidentada, com poucas áreas contíguas, limita o cultivo intensivo e a mecanização da produção agrícola. As principais culturas empregadoras de mão-de-obra na agricultura fluminense são a banana e a cana-de-açúcar (quase 70% do total). A agricultura pouco modernizada é caracterizada pela grande presença de culturas alimentares, muitas de subsistência, como arroz, feijão, mandioca e milho, que respondem por 15% da demanda de mão-de-obra e da área total cultivada. Das demais atividades, o café e a laranja são importantes na ocupação de mão-de-obra agrícola, porque juntas demandam, aproximadamente, 18% do total de EHA, embora tenham participação de apenas 7,0% na área total cultivada. O Estado apresenta uma produção agropecuária diversificada, com cultivos tradicionais de baixo dinamismo, como a cana-de-açúcar, cereais (milho, arroz e feijão) e alguns segmentos da produção animal (pecuária de leite e pescado) ao lado de uma produção dinâmica em expansão, como a olericultura, a fruticultura e a criação de pequenos animais (avicultura de corte, suinocultura, entre outras). A heterogeneidade das formas de produção está associada aos desequilíbrios regionais, pois há regiões que concentram a produção mais dinâmica e tecnicamente modernizada, como os hortifrutigranjeiros da região Serrana; regiões que são alvos de intensa especulação imobiliária e conseqüentes conflitos agrários, como as da Baía de Ilha Grande, dos Lagos e da Baixada Fluminense; outras que combinam ociosidade da terra e decadência rural, como o Noroeste; e regiões com predomínio da pecuária extensiva, como o Vale do Paraíba e a região de Campos, onde a atividade açucareira praticamente faliu. As regiões Noroeste e do Vale do Paraíba já tiveram grande importância econômica, com o auge da produção cafeeira no SEADE 211 século passado, e a região de Campos, com a cana-de-açúcar neste século. Essas regiões fizeram investimentos significativos em infra-estrutura e malha urbana, que foram se desmantelando à medida que a cafeicultura se deslocava para São Paulo e a produção da cana perdia dinamismo, provocando um rastro de devastação ambiental e esvaziamento econômico e populacional do interior do Estado. Uma outra característica da agricultura fluminense é o baixo grau de integração do setor agroindustrial com a produção agropecuária, voltada fundamentalmente para o abastecimento do mercado de produtos in natura na Região Metropolitana. As empresas da indústria agroalimentar se abastecem em grande parte por importações de outras unidades da federação. Na região Serrana, as habitações de lazer e veraneio vêm ocupando progressivamente áreas agrícolas, conferindo-lhes um alto valor de mercado. Em decorrência da expansão do turismo rural, houve a ampliação do mercado de trabalho, temporário ou permanente, advinda do crescimento do setor de serviços e da proliferação de novas atividades produtivas, como pousadas, pesque-pagues, artesanatos, industrialização caseira, etc. A especulação imobiliária tem levado pequenos produtores a se desfazer de suas terras para se tornarem prestadores de serviços de segmentos das classes média e alta urbanas. A população residente nas áreas rurais, engajadas em atividades nãoagrícolas, está superando a população empregada nas atividades agrícolas desde 1993. Enquanto a PEA rural agrícola do Estado apresentou uma retração de 3,7% ao ano, no período de 1992-1999, as atividades nãoagrícolas apresentaram uma tendência de crescimento anual positiva de 2,7%. Em termos relativos, no ano de 1999, as atividades não-agrícolas já eram responsáveis por cerca de 61% da PEA total rural ocupada, enquanto as atividades agrícolas representavam aproximadamente 39%. Os principais ramos de atividades das ocupações rurais não-agrícolas no Estado do Rio de Janeiro são os de prestação de serviços, indústria da construção civil, indústria de transformação, comércio de mercadorias e serviços sociais. SEADE 212 O setor do emprego doméstico, que pertence ao ramo de prestação de serviços, destacou-se como o líder na absorção de postos de trabalhos nãoagrícolas no meio rural fluminense. Outro setor também importante foi o da construção civil, com 17% da PEA não-agrícola do Estado. Em suma, os setores que mais utilizaram mão-de-obra no meio rural no período analisado requisitam baixos níveis de qualificação profissional e de escolaridade. É preciso salientar, no entanto, a existência de alguns setores mais especializados que requisitam mão-de-obra qualificada, como estabelecimentos de ensino público, restaurantes, indústria de transformação (indústria de alimentos incluída) e administração municipal. Num contexto estadual em que o meio rural apresenta-se cada vez mais urbanizado e as atividades não-agrícolas associadas ao turismo e ao lazer encontram-se em franco desenvolvimento, a grande expectativa dos jovens da zona rural é a possibilidade de acesso a um bom ensino médio que lhes dê uma base satisfatória de conhecimentos para futura colocação profissional nas regiões de origem ou mesmo fora delas. As atividades não-agrícolas presentes no meio rural fluminense abrem perspectivas para o emprego de mão-de-obra qualificada, ainda que em quantidade limitada, especialmente para o atendimento de demandas do setor turístico e das atividades associadas ao lazer. Na agricultura, o principal empregador de mão-de-obra qualificada é o setor de produção de olerícolas e frutíferas, além da criação de pequenos animais na região Serrana. Para suprir as necessidades de educação profissional específicas da atividade agropecuária o mais adequado seria a utilização de infra-estrutura de instalações e equipamentos já existentes nas comunidades, a exemplo do que já faz o Serviço Nacional de Formação Profissional Rural - Senar. As informações provenientes da Pesquisa da Atividade Econômica Regional – Paer para a indústria do Estado do Rio de Janeiro, sobre 2.077 unidades locais que ocupam 214.717 trabalhadores, confirmam análises e estudos já realizados que ressaltam o principal aspecto da indústria fluminense: a sua desarticulação. SEADE 213 Com 90% de sua estrutura baseada nas categorias de uso de bens intermediários e bens de consumo não-duráveis (50% só de bens intermediários), ela não consegue se subtrair à dependência de seus dois pilares: a extração e refino de petróleo e a siderurgia. Atualmente, a indústria naval procura se reerguer com a reativação dos estaleiros da Verolme, o que pode trazer novos investimentos para a indústria do Estado, assim como criar a necessidade de serviços e indústrias complementares a essa atividade. Mais relevante, contudo, é a implantação do pólo automotivo em Resende e Porto Real (com a localização das plantas da Volkswagen e da PSA – Peugeot/Citroën), que pode desencadear um grande número de atividades complementares, embora deva se relativizar a importância desse pólo quanto a uma grande geração de empregos, pois tratase de uma atividade altamente automatizada, que emprega mão-de-obra com alta qualificação e inexistente na própria região. Na distribuição regional da atividade industrial, nota-se a extrema importância da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com 70% do número de unidades locais industriais e 66% do emprego do Estado. A estrutura de cada região considerada apresenta diferenças importantes: na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a indústria farmacêutica faz o setor de química e combustíveis atingir um total de 15% do pessoal ocupado da região, em seguida o setor de alimentos e bebidas, com 14%, e o de edição e impressão, 11%. Esse último tem grande peso porque a atividade editorial está concentrada no município (caso das gráficas e das editoras dos grandes jornais), e há ainda com a Casa da Moeda, classificada nesse setor, que tem relevante peso no total de pessoal ocupado. A região do Vale do Paraíba e Litoral Sul é praticamente dominada pelo complexo metalúrgico da região de Volta Redonda: a categoria de bens intermediários (na qual se encontra este complexo) concentra 83% de todo o pessoal ocupado na indústria da região, na metalurgia ou no setor de produtos de metal, exclusive máquinas e equipamentos. Essa participação é muito superior até à do setor de alimentos, tradicionalmente o maior empregador, que representa apenas 7% dos empregos industriais nessa região. Até o momento da realização da pesquisa, a categoria de uso de bens de capital e SEADE 214 de consumo duráveis nessa região (788 empregados, de acordo com os questionários recebidos) era praticamente inexistente, ainda que se considere a recusa da principal montadora da região e de uma sua subcontratada, que totalizavam 350 pessoas ocupadas segundo o cadastro da Paer, em responder à pesquisa. Nas demais regiões do Estado as categorias de uso de bens de consumo não-duráveis e bens intermediários se apresentam como as mais importantes (45% e 47% do pessoal ocupado da região, respectivamente). Em termos de pessoal ocupado, é marcante a presença da indústria extrativa (22% de todo o pessoal ocupado da indústria da região), em virtude, sem dúvida, da presença da Petrobras em Macaé. Também importantes, em número de pessoal ocupado, são as indústrias de alimentos (17%, com a presença ainda forte da região canavieira de Campos, apesar de sua já citada decadência) e de vestuário (15%, a maior parte nas unidades da região serrana). Em número de unidades, destacam-se os setores de vestuário, de alimentos e de minerais não- metálicos, que concentram 20%, 19% e 17% do total de unidades industriais da região, respectivamente. Analisando-se o período de início da operação das unidades industriais do Estado, verifica-se que, apesar da maioria das unidades do Rio de Janeiro terem iniciado suas operações nos anos 90 (33%), grande parte dos trabalhadores está ocupada em unidades instaladas antes de 1970 (44%). As unidades de inserção mais antiga se encontram principalmente na categoria de bens intermediários (47% do pessoal ocupado trabalha em unidades implantadas anteriormente a 1970), mostrando a importância das empresas da fase desenvolvimentista do país (Petrobras e CSN), para a economia do Rio de Janeiro. O destino geográfico das vendas das unidades industriais do Rio de Janeiro indica que o seu principal mercado é o próprio Estado: 71% da receita das unidades industriais provem de vendas para a própria região em que se situa a unidade ou outras regiões do Estado. Em seguida aparece o mercado nacional, que responde por 26% das receitas de vendas e, muito abaixo, o mercado externo, com 3% das receitas de vendas, aí incluído o Mercosul, cuja participação é de apenas metade dessa receita e demonstra sua pouca SEADE 215 importância para as unidades industriais do Rio de Janeiro, ao contrário de outros Estados das Regiões Sul e Sudeste do país. Os indicadores de tecnologia da indústria do Estado do Rio de Janeiro refletem, de forma geral, o desempenho decrescente que o setor vem apresentando ao longo dos últimos anos. Os resultados da Paer mostram uma indústria ainda incipiente na adoção de novos programas de qualidade e produtividade. Os mais difundidos são aqueles de melhoria da qualidade do produto e dos serviços – inspeção final, indicadores de qualidade, gestão e auditoria da qualidade, e sua adoção está fortemente atrelada às novas exigências do mercado, não apenas de preço mas de diferenciais de qualidade do produto, uma vez que requerem, certamente, menores esforços de reorganização da produção e do trabalho e custos mais reduzidos que os de novos métodos de gestão da produção e aumento da produtividade, como justin-time e kaizen. As maiores taxas de difusão da inspeção final nas unidades industriais (27%), comparadas a outros métodos mais sofisticados de controle de qualidade do produto – como gestão da qualidade total e auditoria da qualidade – sugerem que, mesmo na adoção de estratégias para a melhoria da qualidade, ainda não há níveis significativos de modernização. A indústria do Rio de Janeiro conta com um dos menores níveis de automação industrial dos Estados até agora investigados pela Paer: ao todo, apenas 30% das suas plantas informaram ter utilizado, no ano de 99, ao menos um equipamento de automação de manufatura ou de controle de processos, contra um percentual médio de 40% nos demais Estados. Quanto aos recursos humanos ocupados ou demandados para o pessoal semiqualificado ligado à produção, os requisitos variam de nenhuma escolaridade (22% das unidades) ao ensino médio completo (6% das unidades), mas a maior parte (42% das unidades, que empregam 46% do pessoal ocupado nessa categoria) exige a 4a série do ensino fundamental. Os requisitos de escolaridade aumentam de acordo com a qualificação da categoria ocupacional. Para o pessoal qualificado ligado à produção, a exigência também varia bastante entre as empresas: 9% das unidades não SEADE 216 exigem escolaridade para a contratação, 22% delas exigem a quarta série do primeiro grau, 42%, o ensino fundamental completo e 26%, o ensino médio. Para o pessoal administrativo básico, os requisitos de escolaridade são bem superiores aos do pessoal ligado à produção. O principal nível de escolaridade exigido para contratação é o ensino médio completo em quase três quartos das unidades industriais, que empregam 80% destes profissionais, seguido pelo ensino fundamental completo (19% das unidades), com pequena participação de unidades que exigem a quarta série do ensino fundamental ou menos. Para os profissionais semiqualificados a exigência de cursos é uma prática pouco difundida e os de nível básico são os mais exigidos (15% das unidades). Para a categoria de qualificados, a exigência é um pouco maior, permanecendo o curso de nível básico como o mais importante (28%), seguido pelos de curta duração e de nível médio. Para os profissionais de nível superior o perfil se altera e os mais exigidos são cursos de curta duração (46% das unidades). As carências que mais prejudicam o desempenho dos empregados ligados à produção são a falta de conhecimentos específicos da ocupação; dificuldade de comunicação e expressão verbais, dificuldade de trabalho em equipe e falta de capacidade de aprender novas habilidades e funções. São carências de falha tanto na formação básica quanto na formação específica, maiores para o pessoal semiqualificado e qualificado, mas que diminuem conforme cresce a hierarquia, com exceção da dificuldade de comunicação e expressão verbal. A falta de conhecimento de informática, falta de conhecimento de matemática básica, falta de habilidade para lidar com clientes, falta de capacidade de comunicação por escrito e falta de noções básicas de língua estrangeira, são menos prejudiciais aos profissionais qualificados e semiqualificados, todavia mais danosas para o desempenho dos técnicos de nível médio e dos profissionais de nível superior. A análise das carências do pessoal administrativo também indica que, na maioria dos casos, o prejuízo é maior para o desempenho do administrativo básico e dos técnicos de nível médio e menor para a categoria de profissionais SEADE 217 de nível superior, exceto a falta de noções básicas de língua estrangeira para os profissionais de nível superior. Para o desempenho profissional, em todas as categorias, são imprescindíveis os conhecimentos de informática e o trabalho em equipe, pois a alta utilização de computadores e a necessidade de se trabalhar em grupo estão presentes na rotina do pessoal administrativo de qualquer posto. As ocupações com dificuldade de contratação no segmento de bens de consumo não-duráveis mais assinaladas pelas unidades foram as do segmento de vestuário (como alfaiates, costureiros e modistas, cortadores e modelistas de roupas), e de outras como mecânicos de manutenção de máquinas, impressores de off-set e marceneiros. No segmento de bens intermediários as dificuldades mais assinaladas foram as contratação de mecânicos de manutenção de máquinas, operadores de máquinas fixas, gerentes de produção, chapeadores e caldeireiros, trabalhadores de fabricação de produtos de plástico e técnicos de mecânica. As unidades do segmento de bens de capital e de consumo duráveis encontram dificuldade principalmente na contratação de técnicos eletrônicos, mecânicos de manutenção de máquinas (destacando-se mecânicos de manutenção de aparelhos de levantamento), soldadores e oxicortadores, torneiros, fresadores, retificadores e trabalhadores assemelhados (essencialmente torneiros mecânicos), técnicos de mecânica e desenhistas técnicos. Quando se compara a oferta de cursos para o pessoal administrativo e para o pessoal ligado à produção, repete-se o comportamento observado em outros Estados, pois os cursos de métodos e técnicas gerenciais, de relações humanas e de informática são mais oferecidos para o primeiro grupo, enquanto os de operação e manuseio de máquinas e equipamentos e de operação de processos, para o segundo. A Paer pesquisou, nas unidades industriais do Estado do Rio de Janeiro, os tipos de relacionamento mantidos com as escolas técnicas, e com quais escolas. Os tipos de relacionamento mais comuns são os tradicionais, como o recrutamento de profissionais (26% das unidades que empregam 47% do SEADE 218 pessoal ocupado) e de estagiários nas unidades industriais (22% das unidades que empregam 50% do pessoal ocupado). Em seguida, em índices menores, o treinamento de funcionários nas escolas técnicas (13% das unidades), as unidades que contratam serviços técnicos especializados nas escolas (7,5%), auxílio financeiro para as escolas (3,5%), fornecimento de equipamentos e insumos para as escolas (3,1%) e participação da unidade na definição do currículo das escolas (3,0%). O padrão das respostas encontrado no Estado do Rio de Janeiro é semelhante ao encontrado em outras regiões do País. Com relação às categorias de uso, houve maior relacionamento das empresas do segmento de bens de capital e de consumo duráveis, depois das empresas de bens intermediários e, por último, as que menos se relacionam, do segmento de bens de consumo não-duráveis. Outra característica importante é as unidades de porte médio ou grande manterem mais relacionamentos com as escolas técnicas que as unidades de pequeno porte. As unidades industriais do Rio de Janeiro mantêm relacionamento com várias escolas, mas o comum é com as escolas do “sistema S” e do Sebrae. Em seguida, em menor proporção, vêm as escolas técnicas federais, estaduais e municipais, bem como outras escolas. Chama a atenção a elevada proporção de unidades que não mantêm relacionamento com as escolas técnicas, um potencial de expansão que existe para redirecionar os cursos e atender aos interesses e ás demandas das unidades. O relacionamento das unidades com as escolas técnicas federais, estaduais e municipais é do tipo tradicional, restringindo-se ao fornecimento de mão-deobra de funcionários ou de estagiários. Já o relacionamento com as escolas do Sistema S e Sebrae, além das formas tradicionais, também inclui outras modalidades, como treinamento de funcionários nas escolas e, em menor grau, a contratação de serviços técnicos especializados, auxílio financeiro, fornecimento de equipamentos e insumos e participação na definição do currículo das escolas. Os dados mostram que o pessoal ocupado e os assalariados na indústria do Estado do Rio de Janeiro são, em sua maior parte homens (72%), com participação menor da força de trabalho feminina (28%), semelhante à SEADE 219 encontrada em outras regiões do País. A maioria de mão-de-obra masculina ainda prevalece para os assalariados ligados à produção, com 75% dos postos de trabalho. Entre os assalariados não-ligados à produção a participação masculina cai, mas continua predominante, com 61% dos profissionais. A participação da mão-de-obra feminina indica que, na indústria, as mulheres possuem maior inserção nas atividades administrativas, principalmente no administrativo básico, no qual elas representam metade dos postos de trabalho. A pesquisa da Paer do setor serviços foi realizada buscando informações de diversas naturezas sobre as unidades locais com mais de 20 empregados que atuavam no Estado em 1999. Esse levantamento resultou na consolidação de informações para 3.574 unidades, que empregavam 398.828 pessoas nos segmentos de serviços técnicos prestados às empresas, comunicação, atividades de informática e conexas, alojamento e alimentação, transporte, manutenção e reparação, saúde, eletricidade, gás e água e telecomunicações. Em primeiro lugar, é importante destacar o peso dos segmentos mais tradicionais no emprego, como transportes, alojamento e alimentação e saúde, que somados, empregam 69% de todo o pessoal ocupado dentro das atividades pesquisadas pela Paer. As atividades mais modernas e de alto grau de encadeamento com os setores produtivos, como os serviços de informática, os serviços técnicos prestados às empresas e telecomunicações, a par de sua importância estratégica para a atração de investimentos e para o desenvolvimento regional, representam pouco mais de 17% do pessoal ocupado. O segmento de infra-estrutura, composto pelas unidades das empresas de eletricidade, gás e água agregam 11% do emprego e o segmento de comunicação tem peso relativamente reduzido no âmbito da Paer (2,5% do pessoal ocupado), ainda que o Estado do Rio de Janeiro seja reconhecidamente um centro cultural e pólo de distribuição de informações de nível internacional. O segmento de manutenção e reparação, pela expressiva quantidade de pequenas unidades, aparece de forma residual (0,5% do pessoal ocupado). As características dessa estrutura causam fortes impactos sobre os setores na absorção dos empregados segundo as várias categorias ocupacionais. Em SEADE 220 primeiro lugar, nota-se que o segmento de alojamento e alimentação é responsável pela maior parte do emprego dos trabalhadores braçais (43%), proporção ainda maior dos trabalhadores semiqualificados (48%). O segmento de transporte emprega pouco mais da metade de todo o pessoal qualificado (53%) nos serviços pesquisados. Os técnicos de nível médio, por sua vez, estão menos concentrados, distribuindo-se principalmente nos segmentos de saúde, eletricidade, gás e água, transporte e serviços técnicos prestados às empresas; já o pessoal de nível de superior aparece em maior proporção no segmento de saúde (32%) e nos serviços técnicos prestados às empresas (29,5%). O segmento de saúde absorve a maior parte dos empregados alocados em atividades administrativas (24%). O peso das atividades mais tradicionais, sobretudo aquelas vinculadas ao turismo, como alojamento e alimentação, é determinante para apontar as ocupações mais demandadas: cerca de 200 unidades apontaram dificuldades para a contratação de cozinheiros e garçons, 126 para a contratação de recepcionistas, 70 para auxiliares de enfermagem e cozinheiro-chefe, 60 para camareiro de hotel, etc. Interessante notar que, a despeito das altas taxas de crescimento dos serviços tipicamente classificados como modernos, sobretudo na área de telecomunicações (telefonia fixa, celular, transmissão de dados etc.), não houve citações expressivas de dificuldades de contratação para ocupações específicas nesse segmento. Na maioria dos segmentos de serviços, verificou-se uma ampla disseminação de recursos de informática (89% das unidades faziam uso de computadores), e uma significativa proporção de unidades com acesso à Internet (66%). Uma exceção foi o segmento de alojamento e alimentação, para o qual a utilização das novas tecnologias de informação não alcançou o mesmo nível de disseminação encontrada para os serviços em geral, possivelmente em função da expressiva presença de estabelecimentos de serviços de alimentação (lanchonetes, cantinas, restaurantes, etc.) sem recursos de automação, acabando por encobrir os avanços do complexo hoteleiro. Ainda que em menor proporção, o processo de informatização tem sido acompanhado do esforço das unidades em introduzir programas de qualidade SEADE 221 e produtividade: 30% das unidades que empregam 47,4% do pessoal ocupado realizaram esse esforço. No que diz respeito o ISO 9000, 11% das unidades buscaram a obtenção de certificação, a tendência mais forte entre as unidades dos serviços técnicos prestados às empresas e do segmento de telecomunicações. Esse esforço de modernização está em sintonia com a intenção das empresas em investir. A aquisição de equipamentos de informática e telecomunicações é o tipo de investimento mais declarado pelas unidades, seguido pelo treinamento de mão-de-obra, enquanto a melhoria da eficiência e qualidade dos serviços é o objetivo mais visado. Do ponto de vista da distribuição espacial das atividades de serviços, sobressai o peso expressivo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro em todos os segmentos, mas sobretudo naqueles que são complementos para as atividades empresariais: 94% das unidades dos serviços técnicos prestados às empresas e dos serviços de informática encontram-se nessa área. A alta densidade de serviços avançados na RMRJ contribui para a um nível de informatização superior ao das demais regiões: quando analisado o número de pessoas por computador, verifica-se que a média da região é de quatro pessoas por máquina, enquanto na região do Vale do Paraíba é de seis e, nas demais regiões do Estado, 13. Quanto aos requisitos de escolaridade no setor serviços, verifica-se que 14% das unidades, que empregam 17% dos semiqualificados, não exigem nenhum grau de escolaridade; 41% exigem até a quarta série do ensino fundamental; e 34%, o ensino fundamental completo. Apenas 10% das unidades requerem ensino médio completo para contratação. Apesar de ser expressiva a proporção de unidades no segmento de comunicações que não exigem nenhuma escolaridade (28% das unidades), elas empregam uma parcela restrita dos ocupados no segmento (apenas 8%). No segmento de eletricidade, gás e água, por sua vez, a situação se inverte – ainda que 19% das unidades aceitem trabalhadores semiqualificados sem escolaridade, deve-se considerar que elas empregam relativamente mais (pouco mais de um terço do pessoal ocupado no segmento). SEADE 222 A proporção de empresas que não exige nenhuma escolaridade para o pessoal qualificado é relativamente menor (4%) e a exigência de ensino médio completo entre as unidades (37%) aumenta significativamente, sobretudo nos segmentos de comunicação, serviços técnicos prestados às empresas, informática e conexas, telecomunicações e saúde. Para o pessoal administrativo, não há aceitação de indivíduos sem escolaridade e 72% das unidades exigem pelo menos o ensino médio completo. Em relação aos cursos profissionalizantes, são importantes os de curta duração para o pessoal técnico de nível médio e superior. Para os ocupados semiqualificados e qualificados, predomina a necessidade de cursos de nível básico e para os empregados qualificados nos segmentos de informática e telecomunicações, contrariamente à tendência geral verificada para o setor, a exigência de cursos de curta duração aparece em maior proporção que o cursos de nível básico. As características individuais (inatas ou decorrentes do processo de formação escolar) são fundamentais para o exercício das atividades do setor de serviços além do trabalho em grupo e contato com clientes, da comunicação e da matemática básica, que fazem parte da rotina de trabalho em todos os segmentos. Novos fatores, entretanto, vêm influenciar essas rotinas, principalmente aquelas ligadas à informática: o uso de microcomputador, exceto nas atividades do pessoal semiqualificado, têm peso significativo na rotina dos trabalhadores de todas as categorias ocupacionais, mais presente quanto mais elevado for a qualificação dos empregados. Essa última tendência também pode ser verificada no uso de língua estrangeira, mas em proporção menor em todas as categorias ocupacionais e quase inexistente entre os semiqualificados, para os quais, a rotina de trabalho incorpora com maior destaque conhecimentos técnicos atualizados e técnicas de qualidade. Quando se analisam os fatores que prejudicam o desempenho do pessoal ocupado, a falta de noções de língua estrangeira é, novamente, o fator menos problemático entre aqueles de menor qualificação, e o mesmo se dá com a falta de conhecimento de informática, ainda que, SEADE entre o pessoal 223 administrativo, o conjunto de unidades que emprega cerca de 50% desses ocupados aponte deficiências nesse aspecto. As maiores carências no desempenho profissional em todas as categorias, todavia, estão nas áreas sensíveis ao processo de socialização (trabalho em equipe, comunicação verbal, habilidade para lidar com os clientes), formação escolar (funções e capacidade de expressão por escrito e matemática básica) e estoque de conhecimento e aquisição de habilitações (conhecimento específico da ocupação e aprendizado de novas habilidades). No Estado do Rio de Janeiro, há uma fraca interação entre as empresas do setor de serviços e as escolas técnicas, e o relacionamento limita-se aos aspectos mais tradicionais escola-empresa (estágio de alunos e recrutamento). O processo de inter-relação em contratação de serviços técnicos das escolas, participação das empresas na definição dos currículos, fornecimento de equipamentos ou treinamento de professores nas unidades ou auxílio financeiro, é extremamente raro, limitando-se, no máximo, a 10% das unidades conforme a atividade observada. Quanto à distribuição geográfica das unidades de educação profissional voltadas à qualificação de trabalhadores para a indústria, há uma relativa especialização regional do parque industrial fluminense, e, mais uma vez, o alto grau de concentração dessa atividade na Região Metropolitana do Rio de Janeiro sugere que a maior parte da oferta de educação profissional deve estar localizada nessa região. Como seria de se esperar, há grande concentração de atividades do setor de prestação de serviços na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e a maior parte da oferta de educação profissional para este setor deve se concentrar nessa região. A análise feita pela Paer da escolaridade exigidas pelas empresas fluminenses dos candidatos a emprego mostra que, no caso da indústria, os requisitos são menos elevados do que os exigidos pelo setor de serviços, especificamente do pessoal ligado à atividade principal; essas exigências só são semelhantes, e sempre mais elevadas, concentrando-se no ensino médio, SEADE 224 quando comparadas aos requisitos dos candidatos a empregos administrativos, em qualquer um dos dois setores. O comportamento dessa variável determina duas situações distintas e, por sua vez, formas diferenciadas de conduzir a oferta de educação profissional para cada um desses setores e cada uma de suas atividades (atividade principal e apoio administrativo). A prestação de serviços, uma atividade que coloca o profissional em contato direto e pessoal com o cliente, requer de maneira mais evidente as competências atitudinais e os atributos pessoais supostamente desenvolvidos no ensino médio, o que justifica a existência de níveis mais elevados de escolaridade dos candidatos à atividade principal, que os exigidos pelas indústrias para o mesmo tipo de vaga. Já com relação aos requisitos de escolaridade dos candidatos aos cargos de apoio administrativo, são relativamente elevados e semelhantes nos dois setores examinados, pois as competências profissionais exigidas são justamente aquelas consolidadas na etapa final da educação básica, ou seja, o ensino médio. Assim, os responsáveis em definir os pré-requisitos de escolaridade dos candidatos aos cursos de educação profissional ofertados devem considerar os próprios pré-requisitos de admissão de trabalhadores colocados em cada um dos vários segmentos do setor produtivo para tornar mais eficiente o ensino oferecido e evitar eventuais descompassos entre os pré-requisitos das instituições de educação profissional e os praticados pelas empresas, o que poderia se tornar um obstáculo à admissão de egressos de cursos de educação profissional, mesmo qualificados. Ao investigar as rotinas de trabalho e as carências que prejudicam o desempenho dos trabalhadores, a Paer acabou por levantar importantes indicadores para aqueles que têm sob sua responsabilidade a elaboração de currículos e a definição de métodos de ensino de educação profissional. Constatou-se, por exemplo, que as dificuldades de comunicação e expressão verbais, de trabalho em equipe e de aprender novas habilidades e funções afetam de maneira considerável boa parte dos trabalhadores ligados à SEADE 225 atividade principal, em qualquer um dos dois setores examinados, sobretudo no caso dos trabalhadores que das categorias de qualificação ocupacional mais baixas. Tais carências, diretamente relacionadas às competências atitudinais que deveriam ser desenvolvidas pela educação básica, são consideradas estratégicas pelas empresas para que seus funcionários possam adaptar-se à introdução de novas tecnologias e de novas formas de organização do trabalho; adicionalmente, na prestação de serviços a falta de habilidade para lidar com os clientes também foi identificada pelas empresas pesquisadas como uma carência relevante, o que se justifica plenamente, pois uma das características essenciais da prestação de serviços é o relacionamento direto do profissional com o cliente. Uma das providências que poderiam ser adotadas pelas instituições de educação profissional para diminuir o efeito de tais carências entre os egressos de seus cursos, quaisquer que tenham sido seus antecedentes escolares, seria a valorização de métodos de ensino ativos que incluíssem deliberadamente o trabalho em equipe como uma de suas estratégias mais importantes. Sintomaticamente, tais carências são trabalhadores ligados à atividade principal mais relevantes dentre os que dentre seus colegas que oferecem apoio administrativo, em qualquer um dos dois setores examinados, diretamente relacionado aos níveis de escolaridade distintos exigidos pelos empregadores para cada uma dessas duas categorias de funcionários. Outras carências, igualmente importante, são as de capacidade de comunicação por escrito e de conhecimento de matemática básica, ambas também de responsabilidade da educação básica. Competências fundamentais para a formação de um alicerce sólido para a construção de qualquer proposta de educação profissional, bem como para o exercício de toda ocupação no contexto produtivo atual, até mesmo para as categorias de qualificação ocupacional mais baixas, as habilidades de redação e certa desenvoltura para efetuar cálculos matemáticos simples são consideradas pelos empregadores requisitos essenciais a todos os funcionários. SEADE 226 Ainda no âmbito da educação profissional, caso os alunos dos cursos oferecidos apresentem tais deficiências, a melhor maneira de saná-las seria desenvolver competências de forma estritamente instrumental, buscando introduzi-las no perfil profissional a ser alcançado, um objetivo adicional que os cursos propostos deveriam atingir. Finalmente, a carência de conhecimento de informática merece ser destacada quando se examina o seu peso na rotina de ambientes de trabalho, dos dois setores examinados; é verdade que a informática encontra-se bastante disseminada na área administrativa das organizações, quaisquer que sejam os seus portes, o que leva a maior parte dos empregadores a coloca o seu conhecimento como um dos pré-requisitos exigidos dos candidatos aos cargos oferecidos e ao mesmo tempo o apontarem como uma carência importante, mas a informatização da atividade principal ainda não alcançou os níveis que deverá atingir a curto prazo. Assim, além de desenvolver nos alunos dos cursos de educação profissional as competências de informática relacionadas ao conhecimento dos sistemas operacionais, dos softwares de produtividade (como os softwares integrados, que incluem processador de texto, planilha eletrônica, programa de apresentação e banco de dados) e dos softwares de acesso à Internet, as instituições de educação profissional devem cogitar também a inclusão em seus cursos de componentes curriculares que prevejam o desenvolvimento de competências de informática específicas, relacionadas ao uso de softwares de uso exclusivo de determinados segmentos de atividades, como os concebidos para reservas de passagens aéreas, controle de estoques, gerenciamento de máquinas-ferramenta de Computer Aided Design Controle Numérico Computadorizado (CNC), (CAD), edição de textos, tratamento de imagens, processamento de imagens para diagnósticos clínicos, dentre muitos outros. Por último, a Paer investigou o grau de interação existente entre as escolas de educação profissional e as empresas pesquisadas e constatou que a relação entre elas se restringe, na maior parte dos casos, à contratação, pelas empresas, de alunos egressos dos cursos oferecidos pelas escolas, ou então à aceitação dos alunos como estagiários em suas dependências. SEADE 227 Pode-se concluir, então, que as instituições de educação profissional são pouco proativas na busca de integração com o setor produtivo e quando tomam iniciativas nessa direção os resultados se resumem às formas clássicas de parceria. Para que as instituições de educação profissional possam estar mais sintonizadas com as práticas do setor produtivo para o qual elas qualificam a mão-de-obra, é fundamental que escolas e empresas procurem se aproximar cada vez mais a fim de tentar, inclusive, outras formas de colaboração que interessem a ambas as partes e possam resultar em benefícios não apenas para as empresas e para os alunos, mas também para as próprias escolas no aprimoramento continuo do ensino oferecido. Dentre outras, uma estratégia particularmente interessante, porque pode criar vínculos permanentes entre empresas e a escola, é a instituição de conselhos consultivos por área profissional, que funcionariam como órgãos assessores da direção da escola e contariam com representantes do setor produtivo. SEADE 228