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SAÚDE REV., Piracicaba, v. 7, n. 17, p. 1-72, set./dez. 2005
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INSTITUTO EDUCACIONAL PIRACICABANO
Presidente do Conselho Diretor LUIZ ALCEU SAPAROLLI
Diretor Geral ALMIR DE SOUZA MAIA
– IEP
Universidade Metodista de Piracicaba
Reitor
Vice-Reitor Acadêmico
Vice-Reitor Administrativo
EDITORA UNIMEP
Conselho de Política Editorial
Policy Advisory Committee
GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM (e vice-diretor geral do IEP)
SÉRGIO MARCUS PINTO LOPES
ARSÊNIO FIRMINO DE NOVAES NETTO
GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM (presidente)
SÉRGIO MARCUS PINTO LOPES (vice-presidente)
AMÓS NASCIMENTO
ANTONIO ROQUE DECHEN
CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI
CRISTINA BROGLIA F. DE LACERDA
LUIZ ANTONIO ROLIM
NANCY ALFIERI NUNES
NELSON CARVALHO MAESTRELLI
SAÚDE EM REVISTA Helth in Review set./dez. 2005
vol. 7, n.17 “Atividade Física e Saúde” / “Physical Activity and Health”
Coordenação Temática CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI (Mestrado de Educação Física - UNIMEP/SP)
Comissão Científico-Editorial CRISTINA BROGLIA F. DE LACERDA – editora científica (Curso de Fonoaudiologia)
Scientific-Editorial Board CARLOS ALBERTO DA SILVA (Curso de Fisioterapia)
FÁTIMA CRISTIANE L. GOULART FARHAT (Curso de Farmácia)
MARCELO DE CASTRO CESAR (Curso de Educação Física)
MÁRCIA REGINA C. C. DA FONSECA (Curso de Enfermagem)
RINALDO GUIRRO (Curso de Fisioterapia)
VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI (Curso de Nutrição)
Comitê Científico ALBERT - JESUS FIGUERAS SUÑE (Fundació Institut Català de Farmacologia / Universitat
Autònoma de Barcelona, Espanha)
ARTURO SAN FELICIANO (Departamento de Química Farmacêutica /
Advisory Board Faculdad de Farmacia / Universidade de Salamanca, Espanha)
ELVIRA MARIA GUERRA SHINOHARA (Faculdade de Ciências Farmacêuticas / USP-SP)
ESTER DA SILVA (Faculdade de Ciências da Saúde / UNIMEP-SP)
FRAN HARSTROM (Department of Rehabilitation, Human Resources and
Communication Disorders / University of Arkansas-Fayetteville, USA)
ISABELA HOFFMEISTER MENEGOTTO (Curso de Fonoaudiologia / Universidade Luterana
do Brasil-ULBRA / RS)
LÉSLIE PICCOLOTTO FERREIRA (Faculdade de Fonoaudiologia / PUC-SP)
LISIAS NOGUEIRA CASTILHO (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina / USP-SP)
MARIA CRISTINA FABER BOOG (Departamento de Enfermagem – Faculdade de Ciências
Médicas / Unicamp-SP)
MAURO FISBERG (Departamento de Pediatria e Adolescência – Nutrologia / Unifesp-SP)
PEDRO LUIZ ROSALEN (Faculdade de Odontologia de Piracicaba / Unicamp-SP)
RENATA MOTA MAMEDE CARVALHO (Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Terapia Ocupacional / Faculdade de Medicina da USP-SP)
RUI CURI (Instituto de Ciências Biomédicas / USP-SP)
Editor Executivo/Managing Editor HEITOR AMÍLCAR DA SILVEIRA NETO (MTb 13.787)
Equipe Técnica/Technical Team IVONETE SAVINO (secretária)
ALTAIR ALVES DA SILVA (assistente administrativo)
ALEX GARCIA CALMONT DE ANDRADE (bolsista atividade da revista)
REGINA FRACETO (ficha catalográfica)
SUZANA VERISSIMO (edição de texto)
NUNO COIMBRA MESQUITA (revisão de textos em inglês)
Printfit Soluções CARLOS TERRA (coordenação)
WESLEY LOPES HONÓRIO (capa)
ALEX CAMARGO (editoração eletrônica)
JURACI VITTI (revisão gráfica)
SAÚDE EM REVISTA é uma publicação quadrimestral da Editora UNIMEP que traz artigos vinculados ao desenvolvimento científico e tecnológico
nas´áreas de ciências biológicas e da saúde. Os originais devem ser encaminhados à Comissão Editorial da revista, observadas suas normas
para publicação de artigos. As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos seus autores. Os textos são selecionados por processo anônimo de avaliação por pares (blind peer review). Na última edição de cada ano, é publicada a relação do seu corpo de referee. Veja as
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SAÚDE EM REVISTA is published three times a year by UNIMEP Press (São Paulo/Brazil). It contains papers on scientific and technological issues
from biological and health sciences. Editorial norms for submission of articles can be requested to the Editor. Manuscripts are selected
through a blind peer review process. In the last issue of the year, the list of referee body is published. See editorial norms for submission of articles in the back of this journal (Vancouver stile: <www.icmje.org>) or in UNIMEP's site (<www.unimep.br/editora>).
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E-mail: [email protected] / Comissão Editorial: <[email protected]>
Saúde em Revista
Universidade Metodista de Piracicaba
V. 1 • n. 1 • 1999
Quadrimestral / Three times yearly
ISSN 1516-7356
1. Ciências da Saúde – periódicos
CDU – 613/614
saude17_abertura.fm Page 3 Friday, November 25, 2005 11:30 AM
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Com a evolução da ciência e da tecnologia nas últimas décadas, vários estudos científicos
publicados e divulgados em diferentes regiões do mundo apontam que o exercício físico pode atuar
na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida de seus praticantes.
O conhecimento da ciência do esporte, tanto no contexto das teorias da preparação física
como dos fatores fisiológicos, psicológicos, biomecânicos e nutricionais, busca explicações de como
podemos proteger a saúde do atleta, alcançando os melhores resultados técnicos possíveis, com
mínimo esforço e máxima eficiência para realizar suas provas esportivas. Dessa forma, o objetivo
da ciência é atingir uma performance ideal, com o menor gasto de tempo e de esforço possível, sem
que o atleta se depare com graves danos ao seu organismo.
Nesse contexto, o respaldo científico para a prática esportiva é de grande importância aos
seres humanos, já que os resultados que apontam para prática mais saudável dos atletas em seus
treinamentos e competições podem se estender aos praticantes de atividade física, que se orientam
visando à melhoria da qualidade de vida. Além disso, o exercício físico tem sido utilizado na prevenção ou como coadjuvante terapêutico em várias patologias, principalmente nas doenças crônico
degenerativas como diabetes, hipertensão, dislipidemias, obesidade e câncer.
A aplicação de um treinamento sistematizado e de longo prazo provoca alterações significativas tanto nas estruturas como nas funções orgânicas de seus praticantes. As respostas da performance humana estão intrinsecamente ligadas aos programas de preparação física, constituindo
fator extremamente importante para se atingir o(s) objetivo(s) pretendido(s). Sabe-se que os resultados conseguidos na prática esportiva são conseqüências dos fatores hereditários, ambientais, psicológicos, nutricionais e dos programas específicos de treinamento a que são submetidos os
praticantes ou atletas. Dessa forma, um exercício físico, segundo um plano adequado no que diz
respeito à freqüência, volume, intensidade e tipo de exercício físico, pode sem dúvida alguma trazer
benefícios à promoção da saúde para os praticantes que buscam no esporte uma melhor qualidade
de vida.
Dessa forma, este número da Saúde em Revista traz artigos que discutem tal temática, com
vistas a respaldar os profissionais diretamente envolvidos com a prática esportiva e a atividade física
para saúde. Três trabalhos abordam a prática regular de atividade física com o intuito de proporcionar benefícios para qualidade de vida e para a performance motora em indivíduos idosos.
Em continuação, encontram-se nesta edição pesquisas que avaliam a performance respiratória em pacientes. Uma delas analisou a performance ventilatória na obesidade, hoje considerada
em todo mundo como um problema de saúde pública, inferindo altos índices de mortalidade e
morbidade. Outro estudo analisou o efeito do alongamento sobre a mecânica respiratória e ativi-
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dade elétrica dos músculos respiratórios em pacientes com DPOC, com intuito de utilizar essa técnica em um programa de reabilitação pulmonar.
Dois trabalhos aqui publicados abordaram aspectos relacionados à fisiologia do exercício.
Um desses trabalhos experimentais avaliou a participação dos eritrócitos na homeostase da glicemia
em animais submetidos aos efeitos estressores induzidos pelo exercício físico. Outro deles avaliou a
indução de glomerulosclerose, termo morfológico utilizado para designar as doenças renais identificadas pelo aumento de matriz extracelular, que pode ser induzida em situações em que o hormônio do crescimento (GH) se faz presente em concentrações suprafisiológicas, como, por exemplo,
em atletas e indivíduos que utilizam esse hormônio para estimular a síntese proteica, com intuito de
melhorar a performance.
A partir da década de 70, aliado ao desenvolvimento tecnológico, cresce o interesse e as
publicações relacionando exercício físico e promoção da saúde. Um dos aspectos que vem se desenvolvendo consideravelmente, a partir da década de 90, são as pesquisas relacionadas com a resposta
imunológica induzida pelo exercício físico. Atualmente vários estudos têm relatado que o exercício,
dependendo de sua intensidade e de seu volume, e do adequado suporte nutricional, pode promover efeito positivo ou negativo sobre a resistência imunológica de atletas ou praticantes. Um dos
artigos desta edição aborda o efeito da suplementação do aminoácido glutamina sobre a resistência
imunológica em atletas jovens do futebol, que podem ser susceptíveis a infecções das vias aéreas
superiores (IVAS), em virtude da grande exigência física de tal modalidade esportiva.
Assim, é com prazer que publicamos mais este número da Saúde em Revista, que contribuirá com a ciência e com a compreensão de vários aspectos relacionados à prática de exercício
físico, promoção da saúde e qualidade de vida.
CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI
Professora do Núcleo de Performance Humana
Mestrado em Educação Física / Faculdade de Ciências da Saúde, da UNIMEP
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CONTENTS
ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES
7.
13.
21.
31.
41.
Indução de Glomerulosclerose pelo Hormônio do Crescimento
Glomerulosclerosis Induction by Growth Hormone
ENRICO FUINI PUGGINA (UNIMEP/SP); CLÁUDIA JACQUES LAGRANHA (USP/SP);
DONALD FRANCIS SELLITTI (University of the Health Sciences/EUA); SONIA
QUATELI DOI (University of the Health Sciences/EUA) & TÂNIA CRISTINA
PITHON-CURI (UNIMEP/SP)
Efeito do Alongamento sobre a Atividade dos Músculos
Inspiratórios na DPOC
Effects of Stretching on the Inspiratory Muscular Activity in COPD
ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA (UFPE/PE); PATRÍCIA ÉRIKA DE MELO
MARINHO (UFPE/PE); THAYSE NEVES SANTOS SILVA (UFPE/PE); EDUARDO ÉRIKO
TENÓRIO DE FRANÇA (UFPE/PE); CÉSAR AMORIM (Univap/SP); VALDECIR CASTOR
GALINDO FILHO (UFPE/PE) & ARMÈLE DORNELAS DE ANDRADE (UFPE/PE)
Suplementação de Glutamina e Resistência Imunológica em
Atletas de Futebol
Glutamine Supplementation and Immunological Resistance in Soccer
Players
JOSÉ FRANCISCO DANIEL (PUCCamp/SP) & CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI
(UNIMEP/SP)
Participação dos Eritrócitos no Controle Glicêmico do Exercício
Erythrocytes Participation in Glycemic Control of the Exercise
CARLOS ALBERTO DA SILVA (UNIMEP/SP); RINALDO ROBERTO DE JESUS GUIRRO
(UNIMEP/SP); KARINA MARIA CANCELLIERO (UNIMEP/SP) & FABIANA FORTI
(UNIMEP/SP)
Aptidão Física de Mulheres Idosas: estudo a partir de aulas
recreativas de karatê-do
Physical Aptitude of Senior Women: a study developed from karate-do
recreational classes
CASSIANE RODRIGUES; JOÃO PAULO BORIN (UNIMEP/SP); CARLOS ROBERTO
PEREIRA PADOVANI (Unesp/SP) & CARLOS ROBERTO PADOVANI (Unesp/SP)
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47.
Qualidade de Vida e Performance em Idosos: estudo
comparativo
Quality of Life and Performance of Elderly Persons: a comparative study
MARCELO DIAS DE AGUIAR PACHECO (UNIMEP/SP); MARCELO DE CASTRO CESAR
(UNIMEP/SP); ADALBERTO VICENTE DE OLIVEIRA JR. (UNIMEP/SP) & IRIA
APARECIDA STORER (UNIMEP/SP)
REVISÕES DE LITERATURA / BIBLIOGRAPHY REVIEWS
53.
57.
Alterações do Sistema Neuromuscular com o Envelhecimento e
a Atividade Física
Neuromuscular System Changes in Aging and Physical Activity
RAFAEL HERLING LAMBERTUCCI (UNIMEP/SP) & TANIA CRISTINA PITHON-CURI
(UNIMEP/SP)
Performance Ventilatória na Obesidade
Ventilatory Performance in Obesity
ALESSANDRA MONACO RIGATTO (FAG/PR); SILVIA C. CREPALDI ALVES (UNIMEP/
SP); CAMILA BRETAS GONÇALVES; JACQUELINE FERNANDES FIRMO & LUCIANA
MARA PROVIN (FAG/PR)
RESENHA / REVIEW
63.
Efeito Metabólico da Glutamina e da Estimulação Elétrica no
Músculo Imobilizado
Metabolic Effect of Glutamine and Electrical Stimulation in Immobilized
Muscle
AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO IMOBILIZADO
SUBMETIDO À SUPLEMENTAÇÃO COM GLUTAMINA ASSOCIADA OU NÃO À
ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA, DE WANDERLEY ALBINO JUNIOR
KARINA MARIA CANCELLIERO (UFSCar/SP)
67.
72.
Normas para Publicação
Corpo de Consultores 2005
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ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Com a evolução da ciência e da tecnologia nas últimas décadas, vários estudos científicos
publicados e divulgados em diferentes regiões do mundo apontam que o exercício físico pode atuar
na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida de seus praticantes.
O conhecimento da ciência do esporte, tanto no contexto das teorias da preparação física
como dos fatores fisiológicos, psicológicos, biomecânicos e nutricionais, busca explicações de como
podemos proteger a saúde do atleta, alcançando os melhores resultados técnicos possíveis, com
mínimo esforço e máxima eficiência para realizar suas provas esportivas. Dessa forma, o objetivo
da ciência é atingir uma performance ideal, com o menor gasto de tempo e de esforço possível, sem
que o atleta se depare com graves danos ao seu organismo.
Nesse contexto, o respaldo científico para a prática esportiva é de grande importância aos
seres humanos, já que os resultados que apontam para prática mais saudável dos atletas em seus
treinamentos e competições podem se estender aos praticantes de atividade física, que se orientam
visando à melhoria da qualidade de vida. Além disso, o exercício físico tem sido utilizado na prevenção ou como coadjuvante terapêutico em várias patologias, principalmente nas doenças crônico
degenerativas como diabetes, hipertensão, dislipidemias, obesidade e câncer.
A aplicação de um treinamento sistematizado e de longo prazo provoca alterações significativas tanto nas estruturas como nas funções orgânicas de seus praticantes. As respostas da performance humana estão intrinsecamente ligadas aos programas de preparação física, constituindo
fator extremamente importante para se atingir o(s) objetivo(s) pretendido(s). Sabe-se que os resultados conseguidos na prática esportiva são conseqüências dos fatores hereditários, ambientais, psicológicos, nutricionais e dos programas específicos de treinamento a que são submetidos os
praticantes ou atletas. Dessa forma, um exercício físico, segundo um plano adequado no que diz
respeito à freqüência, volume, intensidade e tipo de exercício físico, pode sem dúvida alguma trazer
benefícios à promoção da saúde para os praticantes que buscam no esporte uma melhor qualidade
de vida.
Dessa forma, este número da Saúde em Revista traz artigos que discutem tal temática, com
vistas a respaldar os profissionais diretamente envolvidos com a prática esportiva e a atividade física
para saúde. Três trabalhos abordam a prática regular de atividade física com o intuito de proporcionar benefícios para qualidade de vida e para a performance motora em indivíduos idosos.
Em continuação, encontram-se nesta edição pesquisas que avaliam a performance respiratória em pacientes. Uma delas analisou a performance ventilatória na obesidade, hoje considerada
em todo mundo como um problema de saúde pública, inferindo altos índices de mortalidade e
morbidade. Outro estudo analisou o efeito do alongamento sobre a mecânica respiratória e ativi-
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dade elétrica dos músculos respiratórios em pacientes com DPOC, com intuito de utilizar essa técnica em um programa de reabilitação pulmonar.
Dois trabalhos aqui publicados abordaram aspectos relacionados à fisiologia do exercício.
Um desses trabalhos experimentais avaliou a participação dos eritrócitos na homeostase da glicemia
em animais submetidos aos efeitos estressores induzidos pelo exercício físico. Outro deles avaliou a
indução de glomerulosclerose, termo morfológico utilizado para designar as doenças renais identificadas pelo aumento de matriz extracelular, que pode ser induzida em situações em que o hormônio do crescimento (GH) se faz presente em concentrações suprafisiológicas, como, por exemplo,
em atletas e indivíduos que utilizam esse hormônio para estimular a síntese proteica, com intuito de
melhorar a performance.
A partir da década de 70, aliado ao desenvolvimento tecnológico, cresce o interesse e as
publicações relacionando exercício físico e promoção da saúde. Um dos aspectos que vem se desenvolvendo consideravelmente, a partir da década de 90, são as pesquisas relacionadas com a resposta
imunológica induzida pelo exercício físico. Atualmente vários estudos têm relatado que o exercício,
dependendo de sua intensidade e de seu volume, e do adequado suporte nutricional, pode promover efeito positivo ou negativo sobre a resistência imunológica de atletas ou praticantes. Um dos
artigos desta edição aborda o efeito da suplementação do aminoácido glutamina sobre a resistência
imunológica em atletas jovens do futebol, que podem ser susceptíveis a infecções das vias aéreas
superiores (IVAS), em virtude da grande exigência física de tal modalidade esportiva.
Assim, é com prazer que publicamos mais este número da Saúde em Revista, que contribuirá com a ciência e com a compreensão de vários aspectos relacionados à prática de exercício
físico, promoção da saúde e qualidade de vida.
CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI
Professora do Núcleo de Performance Humana
Mestrado em Educação Física / Faculdade de Ciências da Saúde, da UNIMEP
saude17.book Page 5 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
CONTENTS
ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES
7.
13.
21.
31.
41.
Indução de Glomerulosclerose pelo Hormônio do Crescimento
Glomerulosclerosis Induction by Growth Hormone
ENRICO FUINI PUGGINA (UNIMEP/SP); CLÁUDIA JACQUES LAGRANHA (USP/SP);
DONALD FRANCIS SELLITTI (University of the Health Sciences/EUA); SONIA
QUATELI DOI (University of the Health Sciences/EUA) & TÂNIA CRISTINA
PITHON-CURI (UNIMEP/SP)
Efeito do Alongamento sobre a Atividade dos Músculos
Inspiratórios na DPOC
Effects of Stretching on the Inspiratory Muscular Activity in COPD
ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA (UFPE/PE); PATRÍCIA ÉRIKA DE MELO
MARINHO (UFPE/PE); THAYSE NEVES SANTOS SILVA (UFPE/PE); EDUARDO ÉRIKO
TENÓRIO DE FRANÇA (UFPE/PE); CÉSAR AMORIM (Univap/SP); VALDECIR CASTOR
GALINDO FILHO (UFPE/PE) & ARMÈLE DORNELAS DE ANDRADE (UFPE/PE)
Suplementação de Glutamina e Resistência Imunológica em
Atletas de Futebol
Glutamine Supplementation and Immunological Resistance in Soccer
Players
JOSÉ FRANCISCO DANIEL (PUCCamp/SP) & CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI
(UNIMEP/SP)
Participação dos Eritrócitos no Controle Glicêmico do Exercício
Erythrocytes Participation in Glycemic Control of the Exercise
CARLOS ALBERTO DA SILVA (UNIMEP/SP); RINALDO ROBERTO DE JESUS GUIRRO
(UNIMEP/SP); KARINA MARIA CANCELLIERO (UNIMEP/SP) & FABIANA FORTI
(UNIMEP/SP)
Aptidão Física de Mulheres Idosas: estudo a partir de aulas
recreativas de karatê-do
Physical Aptitude of Senior Women: a study developed from karate-do
recreational classes
CASSIANE RODRIGUES; JOÃO PAULO BORIN (UNIMEP/SP); CARLOS ROBERTO
PEREIRA PADOVANI (Unesp/SP) & CARLOS ROBERTO PADOVANI (Unesp/SP)
saude17.book Page 6 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
47.
Qualidade de Vida e Performance em Idosos: estudo
comparativo
Quality of Life and Performance of Elderly Persons: a comparative study
MARCELO DIAS DE AGUIAR PACHECO (UNIMEP/SP); MARCELO DE CASTRO CESAR
(UNIMEP/SP); ADALBERTO VICENTE DE OLIVEIRA JR. (UNIMEP/SP) & IRIA
APARECIDA STORER (UNIMEP/SP)
REVISÕES DE LITERATURA / BIBLIOGRAPHY REVIEWS
53.
57.
Alterações do Sistema Neuromuscular com o Envelhecimento e
a Atividade Física
Neuromuscular System Changes in Aging and Physical Activity
RAFAEL HERLING LAMBERTUCCI (UNIMEP/SP) & TANIA CRISTINA PITHON-CURI
(UNIMEP/SP)
Performance Ventilatória na Obesidade
Ventilatory Performance in Obesity
ALESSANDRA MONACO RIGATTO (FAG/PR); SILVIA C. CREPALDI ALVES (UNIMEP/
SP); CAMILA BRETAS GONÇALVES; JACQUELINE FERNANDES FIRMO & LUCIANA
MARA PROVIN (FAG/PR)
RESENHA / REVIEW
63.
Efeito Metabólico da Glutamina e da Estimulação Elétrica no
Músculo Imobilizado
Metabolic Effect of Glutamine and Electrical Stimulation in Immobilized
Muscle
AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO IMOBILIZADO
SUBMETIDO À SUPLEMENTAÇÃO COM GLUTAMINA ASSOCIADA OU NÃO À
ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA, DE WANDERLEY ALBINO JUNIOR
KARINA MARIA CANCELLIERO (UFSCar/SP)
67.
72.
Normas para Publicação
Corpo de Consultores 2005
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ENRICO FUINI PUGGINA, ET AL.
ORIGINAL / ORIGINAL
Indução de Glomerulosclerose pelo
Hormônio do Crescimento
Glomerulosclerosis Induction by Growth Hormone
ENRICO FUINI PUGGINA*
Mestrado em Educação Física –
Faculdade de Ciências da Saúde
(UNIMEP/SP)
CLÁUDIA JACQUES LAGRANHA
Laboratório de Fisiologia Celular –
Departamento de Fisiologia e
Biofísica (USP/SP)
DONALD FRANCIS SELLITTI
Division of Endocrinology and
Nephrolgy – Department of Medicine
(Uniformed Services University of the
Health Sciences/EUA)
SONIA QUATELI DOI
Division of Endocrinology and
Nephrolgy – Department of Medicine
(Uniformed Services University of the
Health Sciences/EUA)
TÂNIA CRISTINA PITHON-CURI
Mestrado em Educação Física –
Faculdade de Ciências da Saúde
(UNIMEP/SP)
*Correspondências: Rua Campos
Sales, 299, Centro, 13970-170,
Itapira/SP
[email protected]
RESUMO Glomerulosclerose é o termo morfológico utilizado para designar
as doenças renais identificadas pelo aumento de matriz extracelular. Tal situação condiciona a obstrução da estrutura glomerular e, conseqüentemente, evolução do quadro clínico para insuficiência renal. O fator de
transformação de crescimento beta-1 (TGF-β1) é uma citocina de 25 kilodaltons que atua diretamente no desenvolvimento de glomerulosclerose. Muitas vias de sinalização celular vêm sendo descritas, na tentativa de
compreender o aumento da transcrição de TGF-β1 em células mesangiais.
Existe a possibilidade de moléculas que apresentam sítios de ligação semelhantes ao do TGF-β1, como a Tg (tireoglobulina) e a família de IGFBP’s (proteína de ligação do fator de crescimento semelhante à insulina), atuarem de
modo análogo ao TGF-β1 em células mesangiais. Verificou-se também que a
expressão de tais proteínas pode ser induzida em situações em que o hormônio do crescimento (GH) se faz presente em concentrações suprafisiológicas, como, por exemplo, atletas e indivíduos que utilizam esse hormônio
para estimular a síntese protéica.
Palavras-chave TGF-β1 – TG – IGFBP-3 – MATRIZ EXTRACELULAR – GLOMERULOSCLEROSE.
ABSTRACT Glomerulosclerosis is the term used to designate renal diseases
identified morphologically by an increase in extracellular matrix. This
alteration leads to a collapse of the glomerular tuft and consequent
development of renal failure. Transforming growth factor beta-1 (TGF-β1) is
a 25 kilodalton cytokine that plays a major role in the development of
glomerulosclerosis. Many cell signaling pathways have been investigated to
explain the TGF-β1 increase in mesangial cells. There is the possibility that
molecules presenting linking places similar to those present in TGF-β1, such
as Tg and the insulin like growth factor binding proteins (IGFBP´s) family,
could have similar effects to TGF-β1 in mesangial cells. There is a possibility
that the TGF-β1 expression could be stimulated by the high concentrations
of GH, as in athletes and individuals that use this type of hormone to
increase protein synthesis, for example.
Keywords TGF-β1 – TG – IGFBP-3 – EXTRACELULLAR MATRIX –
GLOMERULOSCLEROSIS.
Saúde em Revista
INDUÇÃO DE GLOMERULOSCLEROSE PELO HORMÔNIO DO CRESCIMENTO
7
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ENRICO FUINI PUGGINA, ET AL.
INTRODUÇÃO
hormônio do crescimento (GH) é uma proteína de 191 aminoácidos em cadeia única,
que possui peso molecular de 22,005 daltons. Esse hormônio é secretado pela glândula hipófise anterior ou adenohipófise e suas ações
estão relacionadas à síntese de proteínas, diferenciação e proliferação celular e, conseqüentemente, crescimento tecidual. A concentração de GH
sérico regula-se por vários fatores – macronutrientes, neurotransmissores e hormônios –, oscilando muito de acordo com o período do dia, o sexo
e a idade do indivíduo.1
A secreção do GH, mediante o seu fator de liberação, é regulada pelo hipotálamo. Este fator é
carreado para a hipófise anterior pelo sistema
porta hipotálamo hipofisário e, quando presente,
estimula a secreção do GH.2 A secreção diária do
GH pode variar de acordo com a situação ou mesmo a condição em que o organismo se encontra –
sabe-se que este atinge seus valores de pico durante o sono e que fatores extrínsecos, como a
atividade física, podem fazer com que seus valores circulantes se alterem positivamente.1, 2 A
concentração sérica do hormônio do crescimento
tende a decrescer 14% a cada década de vida, a
partir dos 30 anos de idade.2
O hormônio do crescimento não atua apenas
por si só nos tecidos do organismo para exercer
seus efeitos no crescimento; este estimula fatores
de crescimento conhecidos como somatomedinas, sendo o mais importante deles o de crescimento de ação semelhante à insulina 1 (insulin
like growth factor -1 – IGF-1). Tais fatores são
produzidos no fígado e nos tecidos e atuam local-
O
mente no sentido de promover o crescimento.3, 4
Além de seus efeitos no crescimento e no desenvolvimento, o GH pode também alterar determinadas variáveis metabólicas, entre elas, o fluxo
de glicose e ácidos graxos para diferentes tecidos
como fontes energéticas. Sabe-se que o GH reduz
a intensidade de utilização de carboidratos e aumenta o aporte de ácidos graxos para a maior
parte das células do organismo, melhorando, assim, o perfil lipídico do indivíduo.3, 5
Atualmente, buscam-se compreender os efeitos
agudos e crônicos do GH em doses suprafisiológicas, no sentido de entender se os efeitos desse hormônio, quando suplementado incorretamente ou
mesmo utilizado sem necessidade, podem revelarse deletérios nos diversos sistemas do organismo.3
Experimentalmente, a administração de GH associa-se ao aumento da síntese protéica.6, 7 Com base
nesse dado, muitos atletas acreditam que o uso de
GH pode melhorar sua performance por meio da
potencialização dos efeitos do treinamento.1
Apesar de a literatura pouco relatar casos de
emprego de substâncias capazes de induzir a síntese protéica e, conseqüentemente, de potencializar a capacidade de realização de gestos
técnicos específicos por atletas, o uso do GH, de
hormônios esteróides e de estimulantes, entre outras classes de substâncias, especialmente por atletas de alto rendimento nas últimas décadas, é de
conhecimento público.8 A utilização de GH vem
se tornando uma estratégia de doping bastante
comum no meio desportivo,1 sobretudo no que
diz respeito a atletas em que a força rápida, a força máxima e a taxa de desenvolvimento de força
constituem requisitos biomotores ao êxito.7
De acordo com Jenkins et al.,1 o uso em gran-
Figura 1. Esquema simplificado da liberação e ação do GH no organismo.
Son o
A t iv id a d e F ís ic a
H ip o tá la m o
G H R H
H ip ó fis e
G H
F íg a d o
e ic a
S ín t e s e P r o t é
A u m e n to d o A p o rte d e
Á c id o s G r a x o s p a r a o s
t e c id o s
A u m e n to d a s re se rv a s d e
g lic o g ê n io
8
IG F -1
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ENRICO FUINI PUGGINA, ET AL.
Quadro 1. Levantamento de artigos relacionados. Os dados refletem os artigos publicados entre os anos de 2000 e
2005 disponíveis no site Entrez PubMed.
TEMA PESQUISADO
GH e exercício
Envelhecimento e suplementação de GH
Esporte de rendimento e
suplementação de GH
NÚMERO DE
ARTIGOS
269
11
0
de escala do GH não se restringe a atletas de modalidades desportivas que requerem grandes
manifestações de força. Atletas de endurance,
como nadadores, ciclistas e maratonistas, também o utilizam, acreditando serem beneficiados
pela síntese generalizada de proteínas promovida
por esse hormônio.9 Tal uso provavelmente originou-se da crença de atletas de que o hormônio
possui não apenas propriedades relacionadas a
performance, mas também por conta da grande
dificuldade de detecção dele pelos métodos antidoping hoje em dia empregados no esporte.10
Embora a administração de GH venha sendo
associada ao aumento da retenção de produtos nitrogenados, à melhora da performance e, conseqüentemente, à melhor realização de gestos técnicos
específicos,11, 12 existem poucos dados na literatura
sobre a sua administração nos diversos sistemas do
organismo de atletas e indivíduos adultos saudáveis.9 Além disso, poucos dados privilegiam os efeitos
agudos do GH nas respostas metabólicas e de performance no exercício subseqüente.10
Recentemente, foram averiguados os efeitos
agudos do GH no aumento do lactato sérico e no
decréscimo na performance em ciclistas.9 Esse
mesmo estudo verificou a performance após quatro horas da administração aguda de GH. Os resultados apontam uma interferência em função
da alimentação duas horas antes do exercício, o
que ocorreu provavelmente por conta da secreção de insulina.
Irving et al. examinaram o efeito agudo do
GH em mensurações metabólicas, durante 30 minutos de atividade física constante, com cinco diferentes infusões desse hormônio. A administração
do hormônio no período pré-exercício não afetou o trabalho total, o gasto calórico e a concentração de lactato. Porém, apresentou redução no
VO2 em intensidade fixa, sugerindo que o GH
pode ser um fator de economia de movimento
(maior performance em intensidade fixa).10
O objetivo deste trabalho foi caracterizar os
efeitos crônicos do GH, quando administrado em
Saúde em Revista
INDUÇÃO DE GLOMERULOSCLEROSE PELO HORMÔNIO DO CRESCIMENTO
concentrações acima da normalmente presente
em nosso organismo (abaixo de 10 μg/mL).4 Para
tanto, realizou-se um levantamento de literatura,
buscando compreender os efeitos de GH e de fatores distais a ele sobre a estrutura renal. Verificou-se que determinados fatores distais ao GH –
TGF-β1, tireoglobulina e IGFBP-3 (insulin like growth binding protein-3) – seriam capazes de atuar
no mecanismo de indução da GS pela transcrição
de TGF-β1, por meio da seqüência de eventos desencadeada pela presença desse hormônio em doses suprafisiológicas.
HORMÔNIO DO CRESCIMENTO, TGF-β1
E GLOMERULOSCLEROSE
“Glomerulosclerose (GS) é o termo utilizado
para designar aquelas doenças renais identificadas
pela presença crescente de matriz extracelular”.13
Tal processo ocorre, na maior parte dos casos, no
mesangium (porção interna da estrutura glomerular) e, quando presente, indica obstrução progressiva da estrutura glomerular e conseqüente
evolução do quadro clínico para insuficiência renal, exigindo tratamento via diálise e, posteriormente, transplante renal.14
O fator de transformação de crescimento-beta
1 (TGF-β1) é uma citocina de 25 kilodaltons que
atua diretamente no desenvolvimento de GS e de
outras formas de manifestação de patologias da estrutura glomerular, incluindo nefropatia diabética e
glomerulonefrite.15, 16 Tal molécula foi inicialmente estudada como fator de diferenciação tecidual,
mostrando, assim, sua capacidade de estimular a
proliferação celular.17 Atualmente, a relevância patogênica do TGF-β1 para o desenvolvimento de
glomerulosclerose está muito bem estabelecida.13,
18, 19
Pelo TGF-β1 ser o mediador central do reparo,15 hipotetizou-se que esse fator de crescimento
pode ter sua regulação aumentada pela expressão
de proteínas produzidas por podócitos, contribuindo, por conseguinte, para esclerose.
Em ratos com redução de massa renal, o acúmulo de proteínas de podócitos resulta de transcapilaridade e conseqüentes lesão, aumento da
expressão de TGF-β1 em podócitos e ativação de
20
TGF-β1 em células mesangiais. O mecanismo de
ação do TGF-β1 no desenvolvimento de doenças
glomerulares ocorre pela ativação de vias SMAD dependente e independente de cascatas de sinalização intracelular. O termo SMAD deriva da redução
dos nomes de ligantes semelhantes ao TGF-β1, primeiramente identificados em Drosophila (Mad) e
9
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ENRICO FUINI PUGGINA, ET AL.
Figura 2. Esquema da ativação da sinalização SMAD pelos receptores dos tipos I e II de TGF-β1.
L ig a n t e
M e i o E x t r a C e l u la r
P
R e c e p to r I
C ito p la s m a
R -S m a d
I II
R e c e p to r I I
R -S m a d
S m ad 4
P
S m a d 6 /7
R -S m a d
R -S m a d
S m u rf 1 /2
P
P
Sm ad 4
N ú c le o
Caenorhabditis elegans (Sma), resultando, em última instância, no aumento de fibrogênese.21
A ativação desses caminhos de sinalização por
proteínas não relacionadas, que conseguem atravessar a membrana capilar glomerular como resultado de lesão da membrana basal glomerular,
ou mesmo geradas endogenamente, pode ser
considerada um fator que resulta em lesão glomerular. Assim, a identificação de proteínas que poderiam mimetizar as ações do TGF-β1 seria um
instrumento de determinação de mecanismos específicos para o aumento da passagem delas ao
meio intraglomerular e início da lesão.20
Muitas linhas de estudos procuram evidenciar
como a produção local de TGF-β1 contribui para a
doença renal, particularmente para o acúmulo de
matriz extracelular que caracteriza GS e fibrose intersticial. Os dados obtidos sugerem, de maneira
geral, que a elevação crônica dos níveis circulantes
de TGF-β1 induz progressiva glomerulosclerose.22
A tireoglobulina (Tg) é uma glicoproteína de
660 daltons, produzida pelas células foliculares
da tireóide e reconhecida como precursora dos
hormônios dessa glândula. Sua concentração
plasmática revela-se relativamente baixa em condições normais (40 ng/mL a 60 ng/mL), porém,
em alguns casos de tireoidite ou de tumor de tireóide, ela pode atingir concentrações mais elevadas. Usualmente, a Tg não é considerada de
relevância funcional na estrutura renal, mas acúmulos dessa glicoproteína na membrana basal
glomerular foram encontrados em casos de glomerulonefrite de complexo imune.23
O IGFBP-3 (41 kilodaltons) é a proteína de liga10
ção mais abundante no soro humano (2,10 mg/L a
5,25 mg/L). Ultimamente, vem sendo estudada
como inibidor de crescimento e indutor de apoptose, e capaz de agir tanto via insulin-like growth
factor (IGF) dependente quanto IGF independente,
acreditando-se que essa insulina pode estar agindo
tanto associada aos IGFs quanto em sua forma livre
no plasma. Quando ligada ao IGF, essa proteína
atua como inibidor do fator de crescimento e, livre no plasma, pode ter seu próprio mecanismo
de ação em alguns modelos celulares.24
O GH contribui para a GS e isso provavelmente ocorre por meio do insulin-like growth factor1 (IGF-1) e dos insulin like growth factor binding
proteins (IGFBPs). No entanto, a maneira como o
GH influi na concentração dos IGFBPs no rim ainda não foi totalmente explicada.25 Já a presença
de TGF-β1, Tg e IGFBP-3 foi observada na estrutura renal por RT-PCR em amostras de tecido renal
de camundongos transgênicos (animais que apresentavam a concentração sérica de GH aumentada
em dez vezes) e não transgênicos para o hormônio do crescimento. Nesse estudo, as moléculas
de TGF-β1 e Tg foram encontradas na estrutura
renal, sendo que o IGFBP-3 não parece ser regulado pelo GH. Os autores propõe a existência de
uma via de regulação própria para cada uma das
moléculas supracitadas em razão do hormônio do
crescimento.18
Ainda de acordo com esse estudo, as moléculas de TGF-β1, Tg e IGFBP-3 mostraram o efeito
dose/resposta para a transcrição de TGF-β1, em
que para quantidades crescentes dessas substâncias as células utilizadas respondiam com intensiSAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 7-12, 2005
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ENRICO FUINI PUGGINA, ET AL.
Quadro 2. Sumário dos resultados encontrados na literatura, na
qual representa diferenças significativas e Ns significa ausência de diferença estatística entre os diferentes grupos.28
Proliferação de Células Mesangiais
Tg
IGFBP-3
TGF-β1
↑
↑
Ns
Transcrição de TGF-β1 em Células Mesangiais
TGF-β1
Tg
IGFBP-3
TGF-β1
↑
↑
↑
dades superiores de transcrição de TGF-β1.18, 26
Tais resultados contrariam os estudos prévios, nos
quais não se observou a relação dose/resposta nos
níveis de expressão de TGF-β1 em células mesangiais de ratos.27 Trabalhos mais recentes demonstraram o efeito dose/resposta do TGF-β1 nas
células que receberam esse tratamento.18, 28
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os mRNAs de TGF-β1, Tg e IGFBP-3 são expressos em tecido renal de camundongos, sugerindo uma possível ação autócrina em adição à
fonte endócrina para essas proteínas regulatórias,
sendo a transcrição de TGF-β1 e Tg significativamente elevada em camundongos transgênicos
para GH.18, 26, 28 O aumento da transcrição de
Tg encontrado em tecido renal de camundongos
transgênicos indica que espécies endógenas de Tg
podem contribuir para a lesão glomerular.18 TGFβ1, Tg e IGFBP-3 apresentam a propriedade de aumentar a expressão de TGF-β1 em células mesangiais de camundongos em cultura, apontando a
possibilidade de essas proteínas atuarem no desenvolvimento da GS pela estimulação da transcrição
desse fator, sendo todo o processo desencadeado
pelo GH.22
Este nosso trabalho, por sua vez, propõe novos rumos no que diz respeito ao desenvolvimento de patologias glomerulares em razão do
hormônio do crescimento por meio da ação indireta dele na estrutura renal. Torna-se imperativo
que tanto os indivíduos que vêm utilizando essa
substância, com fins estéticos ou de performance,
quanto os profissionais da área médica que a
prescrevem com objetivos terapêuticos informem-se acerca de seus efeitos nos diversos sistemas do organismo, em particular no renal.
São necessários mais estudos para se compreenderem os efeitos de diferentes dosagens e
diversos períodos de utilização para melhor programação de esquemas de administração de GH a
indivíduos que necessitam desse hormônio.
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Saúde em Revista
INDUÇÃO DE GLOMERULOSCLEROSE PELO HORMÔNIO DO CRESCIMENTO
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Submetido: 3/nov./2004
Aprovado: 1.º/jul./2005
12
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 7-12, 2005
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ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA, ET AL.
ORIGINAL /ORIGINAL
Efeito do Alongamento sobre
a Atividade dos Músculos
Inspiratórios na DPOC
Effects of Stretching on the Inspiratory Muscular
Activity in COPD
ANA PAULA NASCIMENTO
CUNHA
DA
Especialista em Fisioterapia
Cardiorrespiratória pela UFPE/PE
PATRÍCIA ÉRIKA
MARINHO*
DE
MELO
Departamento de Fisioterapia –
Centro de Ciências da Saúde (UFPE/PE)
THAYSE NEVES SANTOS SILVA
Departamento de Fisioterapia –
Centro de Ciências da Saúde (UFPE/PE)
EDUARDO ÉRIKO TENÓRIO
FRANÇA
DE
Departamento de Fisioterapia –
Centro de Ciências da Saúde (UFPE/PE)
CÉSAR AMORIM
Curso de Engenharia Biomédica –
Departamento de Engenharia
Biomédica (Univap/SP)
VALDECIR CASTOR GALINDO
FILHO
Departamento de Fisioterapia –
Centro de Ciências da Saúde (UFPE/PE)
ARMÈLE DORNELAS
ANDRADE
DE
Departamento de Fisioterapia –
Centro de Ciências da Saúde (UFPE/PE)
*Correspondências: R. Bel. José
Mário de Oliveira, 5.946, Candeias,
54450-070, Jaboatão/PE
[email protected]
RESUMO O objetivo deste estudo foi analisar a mecânica respiratória e a atividade elétrica dos músculos respiratórios após um programa de alongamento muscular em pacientes DPOC. Foram estudados oito indivíduos,
com idade média de 65 ± 6,9 anos, com distúrbio ventilatório obstrutivo
de moderado a grave. Analisaram-se a eletromiografia de superfície
(EMGS), a perimetria do tórax, a pressão inspiratória e expiratória máxima
(Pimáx e Pemáx) e o volume corrente (VC). O programa de alongamento
muscular teve duração de 16 sessões. Para análise estatística foi utilizado o
teste de Wilcoxon. Observou-se diminuição nos perímetros torácicos axilar
e xifoideo, em relação à expiração. Houve aumento no VC (p = 0,034), na
Pimáx e na Pemáx (p = 0,0085 e p = 0,04, respectivamente) e, quanto a
EMGS, constatou-se diminuição significativa no RMS dos músculos trapézio
(p = 0,006) e peitoral maior (p = 0,009). Após o alongamento muscular,
verificou-se maior expansibilidade torácica e diminuição da atividade eletromiográfica dos músculos trapézio e peitoral maior, refletindo melhora
da mecânica respiratória desses pacientes. O resultados sugerem que o
alongamento muscular respiratório possibilitou aumentar a mobilidade torácica e a força muscular respiratória, assim como reduzir a tensão dos
músculos acessórios, sendo, portanto, uma técnica que poderá ser realizada
em programas de reabilitação pulmonar.
Palavras-chave DPOC – ALONGAMENTO MUSCULAR – ELETROMIOGRAFIA DE
SUPERFÍCIE (EMGS).
ABSTRACT The purpose of this study was to analyze the mechanics of
breathing and the electrical activity of respiratory muscles after a muscle
stretching program in COPD patients. Eight patients with the mean age of
(65 ± 6,9 yrs) with moderate to severe obstructive ventilatory disorder were
studied. This study analyzed thoracic perimetry, maximal inspiratory
pressure (MIP), maximal expiratory pressure (MEP), tidal volume (TV) and
surface electromyography (SEMG) before and after a muscle stretching
program with 16 sessions. For statistical analysis, we used the Wilcoxon test.
We observed a reduction in axilar and xiphoid thoracic perimetry, mainly in
expiration and increase in TV (p = 0,034), MIP (p = 0,0085) and MEP (p =
0,04). The surface EMG had significant reduction in RMS of upper trapezium
and pectoral major muscles. After the muscle stretching program we verified
an improvement of thoracic expansion and a reduction in trapezium and
major pectoral tension, which reflects an improvement in the respiratory
mechanics of those patients. According to our results, respiratory muscle
stretching increased thoracic mobility and muscular respiratory pressure, as
well as decreased tension from accessory muscles, thus, it should be
considered a useful technique in pulmonary rehabilitation programs.
Keywords COPD – MUSCLE STRETCHING – SURFACE ELETROMIOGRAPHY (SEMG).
Saúde em Revista
EFEITO DO ALONGAMENTO SOBRE A ATIVIDADE DOS MÚSCULOS INSPIRATÓRIOS NA DPOC
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ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA, ET AL.
INTRODUÇÃO
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
(DPOC) tem por característica a obstrução
lenta e progressiva das vias aéreas,1, 2, 3, 4
promovendo a limitação ao fluxo expiratório5, 6
e o aumento da resistência das vias aéreas,7, 8
além de gerar sobrecarga muscular inspiratória e
aumento da carga elástica, decorrente das mudanças na arquitetura do tecido pulmonar, e do
volume residual do pulmão (hiperinsuflação).9, 10
A hiperinsuflação11, 12, 13, 14 exerce efeito
marcante sobre o padrão de recrutamento dos
músculos respiratórios, podendo alterar profundamente a mobilidade da parede torácica e a atuação dos demais músculos inspiratórios.15, 16
Embora os programas de reabilitação pulmonar
de maneira geral não incluam o alongamento dos
músculos acessórios, este pode vir a ser um meio
de intervenção capaz de colocar em vantagem os
músculos que atuam sobre a caixa torácica, melhorando, assim, o seu desempenho.17
Os efeitos advindos do alongamento muscular
podem ser observados a partir da expansibilidade
torácica, do padrão respiratório, da força e da atividade muscular respiratória, entre outros.18
Quanto à avaliação da atividade dos músculos respiratórios, a eletromiografia de superfície (EMGS)
tem sido utilizada na investigação do funcionamento do tecido muscular19, 20, 21 e reflete a soma
algébrica espacial ou temporal dos potenciais de
ação das unidades motoras ativas (despolarização
do sarcolema) durante a contração muscular, propiciando a obtenção de resultados qualitativos e
quantitativos sobre o funcionamento do tecido
muscular.22
Nesse sentido, este estudo teve por objetivo
analisar a mecânica respiratória e a atividade elétrica dos músculos escaleno, esternocleidomastóideo, trapézio superior e peitoral maior por meio
de perimetria torácica, ventilometria, manovacuometria e EMGS, após um programa de alongamento muscular em pacientes portadores de DPOC.
A
METODOLOGIA
Amostra
Foram estudados oito pacientes do sexo masculino apresentando distúrbio ventilatório obstrutivo de moderado a grave [Volume Expiratório
Forçado no primeiro segundo (VEF1) 32,1 ±
5,7% prev., Capacidade Vital Forçada (CVF) 57,2
14
± 9,6% prev. e relação VEF1/CVF 57,2 ± 11,2%
prev.], com idade média de 65 ± 6,9 anos, clinicamente estáveis durante o período do estudo.
Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa e aprovado de acordo com a resolução 196/96 do CNS (protocolo n.º 198/99 –
CEP/CCS). Solicitou-se o consentimento por escrito dos pacientes, depois de devidamente esclarecidos a respeito do estudo.
Avaliação inicial
Anamnese e exame físico:
• Perimetria torácica: realizaram-se três medidas
em inspiração, repouso e expiração a partir da
linha axilar (ponto de referência: linha axilar), linha xifóidea (ponto de referência: apêndice xifóide) e linha diafragmática (ponto de referência:
linha média entre o apêndice xifóide e a cicatriz
umbilical);
• Força muscular inspiratória (Pimáx) e expiratória (Pemáx): deu-se a partir da capacidade residual funcional (CRF) e a Pemáx a partir da
capacidade pulmonar total (CPT) [manovacuômetro da Marshal Town Instrumentation Industries,
modelo MV-150, USA], efetuando-se as manobras
com os pacientes na posição sentada, utilizando o
clip nasal. Foram feitas três manobras para a verificação da Pimáx e a Pemáx a partir da capacidade pulmonar total (CPT), respectivamente, com
intervalo de um minuto entre elas. Cada manobra era sustentada por um segundo após estabilização do ponteiro. Para registro dos dados,
adotou-se a melhor entre as três manobras;
• Ventilometria (Wright Respirometer Mark 8,
Ferraris Medical Limited, England): mensuraram-se os volumes minuto e corrente, utilizandose máscara facial. A mensuração da ventilometria
realizou-se a partir da posição sentada, com o
paciente respirando tranqüilamente. O volume
corrente era calculado com base no volume minuto e na freqüência respiratória;
• Prova de função pulmonar (Beatrice-EBEM
2000 v.4.1y.): ocorreu segundo o protocolo de
Pereira,23 em que se avaliavam: capacidade vital
forçada (CVF), volume expiratório forçado no
primeiro segundo (VEF1), fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% (FEF 25-75%), pico de fluxo expiratório (PFE) e relação VEF1/CVF;
• Análise da Atividade Muscular (EMG): a eletromiografia de superfície deu-se pelo sistema de
aquisição de dados da EMG System do Brasil,
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ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA, ET AL.
por meio da captação dos sinais mioelétricos a
partir de um módulo de aquisição de sinais biológicos de quatro canais.
Esse sistema de aquisição é composto por: eletrodos ativos com entrada diferencial (PA6020), de
prata pura, com 1 cm2 de área e um amplificador
interno (amplificação de sinal de 1000 X), a fim de
diminuir o efeito das interferências eletromagnéticas
e outros ruídos; módulo condicionador de sinais
(MCS), que prepara o sinal de forma a ser aceito pela
próxima etapa; placa de aquisição de dados localizada dentro do micro (CAD32), de 12 bits para conversão dos sinais analógicos em digitais, com
freqüência de amostragem 1000 Hz anti-aliasing e
com faixa de entrada de ± 5mV e interface amigável
ao usuário (software Aqdados). Esse programa Aqdados permite o armazenamento dos dados em arquivos e o processamento estatístico e matemático
para o tratamento dos sinais por meio da raiz quadrada da média (RMS).
Os músculos avaliados foram o trapézio superior, o esternocleidomastóideo, o escaleno e o peitoral maior, orientando-se a localização dos eletrodos
pelas eminências ósseas e pelo trajeto das fibras
musculares e a afixação deles após tricotomização
e limpeza da pele com álcool. No músculo trapézio superior, o eletrodo encontrava-se no ventre
muscular a 6 cm da base do occipital; no esternocleidomastóideo, no ventre muscular a 5 cm do
processo mastóide; no escaleno, no ventre muscular a 5 cm da articulação esternoclavicular com
mais 2 cm acima dessa marcação; e no músculo
peitoral maior, na altura do quarto arco intercostal
a 3 cm do esterno. Os pacientes permaneceram na
posição sentada durante o registro e em repouso
durante a captação dos sinais.
Para a aquisição dos sinais eletromiográficos
utilizaram-se quatro canais de captação, em que
os quatro eletrodos eram colocados nos músculos
do lado direito e a aquisição realizada durante um
minuto na ordem de milissegundos (ms), repetindo-se o mesmo procedimento no lado esquerdo.
O programa de alongamento muscular constou de 16 sessões, três vezes por semana. Os
alongamentos foram realizados com os pacientes
posicionados em decúbito dorsal, com joelhos
fletidos, reposicionamento da cintura escapular
(rebaixamento) e adução das escápulas e braços,
com o objetivo de prevenir compensações posturais. Os indivíduos foram devidamente esclarecidos a realizar expirações lentas e com os lábios
semicerrados (freio labial), a fim de promover
Saúde em Revista
EFEITO DO ALONGAMENTO SOBRE A ATIVIDADE DOS MÚSCULOS INSPIRATÓRIOS NA DPOC
um padrão desinsuflativo. O alongamento ocorreu durante toda a fase expiratória, levando o
músculo ao comprimento máximo, sendo duas
séries de dez incursões consecutivas para cada
músculo, com intervalo de cinco segundos entre
cada série. Os alongamentos foram desenvolvidos da seguinte forma:
• trapézio superior: paciente posicionado, o terapeuta apoiava-lhe uma mão na região occipital,
realizando a flexão da cabeça para o lado oposto
ao que seria alongado, e, com a outra mão, deslocava-lhe o ombro no sentido crânio-caudal;
• esternocleidomastóideo: paciente posicionado, o terapeuta realizava a flexão com rotação
lateral da cabeça para o lado oposto ao que seria
alongado. Promovia-se o alongamento com
uma das mãos na região occipital e a outra na região superior do tórax, deslocando-a no sentido
crânio-caudal;
• escaleno: paciente posicionado, o terapeuta
apoiava-lhe uma mão na região occipital e a outra na região superior do tórax, promovendo o
deslocamento dos dois pontos de apoio, sendo o
primeiro no sentido superior e o segundo no
sentido inferior;
• peitoral maior: paciente posicionado, com o
braço a ser alongado abduzido, o antebraço fletido e a mão na região occipital, o terapeuta
apoiava-lhe uma mão no terço superior do braço e a outra na região lateral do tórax superior,
deslocando-a no sentido crânio-caudal, seguindo a orientação das fibras musculares.
Os dados foram estudados de forma não paramétrica, pareada, com base no teste de Wilcoxon e analisados por meio do software SPSS
versão 8.0 para avaliação da significância estatística (p ≤ 0,05).
RESULTADOS
Na tabela 1 observam-se os dados referentes
às características da amostra estudada.
Os resultados relativos à perimetria apresentaram uma redução significativa para o perímetro
axilar na inspiração e na expiração (p = 0,029 e
p = 0,009, respectivamente). Em relação ao perímetro axilar em repouso (p = 0,172) e à diferença entre os perímetros em inspiração e expiração
antes e após o tratamento (p = 0,057), não houve diferença significativa.
15
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ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA, ET AL.
Tabela 1. Características do grupo estudado.
PACIENTES
1
2
3
4
5
6
7
8
Média
DP
IDADE*
61
62
59
72
71
72
69
62
66
5,50
CVF**
VEF1**
VEF1/CVF
61
45
60
75
62
57
47
51
57,25
9,66
40,5
29
38
29
36
23
29
33
32,19
5,77
66,4
64,4
63,3
38,7
58,1
40,4
61,7
64,7
57,21
11,21
* Idade em anos; ** valores percentuais em relação ao previsto para a população brasileira.23
16
Força Muscular (cmH2O)
Figura 1. Média da força muscular inspiratória e expiratória
(cmH2O), antes e depois do programa de alongamento (n = 8,
*p = 0,0085 e **p = 0,04).
95
**
Força musc. Insp
*
90
Força Musc. Exp.
85
80
75
Antes
Depois
Figura 2. Média do volume corrente (ml), antes e depois do programa de alongamento (n = 8, *p = 0,034).
*
Volume corrente (ml)
760
710
660
610
560
510
Antes
Depois
Figura 3. Atividade eletromiográfica em RMS (root mean square)
dos músculos trapézio direito e esquerdo, antes e após programa de alongamento (n = 8, *p = 0,006).
Trapézio direito
30
Trapézio Esquerdo
25
20
RMS
No que diz respeito à perimetria xifóidea, verificou-se diferença significativa (p = 0,024) na
expiração, não ocorrendo na inspiração e no repouso (p = 0,342 e p = 0,232). Quanto à diferença entre os perímetros em inspiração e
expiração antes e após o tratamento, houve diferença significativa (p = 0,017).
No referente à perimetria diafragmática, não
houve diferença significativa em inspiração (p =
0,102), expiração (p = 0,172) e repouso (p =
0,155), e sim em relação à diferença entre os perímetros em inspiração e expiração antes e após o
tratamento (p = 0,041). Observou-se também
ganho significativo na força muscular inspiratória
e na expiratória (Pimáx e Pemáx) (p = 0,0085 e p
= 0,04, respectivamente) (fig.1).
Houve diferença significativa no volume corrente (VC) (p = 0,034), entre o início e o término
do tratamento (fig. 2). Em relação aos dados sobre o pico de fluxo expiratório, o volume minuto
e a freqüência respiratória, não houve diferença
significativa (p = 0,361, p = 0,061 e p = 0,155,
respectivamente), quando comparados antes e
após o tratamento.
Quanto à eletromiografia de superfície (EMG),
verificou-se redução significativa no RMS dos
músculos trapézio direito (p = 0,006), trapézio
esquerdo (p = 0,006), peitoral direito (p =
0,009) e peitoral esquerdo (p = 0,006) após o
tratamento (fig. 3 e 4).
Observou-se ganho significativo no RMS do
músculo escaleno direito (p = 0,035), ao passo
que não houve alteração significativa no esquerdo (p = 0,69). O músculo esternocleidomastóideo esquerdo apresentou ganho significativo (p
= 0,035), o mesmo não ocorrendo no lado direito (p = 0,181) (fig. 5 e 6).
15
*
10
*
5
0
Antes
Depois
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 13-19, 2005
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ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA, ET AL.
Figura 4. Atividade eletromiográfica em RMS dos músculos peitoral direito e esquerdo, antes e após programa de alongamento (n
= 8, *p = 0,009 e **p = 0,006).
RMS
30
25
Peitoral Direito
20
Peitoral esquerdo
15
*
**
10
5
0
Antes
Depois
Figura 5. Atividade eletromiográfica em RMS dos músculos escaleno direito e esquerdo, antes e após programa de alongamento
(n = 8, *p = 0,035).
Escaleno Direito
*
30
*
Escaleno Esquerdo
RMS
25
20
15
10
5
0
Antes
Depois
Figura 6. Atividade eletromiográfica em RMS dos músculos esternocleidomastóideo direito e esquerdo, antes e após programa de
alongamento (n = 8, *p = 0,035).
30
*
25
Estern. Direito
Estern. Esquerdo
RMS
20
15
10
5
0
Antes
Depois
DISCUSSÃO
Nos pacientes portadores de DPOC, existem
várias anormalidades relacionadas ao movimento
da parede torácica. Os músculos inspiratórios encontram-se encurtados em razão do deslocamento da posição de equilíbrio do sistema
respiratório, havendo uma diminuição do ar expirado e alterações na habilidade de gerar mudanças de volume, encontrando-se, assim, menor
volume de ar efetivo para as trocas gasosas.2, 15
Nosso estudo observou um maior deslocamento da parede torácica em relação às fases inspiratória e expiratória nos perímetros xifóideo e
diafragmático, após o programa de alongamento.
Saúde em Revista
EFEITO DO ALONGAMENTO SOBRE A ATIVIDADE DOS MÚSCULOS INSPIRATÓRIOS NA DPOC
Além disso, verificou uma diminuição nos perímetros axilar e xifóideo na fase expiratória, possivelmente por conta de um maior volume de ar
expirado.
No que diz respeito à ventilometria, houve
um aumento significativo do volume corrente,
apesar de o VM e a FR não terem apresentado diferenças significativas, o que reflete uma possível
melhora na mecânica respiratória desses pacientes como resultado de um deslocamento mais eficaz da parede torácica.12, 24
Quanto à força muscular inspiratória, Wen et
al.8 e Rochester et al.25 observaram a influência
da fraqueza muscular generalizada e da desvantagem mecânica dos músculos inspiratórios sobre a
obtenção da Pimáx em pacientes com DPOC. Nosso estudo verificou aumento significativo da Pimáx após os alongamentos, sugerindo melhora na
vantagem mecânica, indo de acordo com a lei tensão-comprimento, descrita por De Troyer et al.13
Em seu estudo sobre a atividade eletromiográfica (EMG) por eletrodos de agulhas, De Troyer et
al.9 observaram que os músculos trapézio e esternocleidomastóideo permaneciam silenciosos durante a respiração basal de pacientes DPOC
severos, verificando atividade apenas nos músculos escalenos. Martinez et al.,16 por meio da mensuração das pressões pleural e transdiafragmática
com balões esofágico e gástrico, examinaram a
atuação dos músculos acessórios na respiração
basal de dez pacientes com moderada hiperinsuflação pulmonar. Nosso estudo, por sua vez, avaliou a atividade elétrica em todos esses músculos;
no entanto, apenas o escaleno apresentou aumento da atividade durante a fase inspiratória, o que
se encontra de acordo com o trabalho de Gandevia et al.,26 que utilizaram a pletismografia associada à EMG com eletrodos de agulha.
Em nosso estudo, observamos ainda uma diminuição na atividade dos músculos trapézio e
peitoral, após o programa de alongamento.
Grandi27 menciona, em seu trabalho sobre alongamento muscular, o “relaxamento de estresse”
relacionado à queda da tensão muscular depois
de sessões de alongamento.
O aumento da atividade elétrica dos músculos
escaleno e esternocleidomastóideo pode ser explicado em parte por Maarsingh et al., ao sugerir
que o aumento da atividade muscular após o
alongamento deve-se a problemas técnicos na obtenção dos sinais EMG de superfície, e por De
Troyer et al.,9 que fazem referência à localização
17
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ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA, ET AL.
anatômica desses músculos para enfatizar a interferência na obtenção de sinais EMG por esses eletrodos. Quanto a esse aspecto, Gandevia et al.26
mencionam a contaminação da atividade mioelétrica dos escalenos pela atividade do esternocleidomastóideo e do platisma, o que justificaria
nossos achados.
Ao mesmo tempo, Peche et al.29 e Decramer15 relatam, em seus estudos, a existência de
rara atividade nos músculos esternocleidomastóideos e escalenos em pacientes com DPOC severamente hiperinsuflados. Isso nos faz pensar que
nossos resultados tenham decorrido do aumento
da flexibilidade torácica após o programa de
alongamento muscular,30 em razão do reposicionamento desses músculos15 e, a partir daí, do desenvolvimento de maior atividade muscular.
Observamos ainda a redução dos perímetros
torácicos durante a respiração, o que reflete provável desinsuflação pulmonar após o programa
de alongamento muscular, embora o nosso estudo não tenha realizado mensurações dos níveis de
hiperinsuflação. Ao final do tratamento, os paci-
entes relataram menor sensação de desconforto
respiratório (dispnéia) e maior disposição na realização das atividades da vida diária.
CONCLUSÃO
Este estudo evidenciou mudanças dos perímetros torácicos após o alongamento de alguns músculos respiratórios, levando-nos a refletir acerca
da importância do desenvolvimento de trabalhos
que venham a comprovar a eficácia dessa técnica
(alongamento muscular) sobre a mecânica respiratória dos pacientes com DPOC.
Tais resultados apontaram melhora significativa por meio dos parâmetros utilizados. Nesse sentido, sugerimos novos estudos sobre o assunto
valendo-se de outras metodologias, com o objetivo de propiciar maior aprofundamento científico
para utilização dos alongamentos musculares e
proporcionar maiores benefícios aos pacientes que
apresentam distúrbios da mecânica respiratória.
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Submetido: 10/set./2004
Aprovado: 1.º/jul./2005
Saúde em Revista
EFEITO DO ALONGAMENTO SOBRE A ATIVIDADE DOS MÚSCULOS INSPIRATÓRIOS NA DPOC
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ANA PAULA NASCIMENTO DA CUNHA, ET AL.
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SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 13-19, 2005
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JOSÉ FRANCISCO DANIEL, ET AL.
ORIGINAL /ORIGINAL
Suplementação de Glutamina
e Resistência Imunológica
em Atletas de Futebol
Glutamine Supplementation and Immunological Resistance
in Soccer Players
RESUMO O futebol apresenta grande exigência física, sobretudo para os
atletas mais jovens. O aminoácido glutamina é o principal substrato energético para as células do sistema imunitário e tem sido utilizado por atletas de
resistência e força. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos da suplementação crônica (30 dias) de glutamina sobre o número de células do sistema imunitário e a incidência de infecções das vias aéreas superiores (IVAS)
em jovens atletas de futebol. Iniciaram o estudo 23 futebolistas do sexo
masculino e concluíram 14, com idade de 16 ± 0,55 anos. O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Metodista de
Piracicaba. Para o estudo fez-se contagem dos leucócitos antes e após a suplementação, além de acompanhamento das IVAS e suplementação diária
após treinamento, por um período de 30 dias, de 5g de glutamina ou placebo (amido). Não se observou alteração no número total de leucócitos, no
leucograma diferencial e na incidência de IVAS no grupo suplementado
com glutamina em comparação ao grupo placebo. Concluímos que, em
atletas jovens do futebol, a suplementação com glutamina, por 30 dias após
o treinamento diário, não induziu alteração no número de células do sistema imunitário e na incidência de IVAS, portanto, não apresentou efeitos positivos sobre a resistência imunológica.
Palavras-chave GLUTAMINA – FUTEBOL – SISTEMA IMUNOLÓGICO – INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS.
JOSÉ FRANCISCO DANIEL
Curso de Educação Física –
Faculdade de Educação Física
(PUCCamp/SP)
CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI*
Mestrado em Educação Física –
Faculdade de Ciências da Saúde
(UNIMEP/SP)
*Correspondências: Rod. do Açúcar,
km 156, Vice-Reitoria Acadêmica,
13400-911, Piracicaba/SP
[email protected]
ABSTRACT Soccer demands great physical requirements, especially for
young athletes. The amino acid glutamine is the principal energetic substrate
for immune system cells and has been used by resistance and strength
athletes. The purpose of this study was to determine the effects of chronic
supplementation of glutamine for 30 days on immunological system cells
and respiratory infection intercurrence in young soccer players. Twentythree male soccer players started the study, but only fourteen concluded.
The mean (± SD) age of the subjects was 16 ± 0,55 yr. The study was
approved by the Ethical Committee of the Methodist University of
Piracicaba. For this study, the count of the leukocytes was made before and
after supplementation, as well as the attendance of the RI’s and placebo
(starch). The number of leukocytes and intercurrence of respiratory
infections was not altered comparing both groups. We concluded that in
young soccer players, the supplementation of glutamine for 30 days did not
show positive effects for the immunological system.
Keywords GLUTAMINE – SOCCER – IMMUNOLOGICAL SYSTEM –
RESPIRATORY INFECTIONS.
Saúde em Revista
SUPLEMENTAÇÃO DE GLUTAMINA E RESISTÊNCIA IMUNOLÓGICA EM ATLETAS DE FUTEBOL
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JOSÉ FRANCISCO DANIEL, ET AL.
INTRODUÇÃO
A
glutamina é o aminoácido mais abundante
no plasma, representando cerca de 20% do
total dos aminoácidos, e nos tecidos, constituindo cerca de 60% destes.1 Tem sido utilizada
por atletas de esportes de resistência, como maratonistas, e de força, como halterofilistas, no sentido de promover o anabolismo celular, reduzir o
catabolismo e combater a imunossupressão.2
Aproximadamente 50% dos aminoácidos livres do organismo estão presentes nos músculos,
em razão do seu peso total em relação aos demais
órgãos do corpo. A capacidade do músculo em liberar glutamina é de aproximadamente 42 μmol/
h.3 Em algumas situações estressantes – trauma,
septicemia e câncer, por exemplo – e eventualmente no esforço físico extremo, a concentração
de glutamina pode diminuir substancialmente.4
No plano funcional, a glutamina pode ser utilizada para a gliconeogênese hepática, mas tem
como principais destinos os rins, onde atua na
manutenção do equilíbrio do pH e no processo
gliconeogênico renal.2 É também empregada
como substrato ergogênico para as células do sistema imunitário e os enterócitos. Quando a demanda de glutamina no organismo aumenta, em
especial durante situações de catabolismo intenso, como no jejum prolongado e exercício, o tecido muscular eleva sua produção e liberação,
mantendo os valores elevados no plasma.4, 5
A síntese de glutamina no músculo esquelético é catalisada pela enzima glutamina sintetase,
que atua na reação final, tendo o glutamato como
substrato e usando NH3 como fonte de nitrogênio
e ATP como fonte de energia.
Glutamato + NH3 + ATP
Glutamina + ADP + Pi
Interação entre a glutamina e
o sistema imunitário
A glutamina garante a funcionalidade do sistema imunitário, pois é o principal precursor de
energia e de macromoléculas para o linfócito,5, 6 e
adotada em dietas enterais e parenterais de pacientes hospitalizados e com doenças graves, como
também em pacientes com queimaduras.7, 8
Linfócitos e fagócitos mononucleares agem
em conjunto para responder rapidamente na eliminação de antígenos estranhos, regulando a resposta após esse procedimento. Para tanto,
aumentam a demanda metabólica e a taxa de utilização da glutamina. A taxa de utilização de glu22
tamina por neutrófilos, linfócitos e macrófagos é
similar ou até mesmo maior do que a de glicose,
podendo ser totalmente suprida pelo músculo esquelético e pela dieta. Entretanto, se a taxa de
consumo de glutamina for muito aumentada, ou
se a produção e a liberação pelo músculo diminuir
excessivamente e a dieta permanecer com a mesma concentração desse aminoácido, poderá haver
comprometimento da função imunitária.7, 9
Durante uma infecção e ativação da função
imunitária ocorrem alterações marcantes no metabolismo dos leucócitos, particularmente linfócitos, macrófagos e também neutrófilos. Nessa
situação há elevação no consumo de glutamina
por essas células e, quando tal condição perdura,
ocorre redução nos níveis plasmáticos de glutamina e da massa muscular, causando perda de peso
e caquexia, e induzindo, conseqüentemente, um
agravamento do quadro infeccioso.5, 9, 10
Relação entre exercício, glutamina
e sistema imunitário
Alterações drásticas do metabolismo muscular
podem modificar a taxa de produção/liberação de
glutamina, alterando, assim, a funcionalidade do
sistema imunitário.11 É interessante observar que
exercícios de alta intensidade e de longa duração,
como o praticado por maratonistas12 e corredores
de média e longa distância, apresentam alta incidência de infecções, particularmente no trato respiratório.13 Isso poderia decorrer da alteração na
liberação de glutamina pelo músculo esquelético,
durante a fase pós-atividade física intensa.
Em estudo realizado com maratonistas, observou-se que, após uma prova, a concentração
plasmática de glutamina apresentou-se reduzida
em 20%, na primeira hora. Essa diminuição, bem
como o aumento na concentração de glicocorticóides, em virtude do estresse induzido pelo
exercício, podem contribuir para redução da capacidade de resposta do sistema imune e aumento da susceptibilidade do atleta em adquirir
infecções oportunistas.13 Há evidências de que o
estresse provocado por tais exercícios induz um
aumento no número e na atividade das células do
sistema imunológico,14 que poderiam levar a um
maior consumo e, conseqüentemente, contribuir
para redução da concentração de glutamina circulante.11
Verificou-se que, uma hora após a participação em maratona, as concentrações de glutamina
e de linfócitos revelaram-se significantemente
menores que as concentrações pré-esforço. Nesse
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 21-29, 2005
saude17.book Page 23 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
JOSÉ FRANCISCO DANIEL, ET AL.
estudo, os atletas que beberam 5 g de glutamina
diluídas em 330 ml de água, comparadas com
placebo, apresentaram aumento significativo das
células T nas 16 horas após a prova. No grupo
placebo, passado esse tempo, a concentração dessas células retornou ao nível normal.15
Essa situação de redução na população dos linfócitos, após atividade física intensa, e de provável
ligação com o risco de infecções originou a seguinte relação: pessoas sedentárias teriam risco médio;
as moderadamente treinadas, risco baixo; e aquelas submetidas a treinamentos intensos, risco elevado, podendo elevar-se de acordo com aumentos
da intensidade e do volume do treinamento.14 Tal
ligação entre o volume/intensidade do exercício e
o risco de adquirir infecção foi relacionada com a
diminuição da concentração plasmática de glutamina, resultante do desequilíbrio entre as taxas de
liberação pelos músculos esqueléticos e de captação pelos vários órgãos e células do organismo.11
Imediatamente depois do exercício, durante o
período de recuperação, o metabolismo ainda
permanece elevado, desencadeando um processo
denominado débito de oxigênio. A magnitude e a
duração desse metabolismo elevado são influenciadas pela intensidade do exercício. O débito de
oxigênio pode permanecer por várias horas, porém, em constante declínio, dividindo-se em três
fases: 1. fase rápida, com duração de poucos minutos, suficiente para ressintetizar o sistema ATPCP armazenados e repor os estoques teciduais de
oxigênio (mioglobina e hemoglobina); 2. fase lenta, com duração de aproximadamente uma hora,
em que o lactato é convertido em glicose e glicogênio (gliconeogênese hepática); 3. fase ultralenta, com duração de várias horas, em que se
propõe que a estimulação dos ciclos de substratos
(interconversões de substratos, como proteínaaminoácidos-proteína, por exemplo) seja o fator
responsável pelo débito de oxigênio.16
A utilização de substratos, nesse período, é
determinada pelo consumo de nutrientes. Com a
ingestão apenas de água, ocorre o catabolismo de
proteínas e continua a mobilização de ácidos graxos, utilizados como principal substrato. Havendo o consumo de nutrientes, particularmente de
carboidratos, o anabolismo protéico e a reesterificação dos ácidos graxos são estimulados, passando a glicose a ser empregada como principal
substrato.17
As concentrações de glicogênio e a disponibilidade de glicose mostram-se determinantes nas
Saúde em Revista
SUPLEMENTAÇÃO DE GLUTAMINA E RESISTÊNCIA IMUNOLÓGICA EM ATLETAS DE FUTEBOL
concentrações de glutamina. Quando o glicogênio recompõe-se após o exercício físico, também
a glutamina se encontra em níveis normais.11
A importância da suplementação de glutamina vem sendo estudada em processos envolvendo
respostas imunitárias e inflamatórias.17, 18 Essas
situações caracterizam-se pelo balanço nitrogenado negativo, com elevação das taxas de degradação protéica muscular, e alterações essenciais no
fluxo de glutamina entre os tecidos. A suplementação pode melhorar as funções imunológicas e
intestinais, além de auxiliar o fígado a manter o
metabolismo normal num grande número de situações patológicas.10
Observou-se que a suplementação oral de 5 g
de glutamina, após exercício intenso e de longa
duração, é eficiente para manter sua concentração ao final dele, aumentar a razão dos
linfócitos13 e diminuir a incidência de infecções
nos sete dias posteriores. Nesse caso, o grupo placebo apresentou 51% de incidência de infecções,
ao passo que o grupo glutamina, 19%.13
A suplementação de glutamina tem sido empregada com maior freqüência, especialmente
após sua aprovação por parte dos órgãos de vigilância sanitária de diversos países, incluindo os
EUA e os da Europa. Tal aprovação tem por base
estudos atestando a segurança de sua administração e a isenção de efeitos tóxicos, exceto em indivíduos com desordem hepática severa. A dose de
5 g de glutamina ministrada a corredores de média distância, maratonistas, ultramaratonistas e
remadores, imediatamente após a competição, ou
sessão de treinamento intenso, e duas horas depois, mostrou-se suficiente para diminuir a incidência de infecções nos sete dias posteriores ao
exercício, mas não para alterar os parâmetros de
concentração de glutamina e do número total de
leucócitos em comparação àqueles que receberam placebo.10
Futebol
O futebol caracteriza-se por uma exigência de
corrida que exige velocidade, agilidade, força de
impulsão, flexibilidade, capacidade aeróbia e anaeróbia geral, coordenação e técnica. O futebol
contemporâneo é jogado com predominância da
velocidade e força, devendo-se a estas ser dada especial atenção.19
Durante os jogos, os futebolistas apresentam
grande desgaste físico, que pode ser maior em
atletas mais jovens, pois estes se posicionam e se
deslocam de maneira menos eficiente, em razão
23
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JOSÉ FRANCISCO DANIEL, ET AL.
da posição da bola, que atletas experientes.19 Assinalando os esforços no futebol, por meio da determinação da distância total percorrida pelos atletas,
Campeiz20 observou que, nos profissionais, essa
distância se encontra entre 5,6 km e 8,4 km, em
média, por jogo. Com relação aos juniores, Oliveira, Amorim e Goulart21 verificaram uma distância
entre 7 km e 9 km. Além dessa questão dos jogos,
futebolistas com idade entre 15 e 17 anos normalmente têm atividades físico-esportivas por seis
dias na semana, necessitando de ótima organização do processo de treinamento e recuperação.
Afora o treinamento e a recuperação, a alimentação adequada também é fundamental à saúde e ao
rendimento esportivo, pois uma dieta pobre em alguns nutrientes pode levar a diversos problemas físicos.22
Uma alimentação balanceada em geral atende
às necessidades nutricionais diárias, mas muitos
atletas não conseguem ingerir as quantidades
recomendadas. Nesses casos, cabe a suplementação de determinadas substâncias, com propósitos de complementar a ingestão nutricional.22 A
suplementação dietética também pode ser empregada para retardar o aparecimento da fadiga e
aumentar o poder contrátil do músculo esquelético e/ou cardíaco.23
Tomando por base os estudos descritos anteriormente, o objetivo deste trabalho foi verificar
se a suplementação oral crônica de glutamina, administrada diariamente após o treinamento, seria
capaz de melhorar a resposta do sistema imune
de atletas jovens do futebol.
METODOLOGIA
Para a realização do estudo fez-se contagem
total dos leucócitos circulantes e de seus subtipos,
além de acompanhamento das intercorrências do
sistema imunitário e aplicação de questionário
para inquérito nutricional e suplementação com
glutamina e placebo. Após programadas as atividades, em conjunto com a comissão técnica da
equipe, e na chegada dos atletas para o início da
temporada de treinamentos e jogos, eles foram
esclarecidos sobre o experimento e participaram
espontaneamente, manifestando seu consentimento mediante termo específico. O protocolo
foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIMEP
(proc. CEP/UNIMEP 010/02).
Em seguida, os atletas passaram por uma avaliação clínica e laboratorial pelo médico do clube,
24
o qual incluiu no projeto aqueles que não apresentavam nenhum problema relacionado à saúde.
Tomaram parte inicialmente 23 futebolistas do
sexo masculino, com idade entre 15 e 17 anos,
categoria juvenil, sub 17, de clube filiado e participante de campeonatos organizados pela Federação Paulista de Futebol. Com o passar do tempo,
alguns foram deixando a equipe e, do grupo inicial, completaram o estudo 14 atletas.
Para o início do experimento, eles foram divididos em dois grupos, G1 e G2, cada um deles
com, aproximadamente, o mesmo número de
atletas de cada posição de jogo. Para a suplementação, utilizou-se L-glutamina em pó aromatizado
e amido em pó aromatizado (placebo) diluídos
em água natural, na proporção de 5 g por 200
ml. Foram servidos, diariamente e exclusivamente,
após os treinamentos, que ocorreram no período
da tarde. A dieta alimentar mais a suplementação
da glutamina totalizavam entre 1,2 g a 1,6 g de
proteína, por quilograma de peso corporal por
dia e por atleta. Ambos os grupos receberam 30
doses de glutamina e 30 de placebo, em períodos
distintos, mediante o protocolo duplo-cego.
Trinta dias após o início dos treinamentos, iniciou-se a suplementação nos dois grupos e, passados 45 dias do início da suplementação, que
correspondeu a 30 doses dos suplementos, houve
uma inversão deles por período idêntico. As atividades dos atletas envolvendo treinamentos e jogos aconteceram em seis dias da semana, durante
um dos períodos do dia, por aproximadamente
2h30min.
Foram realizados exames hematológicos, antes e depois do experimento, para os parâmetros
contagem dos leucócitos, conforme descrição das
técnicas de análise, métodos, resultados e variações de acordo com a idade. O sangue de cada
atleta foi coletado, em jejum, por punção da veia
braquial, e analisado em Laboratório de Análises
Clínicas do Hospital Municipal de Americana/SP.
Foi feito um controle, por meio de uma planilha
de anotação diária, do departamento médico do
clube, do número de futebolistas que apresentaram qualquer tipo de intercorrência médica, inclusive lesões musculoesqueléticas, mas este
estudo considerou apenas as infecções das vias aéreas superiores (IVAS). Foram descartadas reincidências de um mesmo futebolista, que poderiam
caracterizar uma situação individual.
Para avaliar a influência do treinamento e do
uso da glutamina sobre os parâmetros contagem
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 21-29, 2005
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JOSÉ FRANCISCO DANIEL, ET AL.
dos leucócitos, adotaram-se as medidas do início
e do fim do experimento, e do teste t de Student
para amostras sobre o mesmo indivíduo (amostras pareadas). A comparação entre os dois grupos (glutamina vs. placebo) considerou as
diferenças entre a primeira e a segunda amostra e
o teste t de Student foi adotado para amostras
provenientes de diferentes indivíduos, com variâncias populacionais desconhecidas, mas supostamente equivalentes (dado serem indivíduos do
mesmo sexo e faixa etária, devendo, portanto,
apresentar a mesma variação quanto ao acaso).
Para comparar as freqüências observadas no número de pessoas com IVAS, utilizou-se o teste de
Fisher. Para os testes, consideraram-se significativos os valores de p ≤ 0,05, ou seja, com nível de
significância de, no mínimo, 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores de t estão associados a sete graus
de liberdade para o G1 e cinco graus de liberdade
para o G2. Médias, desvios padrões, valores da
estatística t e respectiva significância da contagem
total dos leucócitos sanguíneos e de seus subtipos,
antes e após o período de treinamento e suplementação com glutamina e placebo – apresentados nas figuras 1 para os leucócitos (n.º total/ml
de sangue), 2 e 3 para os neutrófilos (% e n.º total/ml de sangue) e 4 e 5 para os linfócitos típicos
(% e n.º total/ml de sangue) – mostram que cada
item está de acordo com os valores de referência
tidos como normais para essa faixa etária e esse
gênero. Demonstram também não haver diferença significativa (p > 0,05) entre os períodos para
nenhum dos grupos, nem entre eles.
Neste estudo, não se objetivou avaliar a funcionalidade dos leucócitos, mas apenas verificar alterações no valor absoluto. Sabe-se que o estresse
provocado pelos exercícios aeróbios e pelos intermitentes de alta intensidade induz aumento no
número e na atividade das células do sistema imunitário, particularmente a linfocitose e a mobilização das Natural Killer cells (NK).11 Essa elevação
aguda no número de leucócitos faz crescer o consumo de glutamina, dificultando a manutenção
dos níveis necessários desse aminoácido24 e levando, posteriormente, a um aumento no risco
de infecções. Tal situação relaciona-se ao estresse
induzido pela atividade até a adaptação do organismo, e não diretamente ao exercício físico,
Saúde em Revista
SUPLEMENTAÇÃO DE GLUTAMINA E RESISTÊNCIA IMUNOLÓGICA EM ATLETAS DE FUTEBOL
pois, após adaptação das cargas de treinamento, o
ocorrido desaparece.25
O excesso de treinamento, ao longo de um
período, induz a diminuição na contagem dos
leucócitos.26 Entretanto, quando o nível de treinamento é adequado, observa-se, no período
posterior de recuperação, um aumento na contagem dessas células.26 Foi relatado que a suplementação oral de glutamina, após exercício
intenso e de longa duração, torna maior o número dos linfócitos, bem como apresenta efeitos benéficos à incidência de infecções subseqüentes.18
Como em nosso estudo verificou-se o efeito crônico das cargas de treinamento e da suplementação crônica de 5 g diárias de glutamina, até a
totalização de 30 doses, não tivemos como avaliar qualquer alteração aguda nessas variáveis sobre
o número dessas células e, nesse protocolo, não
observamos alterações crônicas.
Quando da realização do segundo exame de
sangue, não havia nenhum atleta com problemas
relacionados à saúde – o treinamento apresentava
as características de manutenção e, conseqüentemente, os atletas mostravam-se adaptados à carga
de treinamento e ao estresse por ele induzido. Os
resultados relativos às IVAS, incluindo gripes, resfriados, coriza, otite etc., apresentam-se nas tabelas 1, 2 e 3. Na primeira época, somente o G1
tomou glutamina e, na segunda, apenas o G2.
Essa análise adotou o teste exato de Fisher para a
confrontação entre grupo suplementado com
glutamina e placebo, nos dois períodos.
A tabela 1 estabelece uma comparação entre os
respectivos grupos e demonstra que, em relação ao
número de IVAS de cada época, não houve diferença significativa, ou seja, os grupos apresentaram a
mesma tendência nas duas épocas, independentemente do suplemento adotado (glutamina ou placebo).
• G1 (n = 9) apresentou duas pessoas (22% do
n) com IVAS em cada época.
• G2 (n = 7) apresentou quatro pessoas (57%
do n) com IVAS, na época suplementada com
placebo, e três pessoas (47% do n), naquela suplementada com glutamina.
Procurou-se, então, verificar se o número de
atletas com IVAS, durante o período em que não
fizeram uso da glutamina, apresentou diferenças
significativas. Na primeira época de suplementação, ocorreram seis intercorrências (quatro, no
grupo suplementado com placebo, e duas, no su25
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JOSÉ FRANCISCO DANIEL, ET AL.
plementado com glutamina) e, na segunda época,
cinco intercorrências (duas, no grupo suplementado com placebo, e três, no suplementado com
glutamina). A tabela 2 mostra essas freqüências
observadas das pessoas que ficaram com IVAS na
época em que não tomaram a glutamina, para o
G1 e G2. O resultado do teste de Fisher
(0,1573ns) permite observar que não existe diferença significativa entre os grupos, em relação ao
número de pessoas com IVAS.
Como, aparentemente, o número de atletas
com IVAS do grupo suplementado com glutamina
foi menor, se comparado ao suplementado com
placebo em cada época, verificou-se se tal observação procedia. A tabela 3 mostra as freqüências
no número de pessoas com IVAS para o G1 (que
tomou glutamina na primeira época) e para o G2
(que tomou glutamina na segunda época). O resultado do teste exato de Fisher (primeira época,
0,1573ns e, segunda época, 0,2885ns) atesta que
não existe diferença significativa para os atletas
que tomaram glutamina, em relação aos que tomaram placebo, para cada uma das épocas. Em
outras palavras, o número de IVAS é o mesmo,
comparando-se o grupo que tomou glutamina
com o outro que recebeu placebo, para a primeira e a segunda épocas.
Ao analisar as características das épocas, constatamos que a primeira época de suplementação
ocorreu no final do primeiro período preparatório, com cargas aeróbias em maior volume e intensidade, e no início do segundo período
preparatório, em que o treinamento direcionouse para as cargas de velocidade e força. Sabe-se
que exercícios extenuantes podem gerar maior
número de infecções por vários fatores, entre
eles, a diminuição dos níveis séricos de glutamina,1 essencial à funcionalidade do sistema imunitário, precursor de energia e de macromoléculas
para linfócitos e macrófagos, juntamente com a
glicose.27
Apesar do maior volume e intensidade das cargas aeróbias do primeiro período preparatório, e
das alterações nas características do treinamento
no início do segundo período preparatório, que
induzem às novas adaptações de todo o organismo e a um estresse adicional capaz de causar imunossupressão,25 não foi verificada diferença
significativa entre este e o segundo período de suplementação.
O grupo suplementado com glutamina (n =
9) apresentou 22% (n = 2) de IVAS e o grupo su26
plementado com placebo (n = 7), 57% (n = 4).
Mesmo com essa disparidade percentual, não
houve diferença estatística significativa, provavelmente por conta do número de atletas participantes do estudo. Por outro lado, no segundo
período de suplementação, as cargas direcionaram-se para velocidade, força, aprimoramento
geral e início das competições. Houve redução do
volume e posterior manutenção, com alguns aumentos da intensidade de treinamento. Esse período deu-se entre meados de maio e de julho,
época do ano em que a temperatura está mais
baixa e o clima mais seco, situação comum para
maior número de IVAS.28
Apesar das características climáticas, não se
revelou, nesse período, alteração significativa do
número de IVAS. É provável que a redução das
cargas de treino, relacionado especialmente ao
volume, e o efeito crônico da suplementação da
glutamina podem ter contribuído para que isso
ocorresse.
Nesse sentido, alguns estudos têm demonstrado que a suplementação de glutamina é eficiente na manutenção de sua concentração ao final
do exercício e também na diminuição da incidência de infecções nos dias posteriores ao esforço físico intenso.13 Apesar das evidências de que,
em exercícios intensos e prolongados, a ingestão
de fluídos contendo glutamina reduz a incidência
de IVAS,10 em nosso estudo com o futebol – esporte característico de esforços intermitentes –
não foi verificada diferença significativa.
Assim como foi atestado em nosso estudo, no
protocolo adotado de suplementação crônica de 5
g diárias (após treinamento) de glutamina até a totalização de 30 doses não se observou diferença
significativa. Já Nieman e Pedersen14 consideram
inconclusivos os resultados obtidos com a suplementação de glutamina quanto à eficiência na
redução de infecções. Contrariamente, comparando a suplementação de glutamina com maltodextrina como placebo, Castell et al.13 observaram
que a glutamina reduziu expressivamente o número de infecções.
Em estudo que verificou os efeitos da suplementação de carboidrato nas respostas imunitárias, em protocolos de exercícios específicos para
atletas de futebol,29 concluiu-se que, após realização de exercícios contínuos e prolongados, o carboidrato revelou-se efetivo em atenuar as
respostas imunitárias. Mas, depois da realização de
exercícios específicos intermitentes, não se verifiSAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 21-29, 2005
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Figura 1. Médias dos leucócitos, dos dois grupos, antes e após o
período de treinamento e suplementação. Não houve diferença
significativa.
Figura 3. Médias dos neutrófilos em ml, dos dois grupos, antes e
após o período de treinamento e suplementação. Não houve diferença significativa.
NEUTRÓFILOS (ml)
LEUCÓCITOS (ml)
4800
8000
4200
7000
3600
6000
3000
MÉDIAS
MÉDIAS
5000
4000
2400
1800
3000
1200
2000
600
1000
ANTES
0
ANTES
0
GRUPO 1
GRUPO 2
GRUPO 1
GRUPO 2
DEPOIS
DEPOIS
Figura 2. Médias dos neutrófilos em porcentagem, dos dois grupos, antes e após o período de treinamento e suplementação.
Não houve diferença significativa
NEUTRÓFILOS (%)
Figura 4. Médias dos linfócitos típicos em porcentagem, dos dois
grupos, antes e após o período de treinamento e suplementação.
Não houve diferença significativa.
LINFÓCITOS TÍPICOS (%)
64
56
56
48
40
40
32
32
MÉDIAS
MÉDIAS
48
24
16
24
16
8
8
ANTES
GRUPO 1
GRUPO 2
DEPOIS
cou o mesmo efeito. Nesse sentido, sugeriu-se que,
quando da intensidade moderada do exercício e
de alterações plasmáticas relativamente pequenas
de glicose, cortisol e variáveis imunitárias, a ingestão de carboidratos apresenta uma influência mínima na resposta imunitária para o exercício.
Protocolos de exercícios específicos, por mais
que tentem reproduzir a situação de competição
do esporte, não conseguem igualar todos os fatores influenciadores da performance, como presença de público, níveis físico, técnico e tático do
adversário, expectativas, fase do campeonato, cobrança de resultado etc.,30 e não provocam estresse similar. Assim, seria necessária a verificação
das alterações plasmáticas de glicose, cortisol e
variáveis imunitárias, após situação real de jogo.
CONCLUSÃO
Este estudo foi desenvolvido para investigar
os efeitos da suplementação do aminoácido glutamina e do treinamento sobre a contagem de leucócitos, neutrófilos e linfócitos e sobre a
incidência de infecções das vias aéreas superiores.
Saúde em Revista
SUPLEMENTAÇÃO DE GLUTAMINA E RESISTÊNCIA IMUNOLÓGICA EM ATLETAS DE FUTEBOL
ANTES
0
GRUPO 1
GRUPO 2
DEPOIS
Figura 5. Médias dos linfócitos típicos por ml, dos dois grupos,
antes e após o período de treinamento e suplementação. Não
houve diferença significativa.
LINFÓCITOS TÍPICOS (ml)
3500
3000
2500
MÉDIAS
0
2000
1500
1000
500
ANTES
0
GRUPO 1
GRUPO 2
DEPOIS
Com base em seus resultados, concluiu-se
que, nesse protocolo de suplementação oral crônica de 5 g diárias, após treinamento, de glutamina até a totalização de 30 doses, a glutamina não
alterou o número de leucócitos, neutrófilos e linfócitos. Também não foi capaz de reduzir a incidência de infecções das IVAS nos atletas jovens do
futebol.
27
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JOSÉ FRANCISCO DANIEL, ET AL.
Tabela 1. Freqüências e porcentagens (%) observadas para os grupos, distinguindo-se os suplementos, em razão do número de pessoas com IVAS, e o teste exato de Fisher.
VARIÁVEIS
Grupo 1
Grupo 2
N.º DE ATLETAS
COM IVAS
N.º DE ATLETAS SEM IVAS
N.º DE ATLETAS
2 (22%)
2 (22%)
4 (57%)
3 (43%)
7 (88%)
7 (88%)
3 (43%)
4 (57%)
9
9
7
7
Glutamina
Placebo
Placebo
Glutamina
DO GRUPO
TESTE EXATO
DE FISHER
0,4235ns
0,8569ns
ns: não significativo, considerando-se um nível mínimo de significância de 5% (p < 0,05).
Tabela 2. Freqüências e porcentagens (%) observadas para os grupos, em razão do número de pessoas com IVAS no período em que não
receberam glutamina, e o teste exato de Fisher.
VARIÁVEIS
N.º DE ATLETAS
N.º DE ATLETAS
N.º DE ATLETAS
DO GRUPO
TESTE EXATO
DE FISHER
Grupo 1
Grupo 2
2 (22%)
4 (57%)
7 (88%)
3 (43%)
9
7
0,1573ns
COM IVAS
SEM IVAS
ns: não significativo, considerando-se um nível mínimo de significância de 5% (p < 0,05).
Tabela 3. Freqüências e porcentagens (%) observadas para os períodos, distinguindo-se a glutamina e o placebo em razão do número
de pessoas com IVAS, e o teste exato de Fisher.
VARIÁVEIS
1.ª época
2.ª época
Glutamina
Placebo
Glutamina
Placebo
N.º DE ATLETAS
N.º DE ATLETAS
N.º DE ATLETAS
2 (22%)
4 (57%)
3 (43%)
2 (22%)
7 (88%)
3 (43%)
4 (57%)
7 (88%)
9
7
7
9
COM IVAS
SEM IVAS
DO GRUPO
TESTE EXATO
DE FISHER
0,1573ns
0,2885ns
ns: não significativo, considerando-se um nível mínimo de significância de 5% (p < 0,05).
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Submetido: 9/nov./2004
Aprovado: 1.º/jul./2005
Saúde em Revista
SUPLEMENTAÇÃO DE GLUTAMINA E RESISTÊNCIA IMUNOLÓGICA EM ATLETAS DE FUTEBOL
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JOSÉ FRANCISCO DANIEL, ET AL.
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SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 21-29, 2005
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PARTICIPAÇÃO DOS ERITRÓCITOS NO CONTROLE GLICÊMICO DO EXERCÍCIO, ET AL.
ORIGINAL /ORIGINAL
Participação dos Eritrócitos no
Controle Glicêmico do Exercício
Erythrocytes Participation in Glycemic Control of the Exercise
RESUMO O objetivo do trabalho foi demonstrar que os eritrócitos participam na homeostase da glicemia. Os parâmetros avaliados nos eritrócitos
foram: consumo de glicose, armazenamento de glicogênio, transporte e
mobilização. Ratos foram submetidos a uma sessão de natação (50 min., 32
± 2°C) e anestesiados com pentobarbital sódico (40 mg/kg), de modo a se
coletar amostras de sangue em diferentes partes dos vasos para avaliar a glicemia e o conteúdo de glicogênio (GLI). In vivo, o GLI do eritrócito mudou
de acordo com a glicemia nos vasos. A diferença arteriovenosa e entre as
veias portal e supra-hepática no GLI é paralelo a diferenças de glicemia. De
acordo com os resultados citados, eritrócitos incubados em salina a 37oC
aumentaram seu GLI com a maior concentração de glicose extracelular e reduziram quando a concentração de glicose caiu. Captação e liberação são
bem correlacionadas à concentração de glicose extracelular (r = 0.942), similarmente in vivo. Condições estressoras como o exercício quase depletaram o GLI do eritrócito e também depletaram intensamente o GLI hepático.
Essa reação é característica do eritrócito, pois ele respondeu in vitro para os
hormônios hiperglicemiantes, glucagon, adrenalina, noradrenalina, reduzindo o GLI, até mesmo na presença de alta concentração de glicose. Isso se
assemelha à resposta dos hepatócitos aos mesmos hormônios.
Palavras-chave GLICOGÊNIO – GLICEMIA – ERITRÓCITOS – NATAÇÃO.
CARLOS ALBERTO
DA
SILVA*
Curso de Fisioterapia – Faculdade de
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)
RINALDO ROBERTO
GUIRRO
DE
JESUS
Curso de Fisioterapia – Faculdade de
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)
KARINA MARIA CANCELLIERO
Curso de Fisioterapia – Faculdade de
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)
FABIANA FORTI
Curso de Fisioterapia – Faculdade de
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)
*Correspondências: Rod. do Açúcar, km
156, FACIS, 13400-911, Piracicaba/SP
[email protected]
ABSTRACT The objective of this work was demonstrated that the
erythrocytes participate in the glycaemic homeostasis. The parameters
evaluated in erythrocytes were: glucose consumption, glycogen storage,
transport and mobilization. Rats were submitted to a swimming section (50
min., 32 ± 2°C) and anesthesiated with sodic pentobarbital (40 mg/kg) to
collect blood samples in different parts of vessels to evaluated the glycaemia
and glycogen content (GLY). In vivo, the erythrocyte GLY changed in
according to glycaemia in vessels. The arteriovenous and the between portal
and suprahepatic veins difference in GLY is parallel to glycaemia differences.
In accordance to the results mentioned, erythrocytes incubated in saline at
37oC increased their GLY with the increase in extracellular glucose
concentration and reduced it when glucose concentration diminished. Both
uptake and release are well correlated to extracellular glucose concentration
(r = 0.942), similarly in vivo. Stressing conditions as the exercise almost
deplete the erythrocyte GLY. Those conditions also deplete GLY liver acutely.
This response is characteristic of erythrocytes because they responded in
vitro to hyperglycemic hormones, glucagon, adrenaline, noradrenaline
reducing the GLY, even in the presence of high glucose concentration. This
resembles the hepathocytes response to the same hormones.
Keywords GLYCOGEN – GLYCAEMIA – ERYTHROCYTES – SWIMMING.
Saúde em Revista
PARTICIPAÇÃO DOS ERITRÓCITOS NO CONTROLE GLICÊMICO DO EXERCÍCIO
31
saude17.book Page 32 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
CARLOS ALBERTO DA SILVA, ET AL.
INTRODUÇÃO
o longo do exercício físico, a utilização dos
substratos metabólicos pelo território muscular varia consideravelmente. Nas fases
iniciais do exercício, o glicogênio tecidual constitui a principal fonte energética consumida. No
entanto, concomitantemente ao prolongamento
da atividade, assume fundamental importância à
glicose sérica e à concentração plasmática de ácidos graxos livres.1 Cabe ressaltar que a mobilização das reservas energéticas ocorre por conta da
ação hormonal representada pela elevação na
concentração sérica do hormônio de crescimento, glucagon, adrenalina, noradrenalina e corticosteróides.
Guarner e Alvarez-Buylla2 demonstraram que
os eritrócitos absorvem e incorporam glicose aos
reservatórios de glicogênio quando a glicose está
elevada, liberando-a no caso de redução da glicemia. Como as reservas de glicogênio superam as
necessidades metabólicas dessas células, foi sugerido que contribuam de maneira importante para
o controle glicêmico. Recentes pesquisas vêm
reunindo informações a favor dessa hipótese em
humanos e outros mamíferos.
Durante estudos de glicogenoses hepáticas em
humanos, Moses et al.3 verificaram que os eritrócitos contêm as enzimas glicogênio sintetase e glicogênio fosforilase, responsáveis, respectivamente,
pela síntese e pela degradação de glicogênio. Porém, as enzimas responsáveis pela degradação das
reservas de glicogênio estão inativadas, possibilitando o acúmulo de glicogênio em concentração
maior que a observada em eritrócitos de indivíduos normais.
No fígado, duas formas da enzima glicogênio
sintetase, passíveis de interconversão, têm uma
implicação direta na regulação da síntese de glicogênio. A forma a possui alta afinidade pela glicose-6-fosfato (G6P) e uridina di-fosfoglicose (UDPG)
e a forma b apresenta baixa afinidade pelo substrato e pelo ativador, sendo ativa somente na presença da G6P. Nos eritrócitos, somente um tipo
de glicogênio sintetase está presente, semelhante
à forma b descrita no fígado, dependente da G6P.
Nesse sentido, o eritrócito é único, ao contrário
dos outros tecidos, nos quais há interconversão
entre as duas formas da enzima. A baixa atividade
da glicogênio sintetase nos eritrócitos pode deverse à concentração intracelular de UDPG (0,03
mM) e de glicose 6-fosfato (0,2 mM), que estão
A
32
abaixo do Km e Ka (afinidade do substrato ao
transportador) da enzima.
Ao contrário de outros tecidos, o ATP (1,2
mM) e o fosfato inorgânico (1,3 mM) não inibem a glicogênio sintetase dos eritrócitos. Conseqüentemente, a regulação da síntese de
glicogênio nos eritrócitos depende, em maior intensidade, das mudanças nas concentrações de
G6P do que da concentração dos ativadores ou
inibidores da enzima.3
O metabolismo de glicogênio em eritrócitos
normais foi avaliado por Moses et al.,3 utilizando
como parâmetro a incorporação de glicose radioativa ao reservatório de glicogênio. A taxa de incorporação de glicose para a formação de
glicogênio nos eritrócitos atingiu 0,04 ± 0,01
μmol. g Hb-1.h, sendo o valor máximo obtido em
pH 7.6. Esses autores propuseram que o grau de
saturação da hemoglobina pelo oxigênio poderia
induzir modificações no pH intracelular e, assim,
regular a atividade das enzimas envolvidas na síntese de glicogênio.
A quantidade de glicose captada pelos eritrócitos supera em muito as suas necessidades metabólicas, o que implica alta velocidade de
transporte de glicose e/ou grande quantidade de
transportadores do tipo GLUT1 na membrana.4, 5
Esse tipo de transportador constitui 3,5% das
proteínas da membrana, superior ao medido na
membrana de adipócitos, correspondente a apenas 0,04%.6 Identificado nos eritrócitos, ele consiste de 492 aminoácidos, é classificado como
GLUT1,7 apresenta um Km para glicose de aproximadamente 5 mM e in situ exibe um padrão assimétrico de transporte, com Km para efluxo
aproximadamente quatro vezes maior e Vmáx
(50% da velocidade máxima de captação do
substrato) comparado ao influxo.8 A atividade do
GLUT1 não é regulada por hormônios e ele não é
translocado de sítios intracelulares para a membrana plasmática.9
Sob normoglicemia (5 mM), os eritrócitos humanos utilizam 1 a 2 μmoles de glicose.ml células.h. Aproximadamente 95% da glicose oxidada
seguem a via de Embden-Mayerhof, produzindo
lactato e piruvato e gerando o ATP necessário à
manutenção das condições homeostáticas. A glicose (5-10%) pode ainda ser metabolizada pela
via da pentose fosfato, produzindo nicotinamida
adenina dinucleotídeo reduzido (NADPH), que desempenha papel fundamental na manutenção de
componentes intracelulares na forma reduzida.10
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 31-40, 2005
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CARLOS ALBERTO DA SILVA, ET AL.
A identificação de reservas de glicogênio nos
eritrócitos estimulou o interesse em avaliar a função desses depósitos de glicose. Rapoport11 avaliou a glicólise em eritrócitos humanos em 1,1
mmol.h-1.l células a 37oC e afirmou a importância deles para manter o suprimento de glicose cerebral, em razão do seu alto número na corrente
sangüínea associado à habilidade de transportar
40% da glicose plasmática. Sob normoglicemia
(aproximadamente 5 mM) a concentração de glicogênio dos eritrócitos humanos equivale a 12
mil vezes ao requerido pelo seu metabolismo.
Guarner e Alvarez-Buylla2 constataram uma
diferença arteriovenosa no teor de glicogênio eritrocitário em ratos e sugeriram que os eritrócitos
estariam distribuindo glicose aos tecidos, participando da regulação glicêmica. Esses autores também verificaram que a captação de glicose pelos
eritrócitos depende da concentração dessa substância no meio a que estão expostos, in vivo e in vitro,
ocorrendo incorporação dela aos reservatórios de
glicogênio durante a elevação da glicemia e, por
outro lado, redução nas reservas quando diminui a
glicemia. A estação de captação de glicose seria o
fígado, ao qual forneceria em troca o lactato.12
A reserva de glicogênio está sujeita à ação de
hormônios e, portanto, aos eventos que determinam a flutuação em suas concentrações no plasma. A adrenalina pode mobilizar as reservas de
glicogênio da mesma maneira que o faz nos hepatócitos, por meio de receptores β2-adrenérgicos,
e o efeito se manifesta inclusive durante a hiperglicemia.13 Além disso, aumenta o metabolismo
da glicose nos eritrócitos, pois inibe os últimos
passos da glicólise, diminuindo a produção de
ATP e, ao mesmo tempo, induzindo aumento na
síntese de 2,3 bi-fosfoglicerato, o que possibilita
maior liberação de oxigênio.14
A influência da insulina sobre a captação de
glicose nos eritrócitos pode ser aventada em decorrência da presença de receptores de insulina
em eritrócitos maduros. Eritrócitos normais possuem aproximadamente dois mil receptores de
insulina, distribuídos em 14 sítios por micrômetro quadrado de membrana e com as mesmas
propriedades observadas nos receptores de insulina de outros tecidos, como fígado, músculo e tecido adiposo.15 Em alguns estudos,2 a insulina
não promoveu aumento na captação de glicose,
nem a síntese de glicogênio; porém, em outros
trabalhos com reticulócitos, que apresentam oito
vezes mais receptores de insulina que os eritróciSaúde em Revista
PARTICIPAÇÃO DOS ERITRÓCITOS NO CONTROLE GLICÊMICO DO EXERCÍCIO
tos maduros, a captação de glicose e a síntese de
glicogênio elevaram-se na presença de insulina.
Possivelmente, esses receptores de insulina são
perdidos durante o período de maturação.16 Peterson et al.17 incubaram eritrócitos humanos na
presença de insulina durante três horas e verificaram uma redução de 70% na população de receptores. Nova incubação desses eritrócitos na
ausência de insulina mostrou que a população de
receptores foi restabelecida, sugerindo que a insulina promove a internalização dos receptores, baixando, assim, a sensibilidade a si própria.
Pelas raras informações na literatura a respeito
das propriedades dos eritrócitos como transportadores de glicose, faz-se necessário reavaliar a importância dessas células na regulação glicêmica
diante de exercício físico e a capacidade delas de
modificar suas reservas de glicogênio na presença
de diferentes hormônios. Portanto, o objetivo geral deste trabalho foi estudar a habilidade dos eritrócitos em incorporar glicose ou mobilizá-la de
seu depósito de glicogênio em face do exercício
físico in vivo e dos efeitos dos hormônios que participam da condição indutora de estresse in vitro.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados ratos machos, albinos, Wistar, com idade variando de três a quatro meses,
fornecidos pelo biotério da UNIMEP, alimentados
com ração e água ad libitum e submetidos a ciclo
fotoperiódico de 12 horas claro/escuro. Os animais foram divididos em dois grupos experimentais: controle e natação. O segundo grupo
realizou o exercício físico de natação sem sobrecarga, durante 50 minutos, em um tanque de vidro (100 cm x 80 cm x 50 cm) contendo água a
31 ± 1oC.18
Para amostragem da avaliação da concentração
de glicogênio em eritrócitos in vitro, os animais foram decapitados, sendo que, no grupo Natação, a
morte ocorreu imediatamente após o exercício físico e o sangue coletado em um recipiente de 50 ml,
sob gelo, contendo anticoagulante, formando um
pool de células. Transferiu-se o sangue coletado
para um tubo de ensaio e centrifugou-se durante
dez minutos a 2.500 rpm. Após a centrifugação,
descartou-se uma camada superficial para a retirada dos leucócitos e distribuíram-se alíquotas de 0,5
ml em tubos de ensaio, submetidas à incubação durante 15 minutos a 37oC, na presença de diferentes concentrações de glicose e hormônios.
33
saude17.book Page 34 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
CARLOS ALBERTO DA SILVA, ET AL.
Para incubação dos eritrócitos, os tubos de ensaio contendo os eritrócitos foram acondicionados em grades e parcialmente submersos em
banho-maria a 37oC, durante 15 minutos. No
procedimento utilizado para extração e determinação do glicogênio dos eritrócitos, empregou-se
o método de Farquarson et al.,19 expressando o
conteúdo em μg.g-1 de hemoglobina com precisão do método que é de 0,1 μg de glicogênio. A
hemoglobina foi avaliada por meio de um teste
de aplicação laboratorial e, para determinar a glicemia, adotou-se o método enzimático colorimétrico, segundo método de aplicação laboratorial.
Na amostragem para avaliação da concentração de glicogênio in vivo empregou-se o seguinte
procedimento: após 30 minutos de anestesia
(pentobarbital sódico 40 mg/kg, i.p.), amostras de
sangue foram coletadas da artéria femural, veia femural, veia porta-hepática e veia supra-hepática.
Centrifugou-se o sangue a 3.000 rpm, durante
dez minutos, e transferiu-se o plasma para a determinação da glicemia. Os eritrócitos foram lavados
duas vezes com solução salina 0,9%, descartandose a camada superficial em que se encontravam os
leucócitos, procedimento comparável com os métodos usados para preparar eritrócitos para estudos metabólicos.20 Uma alíquota de 20 μl dos
eritrócitos destinou-se à avaliação da hemoglobina e 200 μl de eritrócitos foram usados na avaliação do conteúdo de glicogênio. A seguir, amostras
do fígado foram coletadas e encaminhadas à dosagem do conteúdo de glicogênio, segundo o método proposto por Siu et al.21
A análise estatística foi realizada da seguinte
maneira: para as diferenças arteriovenosa e veias
porta supra-hepática, foi utilizado o teste t de Student pareado, ao passo que, para a diferença entre os grupos experimentais, adotou-se ANOVA
seguido do teste de Tukey. Em todos os cálculos,
fixou-se o nível crítico de 5% (p < 0,05).
As relações entre o conteúdo eritrocitário de
glicogênio e as variações da glicemia foram calculadas por meio da correlação. Nos estudos in vitro, o conteúdo de glicogênio nos eritrócitos foi
examinado em razão da variação da concentração de glicose. Determinaram-se a correlação (R)
e a regressão linear pelo método dos mínimos
quadrados na forma Y = a + b X, onde Y = concentração de glicogênio; X = concentração de glicose; a = interseção com a ordenada e b =
inclinação da curva.
34
RESULTADOS
Para orientar a dinâmica experimental, os resultados estão apresentados em módulos, iniciando pela concentração de glicogênio em eritrócitos
e pela correlação com a glicemia em diferentes setores do leito vascular. A tabela 1 mostra os valores da glicemia e da concentração de glicogênio
eritrocitário em quatro setores do leito vascular:
artéria e veia femurais e veias porta e supra-hepática de ratos, durante o período pós-prandial.
A glicemia medida nas femurais revela uma
diferença arteriovenosa de 25,4%, sendo maiores
os valores obtidos no ramo arterial. Essa diferença correspondeu à utilização de glicose no membro posterior esquerdo do rato. Também, como
esperado, houve diferença entre as glicemias da
veia porta e da supra-hepática, sendo maior a
concentração nessa última, em virtude da liberação de glicose pelo fígado.
Para avaliar se os eritrócitos participam na homeostasia da glicose, como armazenadores e
transportadores de glicose, o conteúdo de glicogênio neles foi quantificado no sangue coletado
nos quatro setores do leito vascular. As reservas
eritrocitárias de glicogênio variaram conforme a
região de coleta, registrando-se diferença de
16,7% entre a artéria e a veia femural e de 28%
entre a veia supra-hepática e a porta. A diferença
arteriovenosa observada poderia estar relacionada à mobilização do glicogênio dos eritrócitos em
condições em que a glicemia diminuiu (veia femural). Esta correspondeu à diferença glicêmica
entre as femurais de 25,4%. O conteúdo de glicogênio, que na veia porta não diferiu da femural,
aumentou 28% após a passagem do sangue pelo
fígado, indicando ter havido carga de glicose e
síntese de glicogênio nos eritrócitos nesse ínterim.
Tal recuperação do conteúdo de glicogênio deuse no período em que o fígado liberou glicose,
uma vez que a concentração plasmática dessa
substância na veia supra-hepática foi 56,3% maior que na veia porta. A concentração de glicogênio avaliada nos setores do leito vascular mostrou
alta correlação com a glicemia (r = 0,794).
Uma vez que o conteúdo eritrocitário de glicogênio e a concentração plasmática de glicose
nos setores estudados estavam altamente correlacionados, avaliamos o comportamento dos eritrócitos coletados de ratos submetidos a exercício
físico (sessão de natação de 50 minutos), condiSAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 31-40, 2005
saude17.book Page 35 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
CARLOS ALBERTO DA SILVA, ET AL.
Tabela 1. Valor da média ± epm da concentração de glicogênio
eritrocitário (μg.g-1 Hb) e de glicose plasmática
(mg.dl-1) no leito vascular de ratos adultos; n = 4, p
< 0,05, * na comparação entre a artéria e veia
femural e # na comparação entre a veia porta e a
supra-hepática.
SETORES DO
LEITO VASCULAR
Artéria femural
Veia femural
Veia porta
Veia supra-hepática
GLICOGÊNIO
(ΜG.G-1 HB)
44,23 ± 0,1
36,82 ± 1*
38,10 ± 0,9
48,96 ± 1,4#
GLICOSE
(MG.DL-1)
97,42 ± 1,2
72,62 ± 3,4*
71,11 ± 4,3
111,21 ± 4,3#
ção indutora de alterações no metabolismo de
carboidratos (tab. 2).
No grupo de ratos submetidos ao exercício físico, a glicemia foi maior que a do grupo controle, não havendo diferença entre as femurais.
Porém, a glicemia da veia supra-hepática foi
50,7% maior que na veia porta, típica de uma
condição mobilizadora das reservas hepáticas de
glicose. O estresse por exercício físico forçado depletou as reservas de glicogênio dos eritrócitos,
desaparecendo-se a diferença entre os setores
analisados constatada em ratos controle. Como
conseqüência, a concentração de glicogênio eritrocitário e a glicemia apresentaram correlação
muito baixa (r = 0,202).
Os estudos realizados in vivo apontaram correlação entre a glicemia e o conteúdo de glicogênio nos eritrócitos em ratos normais, sugerindo
que podem armazenar e liberar glicose enquanto
circulam no organismo. Ademais, alterações induzidas no metabolismo, como o exercício físico
forçado, também afetaram sua capacidade armazenadora, provavelmente mobilizando o glicogênio sob efeito de hormônios hiperglicemiantes.
Para demonstrar que os eritrócitos participam
da homeostasia glicêmica, é necessário provar a
capacidade deles de acumular glicogênio quando
a glicemia se eleva acima dos níveis normoglicêmicos e de depletá-lo quando em hipoglicemia.
Nos estudos de carga (isto é, de capacidade de
síntese de glicogênio), empregaram-se eritrócitos
de ratos adultos contendo 16,56 ± 2,4 μg.g-1Hb
de glicogênio em concentração de glicose plasmática de 89,11 ± 6,7 mg.dl-1. Na ausência de glicose ou na presença de 40 mg.dl-1, os eritrócitos
reduziram suas reservas de glicogênio em 96,4%
e 33,7%, respectivamente. Por outro lado, quando incubados em salina com de 120 mg.dl-1 a
240 mg.dl-1 de glicose, apresentaram elevação no
conteúdo de glicogênio variando de 30,6% até
138,11% (tab. 3).
A capacidade de descarga (mobilização) das reservas eritrocitárias de glicogênio foi estudada em
eritrócitos de ratos controle (glicemia 80,96 ± 1,5
mg.dl-1), cuja reserva original de glicogênio era
18,90 ± 0,5 μg.g-1Hb. Após incubação durante 15
minutos a 37oC na presença de 240 mg.dl-1 de
glicose, o conteúdo de glicogênio aumentou 57%.
Naqueles eritrócitos reincubados em concentrações de glicose iguais a 160 mg.dl-1 ou menores,
houve progressiva redução no conteúdo de glicogênio em 50,7%, 45,9%, 58,2%, 94,9% e 98,1%,
quando comparado à condição 240 mg.dl-1.
A dependência do conteúdo de glicogênio dos
eritrócitos em relação à concentração de glicose
do meio extracelular, quando avaliado por meio
de curvas de regressão linear, descreve a carga
com elevada correlação (r = 0,942). Observou-se
forte correlação (r = 0,835) também no experimento de descarga.
A tabela 4 mostra o efeito, in vitro, dos hormônios glicogenolíticos sobre as reservas eritrocitárias
de glicogênio em células incubadas na presença de
diferentes concentrações de glicose. Eritrócitos incubados na presença de adrenalina (200 ng.ml-1)
apresentaram depleção das reservas de glicogênio,
independentemente da concentração de glicose do
meio e com uma correlação muito baixa (r =
0,20) entre a concentração eritrocitária de glicogênio e de glicose no meio de incubação. Percebeu-se
o mesmo efeito nos eritrócitos incubados na pre-
Tabela 2. Valor da média ± epm da concentração de glicogênio eritrocitário (μg.g-1Hb) e de glicose plasmática (mg/dL) dos grupos
controle e submetidos a natação; n = 4, p < 0,05, * na comparação entre a artéria e veia femural, # na comparação
entre a veia porta e a supra-hepática.
Artéria femural
Veia femural
Veia porta
Veia supra-hepática
GLICOGÊNIO
CONTROLE
44,23 ± 0,1
36,82 ± 1*
38,10 ± 0,9
48,96 ± 1,4#
Saúde em Revista
PARTICIPAÇÃO DOS ERITRÓCITOS NO CONTROLE GLICÊMICO DO EXERCÍCIO
GLICEMIA
CONTROLE
97,42 ± 1,2
72,62 ± 3,4*
71,11 ± 4,3
111,21 ± 4,3*
GLICOGÊNIO
NATAÇÃO
1,92 ± 0,3a
1,58 ± 0,1a
2,16 ± 0,1a
1,77 ± 0,2a
GLICEMIA
NATAÇÃO
277,92 ± 32a
241,43 ± 27a
224,53 ± 17a
338,38 ± 14# a
35
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CARLOS ALBERTO DA SILVA, ET AL.
Tabela 3. Efeito da concentração de glicose sobre a concentração de glicogênio (μg.g-1Hb) de eritrócitos de ratos
adultos in vitro. O conteúdo de glicogênio foi determinado em eritrócitos, após incubação em solução
salina (NaCl 0,9%) durante 15 min. a 37oC. No grupo
descarga, os eritrócitos foram inicialmente incubados em salina contendo 240 mg.dl-1 de glicose nas
condições descritas acima e, em seguida, reincubados em soluções com outras concentrações de glicose; n = 4, p < 0,05, * comparado à ausência de
glicose.
Glicose
nihil
40
80
120
160
200
240
CARGA
Glicogênio
0,52 ± 0,05
9,72 ± 3,5*
13,72 ± 0,7*
21,52 ± 0,3*
21,75 ± 1,4*
24,64 ± 0,8*
34,67 ± 0,8*
DESCARGA
Glicose
Glicogênio
240
29,77 ± 5,8*
200
22,60 ± 5,5*
160
12,61 ± 2,1*
120
9,10 ± 2,2*
80
7,35 ± 1*
40
1,49 ± 0,2*
NIHIL
0,55 ± 0,2
sença de noradrenalina (200 ng.ml-1) que também
apresentaram correlação muito baixa (r = 0,062)
entre a concentração de glicogênio e de glicose no
meio de incubação. Houve ainda redução do conteúdo eritrocitário de glicogênio na presença de
corticosterona e de glucagon. Na presença de corticosterona (22 μg.ml-1) ocorreu redução de 95%,
independentemente da concentração de glicose do
meio (r = 0,008). Apesar de os eritrócitos incubados na presença de glucagon também terem revelado depleção das reservas de glicogênio, a
redução de 53,3% a 78,6% foi menor que a ocorrida em presença dos outros hormônios glicogenolíticos estudados.
Tem sido sugerido que, em várias ocasiões, os
eritrócitos armazenam e mobilizam glicogênio de
modo semelhante ao fígado. Nessa condição estudou-se a distribuição hepática de glicogênio e a
Tabela 5. Valor da média ± epm da concentração de glicogênio
hepático lobular (mg/100mg) de ratos controle e submetidos a natação 50 min., n = 4, p < 0,05, * comparado ao controle.
LÓBULO
Superior
Direito
Esquerdo
Média ± epm
CONTROLE
4,13 ± 0,1
3,58 ± 0,2
3,46 ± 0,2
3,72 ± 0,2
NATAÇÃO
0,50 ± 0,05*
1,80 ± 0,1*
1,46 ± 0,1*
1,66 ± 0,1*
tabela 5 mostra a concentração dele nos três lóbulos hepáticos de ratos, em que se pode verificar
que, desse total de lóbulos, o superior possui o
maior conteúdo de glicogênio. Entretanto, essa
forma de amostragem não possibilitou a detecção
das diferenças entre os setores do mesmo lóbulo.
Nos ratos submetidos à natação, as reservas
de glicogênio foram depletadas nos lóbulos superior, direito e esquerdo, em 87,8%, 49,7% e
57,8%, respectivamente. Não se observou diferença significativa entre os lóbulos e a depleção
do conteúdo de glicogênio ocorreu de maneira
homogênea.
DISCUSSÃO
A manutenção da normoglicemia depende da
integridade dos sistemas nervoso e endócrino,
que regulam a dinâmica de mobilização e armazenamento das reservas hepáticas de glicogênio.22
Diversos estudos têm demonstrado, nos eritrócitos, a presença das enzimas glicogênio sintetase,
amiloglicosidase e fosforilase, as quais contribuem para a formação do reservatório de glicogênio
e sua utilização.3
O interesse pela compreensão dos mecanismos que colaboram na manutenção de níveis
normoglicêmicos levou-nos a examinar a partici-
Tabela 4. Valor da média ± epm da concentração de glicogênio (μg.g-1Hb) de eritrócitos incubados na presença de glicose (mg/dL) in
vitro dos grupos tratados com hormônios glicogenolíticos. O conteúdo de glicogênio foi determinado em eritrócitos após
incubação em solução salina (NaCl 0,9%), durante 15 min. a 37oC na presença do hormônio; n = 4, p < 0,05, * comparado
ao controle.
GLICOSE
NIHIL
40
80
120
160
200
240
36
CONTROLE
0,52 ± 0,05
9,72 ± 3,5
13,72 ± 0,7
21,52 ± 0,3
21,75 ± 1,4
24,64 ± 0,8
34,67 ± 0,8
ADRENALINA
0,20 ± 0,02*
0,94 ± 0,03*
1,77 ± 0,04*
1,46 ± 0,04*
1,20 ± 0,3*
0,94 ± 0,1*
1,06 ± 0,2*
NORADRENALINA
0,55 ± 0,03*
0,86 ± 0,04*
1,11 ± 0,1*
2,05 ± 0,2*
1,58 ± 0,2*
1,71 ± 0,08*
2,41 ± 0,2*
CORTICOSTERONA
0,87 ± 0,02*
1,06 ± 0,03*
0,93 ± 0,1*
0,72 ± 0,05*
1,00 ± 0,1*
0,86 ± 0,2*
0,94 ± 0,1*
GLUCAGON
0,43 ± 0,02*
4,93 ± 0,2*
7,58 ± 0,2*
6,52 ± 0,9*
4,47 ± 1,4*
3,47 ± 1,5*
6,53 ± 0,8*
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 31-40, 2005
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CARLOS ALBERTO DA SILVA, ET AL.
pação dos eritrócitos, considerando que seus reservatórios de glicogênio poderiam desempenhar
importante função na distribuição de glicose,
conforme sugerido por Guarner e AlvarezBuylla.2 Essa função dos eritrócitos tem sido relegada a um plano secundário, em virtude do grande reservatório de glicogênio do fígado e a rapidez
com que ele é mobilizado e reconstituído em indivíduos normais. Todavia, este estudo mostrou diversas semelhanças entre os eritrócitos e os
hepatócitos quanto ao armazenamento e à liberação de glicose em diversas situações funcionais
envolvendo rápidas mudanças no metabolismo.
Além disso, os eritrócitos são um reservatório de
glicogênio de fácil acesso, permitindo várias amostragens em estudos de longa duração, sem provocar grande estresse para os animais ou sujeitos
experimentais.
Com o intuito de avaliar as reservas eritrocitárias de glicogênio, foram examinados eritrócitos de diversos setores do leito vascular. Houve
uma diferença de 16,7% entre a concentração de
glicogênio dos eritrócitos coletados na artéria e
na veia femurais, sendo significativamente maior
no ramo arterial. Essa diferença arteriovenosa periférica sugere que os eritrócitos poderiam estar
liberando glicose durante o trânsito pelos capilares. E, embora menor, é simultânea à observada
na concentração de glicose plasmática, sendo
25,4% maior na artéria do que na veia femural.
Após os eritrócitos passarem pelo interior do fígado, a concentração de glicogênio aumentou
28,5%, sugerindo que tenham captado glicose no
interior desse órgão. Tal diferença também é paralela à ocorrida na glicemia, sendo as concentrações de glicose plasmática na veia supra-hepática
56,3% maiores que na veia porta. As observações
acima estão de acordo com os estudos de Guarner e Alvarez-Buylla,2 que demonstraram que,
independentemente da ação da insulina, quando
a glicemia se eleva os eritrócitos captam glicose,
estocando-a na forma de glicogênio, e a liberam
quando a glicemia é reduzida.
Em 1984, Jacquez23 verificou que o conteúdo
de glicose intraeritrocitário supera as necessidades metabólicas em 12 mil vezes, sugerindo que
essas células transportam glicose pela corrente
sanguínea. Neste estudo, verificou-se diferença na
concentração eritrocitária de glicogênio nas femurais (artéria e veia) de 7.41 μg.g-1 Hb. Considerando-se o baixo consumo de glicose pelos
eritrócitos, a disparidade no conteúdo eritrocitário de glicogênio sugere ter havido a liberação de
Saúde em Revista
PARTICIPAÇÃO DOS ERITRÓCITOS NO CONTROLE GLICÊMICO DO EXERCÍCIO
glicose, e não a utilização dela pelos eritrócitos.
Também as diferenças arteriovenosa e entre as
veias porta e supra-hepática estão de acordo com
a proposta de envolvimento dos eritrócitos na
distribuição de glicose.2, 23
Para constituir importante fonte de glicose, os
eritrócitos devem armazenar glicogênio em razão
das variações da glicemia. A forte correlação entre a glicemia e a concentração de glicogênio eritrocitária (r = 0,794), encontrada nos diferentes
setores vasculares, sugeriu que o conteúdo de glicogênio nos eritrócitos depende da concentração
plasmática de glicose. Tal impressão confirmou-se
experimentalmente in vitro.
In vitro, em concentrações crescentes de glicose, os eritrócitos aumentaram, de maneira diretamente proporcional, as suas reservas de
glicogênio, com correlação elevada (r = 0,94).
Todavia, houve ainda necessidade de demonstrar
que os eritrócitos liberavam glicose à medida que
a concentração dela no meio se reduzia. Eritrócitos inicialmente incubados na presença de 240
mg.dl-1 de glicose acumularam glicogênio e, posteriormente, reduziram o seu conteúdo, ao serem
novamente incubados em concentrações mais
baixas de glicose (r = 0,83).
Para verificar se os eritrócitos contribuem para
a regulação da glicemia, estudou-se a capacidade
dos eritrócitos de variar seu conteúdo de glicogênio em várias situações nas quais o metabolismo
de carboidratos, entre outros, é afetado, requerendo a utilização das reservas em virtude de ajustes metabólicos. Para isso, escolheu-se o exercício
físico (sessão de natação de 50 minutos), caracterizado pela elevada mobilização de substratos
energéticos como resultado da ação dos hormônios contra-reguladores da insulina, cujas concentrações se elevam no plasma.24 O quadro
metabólico adaptativo caracteriza-se por alterações hormonais vinculadas à redução da insulinemia e concomitante elevação dos níveis séricos de
glucagon, glicocorticóides e catecolaminas, que
induzem a depleção do glicogênio hepático.25
Sob essa condição, os eritrócitos apresentaram baixa concentração de glicogênio, em comparação ao grupo controle. Todavia, ainda
persistiu a diferença glicêmica arteriovenosa de
59%, indicativo da distribuição de glicose aos tecidos periféricos, maior do que a observada nos
animais com livre acesso ao alimento. Igualmente
foi possível verificar a carga dos eritrócitos (aumento de 294%) ao passarem pelo fígado, sujeito
37
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CARLOS ALBERTO DA SILVA, ET AL.
à intensa atividade glicogenolítica por conta da
ação dos hormônios contra-reguladores.
Uma situação que determina intensa mobilização de substratos energéticos é o exercício físico
por natação. Durante sua fase inicial, o glicogênio
tecidual constitui a principal fonte energética
consumida. No entanto, com a continuidade do
esforço físico, outras fontes energéticas desempenham importante papel: ácidos graxos livres,
aminoácidos de cadeia ramificada e lactato. A elevação na disponibilidade plasmática desses substratos advém da mobilização de reservatórios
hepáticos e/ou de tecido adiposo.24
Durante a realização dessa forma de esforço
físico aumenta a secreção dos mesmos hormônios
glicogenolíticos.26 De maneira similar ao que se
verificou no fígado, as reservas de glicogênio dos
eritrócitos também foram mobilizadas durante o
estresse causado por exercício físico contínuo.
Provavelmente, a redução do conteúdo de glicogênio deveu-se ao efeito direto dos hormônios hiperglicemiantes liberados nesse período, pois as
reservas sofreram depleção mesmo quando a glicemia manteve-se elevada (r = 0,194).
Os efeitos dos hormônios glicogenolíticos sobre as reservas hepáticas de glicogênio são conhecidos.26 Considerando os resultados do exercício
físico sobre as reservas de glicogênio em eritrócitos e as aparentes semelhanças entre fígado e eritrócitos quanto ao metabolismo de carboidratos,
avaliamos as reservas de glicogênio em eritrócitos
de ratos controle, incubados na presença de hormônios glicogenolíticos e de glicose.
Adrenalina, noradrenalina e glucagon induziram depleção das reservas de glicogênio, mesmo
em presença de elevada concentração de glicose,
confirmando as observações de Guarner e AlvarezBuylla2 sobre os efeitos da adrenalina. À semelhança do observado no fígado por Pilks e Granner,27 o glucagon também promoveu a depleção
das reservas de glicogênio em eritrócitos. Além
disso, este estudo mostrou que a corticosterona,
cuja liberação no sangue aumenta durante o estresse causado pelo exercício físico, também comprometeu as reservas de glicogênio em eritrócitos
incubados em alta concentração de glicose.20
Os hepatócitos compreendem 92% da massa
celular do fígado – daí o parênquima hepático ter
sido classificado como tecido funcionalmente homogêneo. Entretanto, estudos da microestrutura
do fígado mostraram diferenças estruturais e funcionais entre as células do parênquima hepático
38
conforme a posição do hepatócito, ou seja, na região perivenosa ou na periportal.19
Na porção periportal predominam as enzimas
que regulam a síntese de glicogênio (succinato desidrogenase, glicose 6-fosfatase, hexoquinase, piruvato quinase, isoenzima M2, frutose 1-6
bifosfatase e fosfoenolpiruvato carboxiquinase,
por exemplo). Já na região perivenosa detectaram-se predominantemente as enzimas chaves da
glicólise e lipogênese (glicoquinase, piruvato quinase, citrato liase, acetil Co-A carboxilase e isoenzima L, entre outras). A constatação dessas
diversidades entre os hepatócitos levou à formulação do modelo do zoneamento metabólico do fígado, propondo que os hepatócitos periportais e
perivenosos exercem funções metabólicas diferentes, o que facilitaria o controle do metabolismo.28
Conforme Bartels et al.,29 a síntese hepática
de glicogênio na porção periportal ocorre a partir
de lactato, piruvato e glutamina, ao passo que na
região perivenosa acontece diretamente a partir
de glicose. Portanto, durante a fase absortiva, os
hepatócitos perivenosos captariam glicose, a qual
poderia ser incorporada aos estoques de glicogênio ou degradada até lactato; este é liberado na
circulação e captado pelas células periportais,
onde participa da síntese de glicogênio. No período pós-absortivo, essas células liberam glicose, ao
passo que as perivenosas liberam lactato.28 Pelo
fato de o fígado tratar-se de um órgão importante
no controle glicêmico, decidimos comparar as
suas células aos eritrócitos.
A análise dos resultados setoriais (intralobular)
não revelou diferenças no conteúdo de glicogênio,
quanto ao zoneamento. Porém, demonstrou que o
lóbulo superior, o qual não é o maior, armazenou
maior quantidade de glicogênio que os demais.30
Esse lóbulo corresponde a 33% da massa hepática
e contém 36% da reserva de glicogênio, ao passo
que o lóbulo direito possui 26% da massa e 32%
da reserva de glicogênio, e o lóbulo esquerdo,
41% da massa e 32% da reserva de glicogênio.
Portanto, este trabalho mostrou as similaridades entre eritrócitos e hepatócitos, no que se refere ao armazenamento e à mobilização das
reservas de glicogênio.
CONCLUSÃO
Este estudo demonstra in vivo que:
1. os eritrócitos possuem reservas de glicogênio
maiores no ramo arterial do que no venoso. Na
veia porta, o conteúdo de glicogênio dos eritróSAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 31-40, 2005
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CARLOS ALBERTO DA SILVA, ET AL.
citos é menor do que na veia supra-hepática,
sendo tais diferenças sugestivas de que os eritrócitos participam do transporte e da distribuição
de glicose aos tecidos, captando-a no interior do
fígado e liberando-a na periferia;
2. o consumo eritrocitário de glicose é muito baixo
em relação ao seu conteúdo de glicogênio, reforçando a proposta de que os reservatórios de
glicose têm a finalidade de distribuição, e não de
consumo;
3. quando o rato foi submetido a natação, as
reservas eritrocitárias de glicogênio foram afetadas de modo similar ao observado nos hepatócitos, acontecendo provavelmente pela ação
dos hormônios glicogenolíticos secretados nessa
condição.
Os resultados demonstraram, in vitro, que:
1 a incorporação ou liberação de glicose da reserva de glicogênio eritrocitário correlacionou-se
fortemente com a variação da glicose do meio;
2 os hormônios glicogenolíticos adrenalina, noradrenalina e glucagon promoveram depleção das
reservas eritrocitárias de glicogênio.
Assim, as propriedades eritrocitárias aqui demonstradas apontam sua importância durante as
fases iniciais do exercício físico, oferecendo um
suporte glicêmico que precede o nutricional decorrente da glicogenólise hepática.
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Saúde em Revista
PARTICIPAÇÃO DOS ERITRÓCITOS NO CONTROLE GLICÊMICO DO EXERCÍCIO
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Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental 1994.
Submetido: 22/set./2004
Aprovado: 27/abr./2005
40
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 31-40, 2005
saude17.book Page 41 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
CASSIANE RODRIGUES, ET AL.
ORIGINAL /ORIGINAL
Aptidão Física de Mulheres Idosas:
estudo a partir de aulas
recreativas de karatê-do
Physical Aptitude of Senior Women: a study developed
from karate-do recreational classes
RESUMO O incentivo à prática regular de qualquer atividade física tem sido
observado nas diversas faixas etárias e em diferentes âmbitos. Nesse sentido, o conhecimento das respostas do treinamento torna-se relevante na elaboração de programas. Assim, o presente trabalho visa a i) conhecer o
comportamento de indicadores de aptidão física, particularmente flexibilidade e deslocamento vertical de membros inferiores em idosos praticantes
da modalidade karatê-do; e ii) explorar variação das variáveis estudadas em
diferentes momentos das aulas. As unidades de observação constituíram-se
de 18 voluntárias participantes do projeto oferecido pelo município de
Rincão/SP. Coletaram-se os dados em três momentos distintos: antes de iniciar as atividades, após dez e vinte aulas. Posteriormente, eles foram transcritos em planilha específica e armazenados em banco computacional,
produzindo informações no plano descritivo (medidas de centralidade e
dispersão) e inferencial por meio de análise de medidas repetidas. Os principais resultados apresentaram como destaque a flexibilidade, com aumento significativo do primeiro para o segundo momento das aulas (p < 0,01)
e, no deslocamento vertical de membros inferiores, discreta melhora em
todas as etapas (p > 0,05). Conclui-se, assim, que as aulas de karatê-do podem ser utilizadas como metodologia na melhoria nas variáveis estudadas.
Palavras-chave KARATÊ – DESLOCAMENTO VERTICAL – FLEXIBILIDADE.
CASSIANE RODRIGUES
Secretaria de Esportes e Turismo –
Prefeitura Municipal de Rincão/SP
JOÃO PAULO BORIN*
Curso de Mestrado em Educação
Física – Faculdade de Ciências da
Saúde (UNIMEP/SP)
CARLOS ROBERTO PEREIRA
PADOVANI
Mestre em informática pela Fatec/SP
CARLOS ROBERTO PADOVANI
Departamento de Bioestatística –
Faculdade de Ciências Médicas
(Unesp/SP)
*Correspondências: Rod. do Açúcar,
km 156, Mestrado em Educação
Física, 13400-911, Piracicaba/SP
[email protected]
ABSTRACT The incentive of the regular practice of any physical activity has
been observed in several age groups and in different settings. In this sense,
the feedback from training becomes relevant for the elaboration of
programs. The present study has as its main goals: i) to know the behavior
of physical aptitude indicators, particularly flexibility and vertical dislocation
of inferior members in seniors apprentices of Karate-Do, ii) to explore
variation of studied variables in different moments during the classes. The
observation units were constituted of 18 volunteers who participated in the
project offered by the town of Rincão/SP. The data were collected in three
different moments: before the beginning of the activities, after ten and
twenty classes. The data were, then, transcribed in specific spreadsheet,
stored in data bank producing information in the descriptive plan (central
measures and dispersion) and inference throughout analysis of repeated
measures. The principal results highlighted flexibility, that raised
significantly from the first to the second moment of the classes (p < 0,01),
and in the vertical dislocation of inferior members, which showed discreet
improvement in all the stages (p > 0,05). The data suggested that the
karate-do classes can be used as a methodology on improving the studied
variables.
Keywords KARATE-DO – VERTICAL DISLOCATION – FLEXIBILITY.
Saúde em Revista
APTIDÃO FÍSICA DE MULHERES IDOSAS: ESTUDO A PARTIR DE AULAS RECREATIVAS DE KARATÊ-DO
41
saude17.book Page 42 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
CASSIANE RODRIGUES, ET AL.
INTRODUÇÃO
os últimos anos, a busca pela qualidade de
vida tornou-se alvo de diferentes camadas
da sociedade e faixas etárias, particularmente dos idosos, para auxílio no retardo do envelhecimento. Associa-se qualidade de vida a fatores
como estado de saúde, longevidade, satisfação no
trabalho, salário, lazer, relações familiares, disposição, prazer e até espiritualidade.1
Raso et al.,2 de forma objetiva, classificam
como idosos os indivíduos pertencentes à faixa
etária superior aos 50 anos de idade. Levinson,3
mais detalhadamente, sugere que adultos passam
por importantes transições, classificando os estágios da vida adulta da seguinte maneira: aproximadamente aos 20 anos de idade, transição inicial
da vida adulta; aos 25, entrada no mundo adulto;
aos 30, transição dos 30 anos; dos 35 aos 40, estabelecimento; dos 40 aos 45, transição da meiaidade; dos 45 aos 50, entrada nos meados da fase
adulta; dos 50 aos 55, transição dos 50 anos; dos
55 aos 60, culminação dos meados da fase adulta;
dos 60 aos 65, transição da fase adulta avançada;
e dos 65 aos 70, fase adulta avançada.
Nota-se que algumas dificuldades são enfrentadas pelos idosos, como o padrão de beleza estabelecido pela indústria da beleza, que vende a eterna
juventude e nega a velhice. Porém, verifica-se aí o
reconhecimento e a conscientização nas questões
voltadas à saúde e aos cuidados com o corpo,4
pois, no Brasil, há aproximadamente 23 milhões
de idosos, com projeção de se chegar a 32 milhões, ao longo de 2005.5
O envelhecimento é um fenômeno biológico
e psicológico, que gera influência no âmbito familiar e social. Tal processo caracteriza-se pela
perda gradual de diversas funções orgânicas: no
sistema cardiovascular, por exemplo, a diminuição do volume sistólico em repouso e do débito
cardíaco; no respiratório, a redução do volume
residual e da capacidade vital; e, no músculo esquelético, a perda óssea de 1% ao ano, a partir
dos 35 anos, bem como diminuição da força
muscular e da flexibilidade.6
Segundo estudos do Colégio Americano de
Medicina do Esporte,7 o envelhecimento é um
processo complexo envolvendo muitas variáveis,
como genética, estilo de vida e doenças crônicas
que interagem entre si e influenciam significativamente o modo como alcançamos determinada
idade. À medida que a idade cronológica aumen-
N
42
ta, as pessoas tornam-se menos ativas e, conseqüentemente, suas capacidades físicas diminuem.
Diversas alterações acompanham esse processo,
como estresse, depressão e sentimento de velhice,
sendo que a redução da atividade física facilita o
surgimento de doenças crônicas.8
A participação regular em programas de exercício físico tem sido uma das alternativas para
amenizar o impacto do envelhecimento sobre algumas funções fisiológicas,5 pois o sedentarismo
prolongado leva a uma diminuição gradativa da
aptidão física. Já o treinamento físico é capaz de
produzir melhoras imediatas nas funções essenciais da aptidão física do idoso.4 No entanto,
Alves9 alerta que os exercícios físicos podem
apresentar algumas limitações para os idosos, sobretudo em razão das modificações fisiológicas
impostas pelo processo de envelhecimento.
Pesquisas demonstram que, com treinamento
adequado, é possível a pessoa melhorar suas diferentes capacidades físicas, como força, flexibilidade, resistência e agilidade, pois a primeira
depende da secção longitudinal do músculo e a
segunda, de quanto o músculo pode se alongar –
mecanismos que, mesmo diferentes, não eliminam um ao outro.10 O desenvolvimento tanto da
força quanto da resistência muscular apresentam
vários benefícios à saúde, como aumento da densidade óssea, do volume muscular, da força do tecido conjuntivo e da auto-estima. Idosos que se
exercitam com pesos recuperam boa parte da força perdida.6
De acordo com Barbanti,11 a força manifestase de duas maneiras: dinâmica e estática. A dinâmica é quando ocorre encurtamento das fibras
musculares, provocando a movimentação dos
segmentos musculares – portanto, há movimento. Pode ser classificada como positiva (concêntrica), quando é maior que a resistência, ou negativa
(excêntrica), quando a resistência é maior que ela,
provocando recuo. Já na forma estática, não
ocorre encurtamento das fibras musculares, não
havendo, assim, movimento.
Cabe aqui destacar que, em média, a mulher
atinge o seu valor máximo de força entre 16 e 18
anos de vida, ao passo que o homem o faz entre
18 e 20 anos.12 Outro ponto de destaque nesse
cenário refere-se à capacidade de realizar movimentos com grande amplitude, conhecida como
flexibilidade, afetada pela maneira, pelo tipo e
pela estrutura das articulações, além dos tendões
e ligamentos, entre outros.13
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 41-45, 2005
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CASSIANE RODRIGUES, ET AL.
A flexibilidade pode ser classificada como geral
ou específica. A primeira é entendida quando a
movimentação ocorre pela ação conjunta das articulações; a segunda, quando a ação dá-se apenas
em uma ou um conjunto de articulações.11 O treinamento de flexibilidade pode proporcionar vários
benefícios: diminuição do estresse e da tensão muscular, melhora da postura e simetria corporal, alívio
de dor lombar e de cãibras, aumento da amplitude
de movimento como resultado da melhora da mobilidade articular e do alongamento muscular.10
Segundo Nieman,6 os benefícios da flexibilidade associados à saúde são: melhoria da mobilidade articular, aumento da resistência a lesão e
dores musculares, diminuição do risco de lombalgia e outras dores de coluna, melhoria da postura, movimentos mais graciosos do corpo e
melhoria da aparência pessoal e da auto-imagem,
desenvolvimento da habilidade para práticas esportivas e diminuição da tensão e do estresse.
Coelho e Araújo14 relatam maior facilidade na
execução das atividades cotidianas em adultos,
quando aumentados os níveis de flexibilidade.
Nota-se, assim, a importância do desenvolvimento das diversas capacidades biomotoras nas
várias faixas etárias, particularmente na terceira
idade. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva
conhecer o comportamento da flexibilidade e do
deslocamento vertical de membros inferiores em
idosos praticantes da modalidade karatê-do e explorar a variação das referidas variáveis em diferentes momentos das aulas.
METODOLOGIA
As unidades observacionais foram compostas
por 18 voluntárias, saudáveis, todas do sexo feminino, com média de idade de 58,8 (± 12,4)
anos, peso de 57,4 (± 8,8) kg, estatura de 1,59
(± 5,8) [cm], residentes no município de Rincão/
SP. Utilizou-se como critério de exclusão o registro de evidências clínicas de alterações cardíacas,
pulmonares e ortopédicas na anamnese inicial.
Para análise do deslocamento vertical de
membros inferiores, empregou-se o teste de impulsão vertical com o auxílio dos braços, realizando-se três tentativas e anotando-se a melhor.15
Para a flexibilidade, o Banco de Wells, com duas
tentativas, considerando-se a melhor.15 A unidade de medida adotada em ambos os testes foi
centímetros. Cabe destacar que se preservou a ho-
mogeneidade dos procedimentos de coleta pela
adoção do mesmo examinador.
Realizou-se a avaliação física no próprio local
das aulas, no Centro Comunitário Antônio Pinto,
em três momentos distintos: antes de iniciarem as
aulas (AI); após 10 aulas (A10); e depois de 20 aulas
(A20). As aulas começavam com a confirmação da
presença, em seguida, alongamento durante cinco
minutos e, depois, aquecimento, na maioria das
vezes feito com recreação, com duração por volta
de 15 minutos. Os exercícios específicos de karatêdo eram executados em 30 minutos e, nos 10 últimos, administravam-se atividades recreativas ou
relaxantes. O período total foi de 12 semanas, com
encontros marcados duas vezes por semana, com
duração de 60 minutos cada aula.
Os dados obtidos foram transcritos em planilha específica e armazenados em banco computacional, produzindo informações no plano descritivo
(medidas de centralidade e dispersão – média e
desvio-padrão) e inferencial, mediante análise de
medidas repetidas.16 Todas as participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido
antes da participação no programa, aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Araraquara.
RESULTADOS
A tabela 1 apresenta os resultados encontrados
nos diferentes momentos da avaliação. Quanto à
flexibilidade, nota-se na avaliação inicial (AI) que a
média aponta valores de 28,5 ± 7,9 cm. No segundo momento, após participação em 10 aulas
(A10), as alunas apresentaram escores médios de
30,8 ± 7,6 cm. Pode-se averiguar, de AI para A10,
um ganho significativo de flexibilidade (p < 0,01).
Cabe ressaltar que a identificação com letras iguais
significa semelhança e o contrário, diferença significativa entre os momentos analisados. No terceiro
e último momento, após 20 aulas (A20), as alunas
mostraram, em média, 30,9 ± 6,8 cm.
No que diz respeito ao deslocamento vertical
de membros inferiores, pode-se observar que na
AI, as alunas alcançaram escores médios de 12,5
± 4 cm; no segundo momento (A10), os dados
médios elevaram-se para 13 ± 3 cm e, por fim,
na terceira e última etapa (A20), os escores médios apontam valores de 17 ± 3,3 cm. Nota-se que,
nessa variável, pelo comportamento da letra a,
não houve diferença significativa (p > 0,05).
Saúde em Revista
APTIDÃO FÍSICA DE MULHERES IDOSAS: ESTUDO A PARTIR DE AULAS RECREATIVAS DE KARATÊ-DO
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CASSIANE RODRIGUES, ET AL.
Tabela 1. Valores médios e desvio-padrão das variáveis estudadas segundo momentos da avaliação e respectivo resultado do teste
estatístico.
VARIÁVEL
28,5 (± 7,9)a
A10
30,8 (± 7,6)b
A20
30,9 (± 6,8)b
5,50 (p < 0,01)
12,5 (± 4,0)a
13,0 (±3,0)a
17,0 (±3,3)a
5,77 (p > 0,05)
AI
Flexibilidade
Deslocamento
Vertical MMII
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos permitem verificar uma
melhora na aptidão física das senhoras submetidas
a treinamento de karatê-do, de acordo com a literatura sobre programas dirigidos à população idosa.
O efeito positivo no deslocamento vertical de
membros inferiores, de 12,5cm em AI para 17cm
em A20, pode explicar-se por uma das características do treinamento de karatê: na execução dos
exercícios, as pernas permanecem semiflexionadas,
com constante movimentação e transferência de
peso de uma para outra. Matsudo et al.17 citam
que, em relação a programas de exercícios dirigidos
a idosos, é fundamental o fortalecimento da musculatura, de modo a incrementar a massa muscular
e, em conseqüência, a força, evitando uma das
principais causas de inabilidade e quedas.
Meirelles4 objetivou verificar o efeito de um
protocolo de treinamento com pesos, de intensidade progressiva sobre a variável força, de nove
mulheres saudáveis, com média de idade 68,4 ±
6,6 anos. Concluiu que, com 12 semanas de treinamento, é possível constatar resultados significativos, apontando ainda que idosos podem
melhorar seu nível de força e autonomia funcional. Tais resultados elucidam os dados obtidos no
presente estudo, pois, mesmo não sendo treinamento específico para o desenvolvimento de força, obtiveram-se indícios de que essa variável
aumenta com a prática de atividade física regular
– os efeitos mais expressivos são observados na
atividade com pesos, priorizando, dessa forma, o
desenvolvimento da capacidade força.
Frontera et al.18 citam que a força muscular em
indivíduos idosos pode sofrer incremento de duas
a três vezes, em períodos relativamente curtos de
três a quatro meses de treinamento, em razão do
maior recrutamento das fibras musculares. Adotando metodologia de condicionamento físico,
método Pilates, Ada19 encontrou melhorias tanto
em equilíbrio e coordenação quanto em ganhos de
força muscular. Outros autores – Costa et al.,20
que estudaram idosas, e Teixeira et al.,21 em sua
44
RESULTADO DO
TESTE ESTATÍSTICO
MOMENTOS DA AVALIAÇÃO
análise de idosos com o teste de sentar e levantar
de cadeira durante 30 segundos, de modo a verificar modificação de força de membros inferiores –
encontraram, em ambos os sexos, melhoria a partir da oitava semana de treinamento.
De fato, Gomes22 relata que os ganhos de força
em períodos iniciais de um programa de treinamento, compreendendo de duas a oito semanas, relacionam-se aos impulsos neurais aumentados para o
músculo, sincronização aumentada de unidades
motoras, otimização da ativação da fibra contrátil e
inibição dos mecanismos de proteção muscular. De
acordo com Lorda,23 as atividades das fibras musculares diminuem com o processo de envelhecimento
e, como pudemos notar, as aulas proporcionaram
aumento nas atividades dessas fibras.
Quanto à flexibilidade, observou-se um aumento significativo no momento inicial, com resultados semelhantes aos de Oliveira et al.,24 que
comparam nível de flexibilidade (quadril e tronco) entre praticantes de Tai Chi Chuan e não praticantes de atividade física, constatando maiores
valores com diferenças significativas na extensão
e flexão de quadril nos adeptos da arte chinesa.
Yazawa et al.25 também verificaram aumento significativo na flexibilidade de senhoras com a prática de ginástica aquática, após 12 meses de
treinamento. E Petroski26 examinou as alterações
causadas por um programa de atividade para idosos durante um ano, analisando o tempo de reação, flexibilidade e equilíbrio, e concluiu que tal
programa proporcionou melhoras significativas
nessas duas últimas variáveis.
Os dados aqui apontados comportam-se na
mesma direção de Alter,10 sobre os vários benefícios do treinamento da flexibilidade, pois apontam melhoria da mobilidade articular e do
alongamento muscular durante várias sessões de
atividade física regular.
Ao rever as recomendações e o posicionamento
do ACSM7 e WHO27, que incentivam a prática de atividades físicas, enfatizando as que abrangem sobretudo a função cardiovascular, a força, a estabilidade
postural, o equilíbrio, a flexibilidade e a função psiSAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 41-45, 2005
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CASSIANE RODRIGUES, ET AL.
cológica, e sua ligação com a saúde, é possível concluir que o karatê-do também situa-se como válida
opção e sugestão de exercício para melhora da saúde e qualidade de vida de indivíduos idosos e de
meia idade, já que atende à maioria das propostas
de atividades dirigidas a essa população.
Por sua vez, este estudo demonstrou melhoria
nas duas variáveis analisadas durante as aulas, indicando que o treinamento em karatê-do é capaz
de proporcionar benefício na aptidão física, mais
especificamente nas condições musculoesqueléticas em mulheres idosas.
CONCLUSÃO
O presente estudo indica que, por meio das
aulas recreativas de karatê-do, as mulheres idosas
estudadas conseguiram aumento significativo na
flexibilidade e discreta melhoria no deslocamento
vertical de membros inferiores.
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Submetido: 30/set./2004
Aprovado: 27/abr./2005
Saúde em Revista
APTIDÃO FÍSICA DE MULHERES IDOSAS: ESTUDO A PARTIR DE AULAS RECREATIVAS DE KARATÊ-DO
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CASSIANE RODRIGUES, ET AL.
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MARCELO DIAS DE AGUIAR PACHECO, ET AL.
ORIGINAL /ORIGINAL
Qualidade de Vida e Performance
em Idosos: estudo comparativo
Quality of Life and Performance of Elderly Persons:
a comparative study
RESUMO O objetivo deste estudo foi comparar a qualidade de vida e a performance motora de indivíduos idosos. Participaram do estudo 18 voluntários com idade maior ou igual a 60 anos. Foram formados dois grupos
treinados (GT): cinco indivíduos do sexo masculino e quatro do sexo feminino (que realizavam treinamento físico três vezes por semana, há no mínimo um ano) e dois grupos controle (GC): cinco indivíduos do sexo
masculino e quatro do sexo feminino (que não realizavam treinamento físico). Os voluntários submeteram-se aos seguintes protocolos: avaliação da
qualidade de vida (questionário SF-36) e da performance motora (teste de
capacidade aeróbia – teste de caminhada de seis minutos e teste de flexibilidade – teste de sentar e alcançar). Na avaliação da qualidade de vida, o GT
masculino apresentou diferença significante para capacidade funcional, aspecto físico e dor. O GT feminino apresentou diferença significante para capacidade funcional e estado geral de saúde. Na avaliação da performance
motora, o GT masculino percorreu uma distância maior que o GC, e a percepção subjetiva do esforço foi maior nos GC masculino e feminino. Na
avaliação da flexibilidade, não ocorreram diferenças significantes. Consideramos que prática de exercícios físicos proporciona benefícios à qualidade
de vida e performance motora de indivíduos idosos.
Palavras-chave IDOSOS – TREINAMENTO FÍSICO – QUALIDADE DE VIDA –
PERFORMANCE.
MARCELO DIAS
PACHECO*
DE
AGUIAR
Mestre em Educação Física pela
UNIMEP/SP
MARCELO
DE
CASTRO CESAR
Mestrado em Educação Física –
Faculdade de Ciências da Saúde
(UNIMEP/SP)
ADALBERTO VICENTE
OLIVEIRA JR.
DE
Mestre em Educação Física pela
UNIMEP/SP
IRIA APARECIDA STORER
Biblioteca da UNIMEP/SP
*Correspondências: R. Maria Tarsia,
312, 13416-440, Piracicaba/SP
[email protected]
ABSTRACT The purpose of this study was to compare the quality of life and
motor performance of elderly persons. The volunteers were eighteen 60
year-old or more persons. The elderly persons formed two trained groups
(TG): five men and four women who realized physical training three times
per week, over a one year period. And two control groups (CG): five men
and four women that didn’t realize physical training. The volunteers were
submitted to the following protocol: evaluation of the quality of life
(questionnaire SF-36) and motor performance (aerobic capacity test – six
minute walk test and flexibility – sit and reach test). In the evaluation of the
quality of life, the male TG presented a significant difference for the
functional capacity, physical and pain aspect. The female TG presented a
significant difference for the functional capacity and general health
conditions. In the evaluation of the motor performance, the male TG
walked a greater distance than the CG, and the subjective perception of
exertion was greater in the male and female CG’s. Flexibility didn’t show
significant differences. We considered that the practice of physical exercises
provides benefits in the quality of life and motor performance in elderly
persons.
Keywords ELDERLY PERSONS – PHYSICAL TRAINING – QUALITY OF LIFE –
PERFORMANCE.
Saúde em Revista
QUALIDADE DE VIDA E PERFORMANCE EM IDOSOS: ESTUDO COMPARATIVO
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MARCELO DIAS DE AGUIAR PACHECO, ET AL.
INTRODUÇÃO
envelhecimento é um processo complexo
envolvendo muitas variáveis que, ao interagir, influenciam significativamente o modo
como alcançamos determinada idade. Entre as
patologias que podem estar associadas ao processo de envelhecimento, o National Heart, Lung,
and Blood Institute,1 destaca que o idoso sedentário corre maior risco de desenvolver doenças
cardiovasculares, câncer de cólon, diabetes tipo II,
pressão alta e obesidade. Isso, além das quedas e
fraturas decorrentes do envelhecimento, que afeta, de muitas formas, os músculos utilizados na
locomoção, entre elas, capacidade de trabalho reduzida e maior tempo de recuperação após uma
lesão. Por sua vez, os exercícios de resistência podem diminuir esses efeitos do envelhecimento.2
Outro sistema afetado por tal processo é o
metabolismo energético, que também declina
progressivamente e, concomitantemente às alterações musculoesqueléticas relacionadas com a
idade, pode contribuir para mudanças na massa
óssea, na sensibilidade à insulina e na capacidade
cardiorrespiratória.3
Existem evidências que demonstram que a
melhor maneira de otimizar e promover a saúde
no idoso é prevenir seus problemas médicos mais
freqüentes: o aumento do peso, da pressão arterial
e da intolerância à glicose, bem como perda de
massa óssea e osteoporose.4 Nesse sentido, o exercício físico pode constituir excelente instrumento
de promoção da saúde, em especial no idoso, pois
a sua prática regular induz a várias adaptações fisiológicas e psicológicas positivas. São elas: aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2máx);
maiores benefícios circulatórios periféricos; aumento da massa muscular; melhor controle da glicemia; melhora do perfil lipídico; redução do
peso corporal; melhor controle da pressão arterial
em repouso; melhora da função pulmonar; melhora do equilíbrio e da marcha; menor dependência para realização de atividades diárias;
melhora da auto-estima e da autoconfiança; significativa melhora da qualidade de vida.1, 3, 4, 5
A participação em exercícios físicos regulares
fornece um número de respostas favoráveis que
colaboram para o envelhecimento saudável, melhorando a qualidade de vida, pois é uma modalidade de intervenção efetiva para reduzir e
prevenir inúmeros declínios psicológicos e funcionais associados ao envelhecimento.3, 5
O
48
Com o objetivo de avaliar os efeitos do treinamento físico em idosos, este estudo propôs-se a
comparar a qualidade de vida e a performance motora de indivíduos idosos treinados e não treinados.
MÉTODOS
Foram avaliados 18 indivíduos, 10 do sexo
masculino e oito do feminino, saudáveis, com
idade de 60 anos ou mais. Cinco indivíduos do
sexo masculino e quatro do feminino formaram o
grupo treinado (GT), de praticantes de exercício
físico três vezes por semana, com tempo de treinamento maior ou igual a um ano. Cinco indivíduos do sexo masculino e quatro do feminino,
que não praticavam nenhum exercício físico regular, compuseram o grupo controle (GC).
Os voluntários inicialmente responderam a
um questionário para avaliação clínica e foram
realizadas medidas antropométricas (tab. 1 e 2).
Tomaram-se como critérios de exclusão: índice
de massa corpórea maior ou igual a 30 kg/m2,
doenças cardiovasculares, metabólicas e ortopédicas e câncer.
Este estudo vinculou-se ao projeto temático
em andamento, intitulado “Avaliação e Treinamento Físico de Participantes do Centro de Qualidade de Vida da Universidade Metodista de
Piracicaba”, aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa dessa universidade.
Os voluntários selecionados submeteram-se a
avaliação da qualidade de vida e da performance
motora. Para a primeira, foi aplicado um questionário padrão (SF-36), validado por Ciconelli.6 É
um questionário multidimensional com oito domínios: aspectos físicos, capacidade funcional, estado geral de saúde, dor, aspectos emocionais,
aspectos sociais, vitalidade e saúde mental. Já
para o exame da performance motora, foram realizados testes de capacidade cardiorrespiratória,
empregando-se o teste da caminhada de seis minutos.7 Adotaram-se como variáveis desse teste: a
distância percorrida em metros, a freqüência cardíaca – FC (bpm), a freqüência respiratória – FR
(respirações/min.), a pressão arterial sistólica (PAS)
e diastólica (PAD) (mmHg) e a percepção subjetiva
de esforço pela escala de Borg. O teste de caminhada de seis minutos efetuou-se em um trajeto
de 28 metros demarcado metro a metro, duas vezes em cada avaliação. Se fosse necessário, em
cada avaliação havia ainda intervalos sem limite
de tempo para descanso entre os testes. Para a
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 47-52, 2005
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MARCELO DIAS DE AGUIAR PACHECO, ET AL.
Tabela 1. Médias, desvio-padrão e resultados do teste t, das características dos grupos GC e GT, indivíduos do sexo masculino.
VARIÁVEIS
GRUPOS MASCULINOS
GT (n = 5)
68,2 ± 3,1
65,6 ± 4
1,69 ± 0,07
1,68 ± 0,03
77,4 ± 7,7
72,6 ± 8,6
27,1 ± 1,2
25,68 ± 2,8
P
GC (n = 5)
Idade (anos)
Estatura (m)
Massa corporal (kg)
Índice de massa corporal (kg/m2)
0,28
0,86
0,38
0,35
Tabela 2. Médias, desvio-padrão e resultados do teste t, das características dos grupos GC e GT, indivíduos do sexo feminino.
VARIÁVEIS
Idade (anos)
Estatura (m)
Massa corporal (kg)
Índice de massa corporal (kg/m2)
GRUPOS FEMININOS
GC (n = 4)
GT (n = 4)
69 ± 5,3
63,2 ± 5,2
1,54 ± 0,04
1,50 ± 0,09
65,6 ± 12
61,3 ± 10,2
27,5 ± 5,4
26,9 ± 2,11
quantificação dos resultados aqui obtidos, adotaram-se as equações de referência do protocolo de
Enright e Sherrill,8 em que se verifica distância
percorrida/distância predita em metros (%).
No que diz respeito à análise da flexibilidade,
foi realizado o teste de sentar e alcançar no banco
de Wells. A variável mensurada nesse teste é a
amplitude de movimento de uma determinada
articulação e/ou o nível de amplitude de movimento alcançado por um grupo de articulações
em centímetros. Foram feitas três tentativas para
registrar o maior valor alcançado, aferido em
centímetros. Os resultados obtidos, por meio das
variáveis mensuradas, foram tratados estatisticamente,9 aferindo-se valores de média e desvio-padrão para cada um deles e para o conjunto de
dados, conforme os grupos de estudo: indivíduos
treinados (GT) e não treinados (GC). O teste de hipótese escolhido, por se tratarem de amostras pequenas de dez e oito indivíduos cada uma, foi o t
não pareado para a análise das variáveis antropométricas, flexibilidade e capacidade cardiorrespiratória por grupo de estudo.
A avaliação dos domínios do questionário de
avaliação da qualidade vida adotou o Mann-Whitney U Test, não paramétrico; já o cálculo do teste
t empregou o software Excel; e o Mann-Whitney
U Test, o software OS versão 3.0.
RESULTADOS
Na avaliação da qualidade de vida dos indivíduos do sexo masculino, o GT apresentou diferenças significantes nos domínios capacidade
funcional, aspecto físico e dor (tab. 3). Na análise
Saúde em Revista
QUALIDADE DE VIDA E PERFORMANCE EM IDOSOS: ESTUDO COMPARATIVO
P
0,17
0,41
0,60
0,83
da capacidade cardiorrespiratória, o mesmo grupo percorreu uma distância maior que o GC; já a
percepção subjetiva do esforço (PSE) revelou-se
maior no GC (tab. 3).
As variáveis freqüência cardíaca, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e freqüência respiratória, obtidas ao final do teste, não
demonstraram diferenças significantes entre os
grupos, assim como a distância percorrida/predita
(tab. 3). Também não houve diferença relevante
entre os grupos na avaliação da flexibilidade dos
indivíduos do sexo masculino (tab. 3).
Na análise da qualidade de vida dos indivíduos do sexo feminino, os do GT apresentaram diferenças significantes nos domínios capacidade
funcional e estado geral de saúde (tab. 4). Na da
capacidade cardiorrespiratória, a percepção subjetiva do esforço mostrou-se significativamente
maior no GC (tab. 4).
As variáveis freqüência cardíaca, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e freqüência respiratória, obtidas ao final do teste, não se
revelaram diferentes entre os grupos, assim como
a distância percorrida/predita (tab. 4). O teste de
flexibilidade dos indivíduos do sexo feminino
também não apresentou disparidade relevante
entre o GT e o GC (tab. 4).
DISCUSSÃO
Os grupos masculino e feminino não apresentaram diferenças significativas nos parâmetros antropométricos, o que era esperado em razão do
fator de exclusão de indivíduos obesos da amostra. A obesidade prejudica a performance motora,
49
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MARCELO DIAS DE AGUIAR PACHECO, ET AL.
Tabela 3. Medidas descritivas e análise estatística dos resultados dos GC e GT, indivíduos do sexo masculino.
RESULTADO DAS AVALIAÇÕES
GRUPOS MASCULINOS
GT (n = 5)
P
GC (n = 5)
Qualidade de vida – SF-36
Capacidade funcional (%)
Aspectos físicos (%)
Dor (%)
Estado geral de saúde (%)
Vitalidade (%)
Aspectos sociais (%)
Aspectos emocionais (%)
Saúde mental (%)
Capacidade cardiorrespiratória
Distância percorrida (m)
Distância percorrida/predita (%)
FC final (bpm)
PAS final (mmHg)
PAD final (mmHg)
FR final(ipm)
PSE
Valor alcançado (cm)
Flexibilidade
76 ± 19,1
45 ± 51,2
70,6 ± 14,3
70 ± 7,5
69 ± 19,8
87,8 ± 15,1
60 ± 43,5
72,8 ± 21,6
97 ± 4,4*
100 ± 0*
86,6 ± 15,5*
81 ± 10,8
77 ± 5,7
92,8 ± 6,5
80 ± 44,7
81,6 ± 19,7
0,03
0,037
0,047
0,10
0,37
0,45
0,14
0,14
555,6 ± 90,4
114,4 ± 10,13
113 ± 12,5
136 ± 5,4
80 ± 0
19,6 ± 2,9
3,5 ± 0,57
664,6 ± 44,7*
131,6 ± 10,1
116,6 ± 11,3
150 ± 16
80 ± 0
22 ± 6,2
1,75 ± 0,9*
0,049
0,20
0,70
0,13
23,8 ± 7,4
29,6 ± 4,8
0,18
0,90
0,005
* Parâmetros que apresentam diferenças significantes (p ≤ 0,05);
FC – freqüência cardíaca; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica; FR – freqüência respiratória; PSE – percepção subjetiva do esforço.
Tabela 4. Medidas descritivas e análise estatística dos resultados dos GC e GT, indivíduos do sexo feminino.
RESULTADO DAS AVALIAÇÕES
GRUPOS FEMININOS
GT (n = 4)
P
GC (n = 4)
Qualidade de vida – SF-36
Capacidade funcional (%)
Aspectos físicos (%)
Dor (%)
Estado geral de saúde (%)
Vitalidade (%)
Aspectos sociais (%)
Aspectos emocionais (%)
Saúde mental (%)
Capacidade cardiorrespiratória
Distância percorrida (m)
Distância percorrida/predita
FC final (bpm)
PSA final (mmHg)
PDA final (mmHg)
FR final (ipm)
PSE
Flexibilidade
Valor atingido
60 ± 16,8
56,25 ± 42,6
57 ± 18,5
65,7 ± 11,8
78,7 ± 6,3
78,2 ± 35,8
66,7 ± 47,1
82 ± 6,9
83,7 ± 2,5*
93,7 ± 12,5
79,5 ± 16,3
91,5 ± 6,1*
86,2 ± 9,4
90,7 ± 11,9
91,7 ± 16,5
81,0 ± 14,4
0,01
0,17
0,049
0,01
0,22
0,54
0,27
0,66
484,5 ± 66
109,5 ± 16,2
114,5 ± 6,6
137,5 ± 9
80 ± 0
19,5 ± 3
4,25 ± 1,9
510,5 ± 92,9
111 ± 13,7
119,5 ± 16,5
135 ± 1
80 ± 0
20,5 ± 5,2
1 ± 0,8*
0,66
0,89
0,40
0,15
1,00
0,13
0,03
17,5 ± 4,7
22 ± 4,8
0,23
* Parâmetros que apresentam diferenças significantes (p ≤ 0,05);
FC – freqüência cardíaca; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica; FR – freqüência respiratória; PSE – percepção subjetiva do esforço.
bem como a flexibilidade, a capacidade cardiorrespiratória e a qualidade de vida, de modo que a
inclusão de indivíduos obesos na amostra dificultaria a interpretação dos resultados.10 Porém,
deve-se destacar que ainda são inconclusivos os
50
estudos que comprovam a capacidade do exercício regular de melhorar os efeitos adversos da
obesidade na saúde do idoso.
Neste estudo, bem como nos de Kraemer et
al.11 não se observaram disparidades significatiSAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 47-52, 2005
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MARCELO DIAS DE AGUIAR PACHECO, ET AL.
vas na massa corporal e no percentual de gordura
de indivíduos idosos praticantes de exercícios físicos regulares, quando comparados com indivíduos não treinados. O mesmo acontece nos
trabalhos de Ferrara et al.,12 Barbosa e Santarém
et al.,13 e Ades et al.14 A falta de orientação nutricional aliada ao pequeno tamanho da amostra
também pode ter influenciado os resultados, sugerindo a necessidade de adoção de dieta orientada para verificar possíveis alterações nas variáveis
analisadas.
Relevantes perdas de flexibilidade são observadas durante o processo de envelhecimento, o
que foi constatado neste estudo, que não demonstrou diferenças significantes entre o GT e o
GC . Os poucos trabalhos relacionando os efeitos
do treinamento de força e/ou exercícios aeróbios
na flexibilidade de indivíduos idosos ainda não se
mostraram capazes de desvendar quais mecanismos fisiológicos, decorrentes desses tipos de treinamento, acarretariam mudanças positivas nesse
parâmetro, além de também não comprovar a
eficácia de um programa de exercícios para a melhoria da flexibilidade.15
Os quatro grupos não apresentaram limitação
funcional cardiorrespiratória para as atividades
em razão da idade, o que era esperado, pois constituíam-se de indivíduos idosos saudáveis. Esse
achado parece corroborar as afirmações de Kuo
et al.16 sobre semelhanças na diminuição da taxa
do consumo de oxigênio, comparando idosos
que mantiveram um volume de treino diário vigoroso, desde a adolescência até idade avançada,
com a população em geral, admitindo-se um desgaste natural da capacidade cardiorrespiratória
resultante do envelhecimento. Porém, deve-se
destacar que o GT masculino demonstrou melhor
capacidade motora, levando-se em conta as diferenças estatisticamente significantes na distância
percorrida/predita do teste de caminhada de seis
minutos. A análise da percepção subjetiva do esforço demonstrou diferença estatisticamente significativa para os dois grupos treinados, coerente
com os achados de ACSM,15 Barros Neto et al.17 e
Buchheit.18
É possível ainda que este estudo não apresente
diferenças significativas nos parâmetros cardiorrespiratórios, porque os indivíduos do GC podem
estar praticando atividades de lazer (como a dança), cotidianas (jardinagem), faxina da casa e até
utilizando meios de locomoção, como caminhada
e bicicleta, capazes de trazer os mesmos benefíciSaúde em Revista
QUALIDADE DE VIDA E PERFORMANCE EM IDOSOS: ESTUDO COMPARATIVO
os que a prática regular de exercícios, conforme
Buchheit.18 As novas recomendações do American College of Sports Medicine4 e dos Centers
for Disease Control and Prevention19 dos Estados Unidos destacam os efeitos salutares de qualquer tipo de atividade física, assegurando que elas
são da mesma ordem de grandeza para a população idosa, mesmo quando interrompidas ou sem
a manutenção de uma freqüência cardíaca alvo.
Quanto à qualidade de vida, o GT masculino
demonstrou maiores valores nos parâmetros capacidade funcional, aspectos físicos e dor, embora
não tenham ocorrido diferenças significantes nos
outros domínios. O GT feminino também apresentou maiores valores e diferenças significantes
quanto a capacidade funcional, dor e estado geral
de saúde.
Sugere-se, então, que o potencial benéfico da
prática de exercícios físicos regulares deve ser melhor apreciado, levando em conta uma anamnese
mais aprofundada, que contemple toda e qualquer atividade física praticada pelo indivíduo idoso para a formação de grupos de estudo, e
adotando protocolos como o Score for Sport
Activities from the Modified Baecke Questionnaire for Older Adults (MBQOA), desenvolvido por
Voorrips et al.20
CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo apontam que a
prática de exercícios físicos, sem orientação nutricional, não modifica os parâmetros antropométricos de idosos. A performance motora de idosos
parece melhor em indivíduos que praticam exercícios físicos do que naqueles que não o fazem,
pois observou-se que a percepção subjetiva ao esforço revelou-se significativamente menor em
ambos os grupos, sendo também maior a distância percorrida pelo grupo masculino.
A qualidade de vida dos idosos treinados é
melhor que a dos não treinados nos domínios capacidade funcional, aspectos físicos e dor, no grupo masculino, e capacidade funcional e estado
geral de saúde, no grupo feminino. Os indivíduos
treinados de ambos os sexos não apresentaram
resultados inferiores aos dos não treinados, indicando que o treinamento físico não acarreta prejuízo para idosos nos aspectos investigados.
51
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MARCELO DIAS DE AGUIAR PACHECO, ET AL.
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Submetido: 26/out./2004
Aprovado: 24/ago./2005
52
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 47-52, 2005
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RAFAEL HERLING LAMBERTUCCI, ET AL.
REVISÃO DE LITERATURA /BIBLIOGRAPHY REVIEW
Alterações do Sistema Neuromuscular
com o Envelhecimento e a
Atividade Física
Neuromuscular System Changes in Aging and Physical Activity
RESUMO O número de idosos vem crescendo significativamente, em todo
o mundo, nesses últimos anos. Isso se deve a uma melhora na qualidade de
vida, em decorrência dos avanços tecnológicos e progressos nas pesquisas
biomédicas, no saneamento básico e na assistência médica, melhora dos hábitos alimentares e conscientização de todos sobre a necessidade de realizar
atividades físicas regulares. Segundo dados estatísticos, o Brasil possui cerca
de 5,8% de idosos acima de 65 anos e estima-se que, em 2050, a população mundial acima dessa idade aumentará para 15,9%. A expectativa de
vida também cresceu no Brasil, de 66 anos, em 1991, para 68,6 anos, em
2000. Há diferenças entre os sexos: as mulheres têm expectativa de vida
maior que os homens em 7,8 anos. Em virtude desse aumento da população de idosos, cresce a necessidade de os profissionais da saúde pesquisarem sobre esse grupo de indivíduos que precisa de cuidados especiais.
Deve-se entender o processo de envelhecimento, as alterações morfofisiológicas por ele desencadeadas e também os métodos para tratar, prevenir e
minimizar as suas conseqüências no organismo. Este trabalho teve como
objetivo, por meio de uma revisão de literatura, elencar as principais mudanças decorrentes do envelhecimento e os principais benefícios da prática
regular de atividades físicas.
Palavras-chave ENVELHECIMENTO – ALTERAÇÕES MORFOFUNCIONAIS –
ATIVIDADE FÍSICA REGULAR – SISTEMA NEUROMUSCULAR.
RAFAEL HERLING
LAMBERTUCCI
Curso de Educação Física –
Faculdade de Ciências da Saúde
(UNIMEP/SP)
TANIA CRISTINA PITHONCURI*
Curso de Educação Física –
Faculdade de Ciências da Saúde
(UNIMEP/SP)
*Correspondências: Rua Coronel
Melo de Oliveira, 1.031, Pompéia,
05011-040, São Paulo/SP
ABSTRACT The number of aged people is growing significantly in the whole
world these last years. This process occurs because of an increase in the
quality of life due to technological advances, biomedical progress,
improvements in basic sanitation, medical assistance, feeding habits and the
conscience of the importance to be physically active. According to statistical
data, in Brazil there are nearly 5.8% of aged people over the age of 65, and
it is estimated that the world population over this age, in 2050, will increase
to 15.9%. The Brazilian life expectancy also increased from 66 years in
1991 to 68.6 years in 2000. Brazilian women have higher life expectancy
comparing to men (7.8 years). With the increasing number of aged people,
health professionals need to study even more about this population, which
require special care. It is very important to understand the aging process, the
morphological and functional changes that occur, and also the methods to
treat, prevent and minimize all these events. The aim of this review was to
verify the main changes in the aging process and the benefits of regular
physical activity.
Keywords AGING – MORPHOLOGICAL AND FUNCTIONAL CHANGES –
REGULAR PHYSICAL ACTIVITY – NEUROMUSCULAR SYSTEM.
Saúde em Revista
ALTERAÇÕES DO SISTEMA NEUROMUSCULAR COM O ENVELHECIMENTO E A ATIVIDADE FÍSICA
53
saude17.book Page 54 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
RAFAEL HERLING LAMBERTUCCI, ET AL.
INTRODUÇÃO
envelhecimento inicia-se desde a concepção.
Esse processo é responsável por várias mudanças, tanto fisiológicas quanto morfológicas, que afetam células, tecidos e órgãos, mas em
momentos e com velocidades diferentes, variando entre os indivíduos.1
Nos dias atuais, com os progressos nas pesquisas biomédicas, os avanços tecnológicos, a melhora na assistência médica e a conscientização da
importância de se ter bons hábitos alimentares
conjugados à prática regular de atividades físicas,
o número de idosos em todo o mundo aumenta a
cada dia. Segundo estatísticas do World Population Prospects: the 2002 revision, em 1995 o número de idosos com idade acima de 65 anos era
de 6,5% da população mundial. Em 2000, esse
número elevou-se para 6,9% e estima-se que, em
2050, atingirá 15,9%. No Brasil, o Censo Demográfico 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), divulgou que essa fatia da população é de 5,8% e que a expectativa de vida
dos brasileiros teve aumento de 2,6 anos, comparando-se com o Censo de 1991, passando de 66
para 68,6 anos de vida.
Muitos se perguntam por que envelhecemos e
o que envolve esse processo tão complexo. Segundo Kirkwood,1 um único gene responsável
pelo envelhecimento ainda não foi encontrado.
Existem várias teorias e definições acerca do envelhecimento; contudo, por se tratar de um processo envolvendo inúmeros fatores, não há uma
totalmente aceita. Entre elas, a teoria imunológica, proposta por Walford em 1981,2 caracterizase por dois aspectos principais: o primeiro descreve que a capacidade funcional do sistema imune
diminui com o passar dos anos, reduzindo a resistência do organismo às doenças infecciosas; o segundo relaciona-se com a redução do sistema
imune, com o passar dos anos, quando aumentam as doenças auto-imunes associadas à idade.
O processo de envelhecimento é responsável
por alterações em todos os sistemas do organismo. No entanto, são as perdas ocorridas no sistema muscular esquelético que causam o maior
impacto na qualidade de vida dos idosos. Conforme o ser humano envelhece, sua massa muscular
diminui, tornando-se mais frágil e gerando instabilidade, perda da capacidade funcional, perda
parcial ou total da independência (dificuldade de
realizar as tarefas do dia-a-dia) e, sobretudo, au-
O
54
mento dos riscos de quedas, uma das principais
causas de acidentes na terceira idade.3, 4
Descreveremos, a seguir, algumas alterações
morfofuncionais que afetam o sistema neuromuscular dos indivíduos, com o passar dos anos, e os benefícios proporcionados pela atividade física regular.
SISTEMA NEUROMUSCULAR
Utilizando tomografia computadorizada e técnicas de autópsia, identificou-se diminuição no
peso e no volume do cérebro, em indivíduos com
mais de 60 anos de idade, acompanhada de aumento dos espaços de fluído cérebro-espinal e
também do volume dos ventrículos.5 Apesar de
essas alterações envolverem todo o cérebro, as regiões mais afetadas são o lobo frontal e o hipocampo. Tal perda de volume com o passar dos
anos é diferente entre as diversas áreas do cérebro. Entre as idades de 30 a 90 anos ocorre perda
de 14% no córtex cerebral, 35% no hipocampo e
26% na massa cerebral branca.6, 7
O número de neurônios também tem sido objeto de estudo no processo de envelhecimento.
Os resultados são controversos em relação à diminuição da quantidade deles. Uma possível explicação para esse fato é a diminuição dos corpos
dos neurônios, que, apesar de presentes, não foram contados nem, conseqüentemente, somados
ao número total, ao término dos estudos. Apesar
dessas diferenças entre as técnicas empregadas, há
um consenso sobre a diminuição no número de
neurônios do hipocampo e do córtex cerebral.7, 8
Com tais alterações morfológicas, certas mudanças funcionais ocorrem. O avanço da idade leva
à queda na performance cognitiva e na memória.
Além desses, outros aspectos patológicos associados
à doença de Alzheimer são encontrados em idosos
intelectualmente saudáveis, porém, em menor número. Com isso, acredita-se nessa doença como um
quadro inevitável de envelhecimento precoce, porém, os fatores genéticos que a influenciam diretamente precisam ser determinados. Considera-se
que a presença da apoliproteína E4 (Apo E4), por
exemplo, resulte em uma diminuição muito mais
acentuada das funções cerebrais. Em outras palavras, quanto maior a taxa de Apo E4, maior a velocidade de decréscimo das funções cerebrais.9, 10
Outra característica observada entre os idosos
é a demência. Ela se deve, entre outros fatores, a
um acúmulo de pequenos infartos (AVC), também
encontrados em cérebros de idosos saudáveis.7
Para Kauffman,5 essas alterações anatômicas,
muitas vezes acompanhadas de patologias, geram
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 53-56, 2005
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RAFAEL HERLING LAMBERTUCCI, ET AL.
mudanças funcionais, como: alteração de reflexos, tempo de reação, força, equilíbrio e raciocínio; diminuição da velocidade de condução nos
nervos periféricos em aproximadamente 20%; alterações sensoriais, ou seja, diminuição na eficácia dos sistemas visual e auditivo; perda de
dendritos, ocasionando maior dificuldade nas sinapses; e redução no número de neurônios em
determinadas áreas do sistema nervoso, como os
motoneurônios do cordão espinal, no cerebelo,
células de Purkinje e substância negra neocórtex.
Com o envelhecimento, a musculatura esquelética dos idosos sofre várias desnervações e reinervações. As primeiras acontecem, na maior
parte, nas fibras rápidas, e as segundas, nas fibras
lentas, resultando em atrofia e perda da funcionalidade das fibras desnervadas.11, 12 Também as
alterações neurais desencadeadas pelo envelhecimento dão-se em diversos locais, desde os motoneurônios até a junção neuromuscular. Em ratos
idosos, foi encontrada diminuição da mielinização dos axônios, em paralelo com um aumento
do comprimento internodal, reduzindo o potencial de ação. Provavelmente, essa deterioração da
bainha de mielina resulta da menor expressão das
principais proteínas mielínicas, como a PO, a
13, 14
PMP22 e a MBP.
Por sua vez, o motivo do enfraquecimento
progressivo da musculatura dos idosos, que, como
dito anteriormente, leva à instabilidade, à perda
da capacidade funcional, à dificuldade de realizar
as tarefas do dia-a-dia e sobretudo ao aumento
dos riscos de quedas ainda é pouco entendido. Alguns pesquisadores acreditam que, com o envelhecimento, problemas no mecanismo de
excitação-contração do tecido muscular produzem menor capacidade de geração de força das fibras musculares, tornando-o, portanto, cada vez
mais frágil.15 Em estudos realizados por Welle et
al.,16 foi constatada redução de mitocôndrias nos
tecidos musculares dos idosos, em virtude da diminuição de DNA mitocondrial e, conseqüentemente, do seu mRNA. Esse processo está associado
a uma menor captação de O2 e, por conseguinte,
às dificuldades de realizar tarefas cotidianas.
Contudo, nesse mesmo estudo, também se
observou que a prática de atividades físicas, por
um período de apenas três dias, já aumentava a
expressão e/ou a atividade desses genes. A atividade física regular é um fator importante para melhorar significativamente a musculatura esquelética
dos idosos – hipertrofia muscular, aumento da
força e adaptações celulares e funcionais, por
exemplo. Porém, resultados bastante distintos foram encontrados em estudos, em razão da utilização variada de freqüência, intensidade e duração
dos programas de exercício.17
Segundo Matsudo et al.,18 a intensidade do
treinamento é a variável mais importante. Diferenças significativas nos resultados podem aparecer quando essa variável não é aplicada
adequadamente. Em programas de treinamento
de baixa intensidade em idosos, por exemplo, foram verificados ganhos de força muscular menores que 20%, ao passo que, nos de alta intensidade
(70% a 80% de uma repetição máxima – RM), foram de até 227%, evidenciando que os treinamentos de alta intensidade proporcionam melhores
resultados no aumento da força muscular.
Notaram-se ainda aumentos da força estática
e dinâmica em poucos dias de treinamento de
força, variando de 10% até 180%, em razão dos
diferentes protocolos de treinamento. Esse rápido aumento de força nos primeiros dias de treinamento deve-se particularmente a adaptações
neurais (melhora no recrutamento das fibras
musculares, por exemplo). As adaptações periféricas, como a hipertrofia muscular, passam a contribuir mais com os ganhos de força após um
período maior de treinamento.17
A hipertrofia muscular foi verificada em diversos estudos, mesmo utilizando-se de técnicas
diferentes, como tomografia computadorizada,
ultra-som e ressonância magnética, demonstrando ganhos de 2% a 14,5%.19, 20 Hipertrofia em
nível microscópico também foi evidenciada, empregando-se técnicas histoquímicas em espécies
de biópsia. Em ambas as fibras, tipo I e tipo II,
notificaram-se aumentos de até 30%.17
Matsudo et al.18 citam trabalho de Fiatarone
et al. (1990) com idosos de 86 a 96 anos de idade, participantes de um programa de treinamento
de oito semanas, com atividades três vezes por semana, que obtiveram aumentos de 174% na força muscular e 48% na velocidade do passo.
Porém, após quatro semanas sem atividades, observou-se diminuição de 32% na força, evidenciando a importância da regularidade das
atividades físicas.
Com todos esses ganhos proporcionados pelo
treinamento de força, a capacidade funcional dos
idosos aumenta significativamente, apresentando
melhoras na velocidade de andar, subir escadas e
realizar tarefas cotidianas, alcançando novamente
sua “independência”.21
Saúde em Revista
ALTERAÇÕES DO SISTEMA NEUROMUSCULAR COM O ENVELHECIMENTO E A ATIVIDADE FÍSICA
55
saude17.book Page 56 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
RAFAEL HERLING LAMBERTUCCI, ET AL.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de envelhecimento ocasiona várias alterações fisiológicas e morfológicas no organismo. Porém, muitas dessas mudanças, consideradas normais
do processo de envelhecimento, se não forem cuidadas, podem levar à invalidez e até mesmo à morte.
A prática regular de atividades físicas mostrou-se excelente para o tratamento, a reabilita-
ção e a minimização dos efeitos dessas alterações,
trazendo grandes benefícios aos idosos. Mas cabe
salientar que essa prática deve ser sempre orientada por um profissional qualificado, que conheça
muito as características dessa população.
Com isso, conclui-se que a regularidade nas
atividades físicas é indispensável para que ocorra
um processo de envelhecimento saudável.
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Submetido: 5/nov./2004
Aprovado: 27/abr./2005
56
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 53-56, 2005
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ALESSANDRA MONACO RIGATTO, ET AL.
REVISÃO DE LITERATURA /BIBLIOGRAPHY REVIEW
Performance Ventilatória
na Obesidade
Ventilatory Performance in Obesity
RESUMO A obesidade é definida atualmente como o excesso de tecido adiposo em relação à massa magra e consta entre as alterações que abrangem
o termo saúde, alterando a qualidade de vida das pessoas. Conceitos como
saúde e qualidade de vida têm sido motivo de discussão, não havendo consenso em sua definição até a atualidade. O fato de a obesidade ser considerada problema de saúde pública, inferindo altos índices de mortalidade e
morbidade no Brasil e no mundo, traz atenção ao seu estudo e aos efeitos
por ela acarretados. A obesidade associa-se a disfunções respiratórias, incluindo diminuição da resistência cardiorrespiratória e dispnéia. As alterações
mais características na função pulmonar e na performance ventilatória nos
indivíduos obesos são diminuição do volume corrente, aumento de freqüência respiratória, diminuição da complacência total e pulmonar, aumento do trabalho elástico e muscular, aumento do VO2 e altos índices de
fadigabilidade, relacionados, por sua vez, com os níveis de obesidade, bem
como com as alterações nos padrões de distribuição da gordura corporal.
O objetivo deste trabalho é estabelecer referencial teórico sobre as alterações na performance ventilatória em indivíduos obesos.
Palavras-chave OBESIDADE – PERFORMANCE VENTILATÓRIA – MÚSCULOS –
RESISTÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA.
ALESSANDRA MONACO
RIGATTO*
Curso de Fisioterapia – Faculdade
Assis Gurgacz (FAG/PR)
SILVIA C. CREPALDI ALVES
Curso de Educação Física– Faculdade
de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)
CAMILA BRETAS GONÇALVES
Fisioterapeuta graduada pela
Unicastelo/SP
JACQUELINE FERNANDES
FIRMO
Fisioterapeuta graduada pela
Unicastelo/SP
LUCIANA MARA PROVIN
Curso de Fisioterapia – Faculdade
Assis Gurgacz (FAG/PR)
*Correspondências: Rua Dois, 495,
Cidade Jardim, 13501-030,
Rio Claro/SP
[email protected]
Saúde em Revista
PERFORMANCE VENTILATÓRIA NA OBESIDADE
ABSTRACT Obesity is defined currently as the excess of adipose tissue in
relation to thin mass, being contained among the alterations that enclose the
health term, altering people’s life quality. Terms as health and life quality
have been the aim of discussion, not having consensus in their definition.
The fact that obesity is considered a public health problem, inferring high
mortality and morbidity rates in Brazil and in the world, brings more
attention to its study and effects. Obesity is associated with breathing
dysfunctions, including decrease of the resistance and dyspnea. The most
characteristic alterations in the pulmonary function and ventilatory
performance in obese people are the reduction of the average volume,
increase of respiratory frequency, decrease of the total and pulmonary
compliance, increase of the elastic and muscle work indulgence, increase of
VO2 and low resistance respiratory muscle work, that are related with
obesity levels, as well as the alterations in the patterns of distribution of the
body fat. The objective of this work is to establish a theoretical reference on
the alterations of the ventilatory performance in obese individuals.
Keywords OBESITY – VENTILATORY PERFORMANCE – MUSCLES –
CARDIORESPIRATORY RESISTANCE.
57
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ALESSANDRA MONACO RIGATTO, ET AL.
INTRODUÇÃO
obesidade está entre as alterações que prejudicam a saúde das pessoas e, com isso, a
qualidade de vida delas. Para que um indivíduo seja considerado obeso, o Índice de Massa
Corpórea (IMC) poderá ser a medida adotada
para calcular-lhe o grau de obesidade, pois diversos estudos têm mostrado alta correlação entre
IMC e gordura corporal.1
Quando falamos em saúde, analisando do
ponto de vista de que “saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença” (Organização Mundial
de Saúde – OMS, 1948), fica-nos uma idéia não
muito clara de que tal conceito estaria longe de
nossa realidade. Portanto, essa condição de “saúde ótima, estável” não seria atingida em vida. O
próprio termo saúde torna-se subjetivo, visto que
ela é julgada pela sociedade conforme os padrões
da época, inserindo esse conceito num contexto
histórico.2
Considera-se a obesidade um risco à saúde e
sua incidência é mundialmente crescente. Segundo a OMS, em 1995 estimava-se que a população
de adultos obesos no mundo era de 200 milhões,
além de 18 milhões de crianças, menores de cinco anos de idade, com sobrepeso.3
Em países como Alemanha, Estados Unidos e
Canadá, a prevalência da obesidade é bastante
elevada entre 15% a 20% nos homens e 15% a
25% nas mulheres. Já na Holanda e na Inglaterra,
que possuem riquezas semelhantes, esses números
revelam-se bem menores: 8% em homens e 13%
a 16% em mulheres. Isso mostra que os aspectos
culturais parecem ser mais importantes do que os
econômicos na prevalência da obesidade.4, 5
No Brasil, em 2003, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a obesidade afeta 8,9% dos homens e
13,1% das mulheres adultas.6 Com o aumento
na quantidade de informações obtidas mediante
os veículos de comunicação em geral, que mencionam os problemas causados pela obesidade,
pelo sedentarismo e pelo desequilíbrio alimentar,
vem se observando uma diminuição nos índices
de obesidade em mulheres de classes mais favorecidas, por elas terem maior acesso a esses dados.7
A principal causa de óbitos no Brasil, segundo
o Ministério da Saúde, deve-se às doenças cardiovasculares e respiratórias, que poderiam ser reduzidas em cerca de 30% com a prevenção da
A
58
obesidade. Esses fatores têm sido motivo de grande preocupação para o governo.2 A obesidade associa-se a disfunções respiratórias, incluindo
diminuição da resistência cardiorrespiratória e
dispnéia. As alterações mais características na função pulmonar, nos indivíduos obesos, são a diminuição da capacidade residual funcional (CRF) e
do volume de reserva expiratória (VRE).8
Anormalidades da função pulmonar são mais
comuns na obesidade central, em que o acúmulo
de tecido adiposo localiza-se na região da cintura.
Recentemente passou-se a questionar se o efeito
da obesidade nessa função seria simplesmente
mecânico ou se haveriam também alterações no
metabolismo celular e na utilização de substratos
gerados pela obesidade central.9, 10
A obesidade é tida como o maior fator de risco à Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SA11, 12
OS).
Estudos sobre perda de peso trazem
significantes achados na redução dos sintomas da
SAOS após a redução do peso.13 Dados epidemiológicos evidenciaram ainda uma associação entre
obesidade e asma. No momento, não é possível
dizer se a primeira tem contribuído para o aumento na prevalência da segunda ou se pacientes
asmáticos ganham peso como um resultado de hipoatividade ou de limitações das atividades motoras, bem como por alguma outra razão.
Os efeitos da obesidade na função respiratória
devem ser estudados isoladamente, de modo a
avaliar o seu papel nas disfunções percebidas em
diversas doenças respiratórias.14 Diferenças nos
padrões de distribuição da gordura corporal também promovem alterações nos volumes pulmonares. A gordura armazenada na cavidade
abdominal (ginóide) provavelmente exerce efeito
mecânico direto na caixa torácica e no diafragma,
por um mecanismo de compressão, que, por sua
vez, restringe a expansibilidade pulmonar, causando redução dos volumes pulmonares.10 Ao
mesmo tempo, tem sido postulado que o ganho
de tecido adiposo em indivíduos de estatura mais
baixa faria com que eles dificilmente atingissem
volumes pulmonares mais próximos da normalidade. De maneira geral, a obesidade e o padrão
de distribuição da gordura corporal podem ter resultados independentes na função ventilatória.15
Segundo Collins et al.,9 a relação cintura/quadril assume valores inversamente proporcionais
aos volumes pulmonares demonstrados por meio
da espirometria. Questiona-se se o efeito da gordura abdominal exerce meramente um efeito meSAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 57-62, 2005
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ALESSANDRA MONACO RIGATTO, ET AL.
cânico, ao passo que os mecanismos para os
riscos de doenças cardiovasculares e metabólicas
relacionados à obesidade central não são completamente conhecidos. Admite-se que as alterações
da função pulmonar sejam mais uma das conseqüências da obesidade central.10
VOLUMES PULMONARES E TAXAS
DE FLUXO EXPIRATÓRIO
As anormalidades mais comuns da função respiratória associadas à obesidade são a diminuição
do VRE e da CRF, com propensão a desenvolver
patologias pulmonares, na maior parte restritivas,
com hipoventilação crônica e redução da capacidade aeróbica. Essas patologias refletem numa reduzida tolerância ao esforço, em razão das
condições cardiopulmonares; ocorrendo facilmente dispnéia.16, 17, 18, 19
Quando a obesidade é de grau moderado
(IMC de 35 Kg/m2 a 39,9 Kg/m2) geralmente a capacidade vital (CV) e a capacidade pulmonar total
(CPT) encontram-se dentro dos valores normais,
mas, no caso de obesidade mórbida, pode haver
redução de 20% a 30% desses valores.20 Dessa
maneira, fica claro que o grau da obesidade também exerce influência nas alterações dos volumes
ou das capacidades pulmonares. Essa teoria já teria sido observada por Raio et al.,19 ao relatar
uma diminuição da CV e da CPT em indivíduos
com obesidade extrema, mas sem notar nenhuma
alteração dos volumes pulmonares nos graus inferiores de obesidade.
Por outro lado, o acúmulo de massa de tecido
adiposo na região torácica limita a função dos
músculos expiratórios, apresentando um aumento do VRE e ajudando a manter o volume residual
(VR) dentro da normalidade, inclusive em indivíduos com obesidade mórbida. A relação VR/CPT
pode apresentar valores até mais altos que o normal, em indivíduos com obesidade mórbida.19
Existem também vários estudos sobre a deficiência orgânica dos músculos respiratórios na obesidade, a redução da complacência da caixa
torácica em obesos ou a diminuição dos volumes
pulmonares, podendo causar insuficiência dos
músculos respiratórios.21 À medida que aumenta
o IMC, a complacência da caixa torácica declina
significantemente, chegando a cair até 30%, nos
casos mais graves. A complacência total do sistema respiratório diminui em indivíduos obesos,
por conta de um aumento da resistência da parede torácica, isto é, um aumento na resistência
elástica para que haja a expansão (tab. 1).
Saúde em Revista
PERFORMANCE VENTILATÓRIA NA OBESIDADE
Tabela 1. Trabalho mecânico* dos músculos respiratórios em
indivíduos normais e obesos.
INDIVÍDUO
TRABALHO
Normal
Obesos
227 J
540 J
TOTAL
TRABALHO
ELÁSTICO
Total Pulmão
0,90 J 0,39 J
2,00 J 0,50 J
Tórax
0,51 J
1,50 J
* Trabalho mecânico em kg/ml; valores para trabalho elástico calculados
por valores de complacência; valores obtidos dos estudos de Cherniack
calculados pelo custo de O2 em indivíduos obesos determinados por
Kaufman et al. (fonte: Naimark & Cherniack, 1960).22
A complacência do sistema respiratório total e
de seus componentes revela-se inferior em indivíduos obesos, quando comparados a indivíduos
normais; a diferença mais marcante está na complacência da parede torácica: em obesos, essa medida é 50% inferior à dos indivíduos normais.
Portanto, a redução na performance, deve-se, em
maior parte, ao prejuízo mecânico atribuído aos
músculos respiratórios e à restrição da expansibilidade dos elementos torácicos.22
Mancini23 postula que, embora o acúmulo de
gordura na região interna e na parede torácica
possa levar a uma modesta redução da complacência da parede torácica, estudos demonstraram
uma redução da complacência pulmonar em virtude de um aumento no volume de sangue pulmonar. Ele também ressalta que a complacência
está associada à diminuição da CRF, levando a um
decréscimo das trocas gasosas.
Quando a obesidade é marcante, ela também
aparece ligada ao aumento da resistência respiratória total, como resultado do aumento da resistência pulmonar. Tais alterações na complacência
e na resistência pulmonar levam o indivíduo a
apresentar um padrão respiratório rápido e de
baixa amplitude, aumentando o trabalho respiratório e, com isso, limitando a capacidade ventilatória máxima.23
A complacência do sistema respiratório total
diminui em obesos, reduzindo adicionalmente na
posição supina. Assim, enquanto a resistência da
parede torácica para expansão na posição sentado, em indivíduos obesos, é de 70% da resistência
total, na posição supina ela aumenta para 80%.2
TRABALHO MUSCULAR E CONSUMO DE OXIGÊNIO
Pessoas morbidamente obesas apresentam demanda metabólica aumentada por realizar trabalho extra dos músculos respiratórios, como
também de todos os outros músculos que movimentam o corpo.8 Em indivíduos obesos, as taxas
59
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ALESSANDRA MONACO RIGATTO, ET AL.
Tabela 2. Padrão respiratório, trabalho e eficiência dos músculos respiratórios em indivíduos normais e obesos.
VOLUME
FREQÜÊNCIA VOLUME
NÚMERO DE CORRENTE
RESPIRATÓRIA MINUTO
INDIVÍDUOS
(ML)
(N.°/MIN)
(L/MIN)
RABALHO
VO2 EFICIÊNCIA TELÁSTICO
(ML/L)
(%)
KG-M/L
TRABALHO
MECÂNICO
KG -M/MIN
Normal
1
2
3
4
5
6
7
854
875
670
453
898
405
480
10,9
5,5
9,6
12,7
8,7
12,4
24,0
9,1
4,8
6,4
5,6
7,8
5,0
11,5
77
99
49
95
89
62
1,24
9,5
12,0
7,9
7,3
11,0
9,6
10,8
050
037
055
016
045
016
023
0,45
0,18
0,35
0,09
0,36
0,08
0,26
Média
662
11,9
7,2
85
9,7
035
0,25
Obesos
8
9
10
11
12
13
14
405
820
460
335
872
768
564
10,6
10,6
11,7
15,0
16,0
17,5
22,5
5,2
8,7
5,4
5,0
14,0
13,4
12,7
1,72
3,46
1,83
1,20
2,80
3,27
5,90
4,9
3,3
6,1
5,4
3,1
3,3
1,2
0,29
110
039
024
0,15
0,96
0,21
0,13
040
0,52
Média
602
14,3
9,2
2,88
3,9
048
0,39
Fonte: Cherniack & Guenter, 1961.
de consumo de oxigênio (VO2) e de produção de
gás carbônico (VCO2) estão aumentadas mesmo
em repouso. A ventilação minuto em repouso é
alta em obesos, quando comparada a pessoas
com peso normal.17
O consumo de oxigênio e o aumento na ventilação mostram-se altos em indivíduos obesos,
considerando que as propriedades mecânicas dos
pulmões nem sempre permanecem normais.22 A
tabela 2 fornece dados relacionados ao consumo
de oxigênio, à eficiência dos músculos respiratórios e ao trabalho feito para superar a resistência
elástica, permitindo analisar as diferenças entre
obesos e indivíduos normais.
A média de volume corrente para os indivíduos obesos é inferior à dos não obesos; porém, a freqüência respiratória é maior, o que
garante uma média de volume minuto significantemente maior nos indivíduos obesos. Isso
justifica-se pelo maior consumo de oxigênio e
pela menor eficiência dos músculos respiratórios
nesses indivíduos.
60
Em relação ao estudo de Nicherson e Keens,24 tanto os músculos respiratórios quanto os
outros músculos do esqueleto podem fadigar,
contribuindo para o fracasso ventilatório. Daí a
importância de um programa de redução de peso,
visto que indivíduos obesos fadigam mais facilmente. Por sua vez, Weiner et al.25 demonstraram melhora significante do desempenho dos músculos
respiratórios conseqüente à perda de peso em pacientes com obesidade mórbida. Essa melhora se
dá predominantemente na resistência da musculatura respiratória. Wadström et al.21 reportaram
que, apesar de uma perda de peso de 18% e de
aumento do volume pulmonar, os obesos não
mostraram nenhuma melhora na força muscular
respiratória, ocorrendo até, em alguns casos, uma
diminuição transitória da força muscular. De
qualquer modo, essa pesquisa realizou-se em uma
média de 78 dias após cirurgia de gastroplastia redutora.
A diferença dos resultados obtidos por
Weiner25 e Wadstron21 pode ser explicada pela
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 57-62, 2005
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ALESSANDRA MONACO RIGATTO, ET AL.
própria composição corporal e pelo intervalo
adotado na análise. A musculatura corporal
contém um pequeno percentual de depósito de
gordura, camada de gordura essencial (aproximadamente 3%), utilizado como fonte de energia.
Durante a perda de peso acentuada, há diminuição na força dos músculos respiratórios, relacionados proporcionalmente com a redução de
massa magra após duas semanas de dieta hipocalórica. Portanto, somente após seis meses o organismo dos indivíduos obesos já passou por um
processo de organização e adaptação, com melhora nos parâmetros ventilatórios.
Quando um indivíduo engorda, há também
um certo aumento na porcentagem de massa magra. Da mesma forma, no caso de uma redução
do peso, também ocorre uma redução da massa
magra, variando com o tipo de dieta e o de obesidade. Além disso, a dieta de baixa caloria está associada à diminuição do glicogênio, necessário ao
trabalho e à resistência muscular.2 Assim, o sistema respiratório também sofre alterações proporcionais à redução do peso corpóreo, ocorrendo
redução da espessura da massa muscular diafragmática.26
SÍNDROMES RESPIRATÓRIAS
O sobrepeso e a obesidade estão associados
ao risco aumentado dos sintomas respiratórios. A
prevalência dos sintomas aumenta, quanto maior
o IMC ou a circunferência da cintura. Em um estudo realizado por Sahenjami,27 foram avaliados
5.887 homens e 7.018 mulheres, com idade entre
29 a 59 anos, em que 45% deles e 31% delas possuíam índice de massa corpórea de 25-30 Kg/m2.
Notou-se que a diminuição na resistência ventilatória, o aumento da freqüência respiratória (f) e a
diminuição dos volumes correntes relacionavamse com maiores IMCs, apresentando alterações
significantes quando estes eram submetidos a testes de subir e descer escadas.27
SÍNDROME DA APNÉIA OBSTRUTIVA DO SONO
A SAOS apresenta como característica freqüentes episódios de apnéia ou hipopnéia durante o
sono (roncos acompanhados de engasgos e tosse,
quando a potência é restaurada), sintomas diurnos (sonolência, diminuição da concentração e da
memória e cefaléia) e alterações fisiológicas (hipoxemia e hipercapnia). Um episódio de apnéia
obstrutiva do sono ocorre quando há interrupção
do fluxo aéreo por 10 segundos ou mais, sobre a
conseqüência de um esforço respiratório contíSaúde em Revista
PERFORMANCE VENTILATÓRIA NA OBESIDADE
nuo contra uma via aérea fechada, terminando só
ao microdespertar, que restabelece a patência da
via área colapsada e permite, dessa forma, que o
indivíduo volte a respirar.23, 28
Os principais fatores predisponentes a SAOS
são a obesidade e o sexo masculino, sendo que
70% dos indivíduos com SAOS já diagnosticada
são obesos. Além disso, índices como hipertensão
arterial, acúmulo de gordura na região abdominal
e cervical, policitemia, hipoxemia ou hipercapnia
e hipertrofia do ventrículo direito reforçam a presença de SAOS.28
Em estudos sobre a circulação cerebral pelo
método doopler-transcraniano notou-se que a
auto-regulação cerebral é suficiente para proteger
o cérebro das oscilações da pressão arterial, levando a alterações no fluxo sanguíneo cerebral
durante os períodos de apnéia. Assim, os indivíduos com SAOS apresentam maior predisposição a
sofrer uma isquemia cerebral noturna.23
SÍNDROME DA HIPOVENTILAÇÃO
A acidose respiratória limita-se inicialmente
ao sono, retornando à homeostase durante o dia.
Porém, uma conseqüência tardia seria uma alteração do controle respiratório, cujo achado característico é a presença de eventos apnéicos sem
esforço respiratório, decorrente de uma progressiva dessensibilização dos centros respiratório à
hipercapnia (noturna). No começo, tais eventos
restringem-se ao sono, mas, eventualmente, levam à falência respiratória, com dependência
crescente do controle neural respiratório hipóxico para a ventilação.23 A síndrome da hipoventilação na obesidade, antigamente chamada
de síndrome de Pick Wick, caracteriza-se por
obesidade marcante, hipersonolência, hipóxia,
hipercapnia, insuficiência ventricular direita e policitemia.29
CONCLUSÕES
Segundo os autores citados, indivíduos obesos
apresentam performance ventilatória alterada,
possuindo volume corrente reduzido, freqüência
respiratória aumentada, diminuição na complacência total e pulmonar, aumento no trabalho
elástico e muscular, aumento no VO2 e altos índices de fadigabilidade.2, 15, 18, 23
61
saude17.book Page 62 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
ALESSANDRA MONACO RIGATTO, ET AL.
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13. Lojander J, Mustajoki P, Ronka S, Mecklin P, Maasilta P. A Nurse-Managed Weight Reduction Programme for Obstructive Sleep Apnoea Syndrome.
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20. Zerah F, Harf A, Perlemuter L, Lorino H, Lorino AM, Atlan G. Effects of Obesity on Respiratory Resistance. Chest. 1993; 103 (5): 1.470-6.
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26. Barros SE, Moura LSA, Carvalho MJC, Oliveira SCP, Moreira AM, Oliveira CR et al. Correlação das Pressões Respiratórias Máximas com o Estado
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28. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes para Cardiologistas sobre Excesso de Peso e Doença Cardiovascular. Arq Bras Cardiol 2002; 78 (Supl. 1) 8.
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30. Dureuil B, Matuszczak Y. Alteration in Nutritional Status and Diaphragm Muscle Function. Reprod Nutr Dev 1998; 38 (2): 175-80.
Submetido: 27/out./2004
Aprovado: 6/set./2005
62
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 57-62, 2005
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KARINA MARIA CANCELLIERO.
RESENHA /REVIEW
Efeito Metabólico da Glutamina
e da Estimulação Elétrica
no Músculo Imobilizado
Metabolic Effect of Glutamine and Electrical Stimulation
in Immobilized Muscle
“Avaliação do Perfil Metabólico do Músculo Esquelético
Imobilizado Submetido à Suplementação com Glutamina
Associada ou não à Estimulação Elétrica”,
de WANDERLEY ALBINO JUNIOR
Tese de mestrado, Universidade Metodista de
Piracicaba/SP, 2004, 82p.
Orientador: prof. dr. Carlos Alberto da Silva
ssa dissertação foi desenvolvida no programa de pós-graduação
da Universidade Metodista de Piracicaba (Mestrado em Fisioterapia) pelo fisioterapeuta Wanderley Albino Junior, sob orientação do professor dr. Carlos Alberto da Silva. O trabalho é apresentado
de forma organizada e objetiva, com boa qualidade de escrita e ilustrações, incluindo gráficos e fotos. Sua estrutura se faz pelo resumo, abstract, lista de figuras, introdução, objetivos, material e métodos,
resultados, conclusão, discussão e referências bibliográficas, as quais
constituem fonte de pesquisa ao leitor pela variabilidade de análises e
anos de publicação.
A dissertação destaca a relevância da imobilização articular na prática clínica da fisioterapia, área de fundamental importância e participação no processo de reabilitação. Esse tema é bem abordado na
literatura atual, pelo processo de hipotrofia muscular limitar a funcionalidade do ser humano, não somente pelas alterações músculo-esqueléticas, mas também alterações em órgãos vitais devido à inatividade do
indivíduo. É importante destacar que a reabilitação fisioterapêutica é
importante, pois objetiva a melhor qualidade de vida dos pacientes.
A cinesioterapia é um recurso bastante utilizado pelo profissional fisioterapeuta, porém há casos em que a contração muscular necessita de
um auxílio eletroterapêutico, no caso a estimulação elétrica neuromuscular, que promove a contração muscular passivamente. Assim, esse recurso pode estar sendo utilizado durante períodos de inatividade
muscular para minimizar o processo de hipotrofia e comprometimento
E
KARINA MARIA CANCELLIERO*
Doutoranda em fisioterapia na UFSCar/SP
*Correspondências: Rua Gomes
Carneiro, 875, Centro, 13400-530,
Piracicaba/SP
[email protected]
Saúde em Revista
EFEITO METABÓLICO DA GLUTAMINA E DA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NO MÚSCULO IMOBILIZADO
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KARINA MARIA CANCELLIERO.
metabólico muscular, uma vez que promove a contração muscular e ativa mecanismos intracelulares.
Suplementações alimentares e fármacos também são abordados na
literatura pelo fato da ação anabólica na musculatura esquelética, principalmente em estados catabólicos, como na atrofia ou hipotrofia muscular, induzidas por inatividade, imobilizações, ambientes espaciais,
doenças neuromusculares ou na utilização de corticosteróides sintéticos. Assim, um recurso ergogênico pode ser um coadjuvante na reabilitação do paciente, com objetivo da melhora metabólica e da massa
muscular. Vale ressaltar que a glutamina, especificamente, tem outras
ações, como no sistema imunológico e que vem sendo bastante estudada, não somente em estados catabólicos, mas também em exercícios
agudos e crônicos, principalmente objetivando seus efeitos benéficos
em atletas profissionais.
Nesse contexto, o trabalho objetivou avaliar o perfil metabólico (reservas de glicogênio) e tecidual (peso) muscular de ratos, os quais foram
submetidos à imobilização do membro posterior mantendo a posição
neutra do tornozelo com órtese de resina acrílica, além de propor dois
protocolos de tratamento que pudessem ser aplicados (isolados ou associados) durante o período de sete dias de imobilização articular. A estimulação elétrica neuromuscular, um dos tratamentos, que é um recurso
usado freqüentemente na prática fisioterapêutica por promover a contração muscular e a glutamina, um segundo recurso que é um aminoácido não essencial, bastante utilizado em estados catabólicos musculares.
A glutamina foi administrada pela via oral, diluída em água potável,
na concentração de 1g/kg/dia. Os parâmetros utilizados para estimulação elétrica seguiram o seguinte protocolo: f = 10Hz; i = 5mA (aumento de 1mA a cada cinco minutos); T = 3ms; t = 20 minutos/dia.
Além da análise metabólica e tecidual, comparou-se o grupo tratado
com glutamina ao grupo controle sob os aspectos do perfil bioquímico
plasmático (glicose, lactato e creatinina), perfil hematológico (hemoglobina, hematócrito, eritrometria, índices hematimétricos), teste de fragilidade osmótica, teste de tolerância à insulina e análise do peso
constante do músculo sóleo.
Para efetivar a ação da glutamina nas reservas de glicogênio e no
peso muscular, também se administrou a alanina-glicina (isoenergético
e isonitrogenado) nos grupos semelhantes e na mesma concentração da
glutamina.
Os resultados mostraram que a imobilização promoveu redução nas
reservas energéticas dos músculos analisados, porém, quando os tratamentos foram aplicados de maneira isolada ou associados, as reservas
de glicogênio se apresentaram maiores. Com relação ao peso do músculo sóleo, este apresentou redução pela imobilização, porém, com o
tratamento da glutamina e da associação do aminoácido com a estimulação, a perda de peso minimizou-se.
O tratamento com glutamina não alterou os parâmetros de fragilidade osmótica, perfil bioquímico e teste de tolerância à insulina, porém
promoveu aumento na hidratação do músculo sóleo, acompanhado de
aumento em duas variáveis do índice hematimétrico (volume globular e
volume globular médio), ressaltando sua ação na hidratação celular.
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SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 63-65, 2005
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KARINA MARIA CANCELLIERO
O complexo alanina-glicina não apresentou ação efetiva como a
glutamina, pois não alterou as reservas de glicogênio e peso muscular
na condição normal e de imobilização.
Esse trabalho mostra a importância de protocolos de tratamento
durante o período agudo de imobilização do membro, na melhora das
reservas energéticas e na minimização da perda de peso muscular, destacando o uso de suplementações, como a glutamina e de um recurso
fisioterapêutico, como a estimulação elétrica neuromuscular.
Um ponto relevante é o modelo de órtese desenvolvido, o qual foi
eficaz em alterar o metabolismo energético e o peso muscular, além de
ser funcional ao animal. Isso gera outras propostas de análises e de tratamentos para tentar minimizar o processo de hipotrofia muscular, condição importante para a ação do fisioterapeuta no processo de reabilitação.
Submetido: 29/out./04
Aprovado: 1.º/jul./05
Saúde em Revista
EFEITO METABÓLICO DA GLUTAMINA E DA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NO MÚSCULO IMOBILIZADO
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KARINA MARIA CANCELLIERO.
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SAÚDE EM REVISTA
Normas para Publicação
Princípios Gerais
I. A SAÚDE EM REVISTA tem por objetivo publicar trabalhos que contribuam para o desenvolvimento científico
e tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde.
II. A revista privilegia a veiculação de temas em ciências biológicas e de saúde (teoria, ética e história), pesquisa teórica e/ou experimental, política e ensino.
III. Os temas podem ser desenvolvidos através das seguintes categorias:
• ARTIGOS ORIGINAIS: trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de desco
bertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais de característica médica, bioquímica e social,
incluindo análise descritiva e ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional, trazendo os
seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências Bibliográficas;
• ARTIGOS DE REVISÃO: trabalhos que têm por objeto resumir, analisar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas;
• ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO: trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse para determinada especialidade (uma nova técnica, por exemplo), e que têm características distintas de um artigo de revisão;
• RELATO DE CASO: artigos que representam dados descritos de um ou mais casos, explorando um
método ou problemas por meio de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com
indicação de sexo e idade, podendo ser realizado em humano ou animal;
• RESUMOS DE MONOGRAFIAS: trabalho de graduação e de pós-graduação mais relevantes e originais;1*
• RESENHAS: comentários críticos de livros e/ou teses. Devem conter todas as informações para a identificação do livro comentado (autor; título; tradutor e título original, se houver; edição, se não for a primeira;
local; editora; ano; total de páginas; ISBN; e preço).
• CARTAS: comentários a artigos relevantes publicados anteriormente.
Nota: os artigos submetidos à revista devem preferencialmente enquadrar-se na categoria de relatos originais (científicos).
IV. Com exceção dos Resumos, a submissão dos manuscritos implica que o trabalho não tenha sido publicado e não esteja sob consideração para publicação em outra revista.
V. A aceitação se dará observando-se os seguintes critérios:
a) adequação ao escopo da revista;
b) qualidade científica, atestada pela Comissão Editorial e por processo anônimo de avaliação por pares
(blind peer review),21 com consultores não remunerados, especialmente convidados, cujos nomes são divulgados anualmente, como forma de reconhecimento;
c) cumprimento das normas da SAÚDE EM REVISTA. O autor será informado do andamento do processo de
seleção e os originais enviados à Editora UNIMEP serão a ele devolvidos;
d) coerência do número de autores com as dimensões do projeto.
VI. Os artigos devem respeitar as seguintes dimensões (unidade-padrão: lauda de 1.400 toques** ou 20
linhas com 70 toques cada):
• ARTIGOS ORIGINAIS: 10 a 18 laudas (de 14.000 a 25.200 toques);3
• REVISÕES DE LITERATURA: 8 a 12 laudas (de 11.200 a 16.800 toques);
• ENSAIOS: 12 a 20 laudas (de 16.800 a 28.000 toques);
1
*
Resumos de monografias: encaminhar três cópias em papel e uma em disquete, contendo: título em português e inglês;
resumo em português e inglês; palavras-chave em português e inglês (mínimo: três; máximo: seis); nome do autor e curso;
nome do orientador; data da aprovação; total de páginas do texto original e documento do orientador atestando sua aprovação.
12Para maior detalhamento das etapas, v. item 2 de “Apresentação”.
3
** Nesse total de toques, considerar também os espaços entre palavras.
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• RESUMOS DE MONOGRAFIAS: 1 lauda (até 1.400 toques);
• RESENHAS: 2 a 4 laudas (de 2.800 a 5.600 toques).
VII. A exatidão e a adequação das referências bibliográficas consultadas e menciondas no artigo são de inteira
responsabilidade do(s) autor(es).
VIII. Cabe à revista a exclusividade na publicação dos artigos aprovados.
IX. Os artigos podem sofrer alterações editoriais não substanciais (reparagrafações, correções gramaticais e
adequações estilísticas), que não modifiquem o sentido do texto. O autor poderá revisar as mudanças introduzidas.
X. NÃO HÁ REMUNERAÇÃO PELOS TRABALHOS. Por artigo, o(s) autor(es) recebe(m) 1 (um) exemplar da
revista e 10 (dez) separatas do seu artigo. Ele(s) pode(m) ainda adquirir exemplares da revista com desconto
de 30% sobre o preço de capa, bem como a quantidade que desejar(em) de separatas, a preço de custo equivalente ao respectivo número de páginas e de cópias.
XI. Os artigos devem ser encaminhados à Comissão Editorial da revista por meio de ofício, no qual devem constar:
• DECLARAÇÃO de anuência e concordância dos autores, assinada por pelo menos um deles, indicando a
exclusividade de publicação na SAÚDE EM REVISTA, caso o artigo venha a ser aceito pela Comissão Editorial;
• CONCORDÂNCIA com as Normas para Publicação;
• CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS: evitar o uso de iniciais ou números de registros hospitalares dos
pacientes. Um paciente não poderá ser identificado em fotografias, exceto com consentimento expressso,
por escrito, acompanhando o trabalho original. Estudos realizados em seres humanos devem estar de
acordo com padrões éticos e com o devido consentimento livre e esclarecido dos pacientes. Deve ser
incluída a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, devidamente registrada no Conselho Nacional de
Saúde ou na Universidade à qual o(s) autor(es) estejam vinculados, ou na instituição mais próxima ao seu
local de trabalho que o possa registrar;
• INDICAÇÃO DA CATEGORIA do manuscrito, conforme item 3.
Forma e preparação dos manuscritos
Cada artigo deve conter os seguintes elementos:
I. IDENTIFICAÇÃO
• NOME e SOBRENOME do(s) AUTOR(es) (no caso de mais de um, indicar o responsável para troca de correspondência);
• Telefone, e-mail e endereço para correspondência;
• TITULAÇÃO acadêmica, INSTITUIÇÃO a que cada autor está afiliado, acompanhado do respectivo endereço, UNIDADE e FUNÇÃO do(s) autor(es);
• DEPARTAMENTO e INSTITUIÇÃO em que o trabalho foi realizado;
• TÍTULO (e subtítulo, se houver): precisa(m) indicar claramente o conteúdo do texto e ser conciso(s), evitando-se palavras supérfluas [título: máximo de 40 toques; subtítulos: máximo de 80 toques];
• SUBVENÇÃO: menção de apoio e financiamento eventualmente recebidos;
• Se tiver sido baseado em DISSERTAÇÃO ou TESE, indicar título, ano e instituição onde foi apresentada;
• Se tiver sido apresentado em REUNIÃO CIENTÍFICA, indicar nome do evento, local e data da realização
• AGRADECIMENTO, apenas se absolutamente indispensável.
Esses elementos devem ser descritos em folha individualizada, antecedendo o texto do artigo propriamente dito.
II. TEXTO
• TÍTULO do trabalho em português e inglês (textos em inglês devem apresentar título, resumo e palavraschave em português; textos em espanhol, título em inglês, abstract e keywords).
• RESUMO indicativo e informativo, em português (intitulado Resumo) e inglês (denominado Abstract), em,
no máximo, 1.400 toques. Para fins de indexação, o autor deve indicar as palavras-chave ou descritores
(mínimo de três e máximo de seis) do artigo, em português e inglês (keywords). Recomenda-se o uso de DECSDescritores em Ciências da Saúde (LILACS: <http://www.bireme.br/ abd/P/lilacs.htm>, <http://decs.bvs.br>).
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SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 67-71, 2005
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• TÍTULO ABREVIADO, com até 40 caracteres, para fins de legenda nas páginas impressas.
Documentação
As citações devem obedecer à apresentação aqui detalhada: 45
I. CITAÇÕES NO TEXTO
a) As referências ao longo do texto, assim como nas tabelas e figuras, devem ser identificadas por número
arábico e numeradas consecutivamente segundo a ordem em que são mencionadas no artigo. Esse número
precisa ser colocado em expoente (sobrescrito). Ao se citar dois autores de obra referenciada, seus sobrenomes devem estar ligados pela conjução “e”; no caso de mais de três, cita-se o primeiro autor seguido da
expressão “et al.” Exemplos:
• Terris et al.8 altualizam a clássica definição de saúde pública.
• O fracasso do movimento de saúde comunitária parece evidente.1, 5, 7
As NOTAS EXPLICATIVAS,* quando houver, precisam ser dispostas no rodapé, remetidas por asterisco (não por
número), sobrescrito no corpo do texto. Havendo mais de uma por página, o seu número corresponderá à
quantidade de astericos necessários para indicá-lo,** processo esse que será reiniciado em eventual nova página.
Toda vez que a citação for literal, ou específica a um trecho da obra, e tiver (a) menos que quatro linhas, ela
deve aparecer entre aspas, e não em itálico; se for (b) igual ou maior que quatro linhas deve ter recuo de quatro centímetros das margens do texto (sem aspas), sendo destacada em parágrafo próprio, com corpo reduzido em relação ao restante do texto, pulando-se uma linha antes e outra depois da transcrição.
(a) ...Fica claro, portanto, que “as exigências nutricionais dos fungos que afetam papéis são carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre, potássio, magnésio, fósforo, ferro, zinco, cobre e manganês”, conforme afirma Kowalik17 (pp. 99-114).
(b) ...Como afirma Malerbi, discutindo o atendimento ao paciente diabético na rede básica do município
de São Paulo:
O atendimento de pacientes diabéticos ainda está dependendo da iniciativa pessoal dos profissionais que atuam nos postos, os quais, quando têm interesse, deparam-se com dificuldades relativas a
critérios, medicamentos, materiais, recursos auxiliares etc. As maiores dificuldades residem,
porém, quanto ao treinamento e atualização das equipes, e quanto ao sistema de referência e contra-referência, o qual é extremamente complicado, burocratizado e ineficaz. (Malerbi,8 p. 31)
Os demais complementos (nome completo do autor, nome da obra, cidade, editora, ano de publicação etc.)
constarão das Referências Bibliográficas, ao fim de cada artigo, seguindo o padrão abaixo.
II. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
As Referências Bibliográficas são limitadas a 30, nos textos que se enquadram nas categorias Artigos Originais, Revisão e Ensaio. As referências ao longo do texto (citações), assim como tabelas e figuras, devem ser
identificadas por número arábico e numeradas consecutivamente, e normatizadas de acordo com o estilo
Vancouver (<www.icmje.org>). Os títulos de periódicos devem ser referidos de forma abreviada, de acordo
com o Index Medicus (<http://bioinfo.ernet.in/~shubha/IndexMedicus/IndexMedicus-A.html>). Publicações com dois autores até o limite de seis citam-se todos; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros,
seguidos de “et al.”, de acordo com o padrão abaixo.
Artigos em periódicos
1. Listar os seis autores seguidos por “et al.”.
• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996 Jun 1;124 (11):980-3.
Como opção, se o periódico tem paginação contínua e não apresenta numeração, pode ser omitido o
número da revista:
4
*Nota explicativa no rodapé da página.
5
**Uma eventual segunda nota na mesma página será indicada por dois asteriscos.
Saúde em Revista
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saude17.book Page 70 Friday, November 11, 2005 9:05 AM
• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3.
Para mais de seis autores:
• Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E, et al. Childhood leukaemia in
Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1006-12.
2. Organizados como autores
• The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing. Safety and performance guidelines. Med J Aust 1996; 164: 282-4.
3. Nenhum autor apresentado.
• Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15.
4. Volume ou artigo com suplemento
• Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational lung cancer. Environ
Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82.
• Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women’s psychological reactions to breast cancer. Semin Oncol
1996;23(1 Suppl 2):89-97.
5. Artigo sem volume
• Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid arthritis. Clin
Orthop 1995;(320):110-4.
6. Nenhum título ou volume
• Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects of blood transfusion
on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33.
7. Paginação em algarismos romanos
• Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology. Introduction. Hematol Oncol
Clin North Am 1995 Apr;9(2):xi-xii.
8. Autores citados em outros artigos
• Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson’s disease [letter]. Lancet 1996;347:1337. Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus nephropathy (HVN) [abstract]. Kidney Int
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Livros e monografias
• Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2nd ed. Albany (NY): Delmar
Publishers; 1996.
• Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York: Churchill Livingstone; 1996.
• Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington: The Institute;
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• Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension:
pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78.
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In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World
Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland;
1992. p. 1561-5.
1. Dissertação ou tese
• Ferreira SJ. Caracterização molecular da Xillela fastidiosa [Dissertação ou Tese]. Piracicaba (SP): Universidade de São Paulo; 2000.
70
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(17): 67-71, 2005
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SAÚDE REV., Piracicaba, v. 7, n. 17, p. 1-72, set./dez. 2005