ESTUDO SOBRE OS BENEFÍCIOS DO CENÁRIO DE NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS NEGÓCIOS Luis Fernando da Costa Lopes Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como necessários à parte dos obtenção do Engenheiro. Orientador: Armando Clemente Rio de Janeiro Agosto de 2014 requisitos título de ESTUDO SOBRE OS BENEFÍCIOS DO CENÁRIO DE NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS NEGÓCIOS Luis Fernando da Costa Lopes PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO. Examinado por: ______________________________________________ Prof. Armando Augusto Clemente, Ms. Sc. ______________________________________________ Prof.ª Maria Alice Ferruccio Rainho, D. Sc. ______________________________________________ Jaime Beer Frenkel, Ms. Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL AGOSTO DE 2014 Lopes, Luis Fernando da Costa; Estudo sobre os benefícios do cenário de Nova Revolução Industrial no processo de desenvolvimento de novos negócios / Lopes, Luis Fernando da Costa. – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2014. XI, 60 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Armando Clemente Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia de Produção, 2014. Referências Bibliográficas: p.60. 1. Nova Revolução Industrial. 2. Movimento Makers. 3. Empreendedorismo. 4. Inovação. I. Clemente, Armando. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Curso de Engenharia de Produção. III. Estudo sobre os benefícios do cenário de Nova Revolução Industrial no processo de desenvolvimento de novos negócios. Agradecimentos Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à minha família por todo o apoio que me deu, não só na faculdade, mas durante toda a minha vida. Gostaria de agradecer também a todos os meus amigos que sempre me apoiaram e acreditaram em mim, mesmo quando eu estive afastado. Por fim, gostaria de agradecer ao Armando Clemente e ao Rafael Clemente por orientarem e tornarem este trabalho possível e, em especial, ao Jaime Frenkel por ter me mentorado durante a elaboração deste trabalho e por ter me despertado o interesse em estudar inovação. 4 Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção. Estudo sobre os benefícios do cenário de Nova Revolução Industrial no processo de desenvolvimento de novos negócios Luis Fernando da Costa Lopes Agosto/2014 Orientador: Armando Clemente Curso: Engenharia de Produção A democratização de novas ferramentas de produção, como as impressoras 3D, juntamente com a vasta rede de conhecimento acessível formada na internet, estão mudando a forma como as coisas são produzidas. Pessoas agora, com o auxílio do conhecimento disponível na internet e das novas tecnologias de produção, podem modelar, compartilhar e fabricar seus próprios produtos, potencializando a capacidade humana de gerar inovação. Esse cenário é defendido por alguns como o início de uma Nova Revolução Industrial, em que grandes fábricas de produção em massa passarão a dividir o mercado com micro fábricas de produtos altamente customizados e sob demanda. Diante deste cenário, o Movimento Makers surge como uma tendência social e tecnológica em que pessoas, com o auxílio das novas ferramentas de produção e de informações disponíveis em comunidades online, se veem engajadas a construírem seus produtos com as suas próprias mãos. Dito isso, o trabalho tem como objetivo entender os principais aspectos do cenário de Nova Revolução Industrial que beneficiam o processo de desenvolvimento de novos negócios, a partir de pesquisas bibliográficas e um estudo de caso de uma empresa característica desse cenário. Palavras-chave: Nova Revolução Industrial, Movimento Makers, Empreendedorismo, Inovação. 5 Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Engineer. Study of the benefits of the New Industrial Revolution scenario in the development process of new business Luis Fernando da Costa Lopes August/2014 Advisor: Armando Clemente Course: Industrial Engineering The democratization of new production tools, such as 3D printers, along with the big knowledge network available on the internet, are changing the way that things are produced. People now, with the aid of knowledge available on the internet, can model, share and manufacture their own products, enhancing human capacity to generate innovation. This scenario is seen as the beginning of a New Industrial Revolution, in which large mass production factories will start to share the market with micro factories that produces highly customized products on demand. In this scenario, the Makers Movement emerged as a social and technological trend in which people, with the aid of new production tools and information available in online communities, find themselves engaged to build their products with their own hands. That said, the study aims to understand the main aspects of the New Industrial Revolution scenario that benefit the process of developing new business, from library research and a case study of a startup feature of this scenario. Keywords: New Industrial Revolution, Makers Moviment, Entrepreneurship, Innovation. 6 Sumário de Figuras Figura 1 – Estrutura do Trabalho .................................................................................... 12 Figura 2 – Princípio de Pareto nos Negócios ................................................................. 17 Figura 3 – Modelo Cauda Longa .................................................................................... 18 Figura 4 – The Sims ....................................................................................................... 19 Figura 5 – Banco de Modelos 3D ................................................................................... 21 Figura 6 – Venda de impressoras 3D nos EUA .............................................................. 22 Figura 7 – Movimento Makers ....................................................................................... 23 Figura 8 – Plataforma de Crowdfunding ........................................................................ 25 Figura 9 – Hackerspace .................................................................................................. 26 Figura 10 - Arma feita por impressora 3D ..................................................................... 30 Figura 11 – Componentes da Impressora 3D ................................................................. 31 Figura 12 – Ferramenta Digital de Modelagem 3D ........................................................ 32 Figura 13 - Padrões de Preenchimento ........................................................................... 33 Figura 14 - Estrutura de Sustentação .............................................................................. 33 Figura 15 - Processo de Impressão 3D ........................................................................... 34 Figura 16 - Dot Matrix ................................................................................................... 34 Figura 17 - Auto Escaneamento ..................................................................................... 36 Figura 18 - Plataforma de Prototipagem Eletrônica ....................................................... 37 Figura 19 – Startup em transição para uma empresa consolidada ................................. 40 Figura 20 – Customer Development ............................................................................... 42 Figura 21 – Construir, Medir e Aprender ....................................................................... 43 Figura 22 – Aprendizado, Recursos e Incerteza ............................................................. 44 Figura 23 - Modelo de Negócio 3D Robotics................................................................. 51 Figura 24 - Trajetória da 3D Robotics ............................................................................ 55 7 Sumário INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10 Contextualização do Trabalho .................................................................................... 10 Objetivos..................................................................................................................... 10 Metodologia ................................................................................................................ 11 Estrutura do Trabalho ................................................................................................. 12 1. NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .................................................................. 14 1.1 O que é a Revolução Industrial? ...................................................................... 14 1.1.1 1.2 2. 3. A Terceira Revolução Industrial Existiu? ................................................ 15 A Nova Revolução Industrial .......................................................................... 16 1.2.1 Cauda Longa ............................................................................................. 16 1.2.2 Do digital para o mundo físico, a Cauda Longa das coisas ...................... 19 1.2.3 Movimento Makers .................................................................................. 22 1.2.4 Impactos na sociedade e na indústria ....................................................... 26 1.2.5 Lado negativo da revolução ...................................................................... 29 FERRAMENTAS DA REVOLUÇÃO .................................................................. 31 2.1 Impressora 3D .................................................................................................. 31 2.2 Scanner 3D ....................................................................................................... 35 2.3 Plataformas de Prototipagem Eletrônica .......................................................... 36 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE STARTUPS NO CENÁRIO DE NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .......................................................................... 39 3.1 O conceito de Startup ....................................................................................... 39 3.2 Experimentação: atividade crítica no processo de desenvolvimento............... 41 3.2.1 3.3 Metodologia Lean Startup ........................................................................ 41 Desenvolvimento de novos negócios no cenário de Nova Revolução Industrial 44 4. ESTUDO DE CASO: 3D ROBOTICS ................................................................... 49 8 4.1 Histórico........................................................................................................... 49 4.2 Modelo de Negócio .......................................................................................... 51 4.3 Evidências da Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers no desenvolvimento da 3D Robotics ............................................................................... 54 5. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 60 9 INTRODUÇÃO Contextualização do Trabalho O mundo está entrando em uma Nova Revolução Industrial. A democratização das novas ferramentas de produção, como as impressoras 3D, com auxílio da vasta rede de conhecimento disponível na internet, permite que pessoas fabriquem seus próprios produtos de uma maneira que antes não era possível. Indivíduos com as competências e ferramentas certas agora podem projetar e fabricar produtos físicos, complexos e de baixo custo, o que antes era uma realidade apenas para as grandes organizações. Dessa forma, à medida que essas ferramentas são aprimoradas e se tornam mais acessíveis à sociedade, mais produtos poderão ser fabricados a partir delas, acarretando em uma mudança na forma como as indústrias se organizam. Essa revolução é suportada por um movimento tecnológico e cultural que vem se estabelecendo na sociedade. O Movimento Makers é uma tendência em que as pessoas usam o conhecimento disponível na internet e as novas ferramentas de produção a fim de fabricarem seus produtos com as próprias mãos. Diante desse cenário, empreendedores estão criando novos negócios aproveitando as informações disponíveis na internet, juntamente com o acesso às novas ferramentas de produção. Com isso, o cenário de Nova Revolução Industrial tem se mostrado propício para o desenvolvimento enxuto de novos negócios, o que antes era mais comum apenas para modelos de negócios voltados para o ramo digital. Objetivos O objetivo central deste trabalho é criar um entendimento de como o cenário de Nova Revolução Industrial beneficia o processo de desenvolvimento de novos negócios. Para se chegar a esse entendimento, o trabalho terá como objetivos secundários os seguintes pontos: Estudar o conceito de Revolução Industrial; Entender os fundamentos da Nova Revolução Industrial; 10 Entender o Movimento Makers e os pilares que o sustentam; Estudar as ferramentas de produção que sustentam a Nova Revolução Industrial; Compreender o que significa desenvolver um novo negócio e estudar metodologias atualmente aplicadas ao desenvolvimento de negócios inovadores; Fazer um paralelo entre as práticas de desenvolvimento de um novo modelo de negócio com as características do cenário de Nova Revolução Industrial; Elaborar um estudo de caso de uma startup1 que se desenvolveu em meio ao cenário de Nova Revolução Industrial de forma a realizar um paralelo de características no seu processo de desenvolvimento com o tema de Nova Revolução Industrial e Movimento Makers. Metodologia Para se alcançar os objetivos propostos, o trabalho foi feito com base em pesquisas bibliográficas em livros, bases de conhecimento e sites na internet, tendo como tema central a Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers, conceituado por Chris Anderson (2011). Com isso, primeiramente, a pesquisa focou em gerar conhecimento a respeito da Nova Revolução Industrial e os pilares que a sustentam. A partir disso, a pesquisa incluiu o tema desenvolvimento de startups, de forma a criar um paralelo entre métodos de desenvolvimento de novos negócios com o cenário que a Nova Revolução Industrial propicia aos empreendedores. Por fim, a pesquisa inclui um estudo de caso de uma startup desenvolvida nesse cenário de Nova Revolução Industrial, a fim de evidenciar os principais pontos do que foi pesquisado na bibliografia com características do seu processo de desenvolvimento. 1 Startup é o nome dado a um modelo de negócio em processo de desenvolvimento. Seu conceito será detalhado no capítulo 4 11 Algumas empresas foram pesquisadas e se mostraram interessantes para o estudo de caso, mas a empresa escolhida foi a 3D Robotics, que foi fundada pelo próprio Chris Anderson e possuía uma disponibilidade maior de informações na internet. É válido ressaltar que a pesquisa do presente trabalho possui algumas limitações. O tema de Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers ainda é muito recente e possui poucos autores abordando o assunto. Por isso, apesar da pesquisa englobar diversas fontes diferentes, o trabalho tem uma grande influência da visão de Chris Anderson (2011) sobre o que é de fato a Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers. Estrutura do Trabalho O trabalho está dividido em quatro partes que serão detalhadas logo a seguir: Figura 1 – Estrutura do Trabalho Fonte: Elaboração Própria O segundo capítulo tem como objetivo explicitar o que é a Nova Revolução Industrial, bem como os fatores que a sustentam. Primeiramente será feita uma revisão do tema Revolução Industrial e, em seguida, será exposta a ideia por trás da Nova Revolução Industrial e do Movimento Makers. O terceiro capítulo fará um estudo geral das principais ferramentas que sustentam a Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers. O quarto capítulo fará uma revisão geral sobre a literatura a respeito de desenvolvimento de novos negócios e, em seguida, apresentará uma visão de como o cenário de Nova Revolução Industrial ajuda no processo de desenvolvimento de novos negócios. O quinto capítulo fará um estudo de caso de uma empresa inserida no contexto de Nova Revolução Industrial, de forma a realizar uma análise, através dos conceitos 12 expostos nos capítulos anteriores, de como esse cenário impactou no desenvolvimento do negócio da empresa estudada. 13 1. NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Para Chris Anderson (2011), da mesma forma que a internet acabou com o monopólio das mídias de massa, a Nova Revolução Industrial acabará com o monopólio das fábricas de produção em massa. Atualmente, pessoas em geral e empreendedores estão usando informação aberta e máquinas próprias de produção, como as impressoras 3D, para criarem seus próprios produtos e até mesmo transformar suas invenções em modelos próprios de negócio. A partir disso, um movimento apelidado de Movimento Makers vem cada vez mais tomando forma e mostrando indícios de uma revolução que mudará a forma de se produzir coisas e inovar. O presente capítulo abordará os principais aspectos relacionados às revoluções industriais e as tendências dos dias atuais que permeiam essa nova revolução capaz de mudar a forma que as indústrias se organizam e, principalmente, a maneira que ideias se transformam em produtos. 1.1 O que é a Revolução Industrial? A primeira Revolução Industrial, com início em meados do século XVIII, na Inglaterra, foi o começo da transição do sistema de produção baseado em artesanato para o sistema de produção industrial. Essa revolução ficou caracterizada por uma descoberta importante que impactou os setores de produção e de transportes: a ciência descobriu a utilidade do carvão como meio de fonte energética, abrindo as portas para o desenvolvimento das máquinas de produção movidas a vapor e as locomotivas. Com isso, através das máquinas e de um sistema de transporte mais dinâmico, as indústrias passaram a crescer em ritmo acelerado e criar oportunidades de emprego. A partir daí, milhares de pessoas começaram a migrar do campo em direção às cidades. O acelerado êxodo rural provocou expressivo crescimento dos centros urbanos em grande parte das nações europeias que integravam a revolução, aumentando em três vezes, em meio século, a população de algumas cidades, sendo a principal delas a cidade de Manchester, na Inglaterra. Assim sendo, fica evidente como a Primeira Revolução Industrial afetou a produtividade humana e a forma como as sociedades vivem. Além do aumento de 14 acesso da população a produtos industrializados diversos e meios de transporte mais eficientes, a época foi marcada pelo surgimento de novas tendências sociais. O aumento de forma não planejada da concentração de habitantes, bem como as péssimas condições de trabalho, causaram um aumento da marginalidade nas cidades e a redução da qualidade de vida dos operários, respectivamente. Já a Segunda Revolução Industrial, que teve início nos Estados Unidos, no início do século XIX, além de ter inovações importantes em áreas de produção, energia e transporte, passou a ser um marco para os avanços na área de telecomunicações. Essa revolução foi alavancada basicamente pela criação de novos processos de produção de aço, utilização de gás natural, petróleo e energia elétrica como fontes de energia. Com isso, através dessas novas tecnologias, a humanidade deu um salto extraordinário em termos de qualidade de vida. Produtos como, lâmpada elétrica, automóvel, telégrafo, refrigerador, além de diversos avanços na área química e medicinal passaram a ser acessíveis e altamente demandados, dando início a uma sociedade com novos padrões de consumo. Sendo assim, segundo Chris Anderson (2011), como podemos ver no caso da Primeira e Segunda Revolução Industrial, uma Revolução Industrial é definida por uma série de novas tecnologias capazes de amplificar drasticamente a produtividade humana, impactando em diversas características de uma sociedade, tais como saúde, qualidade de vida, concentração populacional e outras. 1.1.1 A Terceira Revolução Industrial Existiu? Muitos autores defendem a existência de uma Terceira Revolução Industrial impulsionada pela Era da Informação, mas segundo Chris Anderson (2011), o advento dos computadores e da internet não foi o suficiente para causar uma revolução na indústria. Chris Anderson (2011) defende que apesar do uso da computação e da internet ter afetado drasticamente a produtividade e a cultura humana, a maneira com que as indústrias fabricam as coisas não foi revolucionada. Em suma, o começo da Era da Informação, por volta dos anos 50, o surgimento dos computadores pessoais, no final da década de 70 e a popularização da internet, na 15 década de 90, representam de fato uma revolução. No entanto, essa revolução só seria industrial se a mesma pudesse impactar na amplificação e democratização da manufatura, assim como aconteceu com a informação. Essa democratização dos meios de produção e a revolução na maneira de se construir coisas estão começando só agora, como será visto no tópico a seguir. 1.2 A Nova Revolução Industrial Segundo Chris Anderson (2011), estamos entrando em uma Nova Revolução Industrial. A grande disseminação de informação causa pela internet, juntamente com novas tecnologias de produção, estão mudando a forma com que as coisas são produzidas. Sendo assim, o presente tópico tem como objetivo explicitar o que é essa tendência e como ela impactará a sociedade. Antes de expor as características que sustentam a Nova Revolução Industrial, é válido falarmos sobre o conceito de Cauda Longa. 1.2.1 Cauda Longa O conceito de Cauda Longa, popularizado por Chris Anderson (2006), explica a forma como a venda infrequente de produtos bem segmentados pode gerar tanta ou mais receita quanto à venda de produtos de massa. 16 Figura 2 – Princípio de Pareto nos Negócios Fonte: Elaboração própria Antigamente, como na Figura 2, a maior parte dos negócios tinha receita baseada no Princípio de Pareto, que afirma que para muitos fenômenos, 80% das consequências advêm de 20% das causas. Em outras palavras, considerando o contexto de negócios, isso significa que teoricamente uma pequena parte dos produtos do portfólio de uma empresa é responsável por gerar a maior parte da sua receita. Isso acontece pois uma empresa com canais de venda no mundo físico precisa desembolsar gastos com estocagem e distribuição dos seus produtos, o que limita o tamanho do seu portfólio disponível para venda. Sendo assim, com variedade relativamente pequena de produtos disponíveis, grande parte da receita da empresa é gerada através da venda dos produtos mais cobiçados pelos clientes. No entanto, Chris Anderson (2006) defende que três estímulos econômicos foram vitais para a mudança desse cenário: Democratização das ferramentas digitais de produção: a queda nos custos da tecnologia possibilitou aos indivíduos maior acesso às ferramentas necessárias para produção de conteúdo, que antes necessitavam um investimento muito alto. Dessa forma, um número exorbitante de amadores pôde produzir e ofertar conteúdo como, softwares, músicas, filmes, livros e outros, com qualidade praticamente profissional; Democratização da informação: a internet transformou a distribuição de conteúdo digital em commodity, além de reduzir drasticamente os custos de inventário, comunicação e transação nas empresas, o que abriu espaço para a exploração de novos mercados; Queda nos custos de conexão entre oferta e demanda: o maior desafio na venda de produtos muito segmentados é encontrar o potencial interessado. No entanto, o surgimento de poderosas ferramentas de busca e recomendação, baseadas, por exemplo, no histórico de pesquisas 17 do Google, ou padrão de “curtidas” no Facebook, ajudam a filtrar a enorme quantidade de conteúdo ofertado e encurtar a distância entre o vendedor e o comprador. Dessa forma, uma enorme quantidade de negócios passou a se basear no modelo de Cauda Longa para gerar receita. Empresas cujo canal de distribuição é online, principalmente aquelas que vendem produtos digitais, possuem um custo reduzido de estocagem e distribuição dos seus produtos, o que as permitem criar um portfólio muito mais diversificado. Sendo assim, a receita gerada pelas inúmeras vendas de produtos de nicho e com menos procura por parte do público passa a ser uma fatia expressiva da receita do negócio. No ponto de vista matemático, se pensarmos em uma empresa hipotética, com um vasto portfólio de produtos e um preço médio P por produto, temos que a área da cauda destinada aos produtos menos populares pode chegar a ser igual ou até maior do que área dos produtos de sucesso, como pode ser visto na figura a seguir: Figura 3 – Modelo Cauda Longa Fonte: Elaboração própria Em suma, modelos de negócio baseado em Cauda Longa costumam ser, na maioria das vezes, de empresas que ofertam produtos digitais, mídias ou makertplaces digitais, como é o caso do Mercado Livre, que é formado por uma plataforma 18 multilateral. Essa plataforma possui demandantes e ofertantes que interagem entre si, formando uma rede com um portfólio imenso de produtos disponíveis. 1.2.2 Do digital para o mundo físico, a Cauda Longa das coisas Para ilustrar de forma mais clara o conceito de Cauda Longa aplicado ao mundo físico, Chris Anderson (2011) usa um jogo chamado The Sims. The Sims é uma série de jogo eletrônico de simulação de vida, cujo objetivo e criar personagens virtuais e comandar suas ações dentro de um mundo virtual. Uma funcionalidade bem interessante do jogo é que o jogador tem a liberdade de montar uma casa virtual com as diferentes opções de paredes, móveis, eletrodomésticos e vários outros objetos passíveis de se encontrar em uma moradia. Além disso, fora do escopo da equipe de desenvolvimento do jogo, foram criadas comunidades de usuários que criam seus próprios objetos e os compartilham na internet para que outros jogadores possam desfrutá-los. Com isso, o jogador possui uma imensa quantidade de opções para que um jogador possa montar a sua casa nos mínimos detalhes e da maneira que bem entender. A Figura 4 ilustra uma tela do jogo. Figura 4 – The Sims Fonte: www.7games7.com, consultado em maio de 2014 19 Agora, vamos olhar a brincadeira no ponto de vista de uma criança no mundo físico. Assim como no The Sims, as casinhas de boneca e os bonecos que vivem nela são uma forma de simulação da vida real. No entanto, a mesma experiência de customização da casinha que uma criança possui no The Sims não pode ser replicada de forma simples no mundo real. Onde encontrar uma loja que tenha um portfólio extenso de peças à venda que sirvam exatamente ao gosto e a necessidade da criança? Provavelmente, as peças que existem disponíveis à venda para a específica casinha de boneca em questão não são tão simples de se obter, comparada à facilidade de se obter um objeto novo no jogo virtual. Fora a compra de novas peças, existe também a opção de se construir com as próprias mãos a peça desejada, no entanto, a grande maioria das pessoas não tem tempo e nem habilidade para realizar tal tarefa. Esse é um exemplo claro de como o conceito de Cauda Longa pode ser aplicado de maneira muito mais fácil ao mundo digital. Há alguns anos, de fato não haveria outra solução para a criança, a não ser esperar até que alguém oferte uma peça que encaixe com suas necessidades e o seu gosto. Entretanto, hoje em dia, com ascensão das impressoras 3D caseiras, a situação já está começando a mudar. Da mesma forma que é feita no jogo eletrônico, a criança pode acessar um site que contenha um banco de modelos tridimensionais de peças de casinha de brinquedo, escolher entre as mais variadas opções, fazer o download, realizar pequenos ajustes e imprimir em 3D diretamente da escrivaninha do seu quarto. 20 Figura 5 – Banco de Modelos 3D Fonte: www.thingiverse.com/thing:13391, consultado em maio de 2014 Essa solução evidencia como o conceito de Cauda Longa vem sendo aplicado cada vez mais ao mundo físico. A integração de informações presentes no ambiente online com máquinas de fabricação cada vez mais acessíveis e mais capazes de criarem produtos diferentes permitirá que, no limite, qualquer produto seja produzido just in time. Tal fato permite que a Cauda Longa, que antes era uma realidade apenas para o meio digital, agora seja aplicada ao mundo físico. Em outras palavras, voltando ao exemplo da casa de boneca, montar uma casinha física a partir de um portfólio praticamente ilimitado de peças será tão possível quanto é no jogo The Sims. É justamente disso que se trata a Nova Revolução Industrial. Pessoas poderão usar as novas ferramentas de produção para fabricarem objetos complexos, customizados, sob demanda e sem necessidade de produção em lotes. Segundo Chris Anderson (2011), a maior transformação não será dada pela maneira com que as coisas estão sendo produzidas, mas, sim, por quem estão sendo produzidas. Não somente as fábricas, mas pessoas em geral, com auxílio da internet e das novas ferramentas de produção, agora podem produzir em lotes unitários coisas específicas às suas necessidades, diminuindo a dependência dos produtos da indústria de massa. Essa tendência de democratização dos meios de produção causará uma grande mudança nas formas que as indústrias se organizam atualmente, além de impactar 21 diretamente na cultura das pessoas. Em termos gerais, a produção em pequena escala, de nicho e específica à necessidade de cada pessoa, competirá com a indústria de produção em massa. A figura a seguir mostra uma evolução do crescimento da venda de impressoras 3D de custo abaixo de cinco mil dólares nos Estados Unidos, evidenciando a tendência de democratização de meios de produção. Figura 6 – Venda de impressoras 3D nos EUA Fonte: www.graphics.wsj.com/3Dprinting/, consultado em maio de 2014 Além disso, o acesso democrático à informação e a facilidade de uso dessas novas ferramentas de produção será um fator chave para engajar as pessoas a construírem suas próprias coisas. Essa tendência, chamada de Movimento Makers, os fatores que a sustentam e os impactos gerados na indústria e na sociedade serão discutidos logo a seguir. 1.2.3 Movimento Makers Inspirado na tendência Do it Yourself (DIY), que significa “faça você mesmo”, o Movimento Makers é um movimento tecnológico e cultural que vem tomando força nos últimos tempos. Esse movimento é caracterizado pela tendência das pessoas, com auxílio das ferramentas digitais, usarem novas formas de fabricação para desenvolverem e construírem seus próprios produtos, tanto por necessidade, quanto pela diversão, autorrealização ou pela vontade de criar um novo negócio. Em outras palavras, o Movimento Makers é a essência da Nova Revolução Industrial. O fato dos meios de 22 produção serem democratizados não provoca uma revolução em si. A revolução é causada a partir do momento em que as pessoas usam essas ferramentas para fabricarem seus próprios produtos. Sendo assim, Chris Anderson (2011) defende que, em suma, o Movimento Makers e sustentado por três características principais: Figura 7 – Movimento Makers Fonte: Elaboração própria O Movimento Makers, como foi visto na figura acima, é sustentado por três pilares interligados que formam um clico virtuoso, o que faz essa tendência ser cada vez mais expressiva no mundo. Esse ciclo pode ser pensado da seguinte forma: Desenvolvimento de ideias através de novas ferramentas digitais Em um cenário de tanta inovação tecnológica, as pessoas estão constantemente tendo novas ideias e usando ferramentas digitais para desenvolverem novos projetos, 23 produtos e soluções diversas para seus problemas. À medida que o poder de processamento dos computadores aumenta e suas aplicações se tornam mais completas e intuitivas, pessoas, através de ferramentas digitais, conseguem desenvolver melhor suas ideias e reproduzi-las de forma mais fiel em um ambiente digital. Softwares de modelagem tridimensional, por exemplo, estão cada vez mais intuitivos e com funcionalidades mais completas que servem para as mais diversas áreas de atuação, que vão desde o design de circuitos elétricos até o design de edifícios inteiros. Informação e recursos acessíveis em comunidades online Chris Anderson (2011) defende que nesse cenário de Nova Revolução Industrial se estabeleceu uma cultura de que as pessoas devem compartilhas seus designs e soluções de forma a colaborar com outras pessoas e assim, sustentar o crescimento das comunidades online. Essas comunidades estão sendo geradas na internet com o objetivo de criar espaços de desenvolvimento compartilhado e troca de informações. Com isso, pessoas em geral podem buscar nessas comunidades conhecimento relativo às suas ideias, de forma a torná-las mais tangíveis e com uma necessidade menor de esforço e tempo para desenvolvê-las. Fora as comunidades engajadas em produzir e compartilhar conteúdo, existem também comunidades voltadas para o compartilhamento de recursos. As plataformas de financiamento colaborativo, também conhecidas como plataforma de crowdfunding, consistem em espaços digitais onde usuários podem cadastrar seus projetos, a fim de viabilizá-los a partir do aporte financeiro de diferentes pessoas interessadas na iniciativa. Basicamente, qualquer pessoa pode cadastrar seu projeto. Basta fazer uma descrição detalhada com algumas fotos e vídeos e estabelecer uma meta de investimentos. Em troca do investimento, os inventores dos projetos costumam oferecer recompensas de acordo com a quantidade investida. As recompensas vão desde brindes até a disponibilização de um exemplar do produto investido quando esse estiver pronto, se for o caso do projeto. Se os investimentos feitos pelos usuários forem suficientes para alcançar a meta, o inventor recebe o dinheiro e repassa uma porcentagem do valor arrecadado para o operador da plataforma. Caso os investimentos não sejam suficientes para alcançar a meta, o inventor não ganha nada e a quantia investida é devolvida a seus respectivos investidores. 24 Figura 8 – Plataforma de Crowdfunding Fonte: www.kickstarter.com, consultado em maio de 2014 Democratização de ferramentas de produção A Nova Revolução Industrial não é marcada pela invenção dessas novas ferramentas de produção, como a impressora 3D. As impressoras 3D, por exemplo, já existiam desde a década de 80. O que de fato marcou o início dessa revolução foi a democratização dessas ferramentas para o público em geral. Essa democratização é claro, ainda não está bem consolidada, uma vez que as ferramentas ainda não são de fato acessíveis para grande maioria da população. No entanto, só o fato dessas ferramentas já serem acessíveis às pessoas com poder aquisitivo relativamente baixo, quando comparado ao das grandes empresas que usavam essas ferramentas quando foram inventadas, demonstra que esses meios de produção estão aos poucos sendo democratizados. Até mesmo quando o investimento em uma dessas ferramentas de produção é inviável, existem formas de uma pessoa conseguir desenvolver seus projetos nesse cenário do Movimento Makers. Os chamados hackerspaces, por exemplo, são espaços comunitários em formato de oficina, onde pessoas com interesses em comum, normalmente voltados para arte, tecnologia e design, podem socializar e usar diversas ferramentas para o desenvolvimento de seus próprios projetos. Equipados com computadores, impressoras 3D, scanners 3D, plataformas de prototipagem eletrônica, além de várias outras ferramentas, esses laboratórios se sustentam através de taxas pagas pelos usuários, ou até mesmo, patrocínio de empresas. Sendo assim, essas oficinas são ótimas saídas para inventores pouparem seus recursos e, através das 25 ferramentas certas e o compartilhamento de experiências, desenvolverem suas ideias da forma mais ágil e barata. Figura 9 – Hackerspace Fonte: www.gigaom.com/2014/02/03/inside-nyc-resistor-a-close-knit-hackerspacewhere-crazy-projects-come-to-life/, consultado em maio de 2014 Por fim, Chris Anderson (2011) defende que o mercado adotou padrões de arquivos de design, o que permite que qualquer pessoa, se desejar, possa mandar seus arquivos para um fabricante produzir na quantidade desejada de certo modelo, tão fácil como construir esse mesmo modelo através das suas próprias ferramentas de fabricação. Com isso, mesmo que uma pessoa não tenha recursos para comprar suas próprias ferramentas de produção, ela tem a possibilidade de encomendar seus produtos a partir de um design desenvolvido por ela mesmo. Apesar de não possuir as próprias ferramentas, o fato de uma pessoa poder encomendar um produto aderente às especificidades do design desenvolvido também representa a democratização dos meios de produção, uma vez que isso possibilita que uma pessoa fabrique o produto que quiser, é claro, dentro dos limites da tecnologia atual. 1.2.4 Impactos na sociedade e na indústria Um dos grandes benefícios causados por esse cenário de Movimento Makers é o aumento da inovação de tecnologias, de produtos e, até mesmo, de modelos de negócios presentes na sociedade. Na lógica do efeito de rede, à medida que as pessoas têm mais 26 ideias e desenvolvem mais projetos e soluções inovadoras, mais informação pode ser compartilhada nas comunidades, o que permite que mais pessoas usem essas informações para transformarem suas ideias em produtos finais. Da mesma forma, à medida que mais pessoas usam as novas ferramentas de produção para criar seus produtos, aprendizado é gerado e, em seguida, compartilhado com as comunidades, o que permite a geração de novos projetos e soluções em cima do conteúdo já gerado. Segundo Chris Anderson (2011), esse ciclo virtuoso é um fator determinante para a geração de inovação, uma vez que, com tanta troca de informações e experiências, a inovação será gerada de forma compartilhada entre as pessoas. Seguindo essa lógica de que a inovação será gerada de forma compartilhada entre comunidades de pessoas, uma tendência que tomou força no cenário de Movimento Makers é o desenvolvimento de modelos de negócio open-source. Modelos de negócio open-source são basicamente modelos em que empresas compartilham parte dos seus códigos, ferramentas ou conhecimento, de forma a obterem, em troca, uma rede engajada de usuários disposta a contribuir no desenvolvimento do negócio. Essa comunidade de usuários pode contribuir dando feedbacks, corrigindo erros, propondo melhorias e até mesmo criando novos produtos complementares ao negócio. Dois casos de startups de modelo aberto bem sucedidas em meio ao Movimento Makers são o Arduino e a Makerbot. O Arduino é a empresa mais famosa no ramo de fabricação e distribuição de plataformas de prototipagem eletrônica da atualidade, já a Makerbot é uma das empresas mais promissoras no ramo de fabricação de impressoras 3D caseiras. Por fim, é válido ressaltar que não é necessário que uma empresa seja integralmente aberta aos usuários para que ela seja considerada open-source, basta ter algum nível de abertura. Dessa forma, muitas startups, até mesmo grandes empresas, estão nascendo ou se tornando open-source para que comunidades de usuários contribuam para o desenvolvimento dos seus negócios. As comunidades são basicamente redes sociais criadas pela própria empresa, ou pelos seus clientes, de maneira a servir como um ambiente de interação, compartilhamento de conhecimento, além de desenvolvimento colaborativo de conteúdo. Grande parte das informações de design, software, hardware e de outros elementos relativos a um produto são compartilhados online de forma que os usuários formem uma rede de interação, corrigindo erros nos códigos, dando feedbacks, 27 gerando inovações e divulgando a marca. A partir disso, é formado um ambiente de confiança, onde os usuários se sentem motivados a participar de algo que acreditam servir suas necessidades e se comprometem a propagar novos conhecimentos e experiências. Com isso, a criação de uma comunidade é um poderoso meio de empresas conseguirem engajar seus clientes a colaborarem com o seu desenvolvimento. Outro grande impacto causado por esse cenário é o aumento de iniciativas empreendedoras. Não suficiente o fato de a tendência engajar as pessoas a criarem seus próprios produtos, o movimento “faça você mesmo” tem sido um fator motivador para inovadores transformarem suas invenções em novos negócios. Com o auxílio da vasta base de informações presente nas comunidades e a novas ferramentas de produção, como as impressoras 3D, empreendedores agora podem desenvolver novos negócios com menor dependência de grandes investimentos iniciais. Antigamente, para que certa ideia fosse desenvolvida e levada para o mercado, o empreendedor deveria passar por diversas etapas que poderiam até levar anos. Uma grande quantidade de recursos deveria ser alocada em pesquisa e desenvolvimento, adoção de maquinário apropriado, além de vários outros investimentos, o que torna o processo caro e altamente arriscado. No entanto, nesse cenário do Movimento Makers, os recursos necessários para o desenvolvimento de novos negócios podem ser radicalmente enxugados. Os recursos gastos com pesquisa e desenvolvimento podem ser muito menores, uma vez que a internet possui comunidades compartilhando conteúdo das mais diversas áreas do conhecimento. Além disso, com o advento de novas ferramentas de fabricação, empreendedores não precisam, em um primeiro momento, gastar grandes recursos com maquinário pesado, o que diminui bastante a barreira de entrada de certos negócios. Outro pouto importante, segundo Chris Anderson (2011), é aumento do número de empregos gerados pela Nova Revolução Industrial. Mesmo que a capacidade de produção industrial humana esteja aumentando nas últimas décadas, o número de empregados na indústria caiu cerca de 30%. No entanto, nesse novo cenário, por mais que as novas ferramentas de produção sigam essa mesma tendência de substituição de operários por máquinas automáticas, existe um grande número de empregos sendo gerados por novos empreendimentos. Segundo Chris Anderson (2011), o que de fato gera empregos são os pequenos negócios que dão certo e se tornam grandes. A partir disso isso, ele defende que mesmo que a maioria das startups falhem nos seus primeiros 28 anos de vida, uma pequena fatia delas dá certo e se torna grandes empresas. Sendo assim, pelo fato desse cenário motivar o desenvolvimento de iniciativas empreendedoras, as chances de surgirem startups de sucesso aumentam. O Google e o Facebook são exemplos de startup digitais que se consolidaram e se transformaram em empresas grandes, empregando milhares de trabalhadores e valendo bilhões de dólares. Da mesma forma, o cenário de Nova Revolução Industrial pode ser um ambiente propício de geração de empregos através do desenvolvimento de startups de sucesso, só que agora se limita menos às empresas do ramo digital e contempla também empresas de caráter manufatureiro. Por fim, Chris Anderson (2011) defende que esse cenário mudará a forma como as indústrias se organizam. Devido ao surgimento de novas ferramentas de produção e a democratização das mesmas, micro fábricas passarão a produzir produtos de nicho sob demanda e competir com grandes indústrias de massa. Apesar dessas micro fábricas não terem as mesma capacidade de produção de uma grande indústria, elas serão muitas e estarão localizadas perto da demanda, o que as tornam extremamente competitivas se tratando de certos produtos. Essa novo formato das indústrias ainda não é uma realidade clara, mas aos poucos se concretizará. Atualmente, já é possível que, a partir de modelos digitais, pessoas imprimam pequenas peças de plástico com uma impressora 3D própria. Em um futuro próximo, as impressoras 3D caseiras estarão acessíveis a uma grande parte da população do mundo e poderão imprimir, ao mesmo tempo, peças de diferentes materiais. Com isso, essas ferramentas caseiras de produção passarão a substituir a produção das indústrias de massa à medida que a tecnologia permitir que essas ferramentas fabriquem produtos do mesmo grau de qualidade e complexidade dessas grandes indústrias. 1.2.5 Lado negativo da revolução Assim como as revoluções anteriores trouxeram impactos negativos à sociedade, como o crescimento desordenado das cidades e o aumento da poluição, a Nova Revolução Industrial também terá os seus. Em suma, o fator mais preocupante é o fato dos produtos gerados pela população, através das suas novas ferramentas de produção, não possuírem uma forma de fiscalização adequada. 29 Por ser uma Revolução Industrial que democratiza os meios de fabricação, na mesma lógica da revolução causada pela Era da Informação, pessoas agora podem copiar, fabricar e replicar ilegalmente uma grande variedade de produtos, assim como vem sendo feito há algum tempo com as mídias digitais. Por mais que as empresas criem cada vez mais mecanismos de proteção, é basicamente impossível evitar que uma mídia seja copiada e replicada. Um exemplo claro de que isso já está ocorrendo é a fabricação de armas através de impressoras 3D. Qualquer usuário tem livre acesso para realizar o download do modelo e imprimi-lo com suas próprias ferramentas de fabricação. Os modelos de armas disponíveis ainda necessitam da adição de algumas peças não impressas para se tornarem letais, no entanto, já podem ser facilmente construídas por qualquer pessoa que tenha o modelo tridimensional e uma impressora 3D. Figura 10 - Arma feita por impressora 3D Fonte: Imagem adaptada do site www.metacentricities.com/2013/05/because-we-can/, consultado em maio de 2014 30 2. FERRAMENTAS DA REVOLUÇÃO Como foi visto anteriormente, a Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers são sustentados por uma série de novas ferramentas que permitem que pessoas inovem e fabriquem seus próprios produtos. Muitas dessas ferramentas já existiam bem antes da Nova Revolução Industrial dar seus primeiros sinais de chegada, sendo assim, o que definiu o “divisor de águas” não foi o momento em que essas ferramentas foram inventadas, mas, sim, o momento em que elas se tornaram mais acessíveis às pessoas. A seguir serão detalhadas três das principais ferramentas responsáveis por essa revolução: 2.1 Impressora 3D Uma das principais ferramentas que sustentam a Nova Revolução Industrial é a impressora 3D. A impressora 3D é uma forma de tecnologia de fabricação aditiva em que um modelo tridimensional é criado a partir da impressão de sucessivas camadas de material. Generalizando, a máquina funciona de forma parecida a uma impressora convencional, porém tem a capacidade de se deslocar em três dimensões e imprimir usando filamentos que se solidificam ao final da impressão. Figura 11 – Componentes da Impressora 3D Fonte: Elaboração Própria 31 Criada aproximadamente na década de 80, apenas atualmente a máquina se tornou acessível ao consumidor. Dado o enorme potencial desse tipo de tecnologia, cada vez mais empresas estão entrando no mercado de impressão 3D e oferecendo impressoras mais rápidas e baratas. Não suficiente, seguindo a lógica da tendência DIY, existe uma enorme comunidade online desenvolvendo e compartilhando soluções de impressão 3D. A RepRap é uma comunidade feita com o propósito de desenvolver e compartilhar projetos de máquinas auto replicáveis. Em outras palavras, um usuário pode acessar a comunidade e obter todas as informações para criar a sua própria impressora 3D e, até mesmo, usá-la para construir outras impressoras 3D. Em suma, o processo de fabricação de um objeto através de uma impressora 3D é composto basicamente por três etapas: Modelagem: Primeiramente, o objeto a ser impresso deverá ser modelado tridimensionalmente com o auxílio de uma ferramenta digital de modelagem 3D ou com o auxílio de scanner 3D de objetos, que será detalhado mais a frente. Figura 12 – Ferramenta Digital de Modelagem 3D Fonte: www.solidsmack.com/design/3d-scanning-solidworks-medical-prosthetics/, consultado em maio de 2014 Tradução e Ajuste: Após a modelagem, é necessário o uso de um software para dividir o modelo em camadas milimétricas e traduzi-las em coordenadas para que a impressora realize um caminho de impressão. Além disso, outros ajustes também podem ser feitos, como diminuição da porcentagem de preenchimento de um objeto para economizar matéria-prima, mudança no padrão de preenchimento, ou até mesmo a 32 adição de estruturas tridimensionais que ajudam a fixação da peça durante a impressão, sendo o último caso específico apenas a alguns tipos de impressora 3D. Figura 13 - Padrões de Preenchimento Fonte: www.makerbot.com/blog/2013/06/26/makerware-2-2-0-more-features/, consultado em maio de 2014 Figura 14 - Estrutura de Sustentação Fonte: www.makerbot.com/blog/2013/06/26/makerware-2-2-0-more-features/, consultado em maio de 2014 Impressão: Após os ajustes e a tradução dos dados em coordenadas para a impressora, a impressão é feita de camada em camada. O bico extrusor, então, aplica uma fina camada de matéria-prima derretida sobre uma plataforma e percorre um caminho de impressão. Em seguida, a plataforma ou o extrusor se movem na vertical de 33 forma a repetir o processo, agora em uma nova camada. Uma vez que todas as camadas estejam impressas, o material está pronto para ser retirado da impressora. Figura 15 - Processo de Impressão 3D Fonte: www.youtube.com/watch?v=8_vloWVgf0o, consultado em maio de 2014. Chris Anderson (2011) defende que o nível de tecnologia atual das impressoras 3D é equivalente ao nível de tecnologia de quando as impressoras 2D convencionais se limitavam ao Dot Matrix, de apenas uma cor e baixa resolução. Há muito a ser desenvolvido. Atualmente, as impressoras 3D ainda são bastante limitadas a poucos tipos de filamento e os extrusores ainda são específicos a um tipo de material, o que não permite a impressão de objetos híbridos, com partes metálicas, plásticas ou de madeira. Figura 16 - Dot Matrix Fonte: www.pt.ffonts.net/Dot-Matrix-Normal.font, consultado em maio de 2014 34 Sendo assim, o uso da tecnologia de fabricação aditiva ainda percorrerá um longo caminho de desenvolvimento até chegar a seu potencial pleno de utilização. Atualmente as impressoras já são usadas por empresas e pessoas para simplificar o processo de fabricação de peças muito complexas ou para a prototipação rápida de objetos. Em um futuro bem próximo, os materiais serão tão variados e a resolução chegará a níveis tão microscópicos que a impressora será capaz de produzir desde partes do corpo humano até casas inteiras, como já vem sendo testado na China. 2.2 Scanner 3D Os Scanners 3D são ferramentas capazes de capturar a realidade e traduzi-la em forma de um arquivo digital. Em outras palavras, um scanner 3D serve para copiar objetos do mundo real para o digital, tirando a necessidade do objeto ser desenhado do zero em um programa de modelagem 3D. O dispositivo funciona basicamente através de câmeras e lasers que, quando apontadas de diferentes perspectivas, conseguem modelar objetos tridimensionalmente. A resolução dos scanners ainda é bem limitada, porém o seu potencial é imenso. Devido ao rápido processo de apontar e capturar, a ferramenta se torna uma poderosa forma de dinamizar o processo de fabricação das impressoras 3D, diminuindo, em certos casos, a dependência de profissionais e ferramentas de modelagem tridimensional. As formas de aplicação serão ilimitadas. Em futuro bem próximo uma pessoa poderá se escanear em alta resolução e criar seus próprios produtos, podendo ir desde roupas, próteses até partes do corpo humano dimensionadas perfeitamente de acordo com as especificidades do usuário. A Figura 17 a seguir evidencia como essa realidade, apesar de ainda imatura, já está acessível para muitos. A figura mostra um auto escaneamento do autor do presente trabalho. 35 Figura 17 - Auto Escaneamento Fonte: Elaboração Própria 2.3 Plataformas de Prototipagem Eletrônica As plataformas de prototipagem são dispositivos eletrônicos projetados para ler sinais de entrada, processá-los e gerar sinais de saída. Em outras palavras, a plataforma possui um microprocessador que é capaz de ler dados e transformá-los em ações, da forma que foi exemplificado na Figura 18. Dispositivos como esse já vem sendo usados há muito tempo por grandes empresas e profissionais de eletrônica, no entanto, apenas agora essas plataformas se tornaram acessíveis a um usuário leigo, tanto em termos de custo, quanto em termos de facilidade de uso. Como o nome mesmo já diz, as plataformas foram criadas como uma alternativa barata de prototipagem de soluções eletrônicas. No entanto, elas se tornaram tão acessíveis e fáceis de usar que acabaram se tornando, até mesmo, componentes em produtos finais. 36 Figura 18 - Plataforma de Prototipagem Eletrônica Fonte: Elaboração Própria Assim como está acontecendo com as comunidades voltadas ao desenvolvimento e compartilhamento de soluções de impressão 3D, as plataformas de prototipagem eletrônica estão formando imensas comunidades, engajadas em compartilhar pelo mundo o que há de mais novo em desenvolvimento de hardware e popularizar a tendência DIY. Qualquer usuário interessado em montar seus próprios projetos tem em seu alcance inúmeros fóruns de discussão, tutorias de uso da plataforma e até mesmo milhares de projetos disponibilizados de graça. Sendo assim, a popularização dessas plataformas é um fator importante na sustentação do Movimento Makers. Além das plataformas serem uma poderosa ferramenta para experimentação de novos negócios, elas permitem que as pessoas construam suas soluções de produto de acordo com suas mais específicas necessidades. A diversidade de soluções eletrônicas que essas ferramentas podem criar é imensa e podem ir desde a criação de pequenos robôs, drones a casas inteligentes inteiramente integráveis com smartphones e tablets dos moradores, basta criatividade. É claro, essas ferramentas, por mais que estejam acessíveis a qualquer pessoa, ainda requerem conhecimentos muito específicos em programação e eletrônica para que um projeto, de fato, seja construído. No entanto, assim como vem acontecendo com os frameworks de programação e as ferramentas de modelagem tridimensional, as 37 plataformas de prototipagem eletrônica ficarão cada vez mais simples e intuitivas de serem usadas, chegando a um ponto em que até as crianças poderão construir seus próprios brinquedos eletrônicos. 38 3. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE STARTUPS NO CENÁRIO DE NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL O presente capítulo terá como objetivo realizar um estudo a respeito do impacto causado pelo cenário de Nova Revolução Industrial no desenvolvimento de startups. Para isso, a seguir, será abordada uma visão geral sobre o desenvolvimento de startups e, por fim, será feito um paralelo da prática de experimentação de startups com as características presentes no cenário de Nova Revolução Industrial e do Movimento Makers. 3.1 O conceito de Startup Steve Blank (2012) define o conceito de startup como uma organização temporária formada para buscar um modelo de negócio reprodutível, escalável e lucrativo. Dito isso, para Osterwalder e Pigneur (2011), um modelo de negócios descreve a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização. Em suma, um bom modelo de negócio deveria responder às perguntas “Quem é o cliente e o que ele valoriza?”, “Como a empresa fará dinheiro?” e “De que forma o valor é entregue ao cliente dentro de um custo razoável?”. Diante disso, o termo startup é usado para organizações em processo de aprendizagem a respeito de um novo modelo negócio, que serve tanto para fazer referência a empresas nascentes, quanto a novos produtos ou áreas de negócios dentro de uma organização. Por exemplo, o Google antes de se consolidar como empresa era uma startup, pois ainda era uma organização passando por um processo de desenvolvimento de um modelo de negócio viável. Da mesma forma, apesar de não formar uma nova empresa em si, a equipe do Google Glass também pode ser considerada uma startup, pois ainda passa por um processo de desenvolvimento e aprendizado antes de se concretizar como uma nova unidade de negócio do Google. 39 Figura 19 – Startup em transição para uma empresa consolidada Fonte: Elaboração Própria Durante o processo de desenvolvimento de um novo modelo de negócio, o empreendedor, na maioria das vezes, se depara com questões de altíssima incerteza, o que o levar considerar certas premissas que nem sempre são realistas. Para exemplificar, vamos imaginar dois cenários: um primeiro cenário em que existe um empreendedor no processo de desenvolvimento de uma startup que fabrica um produto inovador e um segundo cenário em que existe um empreendedor querendo abrir uma franquia de fast food. No primeiro cenário, o empreendedor possui uma série de incertezas que precisam ser investigadas para que o negócio seja viável. Quais são os clientes para o produto que está sendo desenvolvido? O produto de fato resolve o problema dos clientes? Quanto eles aceitariam pagar? Quanto custará minha operação? Essas perguntas exemplificam uma das várias questões críticas que devem ser respondidas quando se cria um novo modelo de negócio. Já para o segundo cenário, também existem perguntas a serem respondidas, no entanto, não são tão críticas quanto às do primeiro, uma vez que a franquia não é um modelo de negócio inovador. O modelo de negócio da franquia já foi testado, validado e implementado por outros empreendedores, o que torna a incerteza do negócio muito menor. Com base nisso, Steve Blank (2004) afirma que nenhum plano de negócio resiste ao primeiro contato com o mercado. Com isso, um modelo de negócio inovador precisa ser constantemente testado para que as premissas e hipóteses que foram tomadas como verdades sejam validadas ou refutadas, gerando um novo modelo mais coerente com o 40 mercado e de menor incerteza. Com base nisso, a seguir será feita uma abordagem geral a respeito do conceito de experimentação de modelos de negócios e da metodologia Lean Startup. 3.2 Experimentação: desenvolvimento atividade crítica no processo de De acordo com MacGrath (2009), os modelos de negócio existem dentro de determinadas restrições sujeitas a alterações causadas por mudanças no contexto de negócio, como evoluções tecnológicas, mudanças regulatórias, etc. Embora muitas dessas mudanças contextuais até possam ser previstas com antecedência, é muito raro que se possa dizer a priori quais as alterações no modelo de negócio trarão maior proveito à organização. Por outro lado, a experimentação permite à empresa testar diferentes alternativas para o seu modelo de negócio dentro da nova situação, fazendo-o evoluir em conjunto com o contexto externo. Por esse motivo, a experimentação assume um papel central na evolução do modelo de negócio de uma startup. Para colocar em prática essa experimentação, MacGrath (2009) apresenta uma abordagem na qual os empreendedores identificam as principais suposições por trás do modelo de negócio a ser desenvolvido. A partir daí, as atividades para o desenvolvimento do modelo são sequenciadas em um plano divido em diversos checkpoints. O próximo passo é a identificação das suposições a serem testadas em cada check-point e os custos esperados para cada atividade. Essas atividades são então organizadas em um plano que se inicia com as atividades mais baratas e evolui para atividades mais caras na medida em que o conhecimento adquirido passa a justificar maiores somas de investimento. Logicamente, após cada check-point o plano precisa ser revisto frente aos resultados obtidos. O resultado desse planejamento é o aprendizado rápido e barato na direção de um modelo de negócio bem sucedido ou a descoberta de falhas que inviabilizem o modelo de negócio, antes de serem gastas grandes somas de recursos. 3.2.1 Metodologia Lean Startup Diante do cenário dinâmico em que as startups são inseridas, uma nova metodologia de desenvolvimento de novos negócios tomou forma entre empreendedores. Inicialmente o conceito Customer Development, Steve Blank (2004), 41 surgiu como uma metodologia que defende que, para se alcançar sucesso, novas empresas devem encontrar seu Product/Market Fit com o menor custo possível antes de escalarem o negócio. Figura 20 – Customer Development Fonte: Traduzido do livro The Four Steps to Epiphany, E. Blank, 2004 Dessa forma, o a metodologia defende que um novo negócio deve passar por um ciclo iterativo de descobrimento do “problema a ser resolvido” e validação dos consumidores a respeito da necessidade de resolução desse problema. A frase “Get out of the building!” (Steve Blank, 2004), que significa basicamente “Saia do escritório!”, ficou popular entre o meio empreendedor e mostra a essência do que é o método, empreendedores em negócios nascentes precisam alocar os esforços no aprendizado sobre o problema a ser atacado e o cliente. A partir do Customer Development, Erick Ries (2011) desenvolveu o conceito de Lean Startup, que vem sendo muito usado no desenvolvimento de startups do meio digital. O conceito foi inspirado no Sistema Toyota de Produção, que em termos gerais, defende que a produção deve ser enxuta e focada no cliente. Sendo assim, a metodologia explica, em suma, que o empreendedor deve desenvolver o seu negócio da forma mais enxuta possível, de forma a oferecer a sua proposta de valor em pequenas e seguidas entregas, gerando um Mínimo Produto Viável (MVP), a fim de aumentar a taxa de feedbacks dos clientes, tornando o aprendizado a respeito do negócio maior e seus riscos e incertezas menores. O ciclo de iteração deve evitar qualquer tipo de desperdício de recursos ou esforços que não sejam para gerar mais aprendizado, o que torna o processo mais barato e rápido. O processo de iteração foi representado na figura a seguir: 42 Figura 21 – Construir, Medir e Aprender Fonte: Adaptado do The Lean Startup, E. Ries (2011) Além disso, a metodologia é fortemente baseada em metas e métricas. O uso dessas é vital para que uma startup possa monitorar o crescimento e aprendizado de forma a testar e desenvolver um modelo de negócios de sucesso. Por fim, a metodologia se repete até que o aprendizado marginal seja baixo em relação à quantidade de recurso disponível para a continuação de experimentos. Nesse ponto, o empreendedor, com acúmulo de aprendizado e diminuição da incerteza, poderá buscar o crescimento escalável do negócio, ou, com falta de recursos e pouco aprendizado, decidir mudar de estratégia ou abandonar o seu modelo de negócio. É válido ressaltar que uma empresa deve estar sempre testando o seu modelo de negócios, mesmo que ela já esteja com um modelo consolidado, afinal, o cenário em que ela se encontra está sempre mudando. No entanto, a metodologia é extremamente importante para startups em busca de um modelo viável, uma vez que ela diminui os riscos de insucesso nos primeiros anos de vida através da experimentação e validação de hipóteses. 43 Figura 22 – Aprendizado, Recursos e Incerteza Fonte: Framework de Startups Elogroup 3.3 Desenvolvimento de novos negócios no cenário de Nova Revolução Industrial Foi visto nos tópicos anteriores que a experimentação de um modelo de negócio é um processo fundamental para que uma startup consiga alcançar um modelo viável. Ela permite que as hipóteses a respeito dos pontos mais críticos do negócio sejam testadas e validadas, de forma a criar um modelo mais coerente com a realidade e com menor risco de insucesso. Com base nisso, o cenário de Nova Revolução Industrial se mostra bastante propício para o desenvolvimento de novas startups, uma vez que o mesmo facilita o processo de experimentação e diminui a necessidade de investimentos em recursos. Com isso, fazendo então um paralelo do que foi visto sobre Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers com o que foi visto sobre desenvolvimento de startups, a seguir serão detalhados os três principais fatores que tornam o cenário propício para o desenvolvimento de startups. Prototipagem rápida com as novas ferramentas de produção Um ponto questionável da metodologia Lean Startup é que ela possui uma facilidade maior de implementação em startups do meio digital, por ter uma lógica muito semelhante ao de desenvolvimento ágil de software e se enquadrar menos no 44 processo de desenvolvimento de startups voltadas para manufatura. O processo de experimentação entre startups com produtos do meio digital e startups com produtos do meio físico são bem diferentes. Startups do meio digital lidam exclusivamente com softwares, que são programados, distribuídos e testados no próprio ambiente digital. Com isso, a entrega de um MVP se torna muito mais barato e ágil. Por outro lado, o processo de experimentação de uma startup cujo produto é físico é bem mais complexo. No caso, a criação de um MVP toma muito mais tempo e recursos, além de depender de investimentos em matéria-prima, estocagem, distribuição, etc. No entanto esse cenário vem mudando cada vez mais. O uso das novas ferramentas de fabricação para prototipagem é um ponto marcante no contexto da Nova Revolução Industrial. Através delas é possível transformar ideias em produtos de uma forma muito mais fácil do que era antigamente. Com isso, o processo de desenvolvimento do produto da startup se torna mais enxuto, uma vez que seu produto pode ser prototipado, testado e remodelado de forma mais ágil e barata. Além disso, em muitos casos, startups com menos recursos para comprarem suas próprias ferramentas podem recorrer aos hackerspaces para prototiparem suas soluções, o que torna o cenário ainda mais motivador para as pessoas que buscam inovar e criar seus próprios negócios. Comunidades impulsionando negócios O uso das comunidades em prol da inovação e desenvolvimento de novos negócios também é algo bem característico do cenário do Movimento Makers. O fácil acesso e compartilhamento de informação permitem que as pessoas possam desenvolver colaborativamente estudos das mais diversas áreas do conhecimento, diminuindo, em muitos casos, a necessidade de investimento de tempo e recursos em pesquisa e desenvolvimento de um negócio. Fora o uso das diferentes comunidades espalhadas pela internet como fonte de informação e discussão para empreendedores, Chris Anderson (2011) fez referência à criação de comunidades como forma de uma empresa sustentar a competitividade do seu modelo de negócio, principalmente aqueles que são open-source. Segundo ele, uma startup com modelo open-source pode ser desenvolvida de maneira mais rápida, melhor 45 e de forma mais barata do que ela seria se fosse desenvolvida em segredo, uma vez que a comunidade serve como um laboratório de baixo custo de experimentação e inovação. Chris Anderson (2011) defende que o gerenciamento dessas comunidades deve ser tratado como um canal de marketing e que aos poucos pode se tornar autônomo. Para se formar a comunidade, é preciso, é claro, que a empresa faça um trabalho de construção de uma base inicial de conteúdo. No entanto, como o passar do tempo e o aumento do número de usuários, a comunidade passa a ser alimentada com conteúdo dos próprios usuários. Com isso, a empresa tem a possibilidade de, através de uma política de recompensas, fazer com que os usuários sejam promovidos à, por exemplo, moderadores de conteúdo e usá-los para trabalhar a favor do desenvolvimento do negócio. Além disso, Chris Anderson (2011) defende que startups protegem a marca com o valor gerado pela rede formada pelas suas próprias comunidades. Segundo ele, mesmo que uma startup chinesa faça uma cópia de um produto e o venda mais barato, ela não terá uma cópia de um negócio. Isso acontece porque o valor gerado pela marca e a comunidade do produto original é difícil de ser copiado ou transferido. As comunidades costumam ser fiéis à marca original e se recusam a colaborar no desenvolvimento de produtos copiados. Um exemplo claro disso é a competição entre o Arduino e outras plataformas eletrônicas de prototipação. Apesar de mais baratas, as plataformas chinesas inspiradas no Arduino não alcançaram um engajamento de suas comunidades tão grande quanto à do Arduino, que continua tendo uma comunidade maior, além de uma fatia expressivamente maior do mercado. Chris Anderson (2011) ainda afirma que a rede formada por outras empresas e startups que baseiam seus produtos no modelo de negócio da empresa detentora de uma comunidade pode se tornar uma grande vantagem competitiva. Um grande exemplo disso é o Android, sistema operacional para celulares. O sistema possui boa parte do seu código aberto para o público. No entanto, o fato de outras empresas poderem usar isso para produzir uma cópia do Android não se torna uma ameaça, uma vez que a plataforma possui um imenso valor concretizado através da sua vasta rede de aplicativos e utilitários que vem sendo criados para ela. 46 É válido ressaltar que não necessariamente uma comunidade deve estar associada diretamente a uma única empresa. A comunidade RepRap, por exemplo, voltada para o desenvolvimento de conteúdo e projetos de máquinas auto replicáveis, em outras palavras, impressoras 3D que constroem outras impressoras 3D, tem sido base para dezenas de negócios relacionados a impressoras 3D, não sendo necessariamente ligada a uma única empresa. Pelo contrário, a comunidade é uma iniciativa de pessoas engajadas em promover inovação. Os produtos das startups surgidas baseadas nessa comunidade são frutos do conteúdo desenvolvido pela própria comunidade adicionado às inovações e peculiaridades desenvolvidas por cada empreendedor. Experimentação de modelos de negócios Por fim, uma grande caraterística da Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers no desenvolvimento de uma startup é o ambiente propício para experimentação de negócios. Mais além do que fornecer ferramentas de prototipagem rápida, o cenário se mostra propício para a prototipação de modelos de negócio como um todo. As novas ferramentas de produção, bem como uso das comunidades como fonte de informação e como o canal de uma empresa, permitem que uma startup possa entregar um MVP de forma mais ágil e barata, o que antigamente era mais fácil apenas para startups do meio digital. Com isso, startups conseguem diminuir a incerteza a respeito dos seus modelos de negócios e desenvolver modelos que os clientes realmente queiram. Além disso, as comunidades de crowdfunding, cada vez mais presentes nesse cenário, além de diminuírem a necessidade dos empreendedores recorrerem a grandes empréstimos ou investimento, são uma ótima forma de empreendedores experimentarem novas formas de modelos de negócios de uma forma enxuta. Afinal, se um projeto não consegue alcançar uma meta de investimento, significa que o produto ainda não está aderente às necessidades dos clientes e precisa ser repensado. Por outro lado, se o produto for aceito, o empreendedor recebe o investimento. Esse investimento é um recurso essencial para que o empreendedor possa chegar ao estágio de testes da operação do seu modelo de negócio, um ponto crítico que também requer um processo longo de experimentação e aprendizado. 47 Sendo assim, a partir dos pontos anteriormente citados, vemos que o cenário de Nova Revolução Industrial pode impactar positivamente no processo de criação de novas startups. O processo de experimentação ágil, que antes era viável apenas para startups do meio digital, bem como a cultura de compartilhamento e cooperação no desenvolvimento de projetos nas comunidades aumentam o aprendizado e diminuem a quantidade de recursos necessários para o desenvolvimento de uma startup. Com isso, startups reduzem seus riscos e aumenta as chances de se transformarem em empresas consolidadas. 48 4. ESTUDO DE CASO: 3D ROBOTICS O presente capítulo realizará um estudo de caso de uma startup característica do cenário de Nova Revolução Industrial e Movimento Makers, que foi descrito no tópico anterior. Esse capítulo tem como objetivo fazer um paralelo do que foi estudado nos capítulos anteriores com o que de fato ocorreu na prática durante o processo de desenvolvimento da startup estudada. A empresa escolhida foi a 3D Robotics, uma startup que surgiu de um hobby e se tornou uma empresa pioneira no desenvolvimento, fabricação e venda de drones, veículos aéreos não tripulados. Seu detalhamento será feito logo a seguir. 4.1 Histórico Tudo começou em 2007, quando Chris Anderson quis fazer um programa divertido com seus filhos e comprou dois brinquedos para entretê-los: um robô programável de Lego e um aeromodelo controlado por rádio controle. Apesar da tentativa, as crianças não ficaram muito satisfeitas. O primeiro brinquedo, apesar de possuir diversas funcionalidades programáveis, ficou muito abaixo das expectativas, já que o robô fazia apenas alguns movimentos básicos, o que fez com que as crianças rapidamente enjoassem dele. A experiência com o segundo também não deu muito certo, já que o aeromodelo foi parar em uma árvore em pouco tempo de brincadeira. Depois desse programa fracassado, Chris Anderson ficou intrigado com a situação e tentou pensar em uma maneira de aproveitar melhor aqueles dois brinquedos. Foi daí que ele tirou a ideia de construir um piloto automático para o aeromodelo através dos componentes usados no robô programável de Lego. Apesar de a ideia ter funcionado, os componentes de Lego se mostraram claramente inapropriados para a função que estavam sendo usados. Com isso, após muito pesquisar na internet sobre informações de como construir de forma eficiente o seu aeromodelo com piloto automático, Chris Anderson enxergou uma oportunidade de construir uma comunidade focada em debater e compartilhar informações a respeito da construção de drones caseiros. O site, chamado de DIYDrones, que se refere ao termo “faça você mesmo”, foi criado e rapidamente conquistou uma grande quantidade de adeptos interessados no hobby. A comunidade foi criada em uma plataforma online de forma que os integrantes tivessem ferramentas que permitissem que todos pudessem colaborar para o 49 desenvolvimento da mesma, tirando a dependência de desenvolvimento de conteúdo e moderação por parte do criador. No começo as pessoas se limitavam apenas a reportar seus resultados e ideias relativos aos seus próprios projetos e pesquisas, no entanto, com o passar do tempo, o site foi aprimorado e, com isso, os membros da comunidade passaram a usar a plataforma de forma muito mais intensa, compartilhando e armazenando arquivos, formando times para novos projetos, além de várias outras funcionalidades disponíveis. Após perceber o valor que estava sendo criado na comunidade, Chris Anderson, tomou a decisão de transformar o hobby em um negócio. A partir daí, em 2009, Chris Anderson passou a montar em sua própria mesa de jantar drones a serem vendidos pela internet. Buscou na internet fornecedores para as peças que precisava e montou e testou com as próprias mãos os kits de drones, também com a ajuda dos filhos. Com o passar do tempo, a demanda aumentou e ele se viu obrigado a passar a responsabilidade de montagem de certos componentes para empresas especializadas nisso. O engajamento da comunidade chegou a um ponto tão intenso que as inovações criadas pelos seus integrantes já estavam acontecendo em um ritmo mais ágil do que a capacidade dos fornecedores em fabricar os componentes específicos que estavam sendo demandados. Com isso, Chris Anderson, em parceria com Jordi Munoz, um jovem talentoso que conheceu pela própria comunidade, optou por começar um processo próprio de fabricação de alguns dos componentes a serem usados nas montagens dos drones. De uma garagem alugada, passaram a operar atualmente em duas fábricas, uma em San Diego e outra em Tijuana, ambas de mais de 3000 metros quadrados, equipadas com maquinas como robôs de montagem, impressoras 3D, máquinas de controle numérico computadorizado, além de um time de operários e engenheiros responsáveis pela operação e desenvolvimento de novos produtos. No primeiro ano, a empresa faturou aproximadamente US$ 250.000; em 2011, terceiro ano de operação, alcançou um faturamento de US$ 3.000.000 e vem crescendo 75% a cada ano que passa. Uma startup que nasceu de um hobby se transformou em uma das empresas pioneiras do mundo no ramo dos drones de baixo custo e já conseguiu mais de US$ 35.000.000 em investimentos. 50 4.2 Modelo de Negócio A seguir, com o auxílio do framework Business Model Canvas, Osterwalder (2011), será detalhado o modelo de negócio da 3D Robotics. Figura 23 - Modelo de Negócio 3D Robotics Fonte: Elaboração Própria Segmento de Clientes O Segmento de Clientes pode ser generalizado em basicamente dois grandes grupos. O primeiro, pessoas que gostam do hobby, engloba todos os adeptos de tecnologia aeromodelismo que são potenciais consumidores de produtos da 3D Robotics. Já o segundo, pessoas que buscam soluções inovadoras no uso de drones, engloba todas as pessoas em potencial que possam usar os drones como uma ferramenta inovadora de resolução de problemas. Exemplos bem claros de soluções inovadoras buscadas pelo segundo grupo são os drones usados para realizar filmagens e fotografias, ou reconhecimento de regiões extensas ou de difícil acesso. 51 Proposta de Valor A Proposta de Valor da 3D Robotics é basicamente desenvolver e oferecer soluções inovadoras em veículos aéreos não tripulados. Os produtos oferecidos são separados em três categorias: Kits com drones Ready-to-Fly, que já contêm todos os componentes necessários para se usar o drone, componentes de hardware necessários para uma pessoa construir o próprio drone e, por fim, softwares de código aberto que ampliam a experiência de uso desses drones. Canais Os Canais usados pela 3D Robotics para interface com o cliente são os três principais canais do meio digital: a web, os smartphones e os tablets. A venda de produtos e a interação com a empresa é feita totalmente online. Apesar dos smartphones e tablets poderem acessar o canal da web, por serem dispositivos móveis, suas funções são voltadas para a distribuição e uso de aplicativos relacionados ao controle e monitoramento dos drones. Por fim, o serviço de correio é o canal responsável pelo envio dos produtos aos clientes. Relacionamento com Clientes O principal aspecto da parte de Relacionamento com Clientes da empresa é o uso da comunidade DIYDrones.com como uma forma de interação e engajamento. A comunidade é o principal canal de interação com o cliente. Assim como pode ser um ótimo canal para promoção da empresa, serve também como um canal de feedback por parte dos clientes. Além disso, independentemente da participação da 3D Robotics, os membros da comunidade interagem entre si e compartilham suas ideias e projetos, formando um ambiente fértil de pesquisa e desenvolvimento, o que engaja os usuários e atrai novos clientes à 3D Robotics. Fontes de Receita A empresa gera receita a parir de duas categorias de produtos. A venda de Kits completos com drones já prontos para serem usados e a venda de hardwares específicos para usuários construírem seus drones com as próprias mãos. A primeira representa maior parte da receita da empresa, uma vez que, segundo Chris Anderson, a maioria dos clientes ainda prefere comprar a solução pronta e com garantia de qualidade do que 52 tentar fazer com as próprias mãos. Os softwares são disponibilizados totalmente de graça e por isso não geram receita diretamente para empresa. De forma indireta esses softwares motivam a compra dos hardwares oferecidos pela 3D Robotics. Recursos Principais Os Recursos Principais identificados na 3D Robotics são os seus colaboradores para o funcionamento da empresa e sua estrutura de produção. Os colaboradores tem um papel vital na sustentabilidade do negócio, principalmente aqueles envolvidos no desenvolvimento dos hardwares e softwares. Jordi Munoz, co-fundador da 3D Robotics, por exemplo, impressionou Chris Anderson com sua habilidade de criar com as próprias mão soluções inovadoras para os seus drones, o que foi um ponto decisivo para Chris Anderson o escolher como sócio da empresa. Assim como Chris Anderson e Jordi Munoz, a empresa conta com vários outros colaboradores extremamente capacitados. Além disso, os próprios trabalhadores, os membros da comunidade também fazem parte dos Recursos Principais da empresa. Fora a ajuda na correção de erros e o feedback a respeito dos produtos, grande parte das inovações geradas pela 3D Robotics advêm de conteúdo gerado pela sua comunidade. Por fim, a estrutura de produção também é considerada um dos Recursos Principais. Com suas duas fábricas, a empresa realiza a produção e montagem de certos componentes, o que a torna mais flexível e capaz de implementar nos seus produtos, de forma muito mais rápida, as inovações desenvolvidas pela empresa e pela comunidade. Atividades Chave As Atividades Chave são generalizadas em três grandes atividades: produção, vendas e distribuição e desenvolvimento. A produção representa as atividades de fabricação e montagem dos componentes que formam os drones. A atividade de vendas e distribuição representa todos os processos de manutenção da estrutura online de venda e despache dos produtos comprados online. Por fim, a atividade de desenvolvimento representa todos os processos de desenvolvimento e atualização de software, além do desenvolvimento de melhorias ou novos hardwares. 53 Parcerias Principais Generalizando, a 3D Robotics possui três Parcerias Principais. A primeira e principal parceira da empresa são os membros da comunidade DIYDrones que, além de moderarem conteúdo e ajudarem na manutenção da comunidade, são os principais responsáveis por levar conhecimento e inovação para a empresa. Em segundo, estão as empresas fornecedoras de insumos para a produção, como os maquinários e peças usados na construção dos componentes dos produtos vendidos. Enfim, em terceiro, estão os investidores da empresa, que já investiram mais de 35 milhões de dólares na 3D Robotics e alavancaram o crescimento da empresa. Estrutura de Custos A Estrutura de Custo é dividida em quatro grupos principais. O primeiro está relacionado a todos os custos referentes à manutenção das instalações industriais que suportam a fabricação e montagem dos produtos. O segundo é o custo alocado para pagamento dos salários dos colaboradores que fazem o negócio acontecer. O terceiro é referente aos custos das peças e matérias-primas dos produtos vendidos. Por fim, o quarto grupo se refere a todos os custos relativos à manutenção das plataformas digitais, como aluguel de servidores, domínio do site, desenvolvimento e manutenção dos aplicativos para plataformas mobile, entre outros. 4.3 Evidências da Nova Revolução Industrial e o Movimento Makers no desenvolvimento da 3D Robotics O presente tópico tem como objetivo realizar uma revisão geral da trajetória da 3D Robotics desde a ideia até o negócio atual, de forma a identificar os principais pontos característicos da Nova Revolução Industrial e do Movimento Makers que impactaram positivamente no seu desenvolvimento. A trajetória da empresa foi resumida em seis etapas, como ilustra a abaixo: 54 Figura 24 - Trajetória da 3D Robotics Fonte: Elaboração Própria Um fato bem interessante no desenvolvimento dessa empresa é que ela se originou em um ponto em que o Chris Anderson não possuía nem o conhecimento necessário para desenvolver seu próprio drone e hoje em dia ela representa uma das empresas mais promissoras no ramo de desenvolvimento e fabricação de drones. Para adquirir o conhecimento necessário para o desenvolvimento do negócio, Chris Anderson recorreu às comunidades online. Depois de procurar e não achar uma comunidade que atendesse às suas necessidades, Chris Anderson viu a oportunidade de criar a sua própria. A partir disso, a estrutura oferecida pela DIYDrones foi suficiente para que os usuários se engajassem a desenvolver e compartilhar a tecnologia que ele procurava. Segundo ele, diversos grupos de desenvolvedores e engenheiros altamente capacitados se reuniram para 55 desenvolver e compartilhar seus projetos na comunidade, sem custar um centavo à comunidade DIYDrones. Com isso, fica evidente como o uso da comunidade foi um fator fundamental para que o Chris Anderson aprendesse sobre a tecnologia pro trás do seu futuro negócio. Assim como o Arduino fez com a comunidade Arduino Playground e a Makerbot fez com a comunidade Thingiverse, a 3D Robotics usou a sua comunidade DIYDrones para se desenvolver e expandir o seu valor. Além disso, outro ponto marcante no caso da 3D Robotics foi que o uso do Arduino como plataforma de prototipagem eletrônica e outras ferramentas como, impressora 3D e cortadores a laser, permitiu que o Chris Anderson pudesse fabricar de forma rápida e barata seus primeiros protótipos. A partir dos arquivos digitais disponibilizados na comunidade, Chris Anderson conseguiu montar os primeiros protótipos com os próprios insumos e ferramentas que possuía em casa, com exceção de certos componentes que ainda são muito complexos para serem produzidos com as próprias mãos de forma eficiente, como é o caso dos motores elétricos. Com isso, fica evidente como a democratização das ferramentas de produção contribuiu para o desenvolvimento da 3D Robotics. Sem essas ferramentas, Chris Anderson levaria muito mais tempo e necessitaria de muito mais recursos para prototipar seu produto. Por fim, na 3D Robotics, Chris Anderson usou a sua própria comunidade como local de experimentação e validação de hipóteses do modelo de negócio como um todo. Além disso, no início da startup, Chris Anderson projetou e encomendou sob demanda algumas peças que ele precisava para construir os seus drones, o que o permitiu testar com os clientes seu produto e a viabilidade do negócio, sem ter que depender de uma estrutura própria de produção. Sendo assim, o uso da comunidade como um canal de experimentação e acesso à informação e a adoção de fornecedores para a produção e montagem de algumas das peças contribuíram para que a 3D Robotics pudesse experimentar e validar as principais hipóteses relacionadas ao negócio. Uma vez validadas as hipóteses mais críticas referentes ao modelo de negócio, Chris Anderson encontrou o Product/Market Fit do negócio e pôde, enfim, criar uma estrutura para escalar o seu negócio de maneira menos arriscada. 56 5. CONCLUSÃO Foi visto que a Nova Revolução Industrial é baseada na democratização dos meios de produção. Uma grande variedade de conteúdo das mais diversas áreas do conhecimento exposta de forma acessível na internet, somada ao acesso às novas ferramentas de produção, como as impressoras 3D e as plataformas de prototipagem eletrônica, permitem que pessoas tenham micro fábricas e produzam seus próprios objetos, remodelando a forma como a indústria é organizada. Diante disso, o Movimento Makers surgiu como uma tendência social e tecnológica que suporta a Nova Revolução Industrial, em que pessoas, com auxílio do conhecimento e conteúdo exposto na internet, usam as novas ferramentas caseiras de produção para construírem seus próprios produtos de acordo com suas necessidades. A partir disso, empreendedores estão aproveitando o acesso facilitado à informação e às ferramentas para desenvolverem startups. O Movimento Makers é sustentado pelo cenário de: intensa geração de ideias e produção de conteúdo em ferramentas digitais, disponibilização de informações e recursos em comunidades online e democratização de ferramentas de produção. Com relação ao processo de desenvolvimento de novos negócios, viu-se que empresas nascentes, em alguns casos denominadas startups, precisam manter uma rotina de experimentação, monitoramento e validação das hipóteses dos seus modelos de negócio. Dessa forma, essas organizações nascentes conseguem gerar aprendizado e desenvolver o seus negócios de forma mais enxuta, o que diminui os riscos de fracasso. Sendo assim, o que foi visto na literatura e o estudo de caso mostram como cenário de Nova Revolução Industrial e Movimento Makers podem impactar positivamente no processo de desenvolvimento de novos negócios. Esse cenário possui uma série de fatores que permitem que o empreendedor consiga agilizar o processo de desenvolvimento de uma startup, bem como facilitar a rotina de experimentação e validação das hipóteses relativas ao modelo de negócio. Esses fatores, que foram levantados através das pesquisas bibliográficas e validados pelo estudo de caso, são: Prototipagem rápida através das novas ferramentas de produção: a acessibilidade às novas ferramentas de produção, como impressoras 3D e 57 plataformas de prototipagem eletrônica, permite uma pessoa construir de forma ágil e barata os seus próprios objetos e produtos. Tal fato facilita o processo de prototipagem e experimentação dos produtos de uma startup, acelerando o aprendizado e diminuindo as incertezas relacionadas ao produto/cliente; Comunidades engajadas impulsionando negócios: as comunidades de pessoas engajadas em desenvolver e compartilhar conteúdo são ótimas fontes de conhecimento, que podem poupar gastos com pesquisa e desenvolvimento. Além disso, através das comunidades, empresas podem experimentar e validar seus modelos de negócio, bem como absorver inovações desenvolvidas pelos próprios membros. Tornando o processo de desenvolvimento mais ágil e barato; Cenário propício para experimentação de novos modelos de negócios: Além das comunidades voltadas para desenvolvimento e compartilhamento de conteúdo, existem comunidades engajadas em viabilizar financeiramente o projeto de terceiros. As plataformas de crowdfunding, além de funcionarem como uma fonte de investimento de baixo risco, servem como uma forma de experimentar e validar um produto. Quando um projeto alcança a cota de investimento é um sinal de que existe uma validação do produto por parte dos investidores/clientes. Fora isso, o uso de hackerspaces, espaços comunitários para desenvolvimento de produtos inovadores, bem como o aumento de fornecedores capazes de fabricar e imprimir peças customizadas sob demanda, são formas de startups tecnológicas testarem seus produtos e a viabilidade do modelo de negócio de forma menos arriscada. Por fim, podemos pensar que com tanta acessibilidade à informação e às ferramentas de produção, novos negócios estão sujeitos a uma competição maior, uma vez que esse cenário de Nova Revolução Industrial e Movimento Makers diminui as barreiras de entrada para certos tipos de negócio. Fora isso, assim como aconteceu com as mídias digitais, diante desse cenário, produtos e serviços estão mais sujeitos a cópias, o que pode impactar negativamente a sustentabilidade de um negócio. Logo, fica como 58 oportunidade de pesquisas futuras o estudo aprofundado de como empresas e startups mantêm a competitividade diante desse cenário com muitas empresas entrantes e com produtos e serviços sendo copiados e compartilhados de graça na internet. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, C., Makers: The New Industrial Revolution, New York: Crow Business, 2011. ANDERSON, C., The Long Tail: Why the Future of Business is Selling Less of More, New York: Hyperion, 2006. BLANK, S. G., The Startup Owner's Manual: The Step-By-Step Guide for Building a Great Company, Pescadero: K&S Ranch Inc, 2012. BLANK, S. G., The Four Steps to the Epiphany: Successful Strategies for Startups That Win, 2 ed, Cafepress.com, 2005. HOBSBAWM, E. J., Da Revolução Industrial Inglesa ao imperialismo, 6 ed, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. MAURYA, A., Running Lean: Iterate from Plan A to a Plan That Works, Sebastopol: O’Reilly, 2012. MCGRATH, R. G., MACMILLAN, I. C., Discovery-Driven Growth: A Breakthrough Process to Reduce Risk and Seize Opportunity, Boston: Harvard Business Press, 2009. MONTGOMERY, D. C., Design and analysis of experiments, 3 ed, New York: Wiley, 1991. OSTERWALDER, A., PIGNEURS, Y., Business Model Generation - Inovação em modelos de negócios: um manual para visionários, inovadores e revolucionários, Rio de Janeiro: Alta Books, 2011. RIES, E., The Lean Startup: How Today's Entrepreneurs Use Continuous Innovation to Create Radically Successful Businesses, New York: Crow Business, 2011. 60