CARTA À PRESIDENTA DA REPÚBLICA Porto Velho, 05 de julho de 2011. Excelentíssima Sra. Dilma Rousseff, No final de 2010 tivemos um relatório aprovado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – CDDPH. O relatório reconhece que a construção de barragens no Brasil tem gerado graves violações dos direitos humanos, diagnosticando um “padrão nacional de violação dos direitos humanos em barragens” em que 16 direitos são sistematicamente violados. A situação dos atingidos pelas usinas de Jirau e Santo Antônio não é diferente. Seguindo este padrão de tratamento o Brasil estará acumulando uma enorme dívida social e graves violações em Rondônia. A revolta em massa dos operários ocorrida em março deste ano evidencia uma série de conflitos acumulados, como a brutal exploração do trabalhador, a precarização e terceirização de serviços, o descumprimento de direitos trabalhistas, as péssimas condições de trabalho e o uso da violência por parte das empresas contra os trabalhadores. A previsão de antecipar o tempo de conclusão da obra em 25 % ocorreu através da intensificação de um ritmo acelerado do trabalho. Ademais, existem fortes suspeitas que a rebelião possa ter sido orquestrada pelas próprias empresas construtoras, que após a revolta demitiram mais de 6.000 operários. Um fator importante neste contexto é que a segurança patrimonial em Jirau era comandada por ex-coronéis do exército brasileiro, com histórico deplorável, fato denunciado nos meios de comunicação. Outro ponto relevante nas questões trabalhistas é que o operário que é recrutado pela empresa em outros estados pode visitar a família a cada noventa dias. Entretanto o trabalhador de outro estado, que buscou o emprego por iniciativa própria, não tem acesso a este benefício, sendo permitida a visita apenas no período de férias, após um ano distante da família. Neste cenário encontram-se 20% dos operários, aproximadamente 6.800 mil trabalhadores. A inexistência de uma política nacional do Governo Federal que garanta os direitos mínimos as famílias atingidas concede total liberdade para que as empresas construtoras adotem uma política discriminatória, injusta e autoritária de tratamento com as famílias, condicionada apenas a seus interesses, a tal ponto que os atingidos de Rondônia, formados em grande parte por ribeirinhos, agricultores e extrativistas estão sendo remanejados para vilas urbanas sem acesso a terra, ao rio, trabalho e escolas adequadas. Existem contradições latentes, como reassentamentos onde foram destinadas as famílias atingidas de 3 a 10 hectares de terras e já em outro reassentamento as famílias receberam 50 hectares. Existe também uma ausência de envolvimento direto e participação efetiva das empresas estatais dos consórcios no processo de negociação dos direitos das famílias atingidas. Em Jirau a Eletrosul e Chesf possuem 40% de participação e em Santo Antônio, Furnas apresenta 39%. No caso da Usina Hidrelétrica de Samuel, podemos caracterizar a atuação da Eletronorte como lamentável. A linha de transmissão da usina passa sobre as cidades atingidas e a população daqueles municípios vive constantemente em apagões prolongados. Concomitante, a liberação pelo BNDES de aproximadamente R$ 15 bilhões para construção das duas hidrelétricas do Rio Madeira contrasta com a inexistência de recursos para financiamento de ações voltadas para a população atingida. Reconhecemos o enorme e elogiável esforço que a Secretaria Geral da Presidência da República tem realizado nestas questões, e graças a este esforço a situação não é pior. Infelizmente, não presenciamos a mesma iniciativa por parte do Ministério de Minas e Energia. Ao contrário, este busca oprimir ou negar a realidade lastimável. A situação dos atingidos e dos operários é grave, e por isso, nos dirigimos de forma respeitosa para denunciar o quadro social de violação dos direitos humanos das famílias atingidas e a violação dos direitos trabalhistas praticados pelas empresas construtoras das usinas hidrelétricas no Rio Madeira. E neste sentido, reforçamos novamente a importância do governo federal de intervir diretamente no processo de negociação dos direitos dos atingidos nestas obras e também no acompanhamento constante sobre os desdobramentos dos acordos entre as construtoras e os operários. Por fim, desejamos que seu governo alcance vitórias e avanços significativos, e nos colocamos à sua disposição para avançar nas melhorias de vida de nosso povo. Océlio Muniz MAB – Rondônia Altair Donizete de Oliveira Vice-Presidente STICCERO