,,...._ . CAD Dia Internacional de Mulher - 8 de Março de 1998 Intervenção do MDM - Rosa Maria Xisto Lisboa - Pa~ilhão Carlos Lopes Este Dia Internacional da Mulher de 1998, dois anos antes do primeiro 8 de Março do novo milénio, constitui um momento particularmente propício à reflexão sobre os caminhos percorridos ao longo deste século, quer pela riqueza e diversidade das lutas travadas pelas mulheres - pelo particular dos seus direitos, pela igualdade contra a discriminação-, ou pelos trabalhadores e pelos povos, na luta mais geral contra a exploração e a opressão, quer pela importância que assumiu o reconhecimento dos seus direitos económicos, sociais, políticos e culturais. Não imaginariam as mulheres que no ín ício deste século reivindicavam o direito ao trabalho, à participação plena e igual nos centros de decisão, o direito de decidirem sobre a sua sexualidade e fecundidade, que cem anos depois estariam a transferir para um novo milénio as mesmas exigências e reivindicações. No limiar do século XXI permanecem desafios para as mulheres e para os movimentos femininos - cuja existência é mais indispensãvel que nunca - numa sociedade mundial que regista uma evolução política, económica e social que não corrigiu os desiquilíbrios entre países ricos e pobres, que não baniu os fenómenos do desemprego, da miséria e da exclusão social - antes os acentuou em diversas regiões do globo-, nem dos focos de conflito e de guerra. Dando um novo e mais alargado conceito à palavra PAZ que mais do ausência de guerra é o direito que cada um'"'tem de viver feliz, sem guerra, sem opressão, sem repressão, sem fome, sem miséria, sem violência. E se, com maior ou menor visibilidade, as mulheres sempre assumiram um papel de grande importância na vida do planeta, neste século cresceu a consciência colectiva do peso do papel das mulheres na transformação da realidade em que vivem e na conquista de direitos para si e pâ'ra os seus povos. No entanto a sua realidade quotidiana está muito longe de se aproximar dos direitos que no espaço mundial ou nacional lhes são reconhecidos. Em Portugal o 25 de Abril , ponto de referência e marco da transformação da realidade das mulheres, não tem tido a nível das políticas desenvolvidas a necessária continuidade. Independentemente dum discurso oficial onde a preocupação pela igualdade e promoção das mulheres está presente nas palavras. Ao nível dos actos continua a registar-se a desresponsabilização do Governo na promoção de políticas económicas e sociais geradoras de emprego e de melhoria da qualidade de vida. ~ ' CAD Do Plano Global para a Igualdade de Oportunidades aprovado com pompa e circunstância há um ano só tivemos conhecimento de concretização de algumas '· medidas parcelares no que respeita à violência doméstica. Pela nossa parte iniciámos este ano a concretização do desafio que lançámos no 8 de Março de 97, aos poderes instituidos, às organizações e âs mulheres: fazer de cada 8 de Março o Dia M, espaço de reflexão e luta em torno dos problemas concretos das mulheres e da procura de soluções. Participar nesta discussão, será participar no futuro, será participar na discussão do futuro, em relação ao qual as mulheres têm uma palavra determinante a dizer. Por todo o país (destaco Lisboa, Porto, Montemor-o-Novo, Faro e Marinha Grande) mulheres do MDM em conjunto com mulheres de outras organizações debatem hoje e tornam visíveis os seus problemas nas diferentes regiões do nosso pais. Problemas com a mesma origem comum : politícas neoliberais que aumentando o desiquilibrio da distribuição de rendimentos, são geradoras de desemprego, de precaridade, pobreza e exclusão, constituem uma das formas mais extremas de violência. Violência esta que se exerce, também, de maneira mais acentuada sobre as mulheres, tão invisível e destruidora como a violência doméstica .. A violência é uma presença na sociedade dos nossos dias. É fruto dos desiquilíbrios sociais e económicos, da exploração, do modelo de sucesso a todo o custo e sem escrúpOk>s, de conceitos de lucro sem respeito por qualquer preocupação de ordem social e muito menos ética. A violência é um fruto podre de uma sociedade doente, onde as mulheres são duplamente vítimas. Vítimas expostas à violência física, vítimas diárias de uma sociedade cada vez mais desumana qu~. as oprime, que não permite que homens e mulheres possam ter um desenvolvimento feliz e harmonioso das suas vidas e nas suas mútuas relações, que não dá ás mulheres o direito à igualdade, para além da lei, na prática. Outra forma extrema de violência, o aborto clandestino tem contituido, desde o início, uma das principais preocupações do MDM. Fomos pioneiras na denuncia deste grave flagelo social e de saúde pública que continua a pesar sobre a·s mulheres . .~® O direito de optar se se continua ou não uma gravidez para a qual não estão reunidas condições é um direito de decisão do foro íntimo dos casais e da mulher. Fazer depender este direito duma consulta pública é também uma forma de violência. Fazê-lo depois de iniciado o processo de aprovação da lei na Assembleia da República é pôr em causa a credibilidade, o prestígio e a forma de representação democrática do sistema eleitoral português. CAD Por estas razões o MDM apoia a petição lançada por diversas personalidades ·· para que o processo legislativo iniciado em 4 de Fevereiro de aprovação da descriminalização da IVG a pedido da mulher prossiga respeitando-se a metodologia prevista de discussão na especialidade seguida de urgenté votação em Plenàrio. No que se refere à violência qualquer tolerância, por mínima que seja, é demais. Assim o entendemos e assim o entendeu o Parlamento Europeu propondo 1999 Ano da Tolerância Zero da Violência Contra as Mulheres. Esperamos que o Governo se apresse a aprovar esta proposta. Pela nossa parte iremos fazer no 8 de Março de 1999 uma grande iniciativa contra todas as formas de violência. Realizá-la-emos no Alentejo, onde a violência do desemprego, da precaridade, da pobreza e da exclusão assume aspectos mais agravados mercê da continuada desertificação por falta de medidas que garantam um desenvolvimento sustentado. I'-.