Intervenção de Ana Souto Membro da Direcção Nacional do MDM DEBATE – “A tragédia Humanitária no Mediterrâneo e na Europa” 18/09/2015 O Movimento Democrático de Mulheres saúda esta importante e oportuna iniciativa da CGTP, ao promover este debate sobre uma das maiores tragédias humanitárias que se vive na actualidade. Nos últimos anos e, em particular, nos últimos meses, e a cada hora que passa, as notícias e imagens que nos chegam, mostram bem a dimensão desta imensa catástrofe humana que acontece no Mediterrâneo e na Europa. Como já aqui, hoje, foi denunciado são milhões de migrantes e refugiados, famílias inteiras, homens, mulheres, crianças, idosos, oriundos do Norte de África, da África Subsaariana, do Médio Oriente, que fogem da guerra, da morte, da fome e da miséria, vítimas de tráfico humano, vítimas de violentas agressões, como consequência das guerras e ingerências externas que destroem os seus países, que transformam os Estados em territórios sem lei, que levam à destruição do sistema social e político, à desestruturação da sociedade, à destruição das economias, que expropriam os seus recursos naturais. Este fluxo migratório prende-se, designadamente, com o facto de que há cinco anos assistimos à guerra na Síria. A migração interna e externa dos sírios não parou de aumentar ao longo destes cinco anos. Países da região do Médio Oriente estão sobrecarregados com um elevado número de refugiados que fogem à guerra na Síria. Por isso, muitas pessoas procuram alternativas, tentando rumar a norte e alcançar a Europa através de várias rotas. Por outro lado, também existe instabilidade no norte de África. A Líbia tem um sistema social e político destruído, não tem um governo eficiente e existem outros focos de guerra e violência na África subsaariana, que também empurram as pessoas para norte. Existe, ainda, uma parte considerável de migrantes que chegam à Europa vindos de países em que a situação económica e o nível de pobreza são de tal ordem que para tentarem sobreviver têm de procurar, juntamente com as famílias, uma alternativa noutro lado. Muitos milhares destes migrantes e refugiados foram, e continuam a ser, vítimas de naufrágios, morrem sufocados em porões de barcos ou no interior de contentores, não conseguem chegar ao seu destino - a Europa. Pagam avultadas somas de dinheiro, tudo o que têm, para encontrarem, na maioria dos casos, trágicos destinos. Também nos seus percursos por terra, onde se erguem muros de vergonha, onde se fecham fronteiras e se reintroduzem controlos de fronteira, estes homens, mulheres e crianças encontram as maiores dificuldades, as mais brutais violências, na procura de asilo, na busca de Paz, de segurança, de trabalho, de um futuro onde não exista o medo, a fome e a destruição, na busca de um futuro para os seus filhos. Buscam uma Europa solidária e sem fronteiras para as pessoas. Mas onde está essa Europa que não se consegue entender para os acolher? A mesma Europa que esteve ao lado dos EUA na invasão do Afegnastião, do Iraque, da Líbia e que vende armas aos grupos terroristas e que agora, hipocritamente, empurra de uns para os outros, deixando aumentar esta catrástrofe humana. O MDM solidariza-se com todos estes refugiados e migrantes, com todas as vítimas desta grande catástrofe humanitária, que o são também aqueles que, sem qualquer tipo de meios, permanecem nos cenários de guerra, nos seus países arruinados, sujeitos a todo o tipo de agressões; não podemos esquecer que em cenários de guerra, as mulheres e as crianças são das primeiras vítimas sujeitas a todo o tipo de maus tratos, humilhações e violências. Crianças subnutridas são uma evidência bem real! Todos os direitos humanos são violados! A soberania dos povos e a liberdade foram postas em causa! Este drama dos refugiados a que hoje assistimos tem causas e tem responsáveis: São os negócios rentáveis do armamento; São as políticas de apropriação de recursos naturais, são as políticas de ingerência, de agressão e guerra, para poderem assegurar posições geo - estratégicas, levadas a cabo pelos EUA com o apoio de vários Estados aliados da U.E., do Médio Oriente e de África e com o apoio dos seus aliados da NATO. Estas políticas agressivas são uma ameaça à paz mundial! O MDM denuncia os responsáveis deste drama humanitário que atinge milhões de refugiados na Europa, na Turquia e em países do Médio Oriente. O MDM denuncia e repudia firmemente estas políticas abusivas, criminosas e destrutivas da vida destes povos da Síria, da Palestina, do Iémen, do Iraque, do norte de África e da África Subsaariana. O MDM rejeita as políticas da U.E. que iludem as causas do problema e agravam as medidas securitárias contra os migrantes e refugiados que necessitam de ajuda e de acolhimento. É urgente que a U.E. altere as suas políticas de acolhimento e os seus estados membros combatam a xenofobia e a violência exercida contra os refugiados pela extrema – direita, que tem de ser punida! É tempo de a U.E. alterar as suas políticas de ingerência e agressoras, substituindo-as por políticas de respeito pela soberania e vontade dos povos, por políticas humanistas e defensoras da paz, por políticas de parceria com os países das regiões afectadas que assegure o desenvolvimento económico e social desses países. O MDM subscreve a exigência de que o Governo português deve assumir uma política urgente de acolhimento de muitos mais refugiados e de fazer ouvir a sua voz, na UE, no sentido da resolução imediata do drama destes refugiados. O MDM reclama ainda,deste Governo, uma política externa contrária às agressões da NATO, dos EUA e da UE. É tempo de defender a cooperação e entreajuda na luta pela paz! É urgente revitalizarmos a nossa luta em defesa dos valores da humanidade, dos ideais progressistas, porque a defesa dos direitos das Mulheres é indissociável da luta pela Paz e pelo Desenvolvimento! O MDM assume a urgência de lutar pela Solidariedade e pela Paz, pela soberania, independência e autodeterminação dos povos, pelo respeito pelas suas opções políticas sem ingerências e sem agressões estrangeiras. O MDM apela a todos os amantes da paz e, em particular, a todas as mulheres, cidadãs, trabalhadoras, de credos e ideologias diferentes, para que deem as mãos pela paz, que se empenhem na denúncia dos responsáveis desta tragédia humanitária que atinge milhões de refugiados, que exijam o cumprimento dos princípios da carta da ONU, o fim das ingerências e guerras de agressão no Médio Oriente e em África, a promoção de políticas de paz e de ajuda ao desenvolvimento desses países e que assegure condições de vida digna às suas populações, porque as guerras são indissociáveis da fome, das desigualdades sociais, económicas e de género. As guerras e as despesas com o armamento estão de braço dado com a crescente exploração e com a dominação humilhante de uns sobre os outros.