Adélia Balreira - Enfermeira Parteira Reformada e Voluntária MdM – Timor-Leste (Entrevista à Revista Face na edição de Março de 2012, da Revista Face da Médicos do Mundo) A minha ida para Timor, deveu-se a um desejo há muito acalentado: fazer voluntariado em terras de missão. Um dia, recebi uma carta de MdM a pedir um donativo para a ‘Casa das Mães’, em Timor. Achei graça, pois trabalhei 35 anos na Maternidade Casa da Mãe, na Figueira da Foz, como Enfermeira Especialista em Obstetrícia. Daí ter enviado um donativo e ter-me oferecido, para colaborar, se necessário. Um ano depois, recebo um telefonema a perguntar se ainda estava disposta a partir. Com os filhos fora do ninho, e tendo a minha mãe falecido há dois meses, achei que estavam reunidas as condições para dizer SIM! E, apesar dos meus 68 anos, do Inglês estar esquecido e ter um neto de meses, resolvi deixar tudo e perder a terra de vista... Com uma tarde de informação sobre Timor, deixei os meus, pela 1ª vez, a 5 de Fevereiro de 2005. Fui por dois meses, fiquei à volta de cinco. O que fui encontrar excedeu todas as minhas expectativas… pela negativa. Não desanimei, porque tive o apoio da equipa no terreno e de MdM, a partir de Lisboa, que me deram "carta branca" e fundos para alterar o possível; isto, para além de ser uma mulher de fé. O mais gratificante, para mim, foi o ter sido recebida (e bem) pelo Ministro da Saúde. Coloquei-lhe tudo aquilo que me angustiava e obtive respostas. Desde um gerador que não funcionava há 7 meses e que foi recuperado pouco depois (ás 23h00 ficávamos sem luz, o que quer dizer que os partos, a partir dessa hora, eram feitos à luz da vela, levada, pelos familiares da parturiente!); até à ida da Enfermeira-Chefe, durante um ano, para Dili, para fazer formação (havia tirado o Curso ainda no tempo dos Indonésios, com todas as lacunas que tal possa ter tido); à permissão para elaborar um processo mãe/filho, o qual não existia até então. Eram pequenos papeis rasgados que levavam para a ‘Casa das Mães’, com a pouca informação sobre o nascimento e que, depois, eram colados,numa folha A4, etc., etc. Fui aceite pelas minhas colegas, o que não foi fácil. Era um grupo muito fechado e com uma certa autonomia. Mas, a pouco e pouco, foram ficando mais esclarecidas e alterando o que estava menos bem. Isto, entre muitas outras coisas, fez com que tivesse valido a pena ir. Tudo contribuiu, o BOM e o Mau, para que possa fazer um balanço positivo. Por tudo o que fui implementando, pelo carinho de toda aquela gente, pela forma como fiquei, "presa" a eles e, fundamentalmente, pelo que cresci, como pessoa. Recebi, autênticas lições de vida! De tal forma que, no ano seguinte, voltei, por mais cinco meses; tendo antecipado o meu regresso em virtude dos conflitos entretanto registados. Apesar de ter sido convidada por outra Instituição, não voltei a Timor. Mas, na Páscoa e no Natal, as lembranças que envio, fazem-me "presente". Hoje, faço voluntariado na Cruz Vermelha, duas vezes por semana, e também no Hospital de Dia, do Amadora-Sintra..Ando, também, na Universidade Sénior, a qual já frequentava antes mesmo de ir para Timor. O resto do meu tempo é para mim, para os meus amigos e familiares. Posso dizer que esta missão foi um dos momentos altos da minha vida. E que me sinto, por isso, uma PRIVILIEGIADA. E mais uma vez confirmo que é a dar que se recebe.