Agrometeorologia dos Citros Prof. Paulo C. Sentelhas ESALQ/USP A cultura dos citros no mundo Os citros são cultivados em diferentes regiões do mundo, adaptando-se às distintas condições climáticas, desde o clima subtropical até o equatorial e desde regiões úmidas até áridas, o que resulta em uma grande variação em suas características fenológicas, nas taxas de crescimento, nos níveis de produtividade e na qualidade dos frutos Am. do Norte Equado r Oceano Pacífico Europa Ásia Oceano Atlântico 30o África 0o Am. do Sul Oceano Índico Oceania 30o Área cultivada com citros no mundo - 2005 7.608.683 ha Produtividade: 13,86 t/ha 49% da área e 56% da produção estão concentradas no Brasil, EUA, México, Espanha e China Brasil tem 926.379 ha cultivados com citros (12%), com uma produção total de 20.139.479,46 t (19%) e uma produtividade de 21,74 t/ha. Clima e balanço hídrico das regiões produtoras de citros no mundo Tucuman - ARGENTINA 300 30 150 10 100 5 0 20 200 15 150 10 100 50 5 0 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Pindorama, SP - BRASIL 15 150 10 100 50 5 50 0 0 100 Tampico - MÉXICO 300 Exc = 59mm Exc = 113mm 200 Def = 68mm 100 Lat.: 21o13'S Long.: 48o56'W Alt.: 562m -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez -100 -200 200 Def = 434mm 100 0 Def (mm) 0 Def (mm) 0 -100 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Exc (mm) Def = 96mm 250 200 Tucuman - ARGENTINA Exc (mm) 200 Tmed 20 300 Exc = 346mm Exc (mm) 25 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 300 Def (mm) 250 Temperatura média (oC) 15 Temperatura média (oC) 200 Tmed 25 Chuva (mm/mês) Temperatura média (oC) 250 300 Chuva Chuva (mm/mês) Tmed 20 -200 30 Chuva Chuva 25 Tampico - MÉXICO 300 Chuva (mm/mês) Pindorama, SP - BRASIL 30 Lat.: 26o29'S Long.: 65o07'W Alt.: 481m -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez -100 -200 Lat.: 22o08'N Long.: 97o31'W Alt.: 12m -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Clima e balanço hídrico das regiões produtoras de citros no mundo Kano - NIGÉRIA 500 500 Chuva 300 20 200 15 10 100 25 300 20 15 200 10 100 0 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Bhopal - ÍNDIA 0 Jul Ago Set Out Nov Dez Helwan - EGITO 300 Def = 1004mm 100 Exc = 0mm Exc (mm) 200 -100 -200 -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun 200 Def = 1181mm 100 0 Lat.: 13o02'N Long.: 8o19'E Alt.: 476m Jul Ago Set Out Nov Dez Def (mm) Def (mm) Lat.: 23o10'N Long.: 77o13'E Alt.: 523m 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 0 -100 20 Exc = 163mm Exc (mm) Def = 873mm 0 -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun 40 10 Kano - NIGÉRIA 100 -200 60 15 0 300 Exc = 475mm 200 80 20 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 300 Tmed 5 5 0 Exc (mm) 25 400 Temperatura média (oC) 25 Tmed 100 Chuva Chuva (mm/mês) 400 Temperatura média (oC) 30 Tmed 30 5 Def (mm) 30 Chuva Chuva (mm/mês) Temperatura média (oC) 35 Helwan - EGITO 35 Chuva (mm/mês) Bhopal - ÍNDIA 40 -100 -200 Lat.: 29o31'N Long.: 31o12'E Alt.: 141m -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Clima e balanço hídrico das regiões produtoras de citros no mundo Karmen - IRÃ 300 15 150 25 Temperatura média (oC) 250 200 15 40 5 50 5 10 0 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 20 0 Valência - ESPANHA 150 10 100 5 50 Cabo Sta. Lucia - ÁFRICA DO SUL Def = 692mm 100 Exc = 259mm Exc (mm) 200 Lat.: 39o17'N Long.: 0o14'W Alt.: 13m Jul Ago Set Out Nov Dez -100 o -200 200 Def = 2mm 100 0 Def (mm) 0 Def (mm) 0 -100 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Exc = 0mm Exc (mm) Exc (mm) 15 300 Exc = 0mm -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun 200 Karmen - IRÃ 100 250 0 300 Def = 435mm Tmed 20 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 300 Def (mm) 25 80 60 100 0 Tmed 20 10 200 300 Chuva Temperatura média (oC) Tmed 20 -200 30 Chuva Chuva (mm/mês) Temperatura média (oC) 100 Chuva (mm/mês) Chuva 25 Cabo Sta. Lucia - ÁFRICA DO SUL 30 Chuva (mm/mês) Valência - ESPANHA 30 Lat.: 30 09'N Long.: 56o35'E Alt.: 1748m -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez -100 -200 Lat.: 28o18'S Long.: 32o14'E Alt.: 111m -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Clima e balanço hídrico das regiões produtoras de citros no mundo Tampa, FL - ESTADOS UNIDOS 300 30 Chuva 20 200 15 150 10 100 5 0 25 Tmed 15 150 10 100 50 5 50 5 0 0 0 0 Exc = 208mm Def = 9mm 200 100 -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 200 Def = 5mm 100 0 -100 -200 0 Exc = 734mm Def (mm) Lat.: 39o29'N Long.: 18o13'E Alt.: 110m 100 Yong'An - CHINA 0 Def (mm) 0 -100 200 10 300 Exc (mm) Exc (mm) Exc (mm) 100 300 15 Tampa, FL - ESTADOS UNIDOS Exc = 250mm Def = 423mm 400 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 300 200 Tmed 20 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Sta. Maria de Leuca - ITÁLIA Def (mm) 25 200 300 -200 250 20 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 500 Chuva Temperatura média (oC) 250 Temperatura média (oC) Tmed Chuva (mm/mês) Temperatura média (oC) 25 30 Chuva (mm/mês) Chuva Yong'An - CHINA 300 Chuva (mm/mês) Sta. Maria de Leuca - ITÁLIA 30 Lat.: 25o48'N Long.: 80o16'W Alt.: 12m -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez -100 -200 Lat.: 25o35'N Long.: 117o13'E Alt.: 204m -300 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez A potencialidade produtiva do gênero Citrus é determinada principalmente pela combinação copa-porta enxerto. No entanto, a expressão dessa potencialidade irá depender também de outros fatores, como das características físico-químicas do solo, da nutrição das plantas, da densidade populacional do pomar, das práticas de manejo, e, fundamentalmente, das condições climáticas ao longo do ciclo produtivo No Brasil, apesar da citricultura se concentrar no Estado de São Paulo, existem pomares comerciais desde o Estado do Sergipe, na latitude de 10oS, até o Estado do Rio Grande do Sul, na latitude de 30oS, englobando diversos tipos de clima, como o tropical úmido, tropical de altitude e subtropical, onde normalmente não há sérias restrições à produção, exceto em algumas áreas da Região Nordeste, onde ocorrem períodos de déficit hídrico acentuado, e na Região Sul, onde as geadas são freqüentes. Regiões produtoras de citros no Brasil Porcentagem em relação à área total cultivada com citros no Brasil SE – 4,0% BA – 4,2% MG – 3,0% SP – 80,5% PR – 2,1% RS – 1,9% Clima e balanço hídrico das regiões produtoras de citros no Brasil Limeira, SP 350 350 100 0 200 15 150 10 50 5 0 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 100 Bebedouro, SP 200 150 10 5 0 0 50 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Botucatu, SP 200 Exc = 388mm 150 Def = 30mm 100 50 Exc (mm) 50 Exc (mm) 100 50 -50 -50 Jul Ago Set Out Nov Dez Def (mm) -50 Def (mm) 0 Lat.: 20o50'S Long.: 48o30'W Alt.: 567m -100 -150 Lat.: 22o32'S Long.: 47o27'W Alt.: 639m -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Def = 25mm 100 0 -100 Exc = 382mm 150 0 -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun 100 Limeira, SP Def = 198mm -150 250 15 50 200 Exc = 327mm 300 Tmed 20 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 200 Exc (mm) Temperatura média (oC) 150 10 250 20 25 Chuva (mm/mês) 200 15 Temperatura média (oC) 250 20 150 350 Chuva 300 Tmed 25 Chuva (mm/mês) Temperatura média (oC) 300 Tmed 5 Def (mm) 30 Chuva Chuva 25 Botucatu, SP 30 Chuva (mm/mês) Bebedouro, SP 30 -100 -150 Lat.: 22o48'S Long.: 48o26'W Alt.: 750m -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Clima e balanço hídrico das regiões produtoras de citros no Brasil Itabaianinha, SE 350 350 100 0 200 15 150 10 50 5 0 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 100 200 15 150 10 50 5 0 0 150 100 50 Exc = 123mm Def = 291mm 100 50 50 -50 -150 -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Def = 0mm Jul Ago Set Out Nov Dez -150 Def (mm) -50 Def (mm) -50 Lat.: 11o07'S Long.: 37o49'W Alt.: 223m -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Def = 323mm 100 0 -100 Exc = 95mm 150 0 Exc = 976mm 0 Cruz das Almas, BA 0 -100 50 200 Exc (mm) 150 Exc (mm) 200 100 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Itabaianinha, SE 200 250 20 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Citrolândia, RJ Exc (mm) 250 20 300 Tmed 25 Temperatura média (oC) 150 10 300 Chuva (mm/mês) 200 15 Temperatura média (oC) 250 20 Lat.: 22o40'S Long.: 43o00'E Alt.: 15m 350 Chuva Tmed 25 Chuva (mm/mês) Temperatura média (oC) 300 Tmed 5 Def (mm) 30 Chuva Chuva 25 Cruz das Almas, BA 30 Chuva (mm/mês) Citrolândia, RJ 30 -100 -150 Lat.: 12o40'S Long.: 39o06'W Alt.: 220m -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Clima e balanço hídrico das regiões produtoras de citros no Brasil Paranavaí, PR 350 150 10 100 5 0 Temperatura média (oC) 200 15 Chuva (mm/mês) 200 15 150 10 50 5 0 0 100 25 Taquarí, RS 200 150 10 5 0 0 0 Uberaba, MG 200 Exc = 418mm 150 Def = 1mm 100 50 50 -50 -50 -50 Def (mm) 0 Jul Ago Set Out Nov Dez -100 -150 Lat.: 23o05'S Long.: 52o26'W Alt.: 480m -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Def = 106mm 100 0 Lat.: 29o48'N Long.: 51o49'W Alt.: 76m Exc = 644mm 150 0 -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun 50 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Exc (mm) Def = 27mm Exc (mm) Exc = 600mm 50 -150 100 Paranavaí, PR 100 -100 250 15 50 200 150 300 Tmed 20 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 200 Exc (mm) 250 20 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Def (mm) 300 Tmed Def (mm) Temperatura média (oC) 250 20 25 350 Chuva Chuva 300 Tmed 30 Chuva (mm/mês) Chuva 25 Uberaba, MG 30 Temperatura média (oC) 350 Chuva (mm/mês) Taquarí, RS 30 -100 -150 Lat.: 19o45'S Long.: 47o55'W Alt.: 742m -200 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Fenologia dos Citros A fenologia é a ciência que estuda as diferentes fases de desenvolvimento dos vegetais e a relação destas com as condições físicas do ambiente, especialmente com a temperatura do ar, o fotoperíodo e a disponibilidade hídrica do solo. O estabelecimento de tais relações, possibilita o conhecimento das respostas das plantas quando submetidas a diferentes condições climáticas, informação de grande importância para o planejamento e implantação da citricultura. As plantas cítricas, por serem perenes, apresentam ciclo de desenvolvimento que varia de seis a dezesseis meses, dependendo da espécie, da variedade e da variação sazonal das condições térmicas e hídricas do local. Dentro desse período, a planta passa por diversas fases, como mostra o esquema a seguir, sendo as mais enfatizadas pela literatura as que vão do florescimento à maturação dos frutos; porém, sendo igualmente importantes as fases de indução floral e repouso vegetativo, esta última ocorrendo apenas nos locais onde períodos de estresse térmico ou hídrico são bem definidos. Estádios e Fases Fenológicas dos Citros 40 400 F PC 350 DFC 30 IF 300 M EC DVC RV 25 250 20 200 15 150 10 100 Chuva 5 50 Tmed 0 0 J Fev F M A M J J Ano 1 A S O N D J F M A M J J Ano 2 A S O N D Chuva (mm/mês) Temperatura média ( o C) 35 Estádios e Fases Fenológicas dos Citros Indução Floral - é o resultado de estímulos ambientais, que normalmente estão ligados à redução do crescimento das plantas. Geralmente, esses estímulos ambientais são proporcionados pela diminuição das temperaturas, mesmo que não caiam abaixo dos 12,5oC, nas regiões subtropicais, ou por período de seca, nas regiões tropicais. Repouso Vegetativo - os pomares de citros cultivados em regiões de clima tropical, com estação seca, e subtropical, com inverno relativamente rigoroso, estão sujeitos a entrarem em repouso vegetativo. Esse período de repouso vegetativo, caracterizado pela redução na taxa de crescimento ou até mesmo pela sua paralisação, ocorre devido à redução na taxa metabólica das plantas, sendo que sua duração varia de acordo com as condições ambientais. Florescimento - ocorre após o período de indução e repouso, quando existir condições térmicas e hídricas favoráveis. Apesar do florescimento poder ocorrer durante todos os meses do ano, normalmente ele é mais intenso, nas regiões subtropicais, durante o final do inverno e início da primavera. Por outro lado, nas regiões de clima tropical, onde há a ocorrência de estiagem durante certa época do ano e não ocorre variação sazonal das condições térmicas, o florescimento irá ocorrer sempre após o restabelecimento das chuvas, enquanto que nas regiões de clima árido o florescimento somente irá ocorrer, após período de estresse hídrico, com o uso da irrigação. Estádios e Fases Fenológicas dos Citros Fixação do fruto - o período de fixação dos frutos é bastante extenso, iniciando-se logo após a polinização. Ao logo da fase de crescimento do fruto, é difícil identificar as causas responsáveis pela sua queda, haja visto que as plantas de citros se adaptam a uma grande diversidade de condições climáticas. No entanto, fatores de ordem fisiológica, ambiental e fitossanitária são os principais responsáveis. Maior queda ocorre em novembro. Crescimento do fruto - o crescimento dos frutos da grande maioria das espécies de Citrus segue um modelo sigmóide, que pode ser sub-dividido, basicamente, em quatro fases: 300 1) DVC – divisão celular (define tamanho potencial do fruto) 3 Volume (cm ) 250 Palmira, Colômbia Tmed = 28oC 200 2) DFC – diferenciação celular 150 Santa Paula, CA, EUA Tmed = 18oC 100 50 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Meses após a antese 3) EC – expansão celular (rápido crescimento, durando de 2 a 12 meses) 4) M – maturação (lento crescimento do fruto, pequeno aumento do total de sólidos solúveis e rápido decréscimo da acidez total) Exigências Climáticas do Citros Radiação Solar e Fotoperíodo: Os citros são cultivados em uma ampla faixa de latitute, entre 40oN e 40oS. Em razão disso, os pomares de citros espalhados pelo mundo são submetidos, ao longo do ano, a diferentes condições de disponibilidade de energia solar e fotoperíodo. Enquanto na faixa equatorial o fotoperíodo fica ao redor de 12 horas ao longo de todos os meses do ano, nas latitude mais elevadas ocorre significativa variação na duração do dia, chegando nas latitudes de 40o N ou S a oscilar entre cerca de 9h, no inverno, e 15h, no verão. A assimilação líquida de CO2 pelas folhas dos citros aumenta linearmente com o aumento da radiação fotossinteticamente ativa (RFA), entre 0 e 700 mmolcm-2s-1, atingindo a partir daí o ponto de saturação luminosa, estabilizando a assimilação de CO2 em cerca de 9 a 10 mmolcm-2s-1. Nas regiões tropicais, a RFA normalmente atinge o ponto de saturação luminosa ao longo de todo o ano, o que resulta em maior e mais rápido crescimento das plantas e dos frutos, enquanto que nas regiões subtropicais, onde a variação sazonal de RFA é notória, o crescimento das plantas e dos frutos é mais lento e menor, devido à oscilação nas taxas de fotossíntese, que no inverno representam cerca de 50% das obtidas no verão. Exigências Climáticas do Citros Temperatura do Ar: A temperatura é um dos principais elementos meteorológicos/climáticos a influenciar a distribuição geográfica dos citros. Apesar disso, as plantas cítricas apresentam uma ampla adaptação a diferentes regimes térmicos, desde temperaturas elevadas e constantes, como ocorre por exemplo em Itabaianinha, SE, com uma amplitude térmica média anual de menos de 4oC, até condições de ampla variação sazonal de temperatura, como nos climas subtropicais dos Estados Unidos, China, Irã e Espanha, onde a amplitude térmica média anual oscila entre 15oC e 25oC. A temperatura do ar exerce influência sobre todas as fases de desenvolvimento das plantas cítricas, desde a germinação e crescimento das mudas até a maturação dos frutos. Na fase de crescimento vegetativo, a maioria das espécies de citros tem seu crescimento, tanto da parte aérea como das raízes, sensivelmente reduzido a uma temperatura diurna constante entre 12oC e 13oC, paralisando-o por volta dos 5oC. Acima de 12oC, a taxa de crescimento da parte aérea da planta, expresso em termos de massa verde, aumenta gradativamente, alcançando o máximo por volta dos 23oC a 31oC. Acima de 32oC, a taxa de crescimento passa a decrescer, até que a partir dos 37oC o crescimento cessa, devido a danos fisiológicos Exigências Climáticas do Citros As necessidades térmicas para as laranjeiras de diferentes variedades, considerando-se como temperatura-base o valor de 13oC e a fase Florescimento-Ponto do Colheita (IM = 12), é: a) Precoce b) Meia-estação c) Tardia : 2.500ºCd; : 3.100ºCd; : 3.600ºCd. Esses valores foram empregados para caracterizar cinco diferentes áreas de maturação da laranja no Estado de São Paulo e regiões limítrofes, sendo as seguintes, em ordem crescente de tempo para se atingir IM = 12: Grupo 1: Frutal (MG), Colômbia e Votuporanga Grupo 2: Pindorama, Bebedouro e Severínea Grupo 3: Araraquara e Matão Grupo 4: Limeira, Conchal e Mogi Guaçú Grupo 5: Itapetininga, Capela do Alto e Capão Bonito Exigências Climáticas do Citros Temperatura do Ar: Além dos efeitos no crescimento e desenvolvimento da planta e dos frutos, a temperatura do ar também exerce papel fundamental na qualidade dos frutos, relacionada principalmente às colorações externa e interna, tamanho e sabor, além de injúrias. A coloração da casca dos frutos e da polpa, aspecto importante na comercialização in natura, o tamanho e o sabor estão associados às temperaturas noturnas durante a última fase de crescimento do fruto, ou seja, durante a maturação. Normalmente, nas regiões de clima tropical úmido, onde a amplitude térmica diária e anual é menor, os frutos tendem a ser maiores, com casca verde e mais fina e com mais suco; porém, com menor total de sólidos solúveis e concentração de ácidos no suco do que os frutos produzidos em regiões de clima subtropical Efeito da temperatura na qualidade dos citros Exigências Climáticas do Citros Chuva As plantas cítricas são sempre verdes, o que faz com que elas transpirem ao longo de todo o ano, sob taxas variáveis, que irão depender, basicamente, da espécie, da combinação enxerto - porta enxerto, da demanda hídrica da atmosfera, da disponibilidade de água no solo, da profundidade do sistema radicular, da fase fenológica em que se encontra, de sua área foliar, dos tratos culturais e do espaçamento adotado. A necessidade hídrica dos citros, para que se obtenha altos níveis de rendimento, por conseguinte, também irá depender das variáveis citadas acima, variando de 600 a 1.300mm por ano. Sob condições naturais e de alta demanda atmosférica, a ETc de um pomar adulto de lima ácida ‘Tahiti’ pode chegar a mais de 150 litros por planta por dia nas condições de clima tropical, durante o verão, caindo para cerca de 70 litros por dia, durante os meses de inverno. Quando os pomares sofrem deficiência hídrica, ocorre queda de flores e dos frutos jovens ou redução do crescimento dos frutos já desenvolvidos, com alteração de sua qualidade (diminuição do teor de suco e da acidez). Esse efeito é mais significativo entre o florescimento e a “queda fisiológica”, enquanto que na fase de maturação os citros são menos sensíveis ao déficit hídrico. Exigências Climáticas do Citros Umidade do ar O efeito mais significativo desse elemento meteorológico está relacionado à fitossanidade dos pomares. De acordo com ORTOLANI et al. (1991), em condições de clima muito úmido, como por exemplo nas regiões produtoras do Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro, problemas com doenças fúngicas são freqüentes, especialmente no caso do Colletotrichum, causador da queda de frutos jovens, e do Elsinoe, causador da verrugose. De acordo com RODRIGUEZ (1987), a umidade do ar também interfere na qualidade dos frutos, sendo que nas regiões onde a umidade relativa do ar é normalmente elevada, os frutos das laranjeiras tendem a ser maiores e achatados, frouxos, de coloração pálida, suculentos e de sabor aguado. Tais condições climáticas, no entanto, são as preferidas pelas mexeriqueiras, que são cultivadas de norte a sul do Brasil, na faixa litorânea. Além dos efeitos citados acima, a umidade relativa do ar é o elemento, que juntamente com a velocidade do vento, define o poder evaporante do ar. Isso acaba sendo um fator importante na determinação da demanda hídrica das plantas cítricas, especialmente onde a irrigação é fundamental, como nos climas áridos e semi-áridos do Irã, do Egito, da Espanha e Israel. Exigências Climáticas do Citros Velocidade do vento O vento é um dos elementos meteorológicos que influi diretamente no microclima de uma área, interferindo, desse modo, no crescimento dos vegetais, tendo tanto efeitos favoráveis como desfavoráveis (PEREIRA et al., 2002). Dentre os aspectos favoráveis, destacam-se o transporte de calor, vapor d’água e CO2 entre as plantas e a atmosfera, interferindo, assim, nas taxa de assimilação de CO2 e de transpiração. Por outro lado, quando os ventos são intensos e contínuos, acima de 10km/h, podem provocar danos mecânicos, anatômicos e fisiológicos nas plantas. HURST & RUMNEY (1971) apresentam dados que mostram que em três regiões produtoras de citros na Califórinia, EUA, os ventos excessivos podem provocar redução nos rendimentos que oscilam entre 19 e 68%, dependendo de sua intensidade e duração. Fatores Meteorológicos Adversos Geada Um dos grandes problemas para os pomares dos citros conduzidos nas regiões subtropicais, nas latitude acima de 20o S ou N, é a ocorrência de geadas (ORTOLANI et al., 1991; GAT et al., 1997). Esse fenômeno atmosférico, corresponde à ocorrência de temperatura igual ou inferior à temperatura crítica da planta, que no caso das espécies de citros é da ordem de –4oC a –8oC, ao nível do tecido foliar (ORTOLANI et al., 1991; DOORENBOS & KASSAM, 1994; GAT et al., 1997). Vento Na regiões produtoras de citros do Brasil, o vento aparentemente não é fator limitante à produção. De acordo com ORTOLANI et al. (1991), no estado de São Paulo, que concentra cerca de 80% da área cultivada do país, os ventos tem baixa velocidade média, entre 1,7 m/s, nas regiões norte e noroeste, e 2,9 m/s, na região sul, sendo a grande maioria dos pomares conduzidos sem quebra-ventos. APTIDÃO E ZONEAMENTO CLIMÁTICOS DOS CITROS O zoneamento climático dos citros, de acordo com NOGUEIRA (1979), é bastante complexo, em razão da grande variedade de espécies e da respostas dessas às diferentes condições ambientais. De um modo geral, o principal elemento meteorológico a ser levado em consideração no zoneamento climático das espécies cítricas é a temperatura do ar, dada a sua grande influência no crescimento, desenvolvimento, rendimento e qualidade das plantas e dos frutos (GAT et al., 1997). Apesar disso, quando os pomares são conduzidos sem irrigação, o aspecto hídrico assume importante papel na aptidão da cultura, devendo ser levado em consideração. Sub Tropical 21 20 Transição 18 17 16 1 3 19 2 Robinson* (?) Cravo*(?) Murcott* Dancy* Poncã* Ortanique*(?) Temple* Minneola* (?) Orlando Natal* 4 24 6 23 5 Tan Pomelos Tahiti Galego Thompson Redblush Marsh Seedless Duncan Tangerinas e Híb. Lisboa Eureka Genova Semi Tropical Laranjas Satsuma Clementina (?) Wilking* Mexirica do Rio* Transição Hamlin Pineapple* Pêra Tropical Bahia Golden Nugget Bahia Shamouti* Valência Late Climas Ta (oC) Faixa APTIDÃO E ZONEAMENTO CLIMÁTICOS DOS CITROS Espécies e Variedades Limões 29 7 25 22 NECESSIDADES HÍDRICAS DOS CITROS O consumo de água ideal dos citros, expresso por meio da evapotranspiração do pomar (ETc, mm por dia) ou pela transpiração máxima das plantas (Tm, litros por planta por dia) pode ser obtida por métodos de estimativa que relacionam a demanda hídrica da atmosfera e as características da planta. Essa informação é de primordial importância para os pomares conduzidos sob irrigação, possibilitando o manejo adequado da água, resultando em maximização da eficiência do uso da água. No caso de culturas descontínuas, como os pomares, a determinação da necessidade hídrica das plantas depende do método de irrigação empregado. No caso da irrigação por aspersão, que abrange toda a área, a evapotranspiração do pomar (ETc) é mais conveniente, sendo essa variável determinada pela seguinte relação: ETc = ETo Kc Valores do coeficiente de cultura (Kc) para os citros, considerando-se as fases de desenvolvimento: inicial (Kcin), média (Kcmed) e final (Kcfim), a porcentagem de cobertura do terreno pelas plantas de citros no pomar e sua altura e a condição de cobertura das entrelinhas. Adaptado de Allen et al. (1998). Condição da cultura Kcin* Kcmed* Kcfim* Altura (m) 70% de cobertura pelas plantas de citros 0,70 0,65 0,70 4 50% de cobertura pelas plantas de citros 0,65 0,60 0,65 3 20% de cobertura pelas plantas de citros 0,50 0,45 0,55 2 70% de cobertura pelas plantas de citros 0,75 0,70 0,75 4 50% de cobertura pelas plantas de citros 0,80 0,80 0,80 3 20% de cobertura pelas plantas de citros 0,85 0,85 0,85 2 Sem cobertura das entrelinhas Com cobertura das entrelinhas Fim