UMA PARADA PARA INCLUIR Magno Alexon Bezerra Seabra¹ Priscila Cabral de Vasconcelos² Thacyane Barbosa Freire³ RESUMO Este estudo teve por objetivo discutir sobre a inclusão nos espaços escolares e sociais. Tratar sobre a inclusão se faz necessário diante das exigências legais sobre tal fato. A Declaração de Salamanca, em 1994, foi um marco que proporcionou novas concepções a respeito da educação, com preocupação mundial. Não foi diferente no Brasil, pois há todo um processo de apreciação da proposta inclusiva, bem como suas dificuldades de implementação. Todo o país se mobilizou e ainda o faz, em vista de uma sociedade que atenda a todos. Os profissionais da educação são os mais envolvidos nesta empreitada. Concordamos que seja fundamental o respeito ao outro, no entanto, nos interrogamos sempre: como realizaremos a inclusão, nas escolas e na sociedade? Palavras-chave: Inclusão. Legalidade. Implementação. ABSTRACT This study aimed to discuss the inclusion in school and society. Treating on the inclusion is necessitated by legal requirements on this fact. The Salamanca Statement in 1994 was a landmark that has provided new ideas about education with a global concern. It was no different in Brazil, because there is a process of inclusive assessment of the proposal and its implementation difficulties. The entire country was mobilized and still does, in view of a society that caters for all. Education professionals are more involved in this undertaking. We agree that it is fundamental respect for others, however, always asking ourselves: how we will carry out to inclusion in schools and society? Keywords: Inclusion. Legality. Implementation. Inicio este texto com uma frase de André Gide, que se encontra no livro de Peter McWilliams, sob o título: Quem acredita sempre alcança, publicado pela editora Sextante: Ninguém pode descobrir novas terras se não aceitar perder durante muito tempo a visão da costa. Problemas na estrutura física da escola, na formação dos profissionais da educação, na constituição e como se constitui a família dos alunos. Não seria para menos que os nossos clientes não fossem conforme vemos nos contos de fadas, ou mesmo nos textos que lemos na graduação que trata de maneira longínqua o cotidiano das escolas. Diante do rápido cenário apresentado, considerando que o que se pretende entrever é a aprendizagem dos nossos alunos. E como esta se encontrava. Não foi preciso ir longe, nem procurar, pois os alunos estavam às vistas até mesmo de quem transeuntasse pela escola. Salienta-se: os alunos e suas complexas particularidades. A idéia de incluir estes alunos para que os mesmos tenham êxitos nas suas aprendizagens, foi o marco para uma série de inquietações. Ademais, foi importante observar em que cenário eles estavam incluídos. A partir da década de 1990, acentou-se a discussão da inclusão, no caso da percepção da necessidade politicamente governamental. Diante deste fato, esta reflexão visa não se direcionar para um discurso político, pois este é variável de acordo com o momento econômico, mas pautar-se na valorização do ser, no resgate ao respeito ao homem, da sua dignidade enquanto vítima do embate político. A LDB nº. 9.394/96, nos seus artigos 4º, 58, 59 e 60, estabelece sobre a Educação Especial e o atendimento especializado aos portadores de deficiência, inclusive na rede regular de ensino, sobre a educação especial enquanto modalidade de ensino. Trata também sobre os sistemas de ensino e os órgãos normativos dos sistemas de ensino. No ano de 2001, a Lei nº. 10.172 aprova o Plano Nacional de Educação, que também aborda, defende e determina o acesso de alunos especiais à escola regular de ensino. Em 2008, temos a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), na qual as suas diretrizes explanam sobre a relação das modalidades de educação e a educação especial. Trata também das especificidades de comunicação dos surdos e da necessidade de formação inicial e continuada do professor. O documento teve como objetivo orientar os sistemas de ensino no trato das pessoas especiais na escola regular. O acesso de portadores de necessidades especiais passou por dois períodos anteriores ao período atual de inclusão. Os períodos anteriores são: o período de exclusão e, depois, o período de integração (BARBOSA, 2006). Portanto, falar de inclusão requer tecer sobre a exclusão e a integração. Naturalmente, o período de exclusão tem atualmente seu maior percurso, tendo em vista toda uma trajetória histórica permeada pela segregação e discriminação de pessoas deficientes, e que, dependendo do lugar ainda é presente, apesar de a lei determinar outro legado. O favorecimento desse paradigma conduz o entendimento de uma escola inclusiva, conforme preceitua Pereira e Viñas (2004), que é uma escola em que todos os alunos são educados em salas de aula regulares, no ensino regular para todas as crianças e não em ensino especial. Nesta escola todos ajudam e são ajudados para que as necessidades sejam superadas. Sobre este fato acredita-se ser uma verdadeira utopia. Às vezes angustia-se perante a idéia de uma escola inclusiva, diante do paradoxo que existe na conjuntura de sociedade excludente. Será que seja como Demo (2002) diz que estamos escrevendo um capítulo da pobreza na história da humanidade? E todo esse discurso político de inclusão vem a naufragar diante de um contexto em que se vive a exclusão social. Acreditamos que seja por isso que o discurso da inclusão caia-se na demagogia. As crianças são marcadas pelas contradições da sociedade (NASCIMENTO, 2006). Conforme nos diz Patto (2008) que a exclusão se refere a um pseudo problema. Acrescentando que realmente o maior problema se encontra na inclusão marginal que se trata da resposta das classes dominantes a uma nova situação de desigualdades sociais. A idéia não é de remendar ou inserir um grupo novo às escolas, sendo preciso, para Ferreira (2003), partir de um novo paradigma da Educação, no sentido de escola, currículo, sujeito. Só assim seremos capazes de promover uma educação de qualidade nas escolas regulares, independentemente de deficiente ou não. O problema social carece de fazer o indivíduo enquanto membro da coletividade, pois, segundo Durkheim (1979), a coerção determinada pela sociedade não é percebida. Para ele, o indivíduo nasce da sociedade, e não a sociedade aos indivíduos. Logo, a escola é um aparelho ideológico a serviço do Estado, conforme escreve Althusser (2003), e não a serviço dos seus alunos. Vygotsky construiu a teoria sociocultural, em que se enfatiza a importância da interação do indivíduo com o contexto social, seus significantes históricos a partir do contexto e da cultura em vive o sujeito. Concorda-se com Araújo (2004) quando diz que este contexto, através da linguagem, possibilita a aprendizagem. Aprendizagem entendida, conforme Campos (2005), enquanto modificação de conduta sistemática, a partir de uma mesma situação repetida; considerando seus aspectos entrelaçados de automatismo, afetividade e cognição. Considerando, de acordo com os estudos de Vygotsky (1995), que os sujeitos agirão conforme seus pensamentos. O embate teórico sobre a formação de conceito conduz a perceber que o agir do ser humano encontra-se sob sua forma de pensar e, como este representa o mundo de maneira internalizada, estas representações compactuam com os conceitos no constante desenvolvimento das estruturas afetivas e cognitivas, sendo, então, corroborado pelas proposições de Émile Durkheim, para quem o homem é produto da sociedade, mais do que propriamente formador. Trata-se da assimilação realizada pelo indivíduo de um conjunto de princípios e normas, sejam morais, religiosas, éticas, assimilação que é desenvolvida através da educação, em sua grande parte. Diante desses fatos, procura-se conhecer a vivência dos deficientes, pois para Ribeiro (2003), o mundo será especial a partir do momento em que perceber com dignidade e respeito a especificidade de cada indivíduo. Mantoan (2005) menciona que tanto os objetos quanto os fatos são apreendidos e relacionados pelo sujeito, dessa forma a idéia do outro é percebida a partir da história deste indivíduo com o mundo. Por isso percebe-se a importância de conhecê-lo para poder agir de forma eficaz no seu desenvolvimento, enquanto sujeito ontológico e social. É correto afirmar que todos ganharão com a proposta de uma educação inclusiva, pois não se trata de benefícios para os deficientes, porém para toda sociedade, segundo a visão de Lima (2006). Haveria um crescimento, a partir do mundo da diversidade, aceitando o outro com suas particularidades, coisa que é difícil, na sociedade atual abrir-se para o diferente. Somos bastante fechados ao nosso mundo, aos valores construídos a partir da nossa vivência e resistimos ao novo, às mudanças, ao inusitado. Mas há a verdadeira necessidade de problematizar o discurso da inclusão, daí proporcionará numa proposta não determinante, mas aceitável, não imposta, mas adequada às especificidades individuais, culturais e sociais (RECHICO & FREITAS, 2005). A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) proclama que o sujeito possui características, interesses, necessidades e capacidades que lhes são próprias para o desenvolvimento na construção de sua aprendizagem, e estes aspectos precisam ser considerados pelos profissionais da educação, uma vez que serão esses os agentes que dinamizarão a interação dos deficientes. Carvalho (2006) apresenta expressivamente que se deve promover a remoção de barreiras existentes na aprendizagem, atrapalhando também a participação, e essa remoção se dar quando se ter concretamente o conhecimento e a identificação da cultura dos sujeitos envolvidos, daí conduzirá a efetivação da interação das pessoas da turma, da escola e de outros âmbitos. E acrescenta Dubet (2003) que quanto mais os métodos utilizados pelos professores sejam ativos mais eles exigem um maior desempenho por parte dos pais. Encontra-se no percurso da nossa sociedade que existam incluídos e excluídos. Mesmo que o discurso e a reflexão diante desses conceitos sejam presentes e atuantes, adentrar no engendramento social em que se proponha incluir a todos acaba também sendo desrespeito a muitos que não pretendem participar da sociedade da inclusão ou mesmo não se passa por esse pressuposto. Finda-se num paradoxo. Não se dá para generalizar. Cada grupo social precisa ser contactado ou não, minorias e maiorias. Considerando que nem sempre a maioria encontra-se no caminho de superação social ou mesmo individual. É importante partir de princípios, tais como: justiça e respeito para que possamos em seguida tratar sobre a inclusão e a exclusão. Se assim não for, acabamos mais uma vez em entrar em choque com a proposta da natureza e seus princípios. Discutir as questões sociais, fechando os olhos para os fundamentos que regem o progresso é andar em círculo. É importante considerarmos cada passo e termos conhecimento de qual deve ser o primeiro passo, porque, de repente, estamos discutindo o produto e ficando neste produto. Para que possamos compreender onde chegamos é necessário saber o que e como nos foi conduzido ao referido ponto. Desta forma, poderemos fazer diferente. E, assim, percebermos a necessidade de discutir a inclusão e o que incluir, se realmente for necessário. No entanto, acredito que seja sempre oportuno termos uma parada para refletir sobre a inclusão. REFERÊNCIAS ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. Tradução de Walter José Evangelista e Maria Laura Viveiros de Castro. 9. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2003 ARAÚJO, Maria Antonieta Nascimento. A estruturação da linguagem e a formação de conceitos na qualificação de surdos para o trabalho. Psicol. cienc. prof. 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