Perigo, Risco e Exposição Trabalhando como consultor na área de EPIs, uma das perguntas mais freqüentes é “O protetor auditivo pode ser utilizado em um ambiente com ruído de 110 ou 115 dB(A)?” Quando questionado desta maneira, uma pergunta que freqüentemente fazemos é “que ambiente é este? Que tipo de operação e que equipamentos estão presentes ?” Entre várias possíveis respostas, uma que sempre chama a atenção é quando respondem: “trata-se de uma sala de compressores”. Imediatamente pensamos: “o que pode alguém fazer o dia inteiro em uma sala de compressores?” Certamente isto não ocorre. Não é possível que alguém passe todo o seu dia em um local como este. Não há o que fazer lá por tanto tempo. E daí percebemos o quanto confuso são os conceitos de Perigo, Risco e Exposição para alguns profissionais da área de saúde do trabalhador. Certa vez, estava ouvindo os comentários feitos após uma partida de futebol, o comentarista disse que o time que estava perdendo o jogo estava cometendo erros de fundamentos, uma vez que errava passes com distâncias inferiores a 3 metros. Acho que podemos também chamar de erro de fundamentos a confusão que alguns profissionais da área de saúde do trabalhador fazem com relação a estes três conceitos. Vamos novamente expor estes três conceitos e fazer as considerações sobre uso de EPIs, relacionando sempre à situação mencionada acima. Perigo – O perigo pode ser representado por produtos ou equipamentos adquiridos pela empresa e colocados dentro de suas instalações. No exemplo acima, os compressores adquiridos pela empresa representam o perigo, uma vez que quando acionados provocam ruídos que atingem níveis considerados perigosos, caso haja a exposição do trabalhador a eles. Então o ambiente onde os compressores são instalados deve ser considerado um ambiente perigoso. Isto me faz lembrar um comentário feito sobre aposentadoria especial em que um advogado disse que não é o ambiente que se aposenta e sim o trabalhador para explicar porque mesmo existindo situações perigosas na indústria, a aposentadoria especial não estava sendo concedida. Medidas como enclausuramento e isolamento da área onde estes equipamentos são instalados devem ser consideradas. Avisos de alerta e procedimentos específicos para entrada nestes setores também devem ser colocados em prática. Os EPIs não são indicados para ambientes perigosos, a não ser nos casos de emergência ou necessidade de manutenção dos equipamentos. Os ambientes perigosos devem ser considerados como aqueles onde os trabalhadores não devem adentrar. Risco – O risco é representado pela possibilidade da exposição de um trabalhador a energia ou materiais em concentrações ou quantidades consideradas perigosas a sua saúde. O risco oferecido pelos compressores da situação acima existirá se estes equipamentos não forem adequadamente enclausurados e os ruídos ou as vibrações emitidas possam atingir trabalhadores, cujos trabalhos não estejam diretamente relacionados às operações destes equipamentos. Outras situações possíveis de risco, são as entradas no setor para manutenção ou emergências. O gerenciamento e controle de riscos devem ser feitos com mudanças de processos, mudanças de equipamentos, de matérias-primas ou práticas de engenharia como controle de ruído no meio ou ventilação local ou geral para controle de riscos químicos, etc. O EPI não deve ser parte da prática de controle de risco tampouco, a não ser para as situações de emergência ou manutenção já mencionadas. Todas as medidas de controle do risco devem ser feitas através de interferências no ambiente ou no afastamento do trabalhador da área. Exposição – Esta sim está diretamente relacionada ao trabalhador e o controle da exposição do trabalhador deve ser feito através de educação, treinamento e uso de EPIs, quando as medidas de controle não forem suficientes para garantir que a exposição do trabalhador esteja abaixo dos limites considerados aceitáveis de acordo com a boa prática de higiene ocupacional. Em se tratando de educação e treinamento, estes devem incluir informações sobre os perigos e riscos oferecidos pelos produtos, equipamentos e processos executados. Informações detalhadas sobre as conseqüências da exposição também devem ser passadas para o trabalhador. Baseado nas informações acima, vejam que não existem Protetores auditivos para compressores, como os requisitados. Não existem Respiradores para TDI, por exemplo. Não existem respiradores ou óculos para solda. Para definição de um EPI, é necessário que se faça uma avaliação detalhada da exposição do trabalhador aos agressores ambientais, sejam eles ruídos, vibrações, gases, vapores ou particulados presentes em um ambiente de trabalho. Este é o trabalho preliminar que deve ser realizado por um especialista em higiene ocupacional. Este mesmo especialista tem ainda que educar o trabalhador de tal forma que ele entenda muito bem os perigos existentes na fábrica e os riscos aos quais está exposto, de tal forma que possa diminuir sua exposição, seja pelo seguimento de procedimentos operacionais adequados ou pelo uso correto de EPI. Osny Camargo