RELATO DE EXPERIÊNCIA: A PSICOLOGIA NA ESCOLA
Cláudia Santos de Matos
Mayara Scandar Solon
Patricia Alves Molinari
Orientadora: Profª Drª Marlene de Cássia Trivellato Ferreira
Centro Universitário “Barão de Mauá”
Apresentação
Este relato resulta da nossa experiência vinculada ao estágio supervisionado de
Psicologia Escolar. O estágio está sendo desenvolvido em duas escolas. Uma de
Ensino Fundamental Municipal, situada em um bairro de periferia de uma cidade do
interior do Estado de São Paulo, que atende uma comunidade de classe média baixa.
A outra de Educação Infantil Privada, também no interior do estado de São Paulo, que
atende uma comunidade de classe média alta. O objetivo do estágio é proporcionar a
experiência da vivência do psicólogo na instituição escolar.
A atuação do psicólogo escolar envolve a instituição em sua totalidade,
“apresentando formas de ação e intervenção baseadas na realidade e no contexto da
escola, enfatizando a descentralização da análise da criança tomada individualmente,
para a instituição escolar em sua totalidade” (LIMA, 2009)1. Assim, sua ação se
distancia do modelo clínico e se aproxima da proposta de ação institucional. Ao pensar
na prevenção e na promoção da aprendizagem e do desenvolvimento da criança, é
importante uma prática relacional, baseada no pressuposto do ser humano em
constante construção histórico social (CRUCES, 2010)2.
O Psicólogo Escolar necessita escutar as demandas da escola, de modo a
propor formas de pensar as situações vivenciadas no cotidiano escolar. “Precisa criar
formas de reflexão dentro da escola, com todos os sujeitos (alunos, professores e
especialistas) para que se possa trabalhar com suas relações e paradigmas”
(ANDRADA, 2005)3.
Desenvolvimento
O trabalho na escola foi desenvolvido em duas etapas. No primeiro semestre, o
objetivo era realizar uma caracterização institucional, com o reconhecimento de seus
atores e definição de estratégias de intervenção, que fossem condizentes com a
demanda implícita da instituição. Esta etapa foi realizada através da técnica de
observação participante (MINAYO, 2004)4, das práticas cotidianas e relações
estabelecidas na instituição ou seja, as relações entre professores e alunos,
professores e pais, professores e instituição, instituição e alunos, e finalmente,
instituição e pais. Para intervir na complexidade das relações estabelecidas, o
psicólogo escolar tem que se ancorar na compreensão de que essas relações se
1
LIMA, M.F.E.M. Estágio supervisionado em Psicologia Escolar: desmistificando o modelo clínico. Psicol. Cienc. Prof. Brasília, v. 29, n. 3, 2009.
2
CRUCES, V.V. Psicologia e educação: nossa história e nossa realidade. In: ALMEIDA, SANDRA, F. C. (org). Psicologia Escolar: ética e
competências na formação e atuação profissional. 3ª ed. Campinas: Alínea, 2010.
3
ANDRADA, E.G.C.C. Novos paradigmas na prática do psicólogo escolar. Psicologia Reflexão Critica. Porto Alegre, v. 18, n. 2, Ago. 2005.
4
MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento. 6. ed. São Paulo: HUCITEC, 2004.
originam de um processo interdependente entre os indivíduos que fazem parte do
contexto escolar (ARAUJO e ALMEIDA, 2010)5.
A segunda etapa está sendo compreendida pela intervenção, baseada no papel
do psicólogo escolar e sua atuação dentro das instituições de ensino. No primeiro
semestre, estagiárias puderam entrar em contato com a instituição escolar, as mesmas
foram se aproximando da coordenação e direção, dos educadores e dos educandos,
de modo a se inserir neste ambiente e participar do cotidiano escolar.
Vários aspectos puderam ser levantados durante o primeiro semestre, o que foi
fundamental para as intervenções posteriores. Inicialmente a coordenação de ambas
as instituições, pública e privada, tinham a ideia de que as estagiárias realizariam
dentro da instituição escolar um trabalho de avaliação das crianças consideradas
"problemas", de modo a diagnosticá-las pelo fracasso escolar ou por problemas de
comportamento. Concepção recorrente sobre a atuação do Psicólogo nas instituições
escolares. As estagiárias enfatizaram que a proposta e o objetivo do trabalho se dariam
em outro formato, diferente do trabalho clínico, de modo a envolver toda a comunidade
escolar, não somente com os educandos, incluindo também neste processo os
professores, direção, coordenação, demais funcionários e família. Notou-se certa
dificuldade das gestoras na
compreensão sobre a atuação do psicólogo na escola, porém, ambas não se
opuseram
à realização do trabalho. Estagiárias buscaram realizar as intervenções tendo
como base os conceitos de Araújo e Almeida (2010)6, que diz que para realizar uma
intervenção, o psicólogo escolar precisa basear-se em ações e estratégias que visem a
reflexão, a conscientização de papéis e responsabilidades dos indivíduos que atuam de
forma relacional, buscando sempre trabalhar com as relações interpessoais
constituídas na instituição escolar.
A todo o momento, as estagiárias tentam esclarecer aos membros da instituição
sobre o papel do psicólogo escolar, transmitindo por meio da prática cotidiana com
eles. Desta forma, estamos realizando um trabalho sistêmico, baseando-se na
abordagem multirreferencial, ou seja, buscando compreender a complexidade da
instituição, trabalhando com os alunos e com os professores habilidades sociais, de
modo a melhorar o relacionamento interpessoal entre eles, o que pode contribuir para
um melhor desempenho escolar e melhor aprendizado. Diante do levantamento das
questões emergenciais, estagiárias criaram um projeto de intervenção para ser
realizado no segundo semestre.
Experiência na escola pública: as propostas de intervenção na instituição pública
foram muito bem aceitas, coordenação e educadoras se mostraram muito solícitas, se
colocando à disposição para ajudar no que fosse preciso. Desde que adentraram à
escola, estagiárias foram muito bem recebidas por todos, principalmente pelas
educadoras, que desde o início reconheceram a necessidade do psicólogo na escola,
mostrando-se extremamente receptivas e abertas às propostas.
Foi satisfatória a aceitação e abertura e, entendemos que isto só foi possível
pelo fato de termos realizado um bom trabalho no primeiro semestre, pois nos
inserimos como membros da instituição, e não como anexo desta. Além disso,
estabelecemos uma relação saudável e de confiança com todo os membros da
5
ARAUJO, C. M. M.; ALMEIDA, S. F. C. Psicologia escolar institucional: desenvolvendo competências para uma atuação relacional. In: ALMEIDA, S.
F. C. Psicologia escolar ética e competência na formação e atuação profissional. São Paulo: Alínea, 2010.
6
ARAUJO, C. M. M.; ALMEIDA, S. F. C. Psicologia escolar institucional: desenvolvendo competências para uma atuação relacional. In: ALMEIDA, S.
F. C. Psicologia escolar ética e competência na formação e atuação profissional. São Paulo: Alínea, 2010.
instituição, conseguindo desta forma, credibilidade para realizar às propostas de
intervenção.
Nosso projeto de intervenção está sendo desenvolvido com alunos do 2° e 3°
ano do ensino fundamental, através de fábulas, dinâmicas de grupo e demais
atividades estruturadas. Trabalhamos um mesmo tema durante três encontros, de
modo que os educandos possam internalizar alguns valores, questões relacionadas a
indisciplina, regras, empatia, etc.
Além disso, selecionamos dinâmicas de modo a trabalhar com os alunos a
psicomotricidade, coordenação motora fina e equilíbrio corporal. Em todas as
atividades estamos envolvendo os educadores, de modo que os mesmos possam
utilizar atividades semelhantes no cotidiano escolar.
Estamos realizando na instituição o plantão psicológico para pais, educadores e
alunos, de acordo com as demandas que estão emergindo, visando sempre melhorar
as relações interpessoais, contribuindo assim para um melhor aprendizado da criança.
Para isso, é fundamental que a tríade, família, escola e alunos esteja conjuntamente
envolvida no processo de ensino-aprendizagem, de modo a favorecer a emancipação
de seus educandos. Enquanto as estagiárias, atuando na instituição escolar, estamos
nos empenhando de modo a mostrar o nosso trabalho e o impacto do mesmo nos
relacionamentos interpessoais, nos aspectos comportamentais e no processo de
ensino aprendizagem. Esta tem sido uma experiência desafiadora, enriquecedora e de
extrema importância para a nossa formação, e para a elucidação da importância e do
papel do psicólogo nas instituições escolares. Experiência na instituição privada: A
escola mostrou-se receptiva as nossas intervenções.
Diante das nossas observações, foi possível perceber que os pais dos
educandos nem sempre são colaborativos com a escola, assim propusemos uma
atividade de orientação aos pais sobre práticas educativas, no formato de palestra.
Além dos pais, estamos atuando junto aos alunos e professoras.
Com os alunos dos níveis I e II estamos aplicando o projeto EPRP, esta é uma
sigla para o programa “Eu Posso Resolver meus Problemas”, que visa desenvolver
habilidades cognitivas de solução de problemas interpessoais, com o objetivo de
prevenir comportamentos impulsivos e agressivos em crianças. Com os alunos do
maternal, decidimos que a melhor forma de integrá-los seria com atividades lúdicas,
trabalhando com histórias, filmes e pintura, para que eles também desenvolvam as
habilidades motoras. Com as professoras, escolhemos trabalhar com dinâmicas, de
modo a favorecer a integração delas conosco e delas com o programa. No segundo
momento, trabalharemos com dinâmicas que propiciem momentos de descontração
para as professoras, possibilitando que elas possam trazer questões do seu cotidiano
para serem discutidas.
Atualmente, a escola e as professoras tem se mostrado menos resistentes ao
nosso trabalho, e aos poucos, estamos tentando conquistar o espaço do psicólogo
escolar, através da nossa prática no cotidiano.
Conclusão
Nossa experiência enquanto estagiárias tem sido muito positiva, estamos
plantando uma semente, de modo a desfazer os equívocos quanto a atuação do
psicólogo dentro das instituições escolares. Sabemos que é incipiente, muitas vezes
inexistente o profissional psicólogo dentro das escolas, principalmente nas escolas
municipais e estaduais. Além disso, as expectativas depositadas sobre o psicólogo
escolar ainda se estruturam no eixo doença versus saúde.
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RELATO DE EXPERIÊNCIA: A PSICOLOGIA NA ESCOLA Cláudia