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6º Encontro - 13 de Março de 2011
● 28 de Março - Job 42, 2-6
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«Sei que podes tudo
e que nada te é impossível.
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Quem é que obscurece assim o desígnio divino,
com palavras sem sentido?
De facto, eu falei de coisas que não entendia,
de maravilhas que superavam o meu saber.
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Eu dizia: ‘Escuta-me, deixa-me falar!
Vou interrogar-te e Tu me responderás.’
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Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti,
mas agora vêem-te os meus próprios olhos.
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Por isso, retracto-me e faço penitência,
cobrindo-me de pó e de cinza.»
O livro de Job constitui, no contexto da Bíblia, um dado bem característico e original. Em
primeiro lugar, porque enfrenta a questão da experiência religiosa pessoal como um objecto de
reflexão e porque o faz com uma profundidade humana e um dramatismo dignos do melhor
humanismo e da mais requintada arte literária; em segundo lugar, porque nem representa muito
directamente a linguagem teológica mais característica do Antigo Testamento.
O facto é que este livro se impôs como um dos mais elevados momentos literários da Bíblia; e,
para a História da teologia, da filosofia e da cultura, até aos dias de hoje, ficou a ser um verdadeiro
marco milenário da tomada de consciência dos dramas da experiência humana.
A importância que este livro assumiu na Bíblia e nas religiões bíblicas Judaísmo e Cristianismo
veio-lhe também, em grande parte, do facto de nele se exprimir um dos temas máximos da cultura
e da literatura humanistas do Médio Oriente Antigo. É a questão do sofrimento e das suas
repercussões, quer directamente na experiência de quem sofre, quer indirectamente na
interacção que se produz entre as concepções morais e outras categorias religiosas
fundamentais, tais como sofrimento e doença, pecado e castigo, santidade e felicidade. Enfim, é o
problema de saber se existe alguma correlação justa ou lógica entre a maneira honesta como se
vive e a maneira como a vida nos corre. Nos tempos bíblicos mais antigos, o Egipto, a
Mesopotâmia e Canaã deixaram-nos exímios exemplos literários deste esforço de reflexão. É entre
eles que o livro de Job encontra a sua base e se destaca como valor de primeira grandeza.
O livro de Job é essencialmente uma obra de reflexão e meditação; é mesmo um espaço para
levantar questões ainda hoje dramáticas. Chamar teologia ao seu pensamento pode até fazer crer
que ali se apresenta uma catequese ortodoxa e tranquila. E não é o caso. No entanto, podemos
servir-nos da palavra teologia, enquanto aqui é focado um conjunto de problemas, cuja solução
acaba por ir desembocar, em última análise, na concepção que se tem sobre Deus.
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Por um lado, em Job rejeita-se um sistema de pensamento religioso: as posições moralistas e
tradicionais da equivalência entre o sofrimento de uma pessoa e algum pecado por ela
cometido. É o pensamento maioritariamente defendido pelos amigos de Job, com alguns matizes
de diferença entre cada um deles. Por outro lado, o pensamento religioso do livro parece
aproximar-se da nova consciência de Job, de onde emergem verdades já bastante evidentes para
ele, mas que o deixam ainda muito inseguro e mesmo escandalizado. Mas nem todas as suas ideias
são confirmadas, após a contemplação da sabedoria (28), o discurso de Eliú (32-37) e a
intervenção final de Deus. Se as teses da religiosidade tradicional e popular sofrem uma forte
contestação, também as novas sensações iniciais de Job chegam ao fim algo esbatidas. Job
empreende uma reflexão amadurecida e profunda.
Em suma, neste livro recusa-se que a causalidade de todo o sofrimento deva ser atribuída, seja ao
homem, seja a Deus. A ética e o ciclo da vida com os seus percursos naturais de sofrimento e
morte são dois processos coexistentes, mas autónomos. Pretender misturá-los é simplista e inútil.
A justiça e a acção de Deus não se podem medir com as regras de equivalência que são normais
em justiça distributiva. Eis um dos mais marcantes contributos do livro de Job para esta
importante questão do humanismo e da experiência religiosa. A sua atitude básica perante o
sofrimento não é de moral legalista, nem é pietista, nem expiacionista. É uma atitude de corajoso
acolhimento do real; é contemplativa e verificadora; é um caminho de sabedoria. É, por
conseguinte, um espaço de transformação de si mesmo e dos factos. É ainda acolhimento do Deus
invisível nas experiências humanas de paraíso e de deserto (19,25-26; 1 Cor 13,12).
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- Job reconhece humildemente que Deus é todo-poderoso e que nada pode opor-se aos seus
desígnios. Embora o mistério do sofrimento dos justos não tenha sido esclarecido, Job sabe agora
que a sabedoria de Deus tudo dirige e que o homem nunca deve desesperar.
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- Como se resolve o caso de Job, e os seus dilemas? Construindo uma exterioridade. Deus com um
certo humor pergunta-lhe: “Já viste o hipopótamo?” (Job 40)
Não podemos fazer depender a fé de uma justificação para o mal.
O método de Deus com Job: face a um determinado território (de sofrimento, de questionamento,
…), Deus chama a uma exterioridade, chama a expandir o olhar. Olhar para o que é imenso, para a
vastidão, obriga a sair para fora.
Tópicos de oração
- Excluindo Jesus Cristo, o grande orante da Biblia é Job.
- É talvez o texto mais difícil da Bíblia, porque fala do sofrimento de um inocente.
Os amigos de Job, pela mentalidade de então queriam que ele assumisse que o seu sofrimento era
consequência do seu pecado. Job não admite isso. Deus não castiga consoante o nosso pecado.
Job é o paradigma do sofrimento do inocente. Por isso é um dos textos mais lidos do mundo, por
crentes e não crentes. A grande questão: Porquê que eu sofro?
- Job resignou-se. Job questionou Deus. Passou para várias fases e atitudes. E só quando se põe
nas mãos de Deus é que encontra a paz.
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- Ele sofreu sendo inocente. A cruz persegue-nos como uma sombra. A cruz de sexta-feira santa e a
cruz de Domingo.
O amor é libertação. Não me resigno, entrego-me ao Outro.
O sofrimento do inocente não se explica, contempla-se na cruz de Cristo. E pedimos que Ele nos
ajude a levar a nossa cruz.
Há gente neste momento a entregar o seu sofrimento por ti, e isto não se explica, isto é a fé. O
sofrimento de Cristo é redentor.
- Frente a estas questões do sofrimento não interrogues Deus sobre os mistérios. Se perguntarmos
“porquê?” damos em doidos… Pergunta antes: “como posso ajudar?”, “que posso fazer?”
- “Não temas, porque o teu percurso encontrará em Mim a felicidade eterna”.
- O sofrimento é sempre um mal, mas pode converter-se em caminho, ou então torna-se desespero
puro.
Job dá o pulo, tendo noção de tudo o que está para trás é impressionante ouvi-lo dizer: " Os meus
ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus próprios olhos." (vers 5)
- Proposta para esta semana:
Fazer a Via-Sacra
Em cada dia desta semana começar por ler esta oração de Job…
Fazer duas ou três estações por dia
Não interroguem, entreguem-se (a vossa cruz e a dos outros)
Contemplem bem essas estações da Via-Sacra
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Sei que podes tudo e que nada te é impossível