Comunicado de Imprensa Justiça Ambiental e Rede Contra o REDD em África (NRAN) REDD+ em Moçambique: Promoção de Monoculturas, Escravatura de Carbono e a Não Redução de Emissões Maputo, aos 3 de Setembro de 2013 O seminário Internacional sobre a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD), que decorreu em Maputo nos dia 25 e 26 de Agosto, concluiu que REDD+ (entre outros mecanismos ligados ao mercado de carbono) é uma maldição para os países do sul e Moçambique não será nenhuma excepção. Além de não evitar a destruição de florestas, REDD+ vai promover monoculturas de árvores com recurso a organismos geneticamente modificados, o que contaminará os solos e resultará na usurpação de terras das comunidades rurais. Os projectos REDD explorarão os camponeses, privá-los-ão dos seus recursos florestais e agrícolas e promoverão a escravatura de carbono. A Justiça Ambiental e a Rede Contra o REDD em África (No REDD in Africa Network), que organizaram este seminário, rejeitam a introdução do REDD em Moçambique, por considerarem que as comunidades rurais, especialmente os camponeses e camponesas, serão negativamente afectados por este tipo de projectos, através dos quais serão submetidos a contractos multigeracionais bastante lesivos, à imagem do que já acontece em Nhambita, no distrito de Gorongosa, província de Sofala, onde um projecto piloto de sequestro de carbono REDD+ está a ser implementado desde 2008. O REDD+ apresenta-se como um mecanismo bom, vendendo a ideia de que estamos diante de uma solução para melhorar a vida das comunidades, proteger florestas e ao mesmo tempo resolver a problemática das mudanças climáticas. Entre outras coisas, o REDD promete dinheiro, emprego e contribuir para a redução da pobreza, mas essas promessas são fraudulentas. O REDD é, logo à partida, uma falsa solução para combater as mudanças climáticas, pois proporciona aos países do norte a oportunidade de “contornarem” a sua obrigação de reduzir os seus níveis de poluição, permitindo-lhes usar países como o nosso como uma esponja do seu lixo, das suas emissões, da sua poluição. A feia realidade é que o REDD é, isso sim, mais uma ferramenta ao serviço da cada vez mais evidente estratégia de usurpação dos recursos naturais de África pelos países desenvolvidos. É puro neocolonialismo. Em Moçambique, a nossa cobertura florestal está estimada em cerca de 40 milhões de hectares, quase metade do país. Daí a nossa apreensão. A nossa vulnerabilidade a projectos REDD é assustadora. E o REDD não se limita apenas à terra. Os seus promotores certamente que irão também tentar implementar “Blue (Azul) REDD” no mar, nos lagos e nos mangais para “sequestrar” mais carbono. Se tal acontecer, tais projectos serão altamente detrimentais para os pescadores e as comunidades costeiras porque limitarão a sua pesca e afectarão negativamente a sua nutrição e a sua forma de vida. Baseando-nos nas experiências dos países onde REDD é já uma realidade, é fácil verificar que mais do que as suas aparentes vantagens, a lista das reais desvantagens do REDD é enorme. O REDD vai permitir que as indústrias poluidoras continuem a contaminar o planeta e não vai de modo algum contribuir para a redução das emissões de carbono. Varrido para debaixo do tapete por falsas soluções como o REDD, o aquecimento global vai condenar Moçambique e África a cada vez mais inundações, secas, fome e sofrimento. Impactos de uma mudança climática que já é mais que óbvia, mas que ou não queremos ou fingimos não ver. Não às falsas soluções para as mudanças climáticas! Não à usurpação da nossa terra! Não à neocolonização dos nossos recursos! NOTA: Durante o workshop e à revelia da sociedade civil moçambicana, o Governo aprovou em Conselho de Ministros o Regulamento dos Procedimentos para Aprovação de Projectos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) em Moçambique. De salientar que o único documento sobre o REDD que havia sido publicamente discutido, fora uma proposta denominada Regulamento dos Procedimentos para Aprovação de Projectos de Demonstração que visam a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+). Perguntámo-nos então o seguinte: Em que momento e com base em que experiência de sucesso passamos de demonstração apenas para implementação efectiva de projectos REDD? Porquê que durante o workshop, a votação deste decreto em Conselho de Ministros não foi mencionada por nenhum dos vários representantes do Governo presentes? Para mais informações: Anabela Lemos Justiça Ambiental / Friends of the Earth Mozambique, Tel: +258 823061275 (Moçambique) Email: [email protected] Nnimmo Bassey No REDD in Africa Network, Tel: +234 8037274395 (Nigéria) Email: [email protected]