Texto: Rubinho de Almeida Prado
Fotos: Arquivo Pescaventura
É época de cheias
sinônimo de muitos peixes no
Rio Telles Pires
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Por aspectos diversos, parte dos pescadores brasileiros crê que durante o período
de cheia a pesca em nossos rios fica comprometida. Mas isso não é uma verdade
absoluta. No Rio Teles Pires, que faz a
divisa dos Estados do Mato Grosso e Pará,
entre os meses de março e abril, quando
as águas ainda estão bem altas, a pesca
pode ser excelente e garantir satisfação a
qualquer pescador esportivo. A diferença
deste período em relação aos meses de
água mais baixa se resume a variedade
das espécies disponíveis, havendo maior
ou menor oferta de uma ou outra. Não
se pode esperar encontrar Tucunarés
nessa época, mas em compensação
há maior quantidade de Cachorras
e Bicudas, e mesmo Pacus e
Matrinxãs, espécies que se alimentam de frutas da época.
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E
m 2008 estive nesse rio para fazer
um trabalho de capacitação com os
guias da Pousada Santa Rosa, e
mesmo dispondo de pouco tempo,
hhhimportância para realizar um trabalho adequado.
Sem demonstrar a pequena decepção com o panorama, caminhei até a margem para
rever o Teles Pires e sentir sua grande energia. A
água, de fato, cobria as margens, mas estava limpa
e com grande força. Nem bem havia acostumado a
vista ao forte brilho refletido pelo sol, percebi alguns
ataques de bons peixes. À cerca de 20 metros de
onde estava, Cachorras e Bicudas disputavam com
voracidade as presas que passavam à sua frente.
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Essa cena, de imediato, alterou que as horas de folga poderiam ser muito emocionantes.
A TAQUES
ESPETACULARES
Por volta das 15:00h, após um caseiro e delicioso
almoço, tive a oportunidade de descer o rio cerca de
20 minutos para checar uma estrutura normalmente
farta de Cachorras e Bicudas.
Nem mesmo a água acalmou das marolas feitas pelo
barco, e já estávamos lançando nossas iscas artificiais. Nelinho, que me acompanhava, dava preferência para as de superfície, e como os ataques das
Bicudas eram constantes nos modelos de zig-zag,
segui a escolha do parceiro. Foram muitos ataques
espetaculares, pois nesse estilo se vê a chegada do
peixe e sua insistência em abocanhar a isca. A Bicuda, tanto quanto a Cachorra, é peixe de boca descarnada, o que torna comum escaparem durante os
inúmeros saltos. De qualquer forma é uma pescaria
emocionante, pois quando não ocorre captura, toda
ação pode ser vista e admirada.
G RANDES C ORVINAS
Após algumas Bicudas fotografadas, decidimos partir para as Corvinas, em outro ponto. Navegamos
mais alguns minutos em direção a margem oposta
e organizamos a tralha para esta espécie. Como o
parceiro tinha pouca experiência com os tube jigs e
jigs no estilo vertical, preferiu tentar algum peixe de
couro com iscas naturais. Após achar o ponto, sentimos o ataque em nossos jigs, e a produtividade foi
excelente, com quase uma Corvina por arremesso,
momentos de pura diversão, pois se trata de uma
espécie que atinge grande porte nessas águas.
O
PEQUENO TITÃ
Como o tempo era curto, partimos para outro poço
para tentar a sorte com os Jundiás, uma espécie que
apesar de não atingir porte avantajado, briga como
se tivesse múltiplas vezes seu tamanho. Para acelerar as capturas utilizamos dois tipos de isca natu-
ral: a tuvira e o famoso minhocuçu. E tanto em uma,
quanto em outra, esse peixe mostrou sua energia e
disposição para brigar, principalmente quando, após
ser fisgado, vê a luz junto à superfície e parte para o
fundo para novos rounds.
Estar no Telles Pires e não cobiçar uma Paraíba é
algo inconcebível, afinal este é o rio com mais condições, entre os demais que conheço, para se ter na
outra ponta da linha esse grande peixe, o maior bagre de nossas águas doces. Por isso, após fotografar o valente Jundiá, seguimos para um poço mais
profundo.
Embora a Piraíba seja chamada de filhote até perto
dos 60 kg, isso não tem qualquer relevância, e isso
ficou provado quando Nelinho fisgou a sua neste dia.
Estávamos parados havia cerca de 20 minutos da
pousada, quando a linha tencionou e vi o parceiro
fisgar com experiência. No primeiro momento é difícil saber a espécie que está embaixo da água, mas
quando começou a tomar linha em direção ao meio
do rio, já dava para arriscar tratar-se de uma Paraíba. Passados alguns minutos de briga, Nelinho,
já nervoso porque a linha saía com grande velocidade e rareava no carretel da carretilha, pediu ao
guia que soltasse o barco, caso contrário, ficaria impossibilitado de brigar com aquela “fera”. O fim da
tarde chegou logo, foi escurecendo e nada daquele
peixe demonstrar sinais de cansaço. Já estávamos
brigando há quase 50 minutos quando ele subiu à
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superfície. A alegria foi geral, pois não é todo dia que
uma Piraíba de cerca de 50 quilos pode ser fotografada e admirada. O pescador transpirava e estava
exausto, mas o cansaço foi rapidamente substituído
pelo prazer de ter esse peixe nos braços. Depois de
soltá-la, retornamos eufóricos para a pousada. Era
hora de um bom banho, comida saborosa e uma restauradoura noite de sono, até porque no dia seguinte
começaríamos nosso trabalho com os guias.
OS
REDONDOS SALTADORES
Em um dos dias de treinamento, terminamos o curso um pouco antes da hora e sobrou um tempinho
para dar uma rápida chegada no Rio Santa Rosa,
situado próximo à pousada. A idéia era checar se
os Pacus Borracha ainda estavam por lá. Subimos
um pouco esse afluente do Telles Pires e voltamos
com o motor desligado ao sabor da correnteza. Nesse ritmo começamos a pescar de batida com a cabaçarana, fruta regional cujo paladar agrada não só
esses peixes, como também as Matrinxãs, que no
entanto, só estavam em intensa atividade cerca de
mais uma hora rio acima, longe de onde nosso tempo
nos permitia chegar. Em pouco mais de meia hora
de pesca tivemos alguns ataques e fisgamos alguns
Pacus saltadores, que são mais uma ótima opção de
pesca nesse período.
UM
FINAL APOTEÓTICO
No último, com menos de meio período para pescar, fomos conhecer a parte baixa da Corredeira da
Rasteira, outro famoso ponto de pesca. No entanto
a água alta e muito forte não nos possibilitou chegar aos melhores locais, situados junto às quedas
da corredeira. Como já estávamos satisfeitos com
outras espécies, a decisão foi gastar todo tempo
restante procurando um peixe de couro de grande
porte. Tentamos algumas Pirararas e Jaús, mas só
tivemos sucesso com pequenos exemplares entre 3
e 6 quilos. Durante o retorno, na margem oposta em
que havíamos pego a Piraíba no primeiro dia, o guia
parou em um grande poço, com cerca de 20 metros
de profundidade. Estávamos com equipamento pesado e isca de peixe. Após cerca de meia hora de
Abaixo a Corvina, uma das espécies que podem ser pegas com jigs e jumpping jigs durante as cheias, e o que é melhor: atingem grande porte
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acima o Jundiá, úma espécie
que apesar de não atingir porte
avantajado, briga como se tivesse
múltiplas vezes seu tamanho
espera veio a grande compensação: uma forte
puxada em minha linha. Imediatamente começam
as apostas; seria Pirarara, Jaú, Cuiucuiú, Caparari ou quem sabe, a própria Piraíba?
Para nossa felicidade era essa última, e ela brigou como “gente grande”, se bem que um pouco
diferente do padrão. Talvez pelo estilo do poço
não tenha partido para o meio do rio, ficou o tempo todo no fundo. Quando subiu, pudemos ver e
admirar o belo exemplar, a maior que tive o privilégio de pescar até então. Ao devolvê-la para a
água estava com a sensação de pescaria plena,
mais que pescado e pronto para escrever e registrar aquele rico momento de pesca.
ao lado o saltador Pacu Borracha, outra espéice esportiva
comum durante as cheias
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Acima a rara e valente Piraíba, quase que uma exlclusividade do Rio Telles
Pires, e o maior exemplar que tive o privilégio de pescar até então
C ONCLUSÕES
Durante as horas de almoço ou começo da manhã
antes do início do curso, testamos algumas iscas artificiais do próprio deck da pousada. Era covardia
com as Cachorras e Bicudas. Quase todo arremesso, independentemente do modelo utilizado, sofria
um ataque, inclusive os grandes modelos de hélice
utilizados na Amazônia. As iscas softs de borracha,
como os shads e os grubs também mostraram grande eficiência com essas espécies, tanto que literalmente falando, cansei o braço nesses raros períodos
de folga.
Somando todo tempo que fomos para a água, deu
pouco mais que um dia de pescaria, porém foi o
suficiente para me deixar convicto de que se trata
de uma época rica e que deve ser valorizada pelo
pescador. Se por um lado a altura da água dificulta
a localização do ponto de pesca, por outro, é estimulante o desfio de explorar todas as possibilidades
que se apresentam. A pesca foi farta, divertida, e
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com espécies que nem sempre se encontra no período da seca. Uma experiência que valeu a pena
e a certeza de que lá também se pesca, e bem, no
período das cheias.
P ARTICULARIDADES
- Rio acima: Cerca de 15 minutos de navegação,
ou seja até o final da primeira ilha. Neste trajeto,
entrando no afluente Rio Santa Rosa (2 minutos à
direita), Pacus Borracha e Matrinxãs estão à disposição dos pescadores enquanto houver água suficiente para uma navegação segura.
- Rio baixo: Não há limite, mas com cerca de 1:00
a 1:30h de navegação, dependendo da época do ano,
se atinge a grande e famosa Corredeira da Rasteira,
com diversas ilhas, canais e muitos pedrais (período
da seca), local intransponível para as voadeiras de
pesca, mesmo quando as águas estão cheias. Para
que os pescadores possam conhecer e pescar abaixo da corredeira, a pousada mantém de 2 a 3 bar-
cos na parte baixa, junto a
um pequeno barracão, onde
também se pode almoçar ou
mesmo passar uma noite,
para aproveitar melhor o dia
de pescaria. Este barracão
esta em uma ilha e é por ela
que os clientes atravessam
da parte de cima para a parte de baixo. O caminho, com
cerca de 3km é feito com a
utilização de uma camionete.
Os pescadores que preferem
esticar as pernas podem curtir esse passeio dentro da
mata amazônica.
- Entre a pousada e Corredeira da Rasteira há uma infinidade de ilhas, canais, poços
mais fundos, pedrais, corredeiras menores, que formam
inúmeros pontos de pesca,
sendo possível completar os
seis dias de pesca sempre
em lugares diferentes.
Serviços
Está matéria foi realizada no mês de abril de 2008, e
para tanto, contamos com a hospitalidade e ótimas instalações Pousada Santa Rosa. Lá o pescador encontra
toda infra-estrutura para realizar uma pescaria inesquecível: barcos com motores novos; guias experientes e
bem treinados; hospedagem em apartamentos
confortáveis; atendimento personalizado; diária
com preços acessíveis, além de um cardápio
saboroso capaz de despertar a gula de qualquer
pessoa.
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