Texto: Rubinho de Almeida Prado Fotos: Arquivo Pescaventura É época de cheias sinônimo de muitos peixes no Rio Telles Pires Revista Pesca 30 Por aspectos diversos, parte dos pescadores brasileiros crê que durante o período de cheia a pesca em nossos rios fica comprometida. Mas isso não é uma verdade absoluta. No Rio Teles Pires, que faz a divisa dos Estados do Mato Grosso e Pará, entre os meses de março e abril, quando as águas ainda estão bem altas, a pesca pode ser excelente e garantir satisfação a qualquer pescador esportivo. A diferença deste período em relação aos meses de água mais baixa se resume a variedade das espécies disponíveis, havendo maior ou menor oferta de uma ou outra. Não se pode esperar encontrar Tucunarés nessa época, mas em compensação há maior quantidade de Cachorras e Bicudas, e mesmo Pacus e Matrinxãs, espécies que se alimentam de frutas da época. Revista Pesca 31 E m 2008 estive nesse rio para fazer um trabalho de capacitação com os guias da Pousada Santa Rosa, e mesmo dispondo de pouco tempo, hhhimportância para realizar um trabalho adequado. Sem demonstrar a pequena decepção com o panorama, caminhei até a margem para rever o Teles Pires e sentir sua grande energia. A água, de fato, cobria as margens, mas estava limpa e com grande força. Nem bem havia acostumado a vista ao forte brilho refletido pelo sol, percebi alguns ataques de bons peixes. À cerca de 20 metros de onde estava, Cachorras e Bicudas disputavam com voracidade as presas que passavam à sua frente. Revista Pesca 32 Essa cena, de imediato, alterou que as horas de folga poderiam ser muito emocionantes. A TAQUES ESPETACULARES Por volta das 15:00h, após um caseiro e delicioso almoço, tive a oportunidade de descer o rio cerca de 20 minutos para checar uma estrutura normalmente farta de Cachorras e Bicudas. Nem mesmo a água acalmou das marolas feitas pelo barco, e já estávamos lançando nossas iscas artificiais. Nelinho, que me acompanhava, dava preferência para as de superfície, e como os ataques das Bicudas eram constantes nos modelos de zig-zag, segui a escolha do parceiro. Foram muitos ataques espetaculares, pois nesse estilo se vê a chegada do peixe e sua insistência em abocanhar a isca. A Bicuda, tanto quanto a Cachorra, é peixe de boca descarnada, o que torna comum escaparem durante os inúmeros saltos. De qualquer forma é uma pescaria emocionante, pois quando não ocorre captura, toda ação pode ser vista e admirada. G RANDES C ORVINAS Após algumas Bicudas fotografadas, decidimos partir para as Corvinas, em outro ponto. Navegamos mais alguns minutos em direção a margem oposta e organizamos a tralha para esta espécie. Como o parceiro tinha pouca experiência com os tube jigs e jigs no estilo vertical, preferiu tentar algum peixe de couro com iscas naturais. Após achar o ponto, sentimos o ataque em nossos jigs, e a produtividade foi excelente, com quase uma Corvina por arremesso, momentos de pura diversão, pois se trata de uma espécie que atinge grande porte nessas águas. O PEQUENO TITÃ Como o tempo era curto, partimos para outro poço para tentar a sorte com os Jundiás, uma espécie que apesar de não atingir porte avantajado, briga como se tivesse múltiplas vezes seu tamanho. Para acelerar as capturas utilizamos dois tipos de isca natu- ral: a tuvira e o famoso minhocuçu. E tanto em uma, quanto em outra, esse peixe mostrou sua energia e disposição para brigar, principalmente quando, após ser fisgado, vê a luz junto à superfície e parte para o fundo para novos rounds. Estar no Telles Pires e não cobiçar uma Paraíba é algo inconcebível, afinal este é o rio com mais condições, entre os demais que conheço, para se ter na outra ponta da linha esse grande peixe, o maior bagre de nossas águas doces. Por isso, após fotografar o valente Jundiá, seguimos para um poço mais profundo. Embora a Piraíba seja chamada de filhote até perto dos 60 kg, isso não tem qualquer relevância, e isso ficou provado quando Nelinho fisgou a sua neste dia. Estávamos parados havia cerca de 20 minutos da pousada, quando a linha tencionou e vi o parceiro fisgar com experiência. No primeiro momento é difícil saber a espécie que está embaixo da água, mas quando começou a tomar linha em direção ao meio do rio, já dava para arriscar tratar-se de uma Paraíba. Passados alguns minutos de briga, Nelinho, já nervoso porque a linha saía com grande velocidade e rareava no carretel da carretilha, pediu ao guia que soltasse o barco, caso contrário, ficaria impossibilitado de brigar com aquela “fera”. O fim da tarde chegou logo, foi escurecendo e nada daquele peixe demonstrar sinais de cansaço. Já estávamos brigando há quase 50 minutos quando ele subiu à Revista Pesca 33 superfície. A alegria foi geral, pois não é todo dia que uma Piraíba de cerca de 50 quilos pode ser fotografada e admirada. O pescador transpirava e estava exausto, mas o cansaço foi rapidamente substituído pelo prazer de ter esse peixe nos braços. Depois de soltá-la, retornamos eufóricos para a pousada. Era hora de um bom banho, comida saborosa e uma restauradoura noite de sono, até porque no dia seguinte começaríamos nosso trabalho com os guias. OS REDONDOS SALTADORES Em um dos dias de treinamento, terminamos o curso um pouco antes da hora e sobrou um tempinho para dar uma rápida chegada no Rio Santa Rosa, situado próximo à pousada. A idéia era checar se os Pacus Borracha ainda estavam por lá. Subimos um pouco esse afluente do Telles Pires e voltamos com o motor desligado ao sabor da correnteza. Nesse ritmo começamos a pescar de batida com a cabaçarana, fruta regional cujo paladar agrada não só esses peixes, como também as Matrinxãs, que no entanto, só estavam em intensa atividade cerca de mais uma hora rio acima, longe de onde nosso tempo nos permitia chegar. Em pouco mais de meia hora de pesca tivemos alguns ataques e fisgamos alguns Pacus saltadores, que são mais uma ótima opção de pesca nesse período. UM FINAL APOTEÓTICO No último, com menos de meio período para pescar, fomos conhecer a parte baixa da Corredeira da Rasteira, outro famoso ponto de pesca. No entanto a água alta e muito forte não nos possibilitou chegar aos melhores locais, situados junto às quedas da corredeira. Como já estávamos satisfeitos com outras espécies, a decisão foi gastar todo tempo restante procurando um peixe de couro de grande porte. Tentamos algumas Pirararas e Jaús, mas só tivemos sucesso com pequenos exemplares entre 3 e 6 quilos. Durante o retorno, na margem oposta em que havíamos pego a Piraíba no primeiro dia, o guia parou em um grande poço, com cerca de 20 metros de profundidade. Estávamos com equipamento pesado e isca de peixe. Após cerca de meia hora de Abaixo a Corvina, uma das espécies que podem ser pegas com jigs e jumpping jigs durante as cheias, e o que é melhor: atingem grande porte Revista Pesca 34 acima o Jundiá, úma espécie que apesar de não atingir porte avantajado, briga como se tivesse múltiplas vezes seu tamanho espera veio a grande compensação: uma forte puxada em minha linha. Imediatamente começam as apostas; seria Pirarara, Jaú, Cuiucuiú, Caparari ou quem sabe, a própria Piraíba? Para nossa felicidade era essa última, e ela brigou como “gente grande”, se bem que um pouco diferente do padrão. Talvez pelo estilo do poço não tenha partido para o meio do rio, ficou o tempo todo no fundo. Quando subiu, pudemos ver e admirar o belo exemplar, a maior que tive o privilégio de pescar até então. Ao devolvê-la para a água estava com a sensação de pescaria plena, mais que pescado e pronto para escrever e registrar aquele rico momento de pesca. ao lado o saltador Pacu Borracha, outra espéice esportiva comum durante as cheias Revista Pesca 35 Acima a rara e valente Piraíba, quase que uma exlclusividade do Rio Telles Pires, e o maior exemplar que tive o privilégio de pescar até então C ONCLUSÕES Durante as horas de almoço ou começo da manhã antes do início do curso, testamos algumas iscas artificiais do próprio deck da pousada. Era covardia com as Cachorras e Bicudas. Quase todo arremesso, independentemente do modelo utilizado, sofria um ataque, inclusive os grandes modelos de hélice utilizados na Amazônia. As iscas softs de borracha, como os shads e os grubs também mostraram grande eficiência com essas espécies, tanto que literalmente falando, cansei o braço nesses raros períodos de folga. Somando todo tempo que fomos para a água, deu pouco mais que um dia de pescaria, porém foi o suficiente para me deixar convicto de que se trata de uma época rica e que deve ser valorizada pelo pescador. Se por um lado a altura da água dificulta a localização do ponto de pesca, por outro, é estimulante o desfio de explorar todas as possibilidades que se apresentam. A pesca foi farta, divertida, e Revista Pesca 36 com espécies que nem sempre se encontra no período da seca. Uma experiência que valeu a pena e a certeza de que lá também se pesca, e bem, no período das cheias. P ARTICULARIDADES - Rio acima: Cerca de 15 minutos de navegação, ou seja até o final da primeira ilha. Neste trajeto, entrando no afluente Rio Santa Rosa (2 minutos à direita), Pacus Borracha e Matrinxãs estão à disposição dos pescadores enquanto houver água suficiente para uma navegação segura. - Rio baixo: Não há limite, mas com cerca de 1:00 a 1:30h de navegação, dependendo da época do ano, se atinge a grande e famosa Corredeira da Rasteira, com diversas ilhas, canais e muitos pedrais (período da seca), local intransponível para as voadeiras de pesca, mesmo quando as águas estão cheias. Para que os pescadores possam conhecer e pescar abaixo da corredeira, a pousada mantém de 2 a 3 bar- cos na parte baixa, junto a um pequeno barracão, onde também se pode almoçar ou mesmo passar uma noite, para aproveitar melhor o dia de pescaria. Este barracão esta em uma ilha e é por ela que os clientes atravessam da parte de cima para a parte de baixo. O caminho, com cerca de 3km é feito com a utilização de uma camionete. Os pescadores que preferem esticar as pernas podem curtir esse passeio dentro da mata amazônica. - Entre a pousada e Corredeira da Rasteira há uma infinidade de ilhas, canais, poços mais fundos, pedrais, corredeiras menores, que formam inúmeros pontos de pesca, sendo possível completar os seis dias de pesca sempre em lugares diferentes. Serviços Está matéria foi realizada no mês de abril de 2008, e para tanto, contamos com a hospitalidade e ótimas instalações Pousada Santa Rosa. Lá o pescador encontra toda infra-estrutura para realizar uma pescaria inesquecível: barcos com motores novos; guias experientes e bem treinados; hospedagem em apartamentos confortáveis; atendimento personalizado; diária com preços acessíveis, além de um cardápio saboroso capaz de despertar a gula de qualquer pessoa. Revista Pesca 37