A proteção dos animais será deixada com as corporações? Amanda Guimarães* Há duas histórias interessantes relacionadas à ética dos animais atualmente na mídia. Uma é a revelação das práticas nocivas que persistem em muitos matadouros britânicos – uma mistura de crueldade e descuido contrário às normas, mas que, apesar delas, acontece. A outra é a exposição dos efeitos negativos das leis de pesca da União Europeia. Procurando evitar a pesca excessiva, os barcos são proibidos de voltarem aos portos se ultrapassarem as quantidades determinadas de peixes, chegando mesmo a proibição total de pesca para certas espécies. .O problema é que isso leva a um comportamento perverso entre os barcos de pesca: a quantidade pescada é sempre um pouco aleatória e eles querem pescar o máximo possível. Então, muitas vezes, pescam peixes demais e jogam no mar o excesso (que geralmente já está morto). Sabe-se que isso resulta em até dois terços dos peixes capturados e jogados de volta à água (e eu adoraria saber qual é a média global). O que é particularmente interessante nessas histórias é que em ambos os casos se poderia esperar que os governos fossem os órgãos apropriados para prestar atenção aos problemas e rapidamente legislar de forma a melhorar os incentivos para que os matadouros e os pescadores não façam mais essas coisas horríveis. Afinal, o bem estar dos animais e os impactos ambientais da pesca em excesso não são novidades chocantes, e há ministros diretamente responsáveis por estes assuntos. Porém, em ambos os casos, foi necessário a cobertura da imprensa e a exaustiva exibição de vídeos dos incidentes para que alguém prestasse atenção, e, ainda assim, os primeiros a reagir foram os grupos de supermercados com grande poder de compra (os quais valorizam ter uma boa reputação ética). * Graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e bolsista do projeto Ética e realidade atual: o que podemos saber, o que devemos fazer (www.era.org.br). Meus pensamentos se dividem em duas vertentes. Primeiramente, um grande agradecimento às pessoas que se importaram fortemente o bastante para produzir estas filmagens e tomar uma atitude; aos supermercados por se movimentarem rapidamente no sentido de fortalecer seus códigos de ética de compras; e aos compradores que se importaram o suficiente para fazerem valer a pena as medidas adotadas pelos supermercados. Em segundo lugar, onde o governo está se omitindo nesses assuntos-chave de sofrimento em massa durante o abate e a pesca excessiva? Essas são questões obviamente importantes e para as quais é difícil obter um bom comportamento apenas através dos mercados (note, por exemplo, que muitos supermercados não vão aceitar esses acordos...). Eu de fato endosso a mudança dentro das empresas para se conformarem aos estatutos éticos, mas realmente espero que isso não venha acompanhado de um declínio nas ações do governo. Por Toby Ord http://blog.practicalethics.ox.ac.uk/2011/02/will-the-protection-of-animals-be-left-tocorporations/#more-1061.