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Nas últimas semanas tem-se sentido alguma preocupação do governo com o
ensino e a aprendizagem da matemática, bem como com indicadores acerca das
competências matemáticas que os alunos têm ou deveriam ter. Uma das medidas
anunciadas para resolver alguns dos problemas, já identificados, consiste em aumentar o
horário escolar para os alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico. Cumpre-me manifestar
agrado pelo facto de responsáveis governamentais reconhecerem que algo vai mal no
mundo da matemática e que é preciso fazer alguma coisa para que a situação seja
alterada.
A matemática é, e será, uma construção humana, que nasce, geralmente, em
contextos reais, organizando-se a partir de regras que têm como principal objectivo dar
resposta às necessidades e aspirações das pessoas, pelo que exige um permanente
estudo, crescimento e aprofundamento. Neste sentido, o grande passo a dar consiste em
fazer com que as pessoas reconheçam o valor efectivo da matemática e o contributo
positivo que pode ter nas suas vidas. Se admitirmos, que a cura das doenças depende do
tratamento adequado em tempo útil, poderemos aceitar que os problemas que afectam o
ensino, a aprendizagem e a utilização da matemática, também poderão ser resolvidos
desde que sejam atacados, adequadamente, em tempo útil.
Se a matemática vive connosco, porque razão não a consideramos como aliada?
Assim, se conseguirmos sentir e manifestar esta aliança, mostrar convictamente as suas
vantagens, partilhar os conhecimentos matemáticos e cultivar o prazer de a ensinar,
aprender e utilizar com afecto, e até com alguma paixão, estaremos a contribuir para
transformar um bem ignorado por alguns, num bem apetecível por todos.
À escola compete assegurar condições para se ensinar e aprender matemática e,
também, rentabilizar o tempo dos alunos na aquisição de conhecimento útil. Convém ter
presente que zero mais zero é igual a zero e que, não é por se adicionarem muitas
parcelas de valor zero que a soma assume valor mais elevado. Quantas crianças passam,
na escola, minutos, horas, dias e semanas em que o mais relevante das suas ocupações é
a sequência de momentos vazios, sem aumentarem o seu conhecimento ou competência
com alguma coisa que lhe possa ser útil à vida. Assim, pensamos que mais importante
do que acrescentar horas de permanência na escola será questionar o que se faz, ou
costuma fazer, nas horas que já existem.
Aprender supõe ampliar os conhecimentos que já possuímos com a integração
sucessiva de novos conhecimentos, defendendo-se que esta integração aconteça, sempre
que possível, em contexto real.
Vamos aproveitar o contexto do dia-a-dia para cultivarmos o gosto pela
matemática, salientando, como exemplo, a participação das crianças no processo de
aquisição de bens pelos encarregados de educação. Se uma criança acompanha os
encarregados de educação ao hipermercado, ao comércio tradicional ou à feira, terá
bastante prazer em colaborar com os adultos, quer escrevendo o nome dos produtos que
se pretendem comprar, quer registando ou executando cálculos, à mão ou com máquina,
procurando responder a questões como: O que pretendemos comprar? Quanto
pretendemos gastar? O dinheiro chega para todas as compras? Se não chega o que
vamos deixar de comprar? Onde são mais baratos? Onde têm maior qualidade? A
importância que vou ter de pagar pelo que comprei é igual à importância que calculei
para esses produtos? Não. Quem se enganou? Onde está o engano?
Os nossos educandos gostarão mais de nos ajudar a resolver estes pequenos
problemas, ou outros que envolvam o nosso dia-a-dia do que serem martirizados,
permanentemente, com a imposição de “tens de estudar”, pois nem sempre sabem o quê
Morais, C. (2005). Educação, ciência e tecnologia: Aprender a gostar de matemática. 0HQVDJHLURGH
%UDJDQoD, de 27 de Maio de 2005, p.8.
e para quê? Estudarem apenas porque têm fé nos estudos e porque os adultos insistem é
pouco para podermos ajudar a educar jovens competentes, participativos, cultos e livres.
Morais, C. (2005). Educação, ciência e tecnologia: Aprender a gostar de matemática. 0HQVDJHLURGH
%UDJDQoD, de 27 de Maio de 2005, p.8.
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