76d O ENSINO DA ANÁLISE CUSTO – VOLUME – RESULTADO: UMA PROPOSTA DE MELHORIA José Manuel de Matos Carvalho Professor Coordenador do ISCAC Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra Quinta Agrícola Bencanta 3040 – 316 Coimbra Portugal Área temática: D) Contabilidade e Controlo de Gestão Palavras Chave: Custeio de absorção, custeio variável, análise CVR, análise CVR em custeio de absorção, ensino da contabilidade de gestão. 1 O ENSINO DA ANÁLISE CUSTO – VOLUME – RESULTADO: UMA PROPOSTA DE MELHORIA Resumo Este trabalho sugere que o ensino da análise custo–volume–resultado (ACVR) não se tem ajustado, nomeadamente no custeio de absorção, aos desafios actuais (v. g. normalização contabilística, necessidades de gestão e espírito analítico e crítico do aluno). Propõe-se uma abordagem de matriz matemática, simples e profunda, centrada na margem de contribuição, rentabilidade, demonstração de resultados modelo, fazendo a interligação de sistemas de custeio e conceitos da ACVR e dando relevo ao gráfico MVR. No custeio de absorção apresenta-se uma perspectiva de gestão adequada à elaboração do relatório interno. Propõe-se ainda a actualização e uniformização terminológica e de siglas. 2 1 – Introdução Este trabalho (1) analisa eventuais desajustamentos entre o ensino da análise custo – volume – resultado (ACVR), feito em manuais de referência, e as necessidades da prática de contabilidade de gestão neste tema, e (2) propõe sugestões para a melhoria do ensino deste tema, nomeadamente, a inclusão da ACVR em custeio de absorção a par do custeio variável, suportada em base matemática, a abordagem feita de forma diferente, mais simples e profunda, uma visão integrada e sistematizada dos vários modelos de custeio e também a actualização e uniformização terminológica e de siglas. A ênfase dada a este trabalho é didáctica e pedagógica. O tema continua a ser ensinado nos manuais de forma bastante idêntica à que começou a ser ensinado na década de sessenta do século passado. Exceptuando Drury (2000), não apareceram inovações, nem tão pouco houve evolução sensível, quer a nível de matérias quer de abordagem (cf. Horngren, 1967 e Horngren et. al., 1994 e 2009). Por outro lado, a globalização neoliberal veio criar ambientes dinâmicos e instáveis que obrigam a uma gestão mais rigorosa e cuidada, antecipando riscos e servindo-se de informação contabilística de qualidade. Também a nível de normalização contabilística houve profundas alterações. Por exemplo, em 2010 entrou em vigor, em Portugal, o novo sistema de normalização contabilística (SNC) onde se indica com detalhe a forma de calcular o custo dos produtos, seguindo o custeio de absorção (v. g. NCRF 18 – Inventários). Também a Administração Fiscal opta pelo custeio de absorção no cálculo de custos de existências e na determinação do resultado. Acresce ainda que nas universidades norte-americanas há uma crise no ensino da contabilidade (Siegel e Sorensen, 1999 e Albrecht e Sack, 2000), com uma procura cada vez mais reduzida dos doutoramentos em contabilidade e onde se entende que a universidade não prepara os alunos devidamente para a vida activa por não desenvolverem determinadas capacidades (v. g. espírito crítico). Este fenómeno pode resultar de regras de acreditação de cursos e de desempenho de docentes em que se privilegiam os papers em detrimento do ensino. McNair e Richards (2008) refere a falta de professores de contabilidade “qualificados” e prenuncia a morte do professor devotado ao ensino (Death of the Teacher Scholar). Esta realidade de um país que segue na vanguarda pode ser prenunciadora do que virá a ocorrer noutros países, nomeadamente, em Portugal. Mesmo o próprio processo de Bolonha, cujo ensino é 3 centrado no aluno e nas suas necessidades, exige manuais que facilitem a aprendizagem e desenvolvam o espírito crítico. Portanto, o que se ensina e a forma como se ensina é importante para ajudar o aluno a criar boas condições para o desempenho da sua actividade futura. Pode-se estar a perder alguma paixão no ensino, própria de alguns professores que motivavam de forma entusiástica os seus alunos, fazendo-os ganhar gosto pela contabilidade e levando-os a seguir um percurso profissional ligado à contabilidade (idem). Pessoalmente defendo que em cada capítulo se deve fazer um breve resumo histórico sobre a matéria em análise. Assim, parece interessante perceber a evolução das ideias, através de autores e artigos publicados, sobretudo no século XX e em particular no terceiro quartel deste século. Perceber-se-á melhor a emoção e o calor da discussão na controvérsia entre o custeio variável e o custeio de absorção, uma vez que a ACVR é uma ferramenta que ajuda a clarificar este debate. O ensino deve preparar o aluno para a prática e tê-la sempre presente, formatando-o para as necessidades futuras. Assim, as sugestões poderão passar pela ACVR em custeio de absorção, numa abordagem integrada com o custeio variável e matematizada, que ajudará a desenvolver o espírito crítico e analítico do aluno. Portanto, melhorar a qualidade do ensino pode trazer diversas vantagens, quer em termos de prática, ao nível de relato financeiro, fiscal e de gestão, onde deve haver uma maior aproximação ao mundo real, quer em termos de ensino, ao nível da qualidade das matérias incluídas, profundidade e sistematização, e da criação e desenvolvimento de capacidades e talentos do aluno. A estrutura deste trabalho é a que segue. Após esta introdução é feita uma breve revisão de autores com artigos mais marcantes sobre o tema, para possibilitar a elaboração futura de uma breve análise histórica. Passa-se, depois, à análise de manuais da disciplina, todavia optou-se por analisar somente dois, um norteamericano e outro inglês, por razões adiante explicadas. Na parte nuclear do trabalho são apresentadas as propostas de melhoria suportadas numa abordagem de base matemática e integrada. Toma-se posição na controvérsia entre o custeio variável e o custeio de absorção. Finaliza-se com breves conclusões. 4 2 – Breve análise histórica de autores da ACVR No ensino destas matérias parece interessante a apresentação da sua evolução histórica. O aluno poderá compreender melhor as questões em causa e sentir a paixão do debate, na controvérsia entre os apoiantes do custeio variável e os apoiantes do custeio de absorção. Uma revisão que tome como base os trabalhos de Manes (1966), Dugdale e Jones (2003) e Weber (2000) e também os artigos publicados na revista The Accounting Review, seguramente a que mais concentrou aquela polémica, dará no futuro uma boa síntese. É interessante a comparação entre os artigos do terceiro quartel do século XX, totalmente diferentes dos actuais, em termos de estrutura, enfoque e extensão. Mas quem pensa que o debate morreu, poderá ficar surpreendido por ver que nos últimos cinco anos se continuou a escrever sobre o tema. Para o efeito consulte-se Baxter (2005), Dugdale e Jones (2005), Pong e Mitchell (2006), Baxendale, Boyd e Gupta (2006), Sopariwala (2007), Vercio (2008), Foster e Baxendale (2008) e Sopariwala (2009). A finalidade deste ponto não é apresentar aqui uma análise histórica, mas mostrar o interesse que terá no futuro a sua inclusão nos manuais. O estudo de autores como Lardner (1850), Garcke e Fells (1887), Hess (1903), Knoeppel (1930), Moran (1935), Harris (1936), Amerman (1954), Patrick (1958), Solomons (1968), Stallman (1979), Ajinkya et.al (1986), etc., e respectivos artigos permitirão dar a conhecer uma evolução histórica muito interessante. A análise destes artigos num mesmo país (EUA) permitiu comprovar a utilização de siglas totalmente diferentes para os mesmos termos. Facilmente se conclui que a uniformidade de siglas, no mesmo país ou conjunto de países, é vantajosa e permite aos alunos e profissionais uma maior facilidade de aprendizagem. Mais adiante debate-se esta questão das siglas. 3 – Análise de manuais de contabilidade de gestão O objectivo central deste ponto é analisar os manuais de referência de contabilidade de gestão da actualidade e comprovar se a ACVR é feita em custeio de absorção e qual a abordagem escolhida, tanto neste custeio como no variável. 5 Como as diferenças entre os vários manuais da actualidade não são muito significativas, optou-se pela análise de somente dois, uma vez que são os únicos que abordam a ACVR em custeio de absorção, de alguma forma. Os manuais escolhidos são Horngren et al. (2009) e Drury (2008). Para perceber a evolução das matérias ensinadas e da abordagem escolhida, compara-se cada um destes manuais com algumas das edições anteriores. Ambos os livros apresentam dois capítulos. Um para analisar e perceber a diferença de resultados entre os sistemas de custeio variável e o de custeio de absorção e outro do estudo da ACVR em custeio variável. Horngren et al. (2009) desenvolve a ACVR em custeio variável no capítulo 3 (ACVR) e apesar de chamar a atenção para o conceito de margem de contribuição (M), no cálculo do ponto crítico parte da equação em que o resultado operacional (R) é a diferença entre as vendas (V) e o gasto total (GT). Nos gráficos apresenta os do custo – volume - resultado (CVP graph) e o do volume – resultado (PV graph). Estranhamente não apresenta o gráfico da margem – volume – resultado (MVP graph) em que compara a margem de contribuição e os gastos fixos. Na abordagem que proponho, também centrada na margem de contribuição, o resultado operacional é a diferença entre a margem de contribuição (M) e os gastos fixos (GF). O manual faz também a ACVR para o resultado líquido (net income). Apresenta ainda os conceitos de vendas para resultado alvo (VRA), margem de segurança em valor (MS), em quantidade (QS) e em percentagem (ms) e o grau de alavancagem operacional (gao). Considera situações de multi-produto em que analisa o efeito de alteração do mix de vendas no resultado. Comparando com a 8ª edição (1994), as diferenças são mínimas. O título é ligeiramente diferente (relação em vez de análise) e não faz referência ao grau de alavancagem operacional. Quanto à 2ª edição (1967), apesar de naturalmente haver maiores diferenças que no caso anterior, a abordagem nuclear mantêm-se. Nesta edição não eram tratadas as situações multi-produto. No capítulo 9 (Custeio de Inventários e Análise de Capacidade) determina e explica as diferenças de resultados entre o custeio variável e o custeio de absorção, todavia não se serve da ACVR em custeio de absorção para explicar essas diferenças. Só faz a apresentação da determinação do ponto crítico em custeio de absorção. A 8ª edição é praticamente igual, sendo a maior mudança no título: Efeitos no Resultado de Métodos Alternativos de Custeio de Inventários. A 2ª edição tem diferenças, do qual se destaca 6 a falta do cálculo do ponto crítico das vendas em custeio de absorção, o que percebe pois o artigo de Solomons (1968) foi publicado posteriormente. Quanto à 7ª edição de Drury (2008) no capítulo 8 (ACVR) as críticas são idênticas às da 6ª edição (2004). Apesar de fazer uma abordagem matemática, fá-la ao nível da equação e não da função resultado com uma variável (vendas). Não é referido o grau de alavancagem operacional. No entanto, é interessante notar que na 5ª edição (2000) e na 6ª edição (2004) foi apresentada a ACVR em custeio de absorção, no apêndice deste capítulo e é calculado o ponto crítico de vendas e o ponto crítico de produção. Toda a parte restante deste capítulo na 7ª edição é idêntica à de edições anteriores. No capítulo 7 (Efeitos no Resultado de Sistemas Alternativos de Acumulação de Custos) é apresentada a função do resultado em custeio de absorção com duas variáveis independentes, vendas e produção. Esta função não constava da 4ª edição, 1996, (capítulo 9 – Custeio de absorção e custeio variável) e só surgiu a partir da 5ª edição. De referir que esta função do resultado não aparece em mais nenhum manual consultado. A principal crítica que se faz tem a ver com a ausência actual da ACVR em custeio de absorção, excepto Drury, e com a falta de abordagem plenamente sustentada na margem de contribuição, no caso da ACVR em custeio variável. 4 – Propostas de melhoria da ACVR As melhorias a introduzir situam-se a dois níveis, uma relativa à ACVR em custeio de absorção, que Drury apresenta, e outra relativa à ACVR em custo variável. Acrescentam-se ainda mais dois pontos, um que tem a ver com uniformização das siglas e definição de regras para estabelecer siglas e outro com a aproximação da teoria à prática, para que o aluno saiba resolver situações que ocorrem na prática. Nos desenvolvimentos que se seguem admitem -se as hipóteses consideradas para a ACVR (v. g. Horngren et al., 2009), designadamente a variação da produção em curso nula e a ausência de variações nos custos padrões, excepto de volume. 4.1 A ACVR em custeio variável 7 Este trabalho propõe uma nova abordagem para a ACVR em custeio variável, suportada numa base matemática e que tem como ponto de partida a demonstração de resultados modelo em custeio variável. Este ponto é desdobrado em dois, um para a análise matemática (funções e fórmulas) e outro para a análise gráfica. 4.1.1 Análise matemática em custeio variável Nesta análise foi introduzida uma actualização terminológica resultante do novo sistema de normalização contabilística (SNC). Por exemplo, em vez de custos totais, custos variáveis e custos fixos preferiram-se os termos gastos totais, gastos variáveis e gastos fixos. Também as siglas adoptadas nas fórmulas devem ser ajustadas ao SNC. Portanto, em vez de CT, CV e CF utilizou-se GT, GV e GF. Como neste modelo se admite que as quantidades vendidas (Qv) e produzidas (Qp) são iguais faz-se referência unicamente a quantidade (Q). Para se fazer o estudo da análise CVR em custeio variável convém partir de uma demonstração de resultados modelo, expressa em termos de valor, por unidade e relativo (percentagem das vendas): Valor Unitário (Valor / Quantidade) Relativo (Valor / Vendas) Vendas V pv 1 Gastos Variáveis GV guv gv Margem de Contribuição M mu m Gastos Fixos GF guf gf Resultado R ru r A apresentação em termos relativos poderia também ser feita com uma base 1 para a margem de contribuição. Também poderia ser criada uma coluna para a perspectiva do tempo, em que a base teria os 365 dias de vendas. Se o ponto crítico fosse, por exemplo, de 334 dias então a data do ponto crítico seria 30 de Novembro. A demonstração de resultados acima apresentada ajuda a pensar naquelas três perspectivas e de forma intuitiva dá a conhecer dezoito conceitos (inclui quantidade e três gastos totais) e trinta e sete fórmulas (9 + 9 + 10 + 9 = 37, respectivamente por adição, subtracção, multiplicação e divisão), possibilitando a compreensão das fórmulas desta relação CVR. Por exemplo, 8 R = V – GT ou mu = pv – guv ou M=m.V ou guv = GV / Q O raciocínio de base que os manuais apresentam centra-se na fórmula R = V – GT. No entanto, sou de opinião que a fórmula que se deve privilegiar, por traduzir a essência do custeio variável, é: R = M – GF. A função resultado fica Em valor R = m . V – GF R = f (V) Em quantidade R = mu . Q – GF R = f (Q) Em % das vendas r = m – GF / V r = f (V) Portanto, em custeio variável o resultado é função de uma única variável, as vendas. Daqui deduz-se o valor de vendas para o resultado alvo (VRA) ou valor de vendas gerador do resultado R (VR), a quantidade de vendas para resultado alvo (QRA) ou quantidade de vendas geradora do resultado R (QR) e a percentagem de vendas para resultado alvo (vra) ou percentagem de vendas geradora do resultado R (vr): Em valor VRA = VR = (GF + R) / m VR = f (R) Em quantidade QRA = QR = (GF + R) / mu QR = f (R) Em % de vendas vra = vr = (GF + R) / M vr = f (R) Como o ponto crítico das vendas (PCV) é o valor de vendas que gera o resultado nulo (V0), a quantidade crítica de vendas (PCQ) é a quantidade de vendas que gera o resultado nulo (Q0) e o ponto crítico das vendas em percentagem (pcv), também designado de rácio do ponto crítico das vendas, é a percentagem de vendas que gera o resultado nulo (v0). Em valor PCV = V0 = GF / m Em quantidade PCQ = Q0 = GF / mu Em % de vendas pcv = v0 = GF / M também ou v0 = gf / m ou v0 = guf / mu pcv = PCV / V Também podem ser usadas para calcular VRA, QRA e vra e naturalmente V0, Q 0 e v0, a margem de contribuição que gera o resultado R (MR), a margem de contribuição que gera o resultado zero (M0), que é igual aos gastos fixos, a margem de contribuição crítica em percentagem (m0) e a margem de contribuição crítica unitária (mu0). 9 Em valor VRA = VR = MR / m Em quantidade QRA = QR = MR / mu Em % de vendas vra = vr = Mr / M Em valor V0 = M0 / m Em quantidade Q0 = M0 / mu Em % de vendas v0 = M0 / M ou v0 = m 0 / m ou v0 = mu0 / mu São também importantes os conceitos de margem de segurança, em valor global (MS), em quantidade (QS) e em percentagem de vendas (ms), e de grau de alavancagem operacional (gao): MS = V – PCV QS = Q - PCQ ms = MS / V ou ms = 1 – pcv ou ms = R / M ou ms = r / m gao = M / R ou gao = 1 / ms ou gao = m / r ou gao = mu / ru Em vez de se privilegiar o cálculo do ponto crítico das vendas, que é um conceito importante, merece alguma atenção a análise da rentabilidade das vendas (r). Assim, r=R/V r = (R / M) . (M / V) r = m . ms então r = f (ms) A fórmula da rentabilidade das vendas (r) em função do rácio da margem de segurança (ms) é interessante e pouco usada nos manuais actuais. Por exemplo, um empresário se tiver um negócio em que a margem de contribuição é de 40% sabe que se a margem de segurança for de 10% então a rentabilidade das vendas será de 4% e se a margem de segurança for de 20% então a rentabilidade será de 8%. O resultado, em custeio variável, pode ser expresso de diversas formas com base naquela fórmula. Assim, a decomposição do resultado é dada por R = r . V = ms . m . V = MS . m = ms . M No total são vinte e oito conceitos em três níveis (18 + 6 + 4 = 28), respectivamente, demonstração de resultados modelo (resultado função das vendas), gastos totais (3), vendas função do resultado (VRA e V0) e outras (três de margem de segurança e gao). Estes conceitos podem ser agrupados em termos de valor, unitário e relativo. 10 É possível elaborar uma rede matricial de conceitos da ACVR que se exemplificará adiante. Esta rede de conceitos apoia-se em algumas das seguintes fórmulas: r=R/V ms = 1 / gao pcv = 1 – ms PCV = pcv . V A ACVR foi apresentada para o resultado operacional (R), no entanto também o poderia ser para o resultado corrente (RC) ou para o resultado líquido (RL). Conhecendo a taxa de impostos sobre lucros (t), a função RL é: RL = m . (1 – t) . V – GF . (1 – t). Considere-se a seguinte a demonstração de resultados em custeio variável, em que os valores globais e unitários são expressos em milhares de euros (m€ e m€/u): Valor (m€) Unitário (m€/u) Relativo (%) V 1000 pv 10 1 100 GV 600 guv 6 gv 60 M 400 mu 4 m 40 GF 200 guf 2 gf 20 R 200 ru 2 r 20 Então, a quantidade vendida e produzida foi de 100 u. A função resultado é Em valor R = 0,4 . V – 200 R = f (V) Em quantidade R = 4 . Q – 200 R = f (Q) Em % das vendas r = 0,4 – 200 / V r = f (V) O ponto crítico é dado por Em valor PCV = V0 = 200 / 0,4 V0 = 500 m€ Em quantidade PCQ = Q0 = 200 / 4 Q0 = 50 u Em % de vendas pcv = v0 = 200 / 400 ou v0 = 0,2 / 0,4 ou pcv = 500 / 1000 v0 = 2 / 4 pcv = v0 = 0,5 = 50% Admitamos que se pretende alcançar o dobro do resultado actual. Qual o volume de vendas para esse resultado alvo? Em valor V400 = 600 / 0,4 V400 = 1500 m€ Em quantidade Q400 = 600 / 4 Q400 = 150 u Em % de vendas v400 = 600 / 400 v400 = 1,5 = 150% 11 A margem de segurança é dada por MS = V – PCV MS = 1000 – 500 MS = 500 m€ QS = Q – PCQ QS = 100 – 50 QS = 50 u ms = MS / V ou ms = 1 – pcv ou ms = R / M ms = 500 / 1000 ou ms = 1 – 0,5 ou ms = 200 / 400 ou ou ms = r / m ms = 0,2 / 0,4 ms = 0,5 = 50% O grau de alavancagem é dado por gao = M / R ou gao = 1 / ms gao = 400 / 200 ou gao = 1 / 0,5 então gao = 2 A rentabilidade das vendas (r) em função da margem de segurança percentual é r = 0,4 . ms então r = 0,4 x 0,5 r = 0,2 = 20% A rede de conceitos da ACVR, em custeio variável, aplicada a este problema seria: DR modelo (9) 100 Unitário Valor 4 150 Outras (4) 50 50 Q ? mu ? ru ? QRA ? PCQ ? QS ? ? V ? M ? R ? 1000 400 Relativo 2 V f R (6) ? ? ? ? VRA ? PCV ? MS 200 1500 500 500 ? ? ? ? ? ? 1 ? m ? r ? 100% 40% 20% vra ? pcv ? ms ? gao 150% 50% 50% 2 ? r = 20% A decomposição da rentabilidade é dada pelo conjunto de fórmulas R = r . V = ms . m . V = MS . m = ms . M então R = 0,2 x 1000 = 0,5 x 0,4 x 1000 = 500 x 0,4 = 0,5 x 400 R = 200 m€ Em termos de cadeia de conceitos da ACVR pode-se afirmar que, no exemplo apresentado, a demonstração de resultados modelo indica vendas de 1000 m€, resultado de 200 m€ e rentabilidade das vendas de 20%. O ponto crítico das vendas é 12 de 500 m€, o ponto crítico das vendas em percentagem é de 50%, a margem de segurança em percentagem é de 50% e o grau de alavancagem operacional é de 2. Admitindo que o lucro apresentado no exemplo estava sujeito a imposto sobre lucros com uma taxa de 30%, então a função do resultado líquido (em valor) seria: RL = 0,28 . V – 140 então RL = 140 m€. 4.1.2 Análise gráfica em custeio variável A ACVR em custeio variável deve privilegiar a utilização do conceito da margem de contribuição. Assim, o gráfico deve ser o da MVR (Margem - Volume - Resultado) que compara a margem de contribuição com os gastos fixos. A Caixa MVL (Margem – Volume - Lucro) resulta directamente daquele gráfico e ajuda a deduzir fórmulas e a perceber de forma mais profunda o relacionamento CVR. Pode ser apresentada em termos de valores absolutos, valores unitários e em percentagem. No caso de valores absolutos, a Caixa MVL fica: V R M GF )α PCV MS A Caixa MVL permite, graças à trigonometria e à semelhança de triângulos, a dedução de fórmulas de forma fácil. Por exemplo, tg a = m = M / V = R / MS = GF / PCV V = PCV + MS M = GF + R Para o exemplo apresentado, a Caixa MVL em percentagens é a seguinte: 13 isto é, m = gf + r e pcv + ms = 1 4.2 A ACVR em custeio de absorção O estudo da ACVR deve ir além do custeio variável e naturalmente ser alargado ao custeio de absorção. À semelhança do ponto anterior também este se subdivide em dois, um para a análise matemática e outro para a análise gráfica. 4.2.1 Análise matemática em custeio de absorção Drury (2000) foi o primeiro manual de referência a apresentar a função do resultado em custeio de absorção padrão (Rap). A função, com o volume definido em quantidades, é a seguinte (Cf. Carvalho, 1993): Rap = (mu – GIF/ Qn) . Qv + (GIF / Qn) . Qp – GF Rap = f (Qv, Qp, Qn) Pode ser designada como a função do resultado em custeio de absorção padrão generalizado (CAPG). A partir desta função genérica de três variáveis é possível deduzir as funções de resultado em custeio de absorção padrão normalizado (CAPN), custeio de absorção real simplificado (CARS), com limitações , e custeio variável. Fazendo variar a quantidade normal (Qn) pode-se manipular o resultado. Daí que fosse designado de custeio de absorção criativo (CAC), apesar de não se tratar propriamente de um sistema de custeio. As variáveis destes sistemas e as condições a cumprir são as seguintes: CAPG Rap = f (Qv , Qp , Qn) CAPN Rap = f (Qv , Qp) Qn é uma constante 14 CARS Rars = f (Qv , Qp = Qn) CV Rvp = f (Qv = Qp = Qn) CAC Rac = f ( Qn) Qv e Qp são constantes Portanto, as funções são as seguintes (em quantidades): CAPN Rap = (mu – GIF/ Qn) . Qv + (GIF / Qn) . Qp – GF Rap = f (Qv, Qp) CARS Rars = mu . Qv – GIF . Qv / Qp - GNIF Rars = f (Qv, Qp) CV Rvp = mu . Qv – GF Rvp = f (Qv) A função resultado em custeio super-variável (CSV) é dada por (Cf. Carvalho, 1995) CSV Rsvp = (pv – gum – guniv) . Qv – (guiv – gum) . Qp - GF Rsvp = f (Qv , Qp) Fazendo Qv = Qp então obtém-se o resultado em custeio variável CV Rvp = mu . Qv – GF Rvp = f (Qv) A ligação entre os sistemas de custeio é a seguinte: 3 variáveis CAPG | 2 variáveis CSV CAPN CARS | 1 variável CV CAC Pode-se então afirmar que o custeio variável é um caso particular dos outros custeios quando Qv = Qp. Isto é, o custeio variável só é válido para situações em que a produção é igual às vendas. Não é válido para situações diferentes. O custeio de absorção padrão em valor fica: CAPN Rap = (m – GIF/ N) . V + (GIF / N) . P – GF Rap = f (V, P) A recta crítica é dada pelos pares de pontos (V e P) que satisfazem a equação Rap=0, isto é, (m – GIF/ N) . V + (GIF / N) . P = GF 15 Designando o valor de venda da produção real (P), o valor de venda da produção normal (N), o rácio da margem de contribuição da produção (mp) e o rácio da margem de contribuição unitária da produção (mup), isto é, P = pv . Qp N = pv . Qn mp = GIF / N e mup = GIF / Qn então a função do resultado fica: Quantidade Rap = (mu – mup) . Qv + mup . Qp – GF Rap = f (Qv, Qp) Valor Rap = (m – mp) . V + mp . P – GF Rap = f (V, P) Designando a margem de contribuição unitária de vendas (muv), o rácio da margem de contribuição de vendas (mv), a margem de contribuição de vendas (Mv), a margem de contribuição de produção (Mp) e a margem de contribuição de absorção (Ma), pelas siglas indicadas e sendo: muv = mu – mup ou mu = muv + mup mv = m – mp ou m = mv + mp Mv = muv . Qv ou Mv = mv . V Mp = mup . Qp ou Mp = mp . P Ma = Mv + Mp Então, Quantidade Rap = muv . Qv + mup . Qp – GF Valor Rap = mv . V + mp . P – GF Logo Rap = Mv + Mp –GF ou Rap = Ma –GF Esta abordagem permite uma análise em termos de gestão, em que a margem de contribuição de absorção, que se decompõe na de vendas e na de produção, é comparada com os gastos fixos, de forma idêntica à do custeio variável. Fazendo a diferença entre o resultado em custeio de absorção padrão e o resultado em custeio variável temos (em valor): Rap = m . V – mp . V + mp . P – GF Rvp = m . V – GF 16 Logo Rap – Rvp = mp . (P – V) A diferença de resultados, com base em quantidades, é Rap – Rvp = mup . (Qp – Qv) Esta diferença de resultados facilita a apresentação de uma demonstração de resultados única para ambos os sistemas de custeio e útil para fins de gestão (DR1): Vendas - Gastos variáveis V - GV Margem de contribuição (c. variável padrão) + Diferença de resultados (Rap – Rvp) M + mp . (P – V) Margem de contribuição de absorção - Gastos fixos Ma - GF Resultado operacional (c. absorção padrão) - Diferença de resultados (Rap – Rvp) Rap - mp . (P – V) Resultado operacional (c. variável padrão) Rvp Outra forma, passando do custeio de absorção ao variável, seria (DR2): Margem de contribuição de vendas (c. absorção padrão) + Margem de contribuição de produção (c. absorção padrão) Margem de contribuição de absorção - Gastos fixos Resultado operacional (c. absorção padrão) - Diferença de resultados (Rap – Rvp) Resultado operacional (c. variável padrão) mv . V + mp . P Ma - GF Rap - mp . (P – V) Rvp É possível ter uma terceira forma, partindo da demonstração de resultados do custeio variável e juntando a diferença de resultados destes custeios chegar ao resultado em custeio de absorção (DR3). Conhecida a função do resultado e definida uma determinada variável, por exemplo, a produção, é fácil calcular quais as vendas que determinam determinado resultado alvo (v. g. resultado nulo). Considere-se a seguinte demonstração de resultados modelo (em custeio variável): 17 Valor (€) Unitário (€/u) Relativo (%) V 250.000 pv 5 1 GIV 125.000 guiv 2,5 giv 50 MBV 125.000 mubv 2,5 mbv 50 GNIV guniv 0,5 gniv 10 25.000 100 M 100.000 mu 2 m 40 GIF 100.000 guif 2 gif 20 RGIF 0 rugif 0 rgif 0 GNIF 25.000 gunif 0,5 gnif 10 R - 25.000 ru - 0,5 r - 10 Considere-se ainda as seguintes produções (real e normal) Qp = 100.000 unidades e Qn = 125.000 unidades Em custeio de absorção padrão, a demonstração de resultados em formato tradicional é a seguinte (o custo unitário de produção é de 3,5 €/u): V 250.000 € GIPPV 165.000 MBR 85.000 Da 20.000 MBC 65.000 GNI 50.000 Rap 15.000 € Para a situação actual, as funções do resultado em custeio de absorção são: Quantidades Rap (Qv , Qp) = 1,2 Qv + 0,8 Qp – 125.000 Valor Rap (V , P) = 0,24 V + 0,16 P – 125.000 As funções do resultado em custeio variável são dadas por (pois Qv = Qp e V = P): Quantidades Rvp (Qv) = 2 Qv – 125.000 Valor Rvp (V) = 0,4 V – 125.000 O resultado do período em custeio de absorção padrão é Quantidades Rap (50000 u , 100000 u) = 60.000 + 80.000 – 125.000 = 15.000 € Valor Rap (250000 € , 500000 €) = 60.000 + 80.000 – 125.000 = 15.000 € 18 O resultado do período em custeio variável é Quantidades Rvp (50000 u) = 100.000 – 125.000 = - 25.000 € Valor Rvp (250000 €) = 100.000 – 125.000 = - 25.000 € A diferença de resultado surge de Rap – Rvp = mp . (P – V) ou Rap – Rvp = 0,16 x (500000 – 250000) Rap – Rvp = mup . (Qp – Qv) ou Rap – Rvp = 0,8 x (100000 – 50000) Rap – Rvp = 40.000 € As demonstrações de resultados integradas dos custeios de absorção e variável (DR1 e DR2) são Valor Unitário % Valor Unitário % V 250000 5 100 Mv 60000 1,2 24 GV 150000 3 60 Mp 80000 1,6 32 M 100000 2 40 Ma 140000 2,8 56 Dif. R +40000 + 0,8 +16 GF 125000 2,5 50 Ma 140000 2,8 56 Rap 15000 0,3 6 GF 125000 2,5 50 Dif. R - 40000 - 0,8 - 16 Rap 25000 0,3 6 Rvp - 0,5 - 10 Dif. R - 40000 - 0,8 - 16 Rvp - 15000 - 0,5 - 10 - 25000 Há uma pergunta crítica que importa fazer: A empresa teve lucro ou prejuízo? A minha resposta é que a empresa teve lucro. O custeio variável só é adequado para situações de produção e vendas idênticas, o que não é o caso. O prejuízo apresentado no custeio variável corresponde a uma situação de produção de 50.000 unidades e vendas de 50.000 unidades. Para esta situação o custeio de absorção daria também o mesmo resultado. Na verdade, a situação actual não foi aquela, mas de 100.000 unidades de produção e 50.000 unidades de vendas a que corresponde uma situação de lucro de 15000 €. Na minha óptica o custeio de absorção é superior ao custeio variável, por representar melhor a diversidade de situações de produção e vendas. Defendo o custeio de absorção que deve ser utilizado no relatório interno. É curioso verificar que tradicionalmente os académicos apoiam o custeio variável por o entenderem mais adequado à gestão das empresas enquanto na prática é adoptado o 19 custeio de absorção, preterindo claramente o custeio variável. Sendo o autor um académico é, também, curioso constatar que apoia o custo de absorção por o julgar mais adequado e abrangente. Considera que o custeio variável só é válido quando a produção e as vendas são iguais, pois é um caso particular do custeio de absorção. 4.2.2 Análise gráfica em custeio de absorção Alguns manuais na ACVR apresentam as demonstrações de resultados em folhas de cálculo. Ora com esta ferramenta é fácil obter tabelas do resultado em custeio de absorção com bases em volumes de vendas e de produção que permitem a obtenção de gráficos tridimensionais em que o resultado é função das vendas e da produção. A função resultado em custeio de absorção do nosso exemplo é Rap = 1,2 Qv + 0,8 Qp – 125000 e é representada pelo seguinte gráfico: 20 4.3 Regras para estabelecer siglas Por uma questão de com preensibilidade, para se escolherem as siglas tem todo o interesse que se defina um conjunto de regras a nível nacional, que até pode ser alargado, se possível, a nível da mesma língua. Parece interessante criar a nível mundial nesta e noutras disciplinas um conjunto de regras para a produção de siglas, para toda e qualquer disciplina, tendo em conta o ganho de tempo e de qualidade da aprendizagem de alunos e profissionais. Em disciplinas afins (v. g. contabilidade e economia) devem ser escolhidas as mesmas siglas para os termos comuns. Antes de se escolherem as siglas é bom que haja consenso terminológico. No caso português o novo sistema de normalização contabilística (SNC) veio introduzir uma nova terminologia, por vezes discutível. Contudo deve ser adoptada de imediato na prática e no ensino. Penso que deve ser melhorada, através de uma discussão cuidada. O consenso de siglas deve ser posterior ao consenso terminológico que deveria ser alargado, se possível, ao conjunto de países que falam a mesma língua. Devem ser definidos critérios para a definição de regras na escolha das siglas. Sugiro os seguintes: • Amigável (Friendly); • Curta; • Valores absolutos em letras maiúsculas e unitários e relativos em minúsculas • Letras maiúsculas e minúsculas para valores absolutos em períodos diferentes ou diferentes sistemas de custeio • Explicitar opções, quando duas soluções são válidas. Neste último caso, para representar, por exemplo, a margem de contribuição em custeio variável escolhi a letra M em vez de MC. Prefiro gasto unitário variável (guv) a gasto variável unitário (gvu). A existência inicial de matérias-primas pode ser representada por MPi em vez de IiMP ou EiMP. 4.4 Aproximação da teoria à prática Deve também ser feito um esforço de aproximação da teoria à prática. Uma hipótese que na análise CVR, normalmente, não se explicita, mas se admite, é de que a 21 variação da produção em curso é nula. Ora na prática isso pode não suceder. Assim , recomendar-se-ia que os alunos resolvessem um problema em que a variação da produção em curso fosse diferente de zero. Esta hipótese, muito real, recomenda precisões terminológicas e conceptuais, também com implicações na escolha das siglas. O processo de bola de neve em que se parte de um custo originário e se chega a um gasto do produto vendido, passando por diferentes fases, deve ser clarificado e explicitado, para se perceber a evolução dos custos variáveis e fixos naquelas fases. Todos os custos e variações de inventários devem ser desdobrados em variáveis e fixos. Em termos conceptuais de análise de custos variáveis e fixos sugiro nove níveis de custo resultantes daquelas fases, a saber: 1 – Custo originário (Contabilidade financeira) 2 – Diferenças de incorporação (inclui custos supletivos) 3 – Custos reais do período no período (Contabilidade de gestão C = CIV + CIF + CNIV + CNIF) 4 – Diferenças de imputação (periodificação e imputação) 5 – Custo industrial do produto no período (v. g. CI= CIVPP + CIFPP) 6 – Variação do inventário de produtos e trabalhos em curso (?PTC = ?PTCV + ?PTCF) 7 – Custo industrial da produção acabada (CIPA = CIVPA + CIFPA) 8 – Variação do inventário de produtos acabados (?PA = ?PAV + ?PAF) 9 – Gasto industrial da produção vendida ou Gasto industrial (GI = GIPV = GIV + GIF) Até à entrada em vigor do SNC o gasto industrial da produção vendida era designado por Custo industrial da produção vendida (CIPV). A separação tradicional, por uma necessidade de valorização de existências, de custos do produto e custos do período introduz alguma confusão quando se tem de calcular o custo de um produto, tanto acabado como em curso, no período. Como é sabido, o custo da produção de Janeiro é diferente do custo da produção dos produtos concluídos em Janeiro. Deve ser feita uma distinção entre custos no período (v. g. mês) e custo do período (v. g. gasto). No caso de a variação anual de inventários, quer de produtos e trabalhos em curso quer de produtos acabados, ser diferente de zero, então os custos industriais fixos (do nível 3) a considerar na demonstração de resultados anual em custeio variável são CIF, isto é, a totalidade é considerada como custo do período. No custeio de absorção, a parte industrial fixa incluída nos gastos industriais dos produtos vendidos (antigo CIPV e actual GI ou GIPV) terá um valor maior, igual ou menor de CIF, conforme a 22 produção seja maior, igual ou menor que as vendas. A consideração da parte fixa da variação do inventário de produtos e trabalhos em curso no custeio de absorção vai afectar o cálculo do Custo industrial da produção acabada (CIPA) e do seu custo unitário e também logicamente do gasto industrial do produto vendido (GI), dando no final obviamente um resultado diferente do custeio variável. No custeio de absorção, as diferenças de imputação dos custos industriais são consideradas como custos do período, desde que não haja rateio das diferenças de imputação pelos produtos vendidos e em inventário (proration). Devem ser separadas as componentes variáveis e fixas das diferenças de imputação. Parece, assim , importante que os alunos realizem trabalhos sobre estas matérias com aspectos susceptíveis de ocorrer na vida real (v. g. variação de produtos e trabalhos em curso diferente de zero). 5 – Conclusões Este trabalho pretende ser um contributo para melhoria do ensino da ACVR, tanto em custeio variável como em custeio de absorção. Chama a atenção para a necessidade da inclusão do custeio de absorção neste tema e também sugere a utilização de uma abordagem diferente no custeio variável que desenvolva o espírito crítico do aluno. A abordagem através da margem de contribuição deve ser plenamente explorada, indo desde a análise matemática até à análise gráfica. Mais do que indicar matérias que poderão acrescentadas às actuais, a preocupação nuclear deste trabalho é a abordagem a adoptar, tendo presentes princípios de simplicidade e profundidade. A utilização da demonstração de resultados modelo é uma poderosa ferramenta para a aprendizagem, pois desenvolve de forma automática dezenas de fórmulas e funções. A valorização da ACVR em custeio de absorção permite responder às exigências de normalização contabilística, fiscal e de gestão (v. g. relatório interno). Neste tema deve ser tida em conta a nova realidade do SNC (v. g. NCRF 18) e das normas internacionais, de modo a normalizar termos, conceitos, siglas e respectivas regras, em Portugal e, se possível, noutros países de língua portuguesa. 23 Neste trabalho foi apresentada a opinião do autor favorável ao custeio de absorção. Penso que as empresas devem usar o custeio de absorção dividindo os custos em variáveis e fixos e definindo a produção normal, de modo a determinar os custos e resultados. No final de cada período poderão utilizar o custeio variável, como ferramenta simples e poderosa, mas também conscientes das suas limitações. Penso que o custeio de absorção é um sistema adequado para medir o resultado e que pode e deve ser utilizado tanto para o relatório interno como para o relatório externo. Bibliografia Albrecht, W. e Sack, R. (2000) Accounting Education: Charting the Course through a Perilous Future. Accounting Education Series, Vol. 16, EUA Baxendale , S., Boyd, L. e Gupta, M. (2006) The Absorption Costing / Inventory Management Conumdrum, Cost Management, vol. 20, n. 6, Novembro / Dezembro, EUA Baxter, W. (2005) Direct Versus Absorption Costing: A Comment, Accounting Business & Financial History, vol. 15, nº 1, Março, p. 89 - 91 Carvalho, J. 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