Prezadas Juliana Bublitz e Lizie Antonello: Lendo a reportagem publicada na página 30 de Zero Hora desta quarta-feira (6 de março), sobre os desdobramentos da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, fomos apanhados por um sentimento de preocupação em relação à interpretação errônea a que pode ser levado o leitor da entrevista do Promotor de Justiça signatário, em face da descontextualização (erigida em título da entrevista) de um desabafo comovido externado no curso do diálogo que se estabeleceu entre entrevistado e entrevistador. Portanto, de pronto e à guisa de esclarecimento, reafirma-se, não houve omissão ou falha na condução das questões referentes àquele estabelecimento anteriores ao incêndio de 27 de janeiro. Pelo contrário, todas as possíveis irregularidades que chegaram ao conhecimento da Promotoria de Justiça de Santa Maria e que estiveram sob a responsabilidade do signatário foram, ao seu tempo, averiguadas e atacadas, a fim de que os problemas fossem solucionados. Evidentemente que falar sobre um incidente que provocou a morte de 240 pessoas comove e emociona a todos que estejam minimamente envolvidos com o fato. Não foi diferente na entrevista concedida a este periódico e que resultou na matéria em questão. Entretanto, repetese, destacar em título a manifestação "se eu sonhasse que isso iria acontecer, teria ido lá e fechado", que carrega o sentimento de qualquer ser sensível diante de tamanha desgraça, sugere o desatendimento de dever funcional que, definitivamente, não corresponde à realidade. Por isso, lamentamos profundamente que a partir da manifestação comovida do entrevistado crie-se um ambiente no qual seja possível imaginar ou sugerir erro institucional pelo fato de aquela casa ter permanecido em funcionamento, a despeito da condição inadequada, agora materializada com a perda de tantas vidas. Não obstante, reiteramos nosso apreço e respeito pelo trabalho desenvolvido por este valoroso veículo de comunicação, bem como nossa disposição em colaborar, sempre, para o esclarecimento da sociedade acerca de todos os assuntos demandados à Instituição do Ministério Público. Atenciosamente Ricardo Lozza, Promotor de Justiça. Victor Hugo Palmeiro de Azevedo Neto, Presidente da AMPRS