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26/01/2006
Movimentos Sociais
Universidade fecha as portas ao Fórum de Caracas
Francisco Carlos Teixeira - Carta Maior
CARACAS – A Universidade Central de Venezuela (UCV) é uma das mais antigas
das Américas. Criada ainda no período colonial como Real Y Pontifícia Universidad
de Venezuela, foi refundada por Bolívar como Universidade Central de Venezuela.
Mas nesta quarta-feira (26), o espírito de Bolívar esteve ausente do campus
universitário.
Com ótimas instalações, em meio ao parque que abriga um monumental conjunto
arquitetônico – de concepção de Carlos Raul Villareal e declarado patrimônio da
humanidade pela Unesco –, a UCV foi escolhida para hospedar algumas atividades do
FSM. Entre estas estava o painel “Hipóteses pós-neoliberais na América Latina”,
programado pelo Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre, com
debatedores de Equador, México, Brasil, Bolívia e Uruguai.
O FSM acolheu a proposição, incluindo-a em suas atividades e no programa oficial,
vastamente divulgado. No horário correto reuniram-se às portas do Teatro
Universitário os debatedores e o público, com gente vinda do Uruguai, Argentina,
México, Bélgica, Índia, Estados Unidos, Chile e da própria Venezuela.
Contudo, a portaria do teatro avisava livremente que o evento havia sido cancelado e
que os organizadores haviam desistido de realizá-lo. Entretanto, de viva voz, os
próprios organizadores afirmavam que estavam presentes e prontos para a realização
do evento. Surgiam então explicações do fechamento das portas do teatro, mudando de
tom e de caráter. Para um alto funcionário da UCV, “(...) o FSM não mantinha boas
relações com a Universidade”.
Um pouco depois, em face da insistência do público em realizar o evento, uma senhora
– autodeclarada responsável pela gestão cultural da UCV – oferecia outra explicação:
“(...) em face das aposentadorias de funcionários, e não havendo reposição, não
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possuíam pessoal para cuidar do teatro, abri-lo ao público”. Enfim, a culpa era do
Governo Chávez... Insistimos em assumir os cuidados do teatro, ao que se opôs outras
explicações: “(...) o pessoal de cultura do teatro é privatizado, e a universidade não vai
pagá-los para um evento do FSM”.
Só neste momento entendemos com clareza o significado das faixas de protestos
fixados às paredes, cobrando respostas do reitor Antonio Paris e do diretor cultural
Domingo Garcia. Por todo o mezanino do teatro, faixas proclamavam: “La cultura no
és negocio!”, ou “Auditoria Ya!”, como também “Señor Rector: destape la olla
podrida de la direción de la cultura”.
Perguntamos aos funcionários do que se tratava tal protesto e a resposta, ríspida, foi:
“É um assunto interno, que nada interessa a imprensa ou ao FSM”. Isso numa
universidade pública. No entanto, conversando com os estudantes, soubemos que as
instalações de cultura e esportes da UCV, financiadas por dinheiro público, estavam
sendo privatizadas, vedando o acesso aos estudantes, incluindo-se aí as equipes
atléticas da própria UVC.
A crise entre a UCV e o governo Chávez, além de ter respingado sobre o FSM, levou,
há dois anos, a criação da Universidade Bolivariana de Venezuela, visando a
democratização e a expansão do ensino superior no país.
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