5 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATEROSCLEROSE NA ADOLESCÊNCIA ATHEROSCLEROSIS’S RISK FACTORS IN ADOLESCENTS JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz1; SCHMITZ, Wanderlei Onofre²; MENDES, Rita de Cássia Dorácio². Resumo A aterosclerose favorece o aparecimento das doenças cardíacas e pode ser influenciado por hábitos alimentares errôneos, como os dos adolescentes que consomem lanches, guloseimas e alimentos considerados por eles prazerosos em quantidades elevadas. O objetivo deste trabalho foi identificar os fatores de risco para aterosclerose em adolescentes de uma escola particular de Dourados, MS, Brasil. Estudo descritivo transversal com 55 alunos matriculados na 1ª Série do Ensino Médio. Foram coletados dados socioeconômicos, peso, altura, pressão arterial, pregas cutâneas subespacular e triciptal, circunferência abdominal, colesterol total e frações, triglicerídeos e hábitos alimentares. Como resultado, verificou-se que a prevalências de sobrepeso e obesidade foram 20% e 9,09% respectivamente. Verificou-se valores aumentados do colesterol total em 23,64%; colesterol LDL em 7,26%, ambos principalmente no sexo feminino e do triglicerídeo em 1,82%. Por outro lado, em relação ao colesterol HDL, 43,64% apresentaram níveis abaixo do recomendado. Entre os participantes, 27,27% foram classificados como sedentários, 10,91% apresentaram risco cardiovascular; 18,81% dos participantes apresentaram gordura corporal acima do desejável. Em relação aos níveis pressóricos, 16,36% apresentaram préhipertensão, 7,27% HA estágio 1 e 3,63% HA estágio 2. Considerando a idade da população estudada, conclui-se que a hiperlipidemia, hipertensão arterial, alta porcentagem de gordura e presença de risco cardiovascular associados a fatores modificáveis, como a sedentarismo e hábitos alimentares, justifica a realização de ações preventivas, na mudança do hábito alimentar e o incentivo à prática esportiva para corrigir alterações laboratoriais e antropométricas encontradas nesta pesquisa. Palavras-chave: adolescente, dislipidemia, doença cardiovascular, hipertensão, índice de massa corporal. Abstract Atherosclerosis favours the emergence of heart disease and e can be influenced by erroneous eating habits, such as adolescents who consume snack food sweets and foods considered tasty by the in high quantities. The objective of this work was to identify the risk factors of atherosclerosis among adolescents from a private school in Dourados, MS. Brasil. In this cross-sectional study which comprised 55 students rolled at the first grade. Information such as socio-economic datas, weight, hight, blood pressure, triceps and subscapular skinfold thicknesses, abdominal circumference, concentrations of cholesterol (CT), LDL (low density lipoprotein) e HDL (high density lipoprotein) fractions, triglyceride levels and food habits were collected. As a result it was found that the prevalence of overweight was 20% and obesity was 9,09%. It was verified that 23,64% of the participants presented high levels of cholesterol, 7,26% presented blood levels inferior than recommended. Concerning all participants, 27,27% were sedentary and among them 58,33% had low blood levels of HDL. 10,91% presented cardiovascular risk; 18,81% of the sample presented body fat above desirable. Regarding blood pressure, 16,36% presented pre hypertension, 7,27% hypertension at stage 1 and 3,63% hypertension at stage 2. Considering the age range of the study, in conclusion to that, hyperlipemia, hypertension, high percentage of body fat and cardiovascular risk associated with modified factors such as sedentharism and food habits justify preventive actions, such as change of food habits and the encouragement of physical activity as tough to correct blood levels and anthropometrics alterations verified in this research. Key-words: adolescents, dyslipidemia, cardiovascular disease, hypertension, Body mass index. 1 Nutricionista formada pelo Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN, Dourados – MS, Brasil ² Docente do curso de nutrição, Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN, Dourados – MS, Brasil . JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz; SCHMITZ, Wanderlei Onofre; MENDES, Rita de Cássia Dorácio. 6 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 Introdução A adolescência é uma etapa evolutiva compreendida entre os 10 e 20 anos de idade, caracterizada por grandes transformações fisiológicas, morfológicas, mentais, emocionais, além do aumento das necessidades energéticas. Este processo de amadurecimento é influenciado por vários fatores genéticos, ambientais, nutricionais e psicológicos (GAMBARDELLA et al., 1999; VITOLO, 2008). Além das mudanças físicas e biológicas, o adolescente tem de lidar com as mudanças sociais e psicológicas, que conduzirão a uma nova relação para com o mundo em geral. Todas estas transformações que ocorrem intensamente durante a adolescência interferem no comportamento alimentar (CIAMPO; TOMITA, 2007). Atualmente, devido à mudança no estilo de vida das famílias, os adolescentes passam muito tempo fora de casa, o que acarreta uma alimentação facilitada, repleta de fast-foods, salgadinhos, bolachas, comidas congeladas, entre outros. Esta falta de tempo contribui com as omissões de refeições realizadas. Isso, associado ao fato de que o adolescente é um indivíduo completamente imediatista, ou seja, vive o momento atual intensamente, e não se preocupa com um futuro próximo, que pode ser preenchido por patologias resultantes de excessos cometidos durante a juventude (GAMBARDELLA et al., 1999). O potencial de uma dieta ou de um alimento em aumentar os níveis de colesterol sérico e em promover aterosclerose está diretamente relacionado ao seu conteúdo de colesterol e de gordura saturada (FORNÉS et al., 2002). Já foi verificado que a aterosclerose pode ter sua origem na infância e adolescência, e o seu ritmo de progressão está relacionado à presença de fatores de risco identificados no adulto. Portanto, a investigação da presença destes fatores de risco durante o período da adolescência é de extrema importância para uma intervenção precoce (ESCRIVÃO, 2009; SANTOS et al., 2008). A aterosclerose é um processo dinâmico que se desenvolve nas artérias musculares médias e grandes e em artérias elásticas. É uma doença inflamatória crônica de origem multifatorial que ocorre em resposta à agressão endotelial, acometendo principalmente a camada íntima de artérias de médio e grande calibre (SPOSITO et al., 2007; SILVA; MURA, 2007). Caracteriza-se pelo acúmulo de material lipídico (colesterol, fosfolipídeos e cálcio), lesões conhecidas como ateromas ou placas ateromatosas ou fibrogordurosas no espaço intra e extracelular na camada íntima do endotélio, obstruindo assim o lúmen vascular, o que contribui para perda de elasticidade e diminuição do fluxo sanguíneo (ROBBINS; COTRAN, 2005). As estrias gordurosas são as lesões iniciais da aterosclerose, porém como não são muito elevadas, não causam alteração significativa no fluxo sanguíneo. Estas estrias surgem em aortas de crianças com menos de um ano, e em todas as crianças com mais de 10 anos, independente da geografia, sexo, raça ou ambiente. Estas mesmas estrias gordurosas coronarianas começam a se formar durante a adolescência nos locais mais propensos ao desenvolvimento de placas. Isto, porém, não quer dizer que uma estria necessariamente se tornará uma placa nos estágios posteriores da vida (FRANÇOSO, COATES, 2002; ROBBINS, COTRAN, 2005). A formação da placa aterosclerótica começa com a agressão ao endotélio devida aos fatores de risco associados como a dislipidemia, hipertensão arterial, tabagismo, entre outros. Estas placas surgem primeiro nas artérias elásticas e nas musculares de grande e médio calibre. Em consequência, ocorre disfunção endotelial, resultando em um aumento da permeabilidade as lipoproteínas, em particular a lipoproteína de baixa densidade (LDL) que possui elevados conteúdos de colesterol. Estas lipoproteínas são JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz; SCHMITZ, Wanderlei Onofre; MENDES, Rita de Cássia Dorácio. 7 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 modificadas através de oxidação, desencadeando processos imunológicos (FRANÇOSO; COATRES, 2002). Durante as fases iniciais da aterogênese, as células expressam em sua superfície moléculas de adesão leucocitária, estas moléculas se ligam precisamente aos tipos de leucócitos, monócitos e linfócitos T, que estão presentes nos ateromas humanos iniciais. Estes leucócitos migram então para o espaço subendotelial onde transformam-se em macrófagos, que captam lipoproteínas, principalmente LDL oxidadas, tornando-se assim, células espumosas, que são o principal componente das estrias gordurosas. Essas, por sua vez, contribuem para o aparecimento das lesões iniciais da aterosclerose. Ocorre proliferação das células musculares e da matriz extracelular, o que leva ao acúmulo de colágeno e proteoglicanos e maior acúmulo de lipídeos no interior e exterior das células, este depósito ocorre de maneira proporcional à concentração de lipoproteínas no plasma. Os processos inflamatórios medeiam o estabelecimento, a progressão e as complicações das lesões ateroscleróticas. Portanto, os elementos que formam a placa aterosclerótica desenvolvida são os celulares, componentes da matriz extracelular e núcleo lipídico. Por isso a placa apresenta um núcleo rico em colesterol e capa fibrosa rica em colágeno. Nas placas estáveis predomina o colágeno, já nas instáveis há processo inflamatório intenso. A ruptura desta placa expõe material lipídico, o que pode ocasionar a aterotrombose, uma das manifestações clínicas da aterosclerose (IV DIRETRIZ BRASILEIRA SOBRE DISLIPIDEMIAS E PREVENÇÃO DA ATEROSCLEROSE, 2007). Inúmeros estudos mostram o aparecimento da aterosclerose já na infância pelo aumento do colesterol plasmático. Estas alterações presentes na adolescência tendem a continuar na vida adulta (CORONELLI; MOURA, 2002; MOURA et al., 2000; PELLANDA et al., 2002; TEIXEIRA et al., 2007). Os fatores de risco tendem a se agregar, portanto, normalmente aparecem associados no mesmo indivíduo, e esta associação aumenta a probabilidade de eventos cardiovasculares, pois um fator reforça o outro (WEFFORT; LAMOUNIER, 2009). Em crianças e adolescentes, a hipertensão arterial sistêmica é conceituada pelas V Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2006) como uma síndrome caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados associados a alterações metabólicas, hormonais e a fenômenos tróficos, que consistem na hipertrofia cardíaca e vascular. A hipertensão é um dos principais agravos à saúde no Brasil. Apresenta custos médico-social elevado decorrente de suas complicações. A elevação da pressão arterial representa um fator de risco independente e suas estatísticas são alarmantes. No Brasil, em 2003, 27,4% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares. Entre os fatores de risco para mortalidade, hipertensão arterial explica 40% das mortes por acidente vascular cerebral e 25% daquelas por doença coronariana (GOMES; ALVES, 2009; V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2006). Outro ponto a se considerar são as recentes alterações nos hábitos de vida, e principalmente alimentares, que contribuem para o aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes (COSTA, 2007). A obesidade é uma doença crônica, com altos percentuais de recidivas, com sérias repercussões orgânicas. A chance da criança e do adolescente obesos permanecerem obesos na idade adulta é muito grande, aumentando a chance para o desenvolvimento de diversas doenças (ESCRIVÃO et al., 2000). Para Escrivão (2009) e Silva; Mura (2007) a obesidade é um dos importantes fatores que aumentam o risco cardiovascular, pois o excesso de gordura corporal favorece o aparecimento de JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz; SCHMITZ, Wanderlei Onofre; MENDES, Rita de Cássia Dorácio. 8 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 anomalias metabólicas e de doenças cardiovasculares através da resistência à insulina, que é a diminuição da captação de glicose pelos tecidos periféricos. O excesso de gordura visceral está associado à produção de citocina e mediadores que reduzem a sensibilidade à insulina no músculo. Outros produtos próinflamatórios associados ao fator de necrose tumoral α (TNF-α) e aos ácidos graxos livres afetam a ação insulínica. O adipócito produz o fator trombótico, inibidor do ativador do plasminogênio 1, que inibe a geração de plasmina gerando um estado de hipofibrinólise que favorece a ocorrência de acidentes vasculares. Além disto, o excesso de peso contribui para a redução da produção de adiponectina (Acrp30), que está relacionado ao aumento da sensibilidade insulínica. Esta redução da sensibilidade à insulina gera uma resposta compensatória do pâncreas, que aumenta a produção da insulina, ocasionando a hiperinsulinemia compensatória (SILVA; MURA, 2007; ROBBINS; COTRAN, 2005). Todas estas alterações favorecem o aumento crônico da pressão arterial e o desenvolvimento da dislipidemia diabética, caracterizado pelo aumento dos triglicerídeos e redução de HDL-C. O colesterol total e o LDL-C podem aparecer normais ou levemente alterados, porém as partículas de LDL-C são menores e mais aterogênicas (SILVA; MURA, 2007). Por isso deve se relevar a necessidade de medidas de promoção de saúde para esta faixa etária, a importância da identificação de crianças e adolescentes de risco cardiovascular e o desenvolvimento de propostas de intervenção sobre todos os fatores de risco cardiovascular. Desse modo, o presente estudo teve como objetivo verificar o perfil sócioeconômico e o estado nutricional; interpretar os resultados dos exames laboratoriais (colesterol total e frações e triglicerídeos); avaliar o consumo alimentar e identificar os fatores de risco relacionados à chance de desenvolvimento de aterosclerose entre os adolescentes. Material e Métodos Foi realizado um estudo quantitativo, descritivo e transversal, na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil. Foi selecionada uma escola particular, e todos os alunos da primeira série do ensino médio, totalizando 227 estudantes, foram escolhidos para compor a amostra de 55 estudantes escolhidos por conveniência. O estudo foi aprovado integralmente pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade da Grande Dourados e os responsáveis pelos adolescentes que autorizaram a participação dos mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os adolescentes responderam ao questionário com informações sobre a renda mensal da família, escolaridade dos pais, número de pessoas que moram na casa, condições de habitação. Foi considerada baixa renda as famílias que tiveram a renda per capita mensal inferior a ¼ do salário mínimo de acordo com Colin e Fowler (1999), nível de instrução considerado baixo para aqueles pais que não estudaram nem um ano, ou que tinham o ensino fundamental incompleto, condições de saneamento básico precário quando na residência não há coleta de lixo, água tratada ou esgoto. Os dados antropométricos coletados foram peso, estatura, circunferência abdominal, e porcentagem de gordura corporal, por meio das pregas cutâneas triciptal e subescapular, todas as aferições foram realizadas por estudantes de nutrição treinados. Foi utilizado para avaliação antropométrica: o Índice de Massa Corpórea (IMC), calculado a partir da divisão do peso em quilogramas pela estatura em metro elevado ao quadrado (Kg/m2); os resultados foram comparados com a curva de IMC/Idade percentilar (WHO, 2006) para avaliação de adolescentes, que classifica em: menor que percentil 3 ≤ baixo peso; > 3 e ≤ 85 eutrófico; > 85 e ≤ 97 sobrepeso; > 97 obesidade (WHO, 2007). JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz; SCHMITZ, Wanderlei Onofre; MENDES, Rita de Cássia Dorácio. 9 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 A medição da circunferência abdominal (CA) foi avaliada segundo os valores recomendados para meninos e meninas, expressos em percentis da circunferência abdominal em adolescentes, sendo que uma medida superior ao percentil 95 foi considerada como presença de fatores de riscos para desenvolvimento de doenças cardiovasculares e outras complicações metabólicas associadas ao excesso de peso (VITALLE; MEDEIROS, 2008). Para a estimativa da quantidade de gordura corporal foi aferido as pregas tricipital e subescapular. Os valores obtidos foram comparados com padrões de referência em percentis. Segundo sexo e idade, sendo valores entre o percentil 10 e 90 são consideráveis desejáveis; percentil 5 e 10 indicam pouca quantidade de gordura corporal e valores entre percentil 90 e 95 indicam quantidade de gordura corporal acima do desejável (VITALLE; MEDEIROS, 2008). A pressão arterial (PA) nos adolescentes foi classificada de acordo a V DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, (2006). Os níveis séricos de Colesterol Total (CT) e frações e Triglicerídeos (TG) foram analisados conforme os valores de referência para CT aumentado ≥ 170 mg/dL, LDL-C aumentado ≥ 130 mg/dL, HDL-C diminuído ≤ 45 mg/ dL e TG ≥ 130 mg/dL (I DIRETRIZ DE PREVENÇÃO DA ATEROSCLEROSE NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA, 2005). Para a análise do consumo alimentar dos adolescentes foi utilizado um questionário contendo perguntas sobre mastigação, local e número das refeições, hábito de consumir alimentos fora das principais refeições e consumir líquido durante as refeições. Estas variáveis foram analisadas segundo Philippi (2008) que recomenda que a alimentação seja dividida em 6 (seis) refeições, sendo realizadas em local apropriado, tranquilo e confortável. Aconselha-se mastigar devagar os alimentos e não consumir líquidos durante as refeições. Para a determinação do consumo de energia, macronutrientes e colesterol foi utilizado um Questionário de Freqüência Alimentar Semi-quantitativo (QFA), que caracteriza-se por especificar o tamanho de uma porção de referência como parte da pergunta (FISBERG et al., 2005). Na elaboração do questionário utilizou-se tabelas de composição de alimentos (TACO, 2006; FRANCO, 2007) para seleção de alimentos fonte de ácidos graxos (monoinssaturado, poliinsaturado e saturado). Os dados coletados no QFA foram calculados, ou seja, as quantidades consumidas em medida caseira foram transformadas para gramas consumidas diariamente de cada alimento. O consumo dos alimentos em gramas foi calculado, com o auxílio do software Programa de avaliação e prescrição nutricional – AvaNutri, desenvolvido por Avanutri Informática Ltda, a quantidade energética e lipídica consumida. A quantidade de energia consumida foi utilizada para calcular a porcentagem de lipídio consumida, sendo que desta recomendação de acordo com IOM (2002) os lipídeos devem corresponder a 25 – 35 % da recomendação de energia e colesterol dietético menor que 200 mg/dia. Resultados e Discussão Foram convidados todos os estudantes da 1ª Série do Ensino Médio da Escola particular de Dourados, os que os pais autorizaram por meio da assinatura do TCLE assinados foram convidados a participar da coleta de dados. A amostra foi composta por 55 estudantes, sendo 50,9% (n=29) do sexo feminino e, 49,09% (n=26) do sexo masculino. Analisando as características sóciodemográficas das famílias destes adolescentes, nenhuma apresentou baixa renda, per capita mensal inferior a ¼ do salário mínimo e apenas 16,36% apresentaram renda per capita mensal inferior a 1 salário mínimo. Dentre os pais aproximadamente 9% (n=5) apresentaram JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz; SCHMITZ, Wanderlei Onofre; MENDES, Rita de Cássia Dorácio. 10 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 baixa escolaridade e 38,18% não possuíam esgoto nas residências retratando precárias condições de saneamento. Os resultados são inferiores aos encontrados por Santos Jr et al. (2006) que verificou que 76,5% das mães relataram baixa escolaridade e 81,1 % renda inferior a 5 salários mínimos, provavelmente porque o presente estudo foi realizado somente em uma escola particular. Os antecedentes familiares relatados pelos adolescentes foram diabetes mellitus (47,27%), hipertensão arterial (45,45%), cardiopatias (25,45%), colesterol inadequado (23,64%), obesidade (16,36%), triglicerídeo elevado (9,09%) e 7,27% outras patologias. Relataram também que 25,45% dos pais são fumantes e 21,82% etilistas. Em relação aos antecedentes pessoais foram citados hipertensão arterial, diabetes mellitus e colesterol alterado (5,45%), triglicerídeo elevado (3,64%) e por fim obesidade e cardiopatias (1,86%). Entre os adolescentes 7,27% relataram já ser tabagistas e 10,91% etilistas. De acordo com Moura et al. (2000) a história patológica da família evidencia a susceptibilidade genética do indivíduo para o desenvolvimento de doenças. E já em estudo feito por Romaldini et al. (2004) entre as crianças que apresentaram história familiar de doença cardiovascular, 41,1% já apresentavam um ou mais fatores de risco para a aterosclerose. Outras queixas freqüentes foram descritas pelos adolescentes 25,45% cefaléia, 9,09% azia, 9,09% constipação intestinal, 5,45% relataram gases, 3,64% distensão abdominal, 1,82% vômito e 1,82% diarréia. Sendo queixas do trato gastrointestinal, ressalta-se a importância da avaliação da alimentação destes jovens. Quanto aos hábitos alimentares, o questionário revelou que 70,91% têm o hábito de beliscar, 65,45% dos adolescentes realizam as refeições em frente ao computador, 54,55% realizam as refeições assistindo televisão, 54,55% realizam no máximo três refeições por dia e 36,36% relataram mastigação rápida. Segundo Philippi (2008) estes comportamentos induzem o consumo exagerado de alimentos e favorece o consumo de guloseimas e Barbosa (2009) considera que estes fatores favorecem o aumento da incidência de obesidade e da aterosclerose. De acordo com os valores de IMC percentilar para adolescentes (Tabela 1), 67,27% (n=37) da amostra estavam eutróficos, e foram encontradas taxas de prevalência de 3,64% (n=2) para estudantes com baixo IMC para a idade, 20% (n=11) para sobrepeso e 9,09% (n=5) para obesidade, sendo estes, mais prevalentes no sexo masculino. A maioria dos estudantes, 74,54% (n=41), apresentou porcentagem de gordura corporal desejável, porém 18,18% (n=10) apresentaram quantidade de gordura corpórea acima do desejado e 7,27% (n=4) apresentaram pequena quantidade de gordura corpórea. O excesso de gordura foi mais prevalente entre o sexo masculino, 23,08% (n=6), do que entre o sexo feminino, que apresentou prevalência de 13,79% (n=4). Relacionando a porcentagem de gordura com o diagnóstico nutricional, dentre os adolescentes com porcentagem de gordura elevada 50% (n=5) eram obesos e 30% (n=3) apresentavam sobrepeso. O percentual de sobrepeso e obesidade encontrado no presente estudo foi superior ao valor de 8,4% de sobrepeso e 3,1% de obesidade relatado por Ribeiro et al. (2006), assim como o relatado por Franca; Alves (2006) que encontrou 4% de sobrepeso e também ao verificado por Vieira et al. (2008) que encontrou 4% de sobrepeso e 3% de obesidade. Segundo a circunferência abdominal (CA) (Tabela 1), 10,91% (n=6) da amostra apresentaram risco cardiovascular, e este foi semelhante em relação ao sexo, com uma prevalência de 10,34% (n=3) para o sexo feminino e 11,54% (n=3) para o sexo masculino. Entre os participantes que apresentaram risco cardiovascular 83,33% (n=5) eram obesos e 16,67% (n=1) apresentaram sobrepeso. JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz; SCHMITZ, Wanderlei Onofre; MENDES, Rita de Cássia Dorácio. 11 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 Tabela 1 – Dados antropométricos alimentares de adolescentes da 1ª Série do Ensino Médio da Escola Anglo de Dourados, MS AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA Masculino (26) Feminino(29) Todos (55) n (%) n (%) n (%) Diagnóstico Nutricional Baixo Peso 1 (3,84) 1 (3,45) 2 (3,64) Eutrofia 16 (61,54) 21 (72,41) 37 (67,27) Sobrepeso 6 (23,08) 5 (17,24) 11 (20,0) Obesidade 3 (11,54) 2 (6,90) 5 (9,09) Composição Corpórea Adequada 18 (69,23) 23 (79,31) 41 (74,55) Excesso de gordura 6 (23,08) 4 (13,79) 10 (18,18) Baixa quantidade 2 (7,69) 2 (6,9) 4 (7,27) Risco Cardíaco Não 23 (88,46) 26 (89,66) 49 (89,09) Sim 3 (11,54) 3 (10,34) 6 (10,91) 1 Valores são expressos como número de adolescentes e porcentagens, ( )= número de adolescentes por grupo. Em relação ao perfil lipídico, somente 41,81% (n=23) não apresentaram nenhuma alteração, caracterizado por níveis mais elevados de colesterol HDL e níveis mais baixos de triglicerídeos, colesterol total e colesterol LDL. Constatou-se que, 23,64% (n=13) de todos os sujeitos tinham níveis elevados de colesterol total, 7,27% (n=4) apresentaram níveis elevados de colesterol LDL e 1,82% (n=1) apresentaram níveis de triglicerídeos aumentados. Já em relação ao colesterol HDL, 43,64% (n=24) da amostra apresentaram níveis abaixo do recomendado (Tabela 2). Tabela 2 – Prevalência de dislipidemias em adolescentes da 1ª Série do Ensino Médio da Escola Anglo de Dourados, MS PREVALÊNCIA Masculino (26) Feminino(29) Todos (55) n (%) n (%) n (%) Colesterol Total (mg/dL) ≥ 170 3 (11,54) 10 (34,48) 13 (23,64) < 170 23 (88,46) 19 (65,52) 42 (76,36) HDL (mg/dL) ≤ 45 15 (57,69) 9 (31,03) 24 (43,64) > 45 11 (42,31) 20 (68,97) 31 (56,36) LDL (mg/dL) ≥ 130 1 (3,85) 3 (10,34) 4 (7,27) < 130 25 (96,15) 26 (89,66) 51 (92,73) Triglicerídeos (mg/dL) ≥ 130 1 (3,85) 1 (1,82) < 130 25 (96,15) 29 (100) 54 (98,18) 1 Valores são expressos como número de adolescentes e porcentagens, ( As taxas de prevalência de alteração do colesterol total obtidas neste estudo (23,64%) foram semelhantes as verificadas por Almeida et al. (2007) e Santos Jr. et al. ) = número de adolescentes por grupo. (2006), mas foram mais elevadas do que as observadas por Franca e Alves (2006) 6%, Seki et al. (2001) 13,4% e Giuliano et al. (2008) 10%. Já em relação a prevalência de JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz; SCHMITZ, Wanderlei Onofre; MENDES, Rita de Cássia Dorácio. 12 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 HDL inadequado, a encontrada no presente estudo (43,64%) é maior do que as relatadas por Ribeiro et al. (2006) 17%, Seki et al. (2001) 14,3%, Santos Jr et al. (2006) 3,8% e por Giuliano et al. (2008) 5%, mas é inferior a descrita por Faria et al. (2008) 49%. No que se refere aos níveis pressóricos, 38,46% (n=10) dos adolescentes do sexo masculino apresentaram alterações dos valores de pressão e 17,24% (n=5) das adolescentes do sexo feminino. Dentre os que tiveram alteração dos valores de pressão, 27,27% (n=15), segundo a classificação da V Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, (2006), 16,36% (n=9) apresentaram préhipertensão, 7,27% (n=4) apresentaram hipertensão arterial estágio 1 e 3,63% (n=2) apresentaram hipertensão arterial estágio 2. Em estudo realizado por Gomes e Alves (2009) foi encontrada uma prevalência de hipertensão igual a 17,3%, inferior a encontrada no presente estudo, mas foi mais prevalente no sexo masculino do que feminino, assim como este estudo. Analisando a correlação das variáveis estudadas com o IMC dos adolescentes (Tabela 3), foi verificada uma correlação fraca (r=0,33) com o aumento da pressão sistólica, do colesterol total (r=0,31) e do LDL (r=0,36). Já em relação ao IMC e aumento da circunferência de cintura houve uma correlação forte (r=0,87), ou seja, quanto maior o IMC maior a circunferência abdominal. Não apresentaram correlação com o IMC os valores da pressão diastólica, HDL e do triglicerídeo. Tabela 3 – Correlação entre fatores de risco IMC r p Circunferência Abdominal 0,87 <0,0001* Pressão Sistólica 0,33 0,01 Pressão Diastólica 0,18 0,19 Colesterol total 0,31 0,02 HDL -0,15 0,27 LDL 0,36 0,007* Triglicerídeo 0,13 0,35 r= coeficiente de correlação (Spearman). Os resultados estatisticamente significativos são assinalados com (*). Avaliando o consumo alimentar dos adolescentes, por meio do QFA (Tabela 4), ambos os sexos consumiram mais alimentos ricos em lipídios do que a distribuição de energia recomendada (25 a 35%) e também, consumiram colesterol muito acima do recomendado (200md/dL), 92,73% (n=51) consumiram excesso de colesterol. Dentre os alimentos ricos em colesterol mais consumidos foram carne bovina, frango, leite integral, queijo mussarela e iogurte. Tabela 4 – Avaliação da alimentação dos adolescentes Gênero Energia Consumida % de Lipídio da (Kcal) Alimentação (26) 2943,17 ± 1613,14 44,98 ± 7,33 Masc. (29) 3163,08 ± 2403,63 43,03 ± 4,87 Fem. 3059,12 ± 2052,49 43,95 ± 6,17 Todos(55) Colesterol Consumido 680,58 ± 775,59 600,03 ± 614,16 638,11 ± 689,73 ( ) = número de pacientes por grupo; médias ± desvio-padrão. Valores de consumo excessivo de lipídios também foram encontrados por Carmo et al. (2006) 36,7% e por Kazapi et al. (2001) 39%. Já segundo Garcia ET al. (2003) 53% dos adolescentes do sexo masculino e 41% do sexo feminino apresentaram consumo elevado de colesterol, ou seja, valores inferiores ao encontrado neste estudo. Analisando a correlação do consumo de energia (r= -0,14), porcentagem de lipídio (r=0,05) e colesterol consumido (r= 0,16) com o valor do colesterol total, não apresentaram correlação JUNQUEIRA, Camila Ramalho da Silva Diniz; SCHMITZ, Wanderlei Onofre; MENDES, Rita de Cássia Dorácio. 13 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 Conclusão A maioria dos estudantes apresentou hábitos alimentares muito aquém do desejável, como a ingestão excessiva de colesterol, que é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da aterosclerose. Associado ao sedentarismo, e a hábitos que interferem na saúde posterior geral do indivíduo e são muito freqüentes nesta idade, como realizar refeições em frente ao computador, televisão e beliscar entre as refeições, o que ocasiona um balanço energético positivo, acarretando assim a taxa preocupante de sobrepeso e obesidade obtida neste estudo. Consequentemente, estas alterações apareceram juntamente a níveis elevados de pressão arterial, colesterol total, LDL e baixos níveis de HDL. Pode ser visto neste estudo, uma sinalização de que as dislipidemias, sobrepeso, obesidade e inatividade física concomitantes são uma realidade preocupante e estes precisam ser investigados entre a população jovem. Por fim, os dados obtidos neste estudo relevam a importância do desenvolvimento de outros estudos que envolvam adolescentes para que assim se tenha o diagnóstico e tratamento precoce. E além disto, que se passe a desenvolver uma prevenção em relação às doenças cardiovasculares, em forma de programas visando a população em geral. Referências Bibliográficas ALMEIDA, C. A. N. et al. abdominal circumference as an indicator of clinical and laboratory parameters associated with obesity in children and adolescents: comparison between two reference tables. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v. 83, n. 2, p. 181-185, 2007. BARBOSA, V. L. P. Prevenção da obesidade na infância e na adolescência. 2 ed. Barueri, SP: Manole, 2009. 182 p. CARMO, M. B. et al. Consumo de doces, refrigerantes e bebidas com adição de açúcar entre adolescentes da rede pública de ensino de Piracicaba, São Paulo. Revista Brasileira de Epidemiologia São Paulo, v. 9, n.1, p 121-130, março, 2006 CIAMPO; I. R. L. D; TOMITA, I. Nutrição do adolescente In: MONTEIRO, J. P; CAMELO JÚNIOR, J. S. Caminhos da nutrição e terapia nutricional: da concepção à adolescência. 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