CARBONÍFERA, TERÇA-FEIRA, 26 DE ABRIL DE 2011
4 REGIÃO
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EM BUSCA DE QUALIDADE
REPORTAGEM ESPECIAL
Os caminhos da educação
Série de reportagens mostrará a realidade do ensino na Região Carbonífera
VIVIANE BUENO
Rodrigo Ramazzini e Viviane Bueno
O resultado de recente pesquisa realizada pelo Ibope mostrou que 46% dos
gaúchos consideram que o investimento
na área de Educação é o fator primordial
para contribuir no desenvolvimento do
Estado. Se tal percepção também refletir
a opinião dos moradores da Região
Carbonífera, bem como o crescimento
dos municípios daqui, que passa por
essa área, é preciso voltar com certa
urgência as atenções para o ensino,
pois os indicadores educacionais mostram números preocupantes. Para melhor traduzir essa realidade, nesta edição o Jornal Portal de Notícias inicia
uma série de reportagens que abordará a Educação na região.
De acordo com os resultados do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), realizado no ano de
2009, a Região Carbonífera tem muito a
se preocupar com Educação. O desempenho médio obtido pela região entre as
escolas participantes da avaliação ficou
abaixo da média Estadual e Brasileira (Ver
Raio-X da Educação), tanto no ensino
fundamental- anos iniciais, como nos
anos finais de estudo. Se não bastasse
apenas esse indicador, outros índices
acompanhados mostram distorções gritantes, principalmente com o restante do
Rio Grande do Sul.
Para o secretário estadual de Educação, José Clóvis de Azevedo, a reversão
desses indicadores na Região
Carbonífera, bem como a melhoria na qualidade da Educação no RS, passam por
investimentos em diversos pontos e a criação de novas práticas, como explanou
recentemente em entrevista.
- A melhoria da qualidade física das escolas, a modernização com acessos a novas tecnologias, melhora e qualifica os
espaços, colocando as redes de comunicação ao acesso de nossos professores e
alunos. A outra questão é criar uma cultura de estudo, investigação e formação
permanente de nossos educadores e a
necessidade de atualização-, explica.
O secretário ressaltou, ainda, a questão profissional, com o pagamento do
piso nacional integrado no básico dos
professores e a regularização da situação
funcional com concursos, promoções e
outras questões pendentes.
Conforme o Censo Escolar de 2010, a
estrutura educacional da Região
Carbonífera conta com 136 escolas entre
as redes municipal, estadual, federal e
particular, e a atuação de 1950 professores nas quatro esferas. Tudo para
atender um universo de mais de 33 mil
alunos nos diferentes níveis de escolaridade.
Análise
Maria Francisca Lopes Johnson,
pedagoga e coordenadora do curso de
Pedagogia da Ulbra São Jerônimo, em documento enviado à redação do Portal de
Notícias, sob o título Problemas da escola pública: o que podemos fazer, fez
um diagnóstico dos problemas enfrentados rotineiramente nos estabelecimentos
de ensino da Região Carbonífera, apontando ações que possam melhorar a qualidade da educação. Leia o artigo ao lado.
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De acordo com os
resultados do
último Índice de
Desenvolvimento
da Educação
Básica (Ideb),
realizado em 2009,
o desempenho
médio obtido pela
região entre as
escolas
participantes da
avaliação ficou
abaixo da média
Estadual e
Brasileira
Artigo
Problemas da escola pública: o que podemos fazer
Maria Francisca Lopes Johnson*
Na condição de professora da rede pública durante mais de 30 anos, sempre fui
testemunha de muitas dificuldades nas escolas, em todos os sentidos: precariedade
nas instalações físicas, carências no acervo
das bibliotecas, falta de professores e burocracia no processo para a nomeação ou
contratação dos mesmos. Esses e outros
problemas vêm persistindo, com maior ou
menor intensidade, ao longo dos anos.
Parafraseando o grande Nelson
Rodrigues, sempre digo aos meus alunos
na Universidade que na escola encontramos “A vida como ela é”. Lá conhecemos
um retrato fiel da situação de nossa sociedade, com todas as suas peculiaridades. É
difícil a tarefa de educar, pois a profissão
exige uma série de habilidades para lidar com
as incontáveis variáveis que desafiam o
professor diariamente em sala de aula. E ainda assim, a carreira de professor continua a
não ter a sua importância reconhecida. Uma
das provas disso é que ainda hoje é possível encontrar quem não concluiu ou mesmo
não frequentou um curso de licenciatura
trabalhando com crianças e adolescente
ávidos pela aprendizagem.
Voltando a pensar em nossas escolas,
acredito que muitos problemas poderiam ser
resolvidos de maneira mais simples, não apenas pelos nossos governos, mas por todos
os atores de cada comunidade escolar.
Os sistemas de ensino devem cumprir as
suas responsabilidades, preenchendo lacunas existentes em relação ao ambiente escolar e aos recursos materiais e humanos.
As escolas precisam ter salas que comportem a quantidade de alunos prevista, sem
que se criem situações embaraçosas por falta de carteiras, espaço ou de um mínimo de
conforto. Os móveis e instalações devem
estar em boas condições. Isso significa que
as escolas públicas municipais, estaduais ou
federais, em qualquer nível, deveriam ser pintadas e ter suas mobílias reformadas ou substituídas quando necessário. Um ambiente de
ensino e aprendizagem agradável gera contentamento e satisfação, que resultam em
maior comprometimento e disposição para o
trabalho. Isso serve para professores, funcionários e também estudantes.
São indispensáveis os investimentos em
bibliotecas, laboratórios de ciências e salas
de informática e que sejam projetos perenes e
não temporários ou eleitoreiros. A informática
transformou os computadores nas grandes
estrelas dos projetos de renovação e atualização das escolas. A necessidade de a escola
acompanhar o desenvolvimento tecnológico
da sociedade é urgente. Para isso, é preciso
que se criem meios para que os profissionais
da educação se apropriem desses novos conhecimentos e saibam aplicá-los da forma
mais efetiva possível. É de grande importância que possamos nos mobilizar para uma
grande inclusão digital em nossas comunidades. Mas não devemos descuidar das crianças que não conseguiram aprender a ler, escrever, fazer cálculos simples ou ter noções
de ciências e estudos sociais que lhes permitam acesso pleno à cidadania, à ética e à dignidade humana. As bibliotecas devem sempre estar atualizadas e apoiadas por projetos
de leitura que efetivamente resultem no
letramento dos educandos, futuros cidadãos
atuantes. Monteiro Lobato já dizia que “um
país se faz com homens e livros”.
A formação continuada dos professores
também deve ser priorizada. As novas teorias
da educação devem ser colocadas em discussão para que sejam compreendidas e utilizadas pelos profissionais da educação,
desconstruindo o mito de que a teoria não se
aplica na prática de sala de aula. Com o apoio
25/4/2011, 21:09
de novos conhecimentos, a relação entre
os professores e os alunos irá, com certeza,
melhorar muito. A sala de aula tornar-se-á
um lugar muito mais agradável e produtivo
graças ao estímulo das novas técnicas e saberes dos profissionais da educação.
Uma outra atitude importante seria mudar a cultura escolar em relação aos minutos
destinados ao recreio dos alunos, transformando-os em recreios monitorados e assistidos por professores de diferentes disciplinas. Ao invés de ser um tempo nulo para o
desenvolvimento dos alunos, que tal partidas de xadrez, damas, tênis de mesa, dominó
ou atividades artísticas, por exemplo? Uma
biblioteca com jornais e revistas pode agradar aos estudantes que queiram um pouco
mais de informação, silêncio e paz. Uma prática orientada e bem organizada de variadas
modalidades esportivas é outra boa opção
para direcionar melhor a energia das crianças e adolescentes e, quem sabe, descobrir
novos talentos.
Como nos diz João Luís de Almeida Machado, doutor em Educação pela PUC-SP,
“os custos para tudo isto não são grandes,
pois são menores do que quando iniciamos
novos projetos a cada quatro anos e jogamos todo o trabalho anterior na lata do lixo
por ter sido desenvolvido pela gestão anterior, da oposição. Manter, preservar e investir de forma ponderada e constante na
educação custa menos do que tentar
reinventar a roda a cada quatro anos. Ao
invés de tentar salvar o doente com paliativos, cuidar da saúde da escola com medidas preventivas, de forma homeopática,
pode ser uma resposta muito mais simples
e, certamente, eficiente.
(*) pedagoga e coordenadora do curso de Pedagogia da Ulbra São Jerônimo
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Problemas da escola pública: o que podemos