CARBONÍFERA, TERÇA-FEIRA, 26 DE ABRIL DE 2011 4 REGIÃO [email protected] - (51) 3651.4041 EM BUSCA DE QUALIDADE REPORTAGEM ESPECIAL Os caminhos da educação Série de reportagens mostrará a realidade do ensino na Região Carbonífera VIVIANE BUENO Rodrigo Ramazzini e Viviane Bueno O resultado de recente pesquisa realizada pelo Ibope mostrou que 46% dos gaúchos consideram que o investimento na área de Educação é o fator primordial para contribuir no desenvolvimento do Estado. Se tal percepção também refletir a opinião dos moradores da Região Carbonífera, bem como o crescimento dos municípios daqui, que passa por essa área, é preciso voltar com certa urgência as atenções para o ensino, pois os indicadores educacionais mostram números preocupantes. Para melhor traduzir essa realidade, nesta edição o Jornal Portal de Notícias inicia uma série de reportagens que abordará a Educação na região. De acordo com os resultados do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), realizado no ano de 2009, a Região Carbonífera tem muito a se preocupar com Educação. O desempenho médio obtido pela região entre as escolas participantes da avaliação ficou abaixo da média Estadual e Brasileira (Ver Raio-X da Educação), tanto no ensino fundamental- anos iniciais, como nos anos finais de estudo. Se não bastasse apenas esse indicador, outros índices acompanhados mostram distorções gritantes, principalmente com o restante do Rio Grande do Sul. Para o secretário estadual de Educação, José Clóvis de Azevedo, a reversão desses indicadores na Região Carbonífera, bem como a melhoria na qualidade da Educação no RS, passam por investimentos em diversos pontos e a criação de novas práticas, como explanou recentemente em entrevista. - A melhoria da qualidade física das escolas, a modernização com acessos a novas tecnologias, melhora e qualifica os espaços, colocando as redes de comunicação ao acesso de nossos professores e alunos. A outra questão é criar uma cultura de estudo, investigação e formação permanente de nossos educadores e a necessidade de atualização-, explica. O secretário ressaltou, ainda, a questão profissional, com o pagamento do piso nacional integrado no básico dos professores e a regularização da situação funcional com concursos, promoções e outras questões pendentes. Conforme o Censo Escolar de 2010, a estrutura educacional da Região Carbonífera conta com 136 escolas entre as redes municipal, estadual, federal e particular, e a atuação de 1950 professores nas quatro esferas. Tudo para atender um universo de mais de 33 mil alunos nos diferentes níveis de escolaridade. Análise Maria Francisca Lopes Johnson, pedagoga e coordenadora do curso de Pedagogia da Ulbra São Jerônimo, em documento enviado à redação do Portal de Notícias, sob o título Problemas da escola pública: o que podemos fazer, fez um diagnóstico dos problemas enfrentados rotineiramente nos estabelecimentos de ensino da Região Carbonífera, apontando ações que possam melhorar a qualidade da educação. Leia o artigo ao lado. [email protected] [email protected] Portal_383.p65 4 De acordo com os resultados do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), realizado em 2009, o desempenho médio obtido pela região entre as escolas participantes da avaliação ficou abaixo da média Estadual e Brasileira Artigo Problemas da escola pública: o que podemos fazer Maria Francisca Lopes Johnson* Na condição de professora da rede pública durante mais de 30 anos, sempre fui testemunha de muitas dificuldades nas escolas, em todos os sentidos: precariedade nas instalações físicas, carências no acervo das bibliotecas, falta de professores e burocracia no processo para a nomeação ou contratação dos mesmos. Esses e outros problemas vêm persistindo, com maior ou menor intensidade, ao longo dos anos. Parafraseando o grande Nelson Rodrigues, sempre digo aos meus alunos na Universidade que na escola encontramos “A vida como ela é”. Lá conhecemos um retrato fiel da situação de nossa sociedade, com todas as suas peculiaridades. É difícil a tarefa de educar, pois a profissão exige uma série de habilidades para lidar com as incontáveis variáveis que desafiam o professor diariamente em sala de aula. E ainda assim, a carreira de professor continua a não ter a sua importância reconhecida. Uma das provas disso é que ainda hoje é possível encontrar quem não concluiu ou mesmo não frequentou um curso de licenciatura trabalhando com crianças e adolescente ávidos pela aprendizagem. Voltando a pensar em nossas escolas, acredito que muitos problemas poderiam ser resolvidos de maneira mais simples, não apenas pelos nossos governos, mas por todos os atores de cada comunidade escolar. Os sistemas de ensino devem cumprir as suas responsabilidades, preenchendo lacunas existentes em relação ao ambiente escolar e aos recursos materiais e humanos. As escolas precisam ter salas que comportem a quantidade de alunos prevista, sem que se criem situações embaraçosas por falta de carteiras, espaço ou de um mínimo de conforto. Os móveis e instalações devem estar em boas condições. Isso significa que as escolas públicas municipais, estaduais ou federais, em qualquer nível, deveriam ser pintadas e ter suas mobílias reformadas ou substituídas quando necessário. Um ambiente de ensino e aprendizagem agradável gera contentamento e satisfação, que resultam em maior comprometimento e disposição para o trabalho. Isso serve para professores, funcionários e também estudantes. São indispensáveis os investimentos em bibliotecas, laboratórios de ciências e salas de informática e que sejam projetos perenes e não temporários ou eleitoreiros. A informática transformou os computadores nas grandes estrelas dos projetos de renovação e atualização das escolas. A necessidade de a escola acompanhar o desenvolvimento tecnológico da sociedade é urgente. Para isso, é preciso que se criem meios para que os profissionais da educação se apropriem desses novos conhecimentos e saibam aplicá-los da forma mais efetiva possível. É de grande importância que possamos nos mobilizar para uma grande inclusão digital em nossas comunidades. Mas não devemos descuidar das crianças que não conseguiram aprender a ler, escrever, fazer cálculos simples ou ter noções de ciências e estudos sociais que lhes permitam acesso pleno à cidadania, à ética e à dignidade humana. As bibliotecas devem sempre estar atualizadas e apoiadas por projetos de leitura que efetivamente resultem no letramento dos educandos, futuros cidadãos atuantes. Monteiro Lobato já dizia que “um país se faz com homens e livros”. A formação continuada dos professores também deve ser priorizada. As novas teorias da educação devem ser colocadas em discussão para que sejam compreendidas e utilizadas pelos profissionais da educação, desconstruindo o mito de que a teoria não se aplica na prática de sala de aula. Com o apoio 25/4/2011, 21:09 de novos conhecimentos, a relação entre os professores e os alunos irá, com certeza, melhorar muito. A sala de aula tornar-se-á um lugar muito mais agradável e produtivo graças ao estímulo das novas técnicas e saberes dos profissionais da educação. Uma outra atitude importante seria mudar a cultura escolar em relação aos minutos destinados ao recreio dos alunos, transformando-os em recreios monitorados e assistidos por professores de diferentes disciplinas. Ao invés de ser um tempo nulo para o desenvolvimento dos alunos, que tal partidas de xadrez, damas, tênis de mesa, dominó ou atividades artísticas, por exemplo? Uma biblioteca com jornais e revistas pode agradar aos estudantes que queiram um pouco mais de informação, silêncio e paz. Uma prática orientada e bem organizada de variadas modalidades esportivas é outra boa opção para direcionar melhor a energia das crianças e adolescentes e, quem sabe, descobrir novos talentos. Como nos diz João Luís de Almeida Machado, doutor em Educação pela PUC-SP, “os custos para tudo isto não são grandes, pois são menores do que quando iniciamos novos projetos a cada quatro anos e jogamos todo o trabalho anterior na lata do lixo por ter sido desenvolvido pela gestão anterior, da oposição. Manter, preservar e investir de forma ponderada e constante na educação custa menos do que tentar reinventar a roda a cada quatro anos. Ao invés de tentar salvar o doente com paliativos, cuidar da saúde da escola com medidas preventivas, de forma homeopática, pode ser uma resposta muito mais simples e, certamente, eficiente. (*) pedagoga e coordenadora do curso de Pedagogia da Ulbra São Jerônimo