O QUE É A SEMÂNTICA?* Ataliba T. de Castilho Professor Emérito da FFLCH da Universidade de São Paulo Assessor linguístico do Museu da Língua Portuguesa Pesquisador do CNPq 2014 Sumário Apresentação 1) O que é a Semântica? 2) O problema da categorização. 3) As quatro semânticas. 1. Semântica lexical: o sentido das palavras; categorias da Semântica lexical Introdução: intensão e extensão 1.1. Referenciação ou designação 1.2. Paráfrase e sinonímia 1.3. Contradição e antonímia 1.4. Polissemia 1.5. Hiperonímia, hiponímia 1.6. Meronímia 1.7. Campos semânticos 2. Semântica gramatical: o significado das construções; categorias da Semântica gramatical Introdução: sentido inerente e sentido adquirido 2.1. Predicação e papeis temáticos 2.2. Apresentação 2.3. Verificação 2.4. Categorias semânticas do verbo: classes acionais, aspecto, tempo, modo, voz 2.5. Conectividade preposicional e conjuncional 3. Semântica discursiva: a significação dos textos; categorias da Semântica discursiva Introdução: significação, texto e contexto 3.1. Foricidade: anáfora e catáfora 3.2. Dêixis locativa e temporal 3.3. Inferência e pressuposição 3.4. Paráfrase 3.5. Articulação tema-rema 4. Semântica cognitiva: processos de criação dos sentidos Introdução: a criação dos sentidos 4.1. Criação dos sentidos: (i) Representações das categorias cognitivas; (ii) Emolduramento dos participantes via criação de frames; (iii) Hierarquização dos participantes. 4.2. Recriação dos sentidos: (i) Alteração da perspectiva sobre os participantes e os eventos: metáfora e metonímia; (ii) Alteração na extensão: especialização e generalização; (iii) Alterações na representação de PESSOA e COISA, EVENTOS, JUNÇÃO, MOVIMENTO, ESPAÇO, QUALIDADE e QUANTIDADE. 5. Semântica diacrônica: processos de mudança do sentido Introdução: processos de mudança dos sentidos; dessemanticização / ressemanticização 5.1. Referenciação: PESSOA e COISA 5.2. Predicação e EVENTO 5.3. Apresentação 5.4. Verificação * Para as remissões em negrito do corpo do texto, ver Ataliba T. de Castilho – Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Editora Contexto, 2010. 2 5.5. Foricidade 5.6. Dêixis e redobramento de locativos 5.7. Junção: preposições e conjunções 5.8. Desaparecimento de um campo semântico. APRESENTAÇÃO No segundo semestre de 2013, Rodolfo Ilari e eu ministramos um curso de pósgraduação na Universidade Estadual de Campinas, sobre Semântica diacrônica. O Projeto para a História do Português Brasileiro serviu de pano de fundo ao empreendimento, embora esse projeto até agora não disponha de pesquisadores engajados no estudo das mudanças semânticas da variedade brasileira da língua portuguesa. Para situar esta subárea no vastíssimo campo da Semântica, preparei um roteiro em que foram descritas as categorias semânticas e respectiva literatura, o qual foi distribuído aos alunos. Essas categorias permitem organizar a área em (i) Semântica lexical, (ii) Semântica gramatical, (iii) Semântica discursiva, (iv) Semântica cognitiva e (v) Semântica diacrônica. Importante reter, desde logo, que as categorias constitutivas desses campos da Semântica não são opositivas, antes integrativas e simultâneas. Quer dizer que uma mesma expressão exemplifica mais de uma categoria, e se as separamos, como acima, é apenas para dar mais visibilidade ao sistema da Semântica. A ideia do curso não era apresentar aos alunos uma sequência monótona de conceitos, mesmo que razoavelmente organizados. Já sabemos que lecionar assim não dá certo. Optamos, então, por envolver os alunos nas pesquisas sobre Semântica, de tal forma que cada um selecionasse um tema, que seria caracterizado a partir de exemplos por eles selecionados. A análise dos exemplos seria confrontada com o conhecimento disponível, constante da bibliografia, resultando daqui um ensaio monoautoral. A turma respondeu muito bem a esse projeto, o que me animou a apresentar a um público maior a vastíssima temática semântica, mesmo numa forma telegráfica como a deste texto. Itens bibliográficos cuidadosamente selecionados permitirão que o leitor interessado alce voo neste campo. Trago esse texto à página do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo com o confessado propósito de ampliar a discussão e, no melhor dos mundos, recrutar novos pesquisadores para uma área tão ampla. Finalmente, se uma língua natural pode ser definida como um conjunto de estruturas emparelhadas com seus significados, é fácil imaginar que as pesquisas gramaticais e semânticas ocupem um grande espaço nas preocupações dos estudiosos. Fácil, igualmente, entender por que essas duas disciplinas da linguagem assumiram tantas direções diferentes, motivadas pela tremenda complexidade de que é feita uma língua, qualquer que ela seja. Seja bem-vindo! 1) O que é a Semântica? A Semântica investiga os sentidos expressos nas línguas naturais, ocupando-se dos processos de sua construção, e dos produtos que daí resultam. Trask (2004, s.v.) mostra o caminho incerto dessa área na história da Linguística. O termo Semântica foi criado por Bréal (1911), em seu tratado Éssai de 3 semantique, que tinha por subtítulo a expressão “Science des significations”. Na primeira parte do livro, ele discute “as leis intelectuais da linguagem”, na verdade um conjunto de observações sobre a fonética e a morfologia: lei da especialidade, lei da repartição, irradiação, sobrevivência das flexões, falsas percepções, analogia, novas aquisições, extinção de formas inúteis. Na segunda parte ele passa a considerar o que atualmente se pode considerar como campo da semântica: restrição do sentido, alargamento do sentido, metáfora, “espessamento” do sentido, polissemia. Na terceira parte, ele trata da formação da sintaxe. Portanto, apenas a segunda parte viria a ser desenvolvida como o domínio propriamente dito da Semântica. O campo aberto por Bréal viria a ser largamente investigado, constituindo-se a Semântica lexical: ver seção 1. Muitas relações entre as estruturas gramaticais e o sentido foram examinadas desde os primórdios da reflexão gramatical, conduzindo à organização da Semântica gramatical: ver seção 2. Outra divisão no campo se deu quando as pesquisas destacaram o fato de que os sentidos não estão inteiramente encapsulados no signo linguístico, pois em sua elaboração a língua depende fortemente da interação. Os sentidos são criados ao longo de uma conversa, servindo as palavras como uma sorte de gatilho para essa atividade. Surgiu, assim, uma nova disciplina para investigar as relações entre os signos e os usuários, denominada Pragmática. Suas relações com a Semântica serão aqui denominadas Semântica discursiva: ver seção 3. Ainda segundo Trask, depois do séc. XIX boa parte das pesquisas sobre Semântica foram conduzidas por filósofos, até que os linguistas buscassem parcerias com eles. Os estruturalistas consideravam difícil aplicar suas técnicas de análise ao que chamaram “o pântano do significado”. A gramática gerativa seguiu igualmente por aqui, causando um racha entre seus seguidores. Os insatisfeitos mudaram-se para a costa americana oeste, dando início ao que viria a ser conhecido como Linguística cognitiva. A Semântica cognitiva ocupa aí um grande espaço: ver seção 4. Pesquisas sobre a mudança diacrônica dos sentidos não têm tido presença forte na literatura. Só mais recentemente, com o ressurgimento da Linguística Histórica, ensaiam-se alguns passos na organização da Semântica diacrônica, que é por onde essa disciplina tinha começado: ver seção 5. 2) O problema da categorização De acordo com a Abordagem multissistêmica (Castilho, 2009), as línguas naturais são estruturadas em quatro sistemas: (1) Léxico (2) Gramática (3) Semântica, (4) Discurso. Conjuntos de categorias configuram esses sistemas. Precisaremos, portanto, discutir previamente o problema da categorização para melhor entender como esses sistemas operam. Lakoff (1982) e Givón (1986), entre outros, dissertaram sobre as duas fontes da categorização linguística: a categorização clássica, elaborada por Aristóteles e retomada pela Semântica de Frege e pela Gramática gerativa, e a categorização natural, elaborada por Wittgenstein (1953/1979) e retomada a partir dos anos 80 pela Psicologia, pela Antropologia e pela Linguística Cognitiva. Segundo a ciência clássica, as categorias espelham a realidade física; elas são discretas e dotadas de propriedades inerentes. A percepção clássica das categorias se fundamenta nos seguintes pontos: (i) um conjunto de propriedades define uma categoria; (ii) uma entidade pode ser julgada não problematicamente como tendo ou não esses atributos; (iii) as entidades que integram determinada categoria são 4 predizíveis; (iv) do ponto de vista da ciência clássica, as categorias são limitadas, pois não tomam em conta o processamento da língua, focalizando apenas os produtos que daí resultam; (v) todos os membros de uma dada categoria têm estatuto semelhante. As categorias concebidas no quadro das ciências clássicas são postuladas como entidades distintivas, opositivas, negativas, ou seja, uma categoria X exclui uma categoria Y. A categorização clássica apresenta alguns problemas, pois nem todos os seus membros exibem atributos criteriais idênticos. Na verdade, tem sido difícil propor um conjunto operacionalizável de critérios e até mesmo caracterizar esses critérios. Segundo as ciências dos sistemas complexos, as categorias são concebidas a partir das seguintes propriedades: (1) vagueza, indeterminação, (2) ambiguidade, polissemia, (3) problematicidade, integração, não negatividade, não exclusão, (4) polifuncionalidade. Essa percepção será perfilhada neste texto. Assim, uma categoria X não se opõe a uma categoria Y, admitindo-se que elas são intrinsecamente vagas, polifuncionais, não excludentes, interpenetrando-se a cada passo. A Teoria dos protótipos elabora essa posição. Segundo essa teoria, as categorias devem ser vistas como uma representação da realidade, não como sua reprodução, não como seu espelho. Por isso mesmo, não há limites claros entre as categorias, estabelecendo-se entre elas um continuum de limites imprecisos (Ing fuzzy edges). Algumas entidades compartilham muitos traços comuns, constituindo-se nos protótipos de sua categoria. Outras compartilham apenas alguns traços, integrando-se como elementos marginais de sua categoria. Nestes casos, a descrição terá de lançar mão das “categorias quase”, de que foram examinadas nas seguinte passagens da Nova gramática do português brasileiro (i) as quase conjunções, em 4.3, (ii) os quase verbos, em 10.2.1.3.2, (iii) os quase prefixos, em 14.2.2.4, (iv) os quase clíticos, em 13.2.2.2.3, (v) os quase argumentos, em 6.4.1.2, 7.4, 13.2.1.1.1, (vi) os quase asseverativos, em 8.4, 12.2.2.1.1, 13.2.2.1.1.1.2. De acordo com a teoria clássica, tais entidades constituiriam outras tantas classes. De acordo com a teoria dos sistemas complexos, essas entidades possuem diferentes graus de integração numa mesma classe, o que permite que muitas relações possam ser reconhecidas entre membros de categorias diferentes, num raciocínio transcategorial. Não é possível predizer a pertença das entidades a determinada categoria, e a integração de uma entidade em uma categoria é muitas vezes uma questão de grau. Para configurar um procedimento analítico mais sensível às complexidades das línguas naturais, Givón (1984: 15) cunhou a expressão “continuum categorial”. É a similitude, e não a identidade, que deve ser buscada no processo de postulação de categorias. Seus traços definidores não devem ser estabelecidos a partir de propriedades necessárias e suficientes, ou a partir de seu valor de verdade, e sim a partir de certas semelhanças que os falantes percebem intuitivamente. Os homens não levariam em conta as propriedades “fisicas” dos seres no momento de sua categorização, e sim as propriedades que decorrem da imagem que eles têm desses seres, ou, nos termos de Lakoff (1982), são valorizadas nesse momento as propriedades perceptuais, tais como “as formas percebidas, as imagens, as intenções”. Ora, essas propriedades perceptuais não têm o mesmo status, podendo ocorrer a supervalorização de umas em detrimento de outras. Estudos sobre as designações das cores e a classificação dos animais em diferentes culturas deram 5 fundamento à postulação dos “conceitos básicos”, assumindo um poder explanatório maior que os “conceitos primitivos” da teoria clássica: Kay (1983). Lakoff (1975: 234) propôs o termo hedges (literalmente, “cercas”) para designar determinadas palavras e expressões "cuja função é apresentar as coisas de um modo mais delimitado ou menos delimitado (= fuzzy)". Ele lista entre estas as palavras inglesas kind of, sort of, more or less, relatively, entre outras. A topologia da vagueza vem sendo formulada pela semântica cognitiva: Talmy (2001: vol. 1, p. 31 e passim). Explorações da língua portuguesa à luz da Teoria dos protótipos revelaram que há, por exemplo, advérbios "mais adverbiais", mais prototípicos, como os predicativos, e advérbios "menos adverbiais", como os não predicativos: Ilari et alii (1990). Os advérbios delimitadores mais ou menos, praticamente, quase, tipo, uma espécie de, estudados por Moraes de Castilho (1991) e Lima-Hernandes (2005), funcionam como comprometedores da prototipicidade de sua classe-escopo. Também os pronomes foram assim estudados: Lavandera (1984: 109), Castilho (1993), Neves (1993), Ilari; Franchi; Neves (1996). Givón (1986) viria a propor uma solução híbrida entre as duas teorias. Em sua argumentação, ele confronta o ponto de vista platônico com as observações de Wittgenstein (1953/1979: 62 e ss.). Segundo o ponto de vista platônico, as "categorias da compreensão" são discretas, absolutas e pristinas. Segundo o ponto de vista de Wittgenstein, as categorias não são discretas e absolutas mas, no lugar disso, como já se destacou acima, são incertas e mal delimitadas, sendo que muitas relações podem ser reconhecidas entre seus membros. Entre outros fenômenos semânticos, os pleonasmos derivam da vagueza natural das expressões, levando-nos a contornar nossas dificuldade ao categorizar as coisas mediante a utilização de uma única palavra. É como se uma palavra expressa isoladamente não desse conta do referente que queremos comunicar. O seguintes exemplos de pleonasmos, explorados por humoristas como Leandro Hassum, parecem apontar para a questão da vagueza, da indeterminação natural das palavras: elo de ligação (um elo já não liga as coisas?), goteira no teto (de onde mais a água poderia gotejar?), duas metades iguais, outra alternativa, comparecer pessoalmente, o dia amanheceu, conviver junto com, encarar de frente, fato real, surpresa inesperada, etc. LEITURAS SOBRE CATEGORIZAÇÃO LINGUÍSTICA Wittgenstein (1953/1979), Lakoff (1975, 1982), Givón (1986), Ilari et alii (1991), Moraes de Castilho (1991), Lima-Hernandes (2005). 3) As quatro semânticas Para organizar as reflexões sobre a Semântica proporei quatro campos de estudos, mesmo reconhecendo sua difícil delimitação: (i) Semântica léxica, que trata dos sentidos das palavras, (ii) Semântica gramatical, que trata dos significados das construções, (iii) Semântica discursiva ou pragmática, que trata das significações geradas no intervalo que medeia entre os locutores e os signos linguísticos, (iv) Semântica cognitiva, que trata da criação dos sentidos. Acrescento algumas observações ainda muito preliminares sobre a (v) Semântica diacrônica, que trata da mudança dos sentidos. 6 Caracterizo essas áreas especificando os respectivos objetos empíricos através dos termos sentido, significado e significação, tomando sentido como um hiperônimo. Assim, numa palavra como balde: • • • O sentido lexical de é algo como “objeto usualmente de metal, cilíndrico, dotado de alça, que serve para carregar líquidos ou sólidos”; o sentido de palavras como balde configura o campo da Semântica lexical. O significado gramatical de chutar o balde, “desinteressar-se, desistir de uma ação”, nada tem a ver com os sentidos lexicais de chutar e de balde, considerados individualmente; podemos reconhecer que expressões idiomáticas como essa são um problema da Semântica gramatical. A significação pragmática de Não consigo carregar este balde de areia pode ser um pedido indireto de ajuda ao meu interlocutor, para além dos sentidos lexicais de cada item e do significado proposicional dessa sentença. É preciso ficar claro que sentidos, significados e significações não devem ser concebidos como entidades dispostas em camadas diferentes, no conhecido raciocínio estruturalista dos níveis hierárquicos. O que temos aqui são conceitos complexos, que ocorrem simultaneamente, numa disposição radial. O leitor pode imaginar situações em que as expressões balde, chutar o balde e não conseguir carregar este balde exemplificam, ao mesmo tempo, sentidos, significados e significações. A configuração das quatro Semânticas fundamenta-se na Abordagem multissistêmica, caracterizada em Castilho (2009). Insisto em que as categorias que organizam as quatro Semânticas, aqui postuladas, são problemáticas, no sentido de não exclusivas, não negativas, mas, ao contrário, integrativas, simultâneas, o que deve ter ficado claro nas referências à categorização, que introduzem este texto. Assim, mencionar uma dada categoria não significa que as demais categorias estejam sendo excluídas. LEITURAS: MANUAIS SOBRE SEMÂNTICA DESCRITIVA. TEORIA SEMÂNTICA Silva Júnior (1903), Bréal (1911), Ogdens; Richards (1923/1972), Said Ali (1930), Morris (1938), Guiraud (1955/1975), Ullman (1962/1973), Baldinger (1970), Weinreich (1972), Leech (1974), Segre (1974), Amaral (1976), Lobato (Org. 1976), Pinto (1977), Kempson (1977/1980), Lyons (1977/1984, 1979), Rector; Yunes (1981), Ilari; Geraldi (1985), Ilari (2001), Chierchia (2003), Muller; Negrão; Foltran (Orgs. 2003), Cançado (2005). ATIVIDADE Resenhar um dos manuais acima. 1. SEMÂNTICA LEXICAL: O SENTIDO DAS PALAVRAS Apresentação: intensão e extensão A identificação do sentido das palavras envolve dois conceitos auxiliares, a intensão e a extensão. A intensão é o conjunto de seus traços semânticos inerentes. Para ficar em um só exemplo, num item como menino, podemos intuitivamente reconhecer os 7 traços inerentes /animado/, /humano/, enquanto em onça teríamos /animado/, /humano/. A extensão é o conjunto de indivíduos denotados por uma palavra. Esse conceito remete à teoria dos conjuntos. Os conceitos de intensão e extensão aparecem em Pereira (1907/1918: pág. 61): “Devemos distinguir nos substantivos a compreensão e a extensão. Compreensão são os caracteres distintivos do ser nomeado pelo substantivo (= intensão, em nossa terminologia). Extensão são todos os seres abrangidos nessa compreensão”. Essas propriedades definem lexicograficamente uma palavra. Elas podem ser alteradas pela coexistência de outras palavras, como veremos na seção da Semântica gramatical. Vejamos como elas funcionam: (1) O nenê começou a falar. (2) O nenê está quase falando. (3) O nenê pôs-se a falar. No exemplo (1), foram preservadas as propriedades intensionais de começar e de falar, embora elas integrem uma perífrase. Casos como este foram estudados por Weinrich (1972), que as denominou mediante o termo Ingl linking “ligação”, ou seja, ligação dos sentidos das palavras envolvidas. No exemplo (2), ocorreu uma alteração parcial das propriedades de está e de falando, porque está se auxiliarizou, perdendo seu sentido original de “ficar de pé”, e falar perdeu algumas propriedades intensionais, por estar no escopo do advérbio delimitador quase, mantendo outras. Já em (3), ocorreu uma alteração total das propriedades intensionais de pôrse, que passa agora a significar “começar”, configurando um problema de Semântica gramatical. Falar preservou suas propriedades intencionais. O mesmo Weinrich considerou este um caso a que ele denominou Ingl nesting “nidificação”, ou seja, assim como do ovo nidificado surge um ser completamente diferente, assim em construções como pôr-se + infinitivo essa palavra muda radicalmente de sentido, significando agora “começar”, desaparecendo seu sentido lexical de “depositar algo sobre uma superfície”. Examinando as expressões formulaicas, Ilari (1992c) mostra que elas exemplificam um comprometimento mais radical da intensão, visto que o conjunto gerado se afasta do sentido de cada palavra considerada individualmente. Assim, em (4) Aquela construção é um verdadeiro elefante branco. elefante deixa de significar “mamífero de grande porte” e branco, igualmente, não é mais a “impressão causada pelo raio de luz não decomposta”, para significar “obra ou iniciativa inútil”. O mesmo se pode dizer de estado-maior, controle remoto etc. Em (5) O cidadão pagou seus impostos, cidadão denota o conjunto total dos seres integrados numa comunidade organizada, no gozo de seus direitos civis. Ao operar sobre essa propriedade, o adjetivo tem geralmente um efeito delimitador. Assim, em 8 (6) O cidadão brasileiro pagou seus impostos. o conjunto de cidadãos foi limitado agora aos indivíduos nascidos no Brasil. A Semântica lexical, em suma, trata dos traços semânticos inerentes / intensionais, que são exemplificados nas diferentes categorias léxicas, tais como verbos, substantivos, adjetivos, advérbios, preposições. Diferentes combinações dos traços inerentes permitem postular as seguintes categorias, que configuram o campo da Semântica lexical: (1) referenciação e designação, (2) paráfrase e sinonímia, (3) contradição e antonímia, (4) polissemia, (5) hiperonímia e hiponímia, (6) meronímia. 1.1. Referenciação e designação Denomina-se referenciação ou designação a função pela qual um signo linguístico designa quaisquer entidades do mundo extralinguístico, reais ou imaginários, ou seja, as PESSOAS e as COISAS: Ducrot; Todorov (1972/1998, s.v. referência). Há uma relação entre a referenciação e a teoria dos conjuntos. Uma dada expressão pode representar o indivíduo de um conjunto, como fazem (i) os substantivos próprios, (ii) os pronomes demonstrativos não neutros e (iii) as descrições definidas. Entretanto, expressões indeterminadas representam todos os indivíduos de um conjunto, como os Quantificadores indefinidos quando aplicados a um substantivo. A teoria dos espaços mentais tem considerado a questão da referência de um ponto de vista cognitivista (veja a seção 11.2.2.1). Pesquisadores da Linguística do texto têm uma percepção diferente do que seja a referenciação, que assimilam à foricidade: ver 3.1, abaixo. 1.2. Paráfrase e sinonímia São sinônimas as palavras que parafraseiam outras, dispondo de um sentido aproximadamente idêntico, como ocorre em sair / cair fora / dar no pé / escafeder-se / puxar o carro, etc., ou então em falecer / morrer / bater as botas / ir desta para melhor / comer grama pela raiz / mudar-se para a chácara dos quietinhos, viver no bairro dos pés juntos, etc. Se você sair por aí recolhendo sinônimos, notará que cada termo traz consigo informações adicionais, pois não há sinônimos perfeitos. Collinson, apud Ullman (1964/1970: 294-295) fez esse exercício, identificando nove tipos de sinônimos: (1) um termo é mais geral que outro, (2) um termo é mais expressivo que outro, (3) um termo é mais emotivo que outro, (4) um termo pode implicar em censura moral, enquanto que o outro é neutro, (5) um termo é mais técnico que outro, (6) um termo é mais literário que outro, (7) um termo é mais coloquial que outro, (8) um termo é mais dialetal que outro, (9) um dos sinônimos integra a linguagem infantil: papai / pai, etc. Maria Gabriela Silva Pileggi (com. pessoal) estudou estes sinônimos: chato (espontâneo) / mofino (mais elegante); para amigo: bicho, cara, meu, bró (<Ing brother), véi (por velho), amizade, mano. 1.3. Contradição e antonímia 9 São antônimas as palavras que se contradizem, como em alto / baixo, gordo / magro, alegre / triste, entrar / sair, subir / descer, etc. À semelhança dos sinônimos, cada antônimo agrega sempre um valor adicional, podendo integrar-se em outro domínio da Semântica lexical. Assim, os verbos acima relacionados guardam uma relação dêitica: só sobe quem está embaixo, e só desce quem está em cima. Por outras palavras, a relação de antonímia que se estabelece entre tais verbos está ligada ao LUGAR ocupado por seu sujeito, sendo esta uma categoria cognitiva, estudada na seção 4, Semântica cognitiva. 1.4. Polissemia Denomina-se polissemia o fato de uma mesma palavra ter sentidos diferentes, como em cabo, “acidente geográfico”, “extremidade de uma ferramenta”, “prolongamento posterior de certos animais”, “fio metálico para transmissão de energia”, “ponto na hierarquia militar”; manga “fruta”, “parte do vestuário”, “chuva forte”, etc. O contexto vai especificar de que cabo, de que manga se trata. São diversas as origens das palavras polissêmicas: (1) Algumas derivam de uma mesma etimologia, como a palavra ação, Lat actione, que podem significar uma ação militar, uma ação legal, ou mesmo um título de participação numa empresa: Bréal (1911: 154). (2) Outras derivam de mais de uma etimologia, caso em que tais palavras convergiram para uma só forma, por razões fonológicas. É o caso do Lat sanctu e sanu, que convergiram para são, que tanto pode designar um santo, como em São Paulo, quanto uma pessoa sadia, como em ele ficou são depois da cirurgia. (3) A polissemia pode assentar numa metonímia. É o caso de passo “passada”, como em “deu um passo em direção à vitória”, que também significava polissemicamente uma negação, no Port arcaico, como em “nom falou passo”. A palavra francesa pas exibe o mesmo fenômeno de polissemia, assentando igualmente numa metonímia. Os estudos sobre a gramaticalização das palavras têm focalizado as palavras polissêmicas. 1.5. Hiperonímia, hiponímia Organizando as palavras em campos semânticos – como fazem os dicionários analógicos -, observa-se que algumas dispõem de sentidos mais amplos, as hiperônimas, capazes de incluir aquelas de sentido mais restrito, as hipônimas. Assim, o campo semântico “animal” inclui hipônimos tais como cavalo, boi, leão, etc. Em consequência, animal é um hiperônimo, quando comparado a cavalo, boi, leão, seus hipônimos. Segundo Rodolfo Ilari (com. pessoal), o hipônimo anaforiza o hiperônimo, mas não vice-versa. Assim, em “O médico receitou umas vitaminas. O facultativo disse que o caso não era grave”, o hipônimo facultativo anaforiza o hiperônimo médico. 1.6. Meronímia Outra relação semântica entre as palavras se dá nos casos de meronímia, termo derivado do Gr méros “parte”. São merônimas as palavras que designam partes de um 10 todo. Houaiss (2001, s.v.) dá o seguinte exemplo: copa e aba são merônimos de chapéu. 1.7. Campos semânticos Campos semânticos, ou campos conceptuais, são reuniões de palavras sinônimas. Os campos semânticos são reunidos nos dicionários analógicos, em que os conceitos são sistematizados, seguindo-se as palavras que os designam. Consultamos um dicionário analógico quando dispomos de uma ideia mas não achamos a palavra correspondente. Os dicionários analógicos são também denominados dicionários onomasiológicos. A sistematização dos conceitos de acordo com princípios filosóficos vai dos conceitos gerais para os conceitos particulares, e destes para uma análise em divisões e subdivisões, até o esgotamento do “mundo das ideias” – admitindo-se que isso seja possível. Spitzer (1936/1955) adotou o seguinte plano conceitual em seu dicionário analógico: I) Relações abstratas (existência, relação, quantidade, ordem, número, tempo, mudança, causa). II) Espaço (em geral, dimensões, forma, noção). III) Matéria (em geral, anorgânica, orgânica). IV) Faculdade cognoscitiva (1. formação das ideias; 2. comunicação das ideias). V) Faculdade volitiva (1. vontade individual; 2. vontade intersocial). VI) Faculdade afetiva (em geral, pessoal, simpática, moral, religiosa). São duas as estratégias dos dicionários analógicos: (i) sistematização dos conceitos numa forma pré-científica, natural, ou (ii) sistematização dos conceitos de acordo com princípios científicos. A sistematização de conceitos numa forma pré-científica, apriorística, parte do pressuposto de que nas diferentes línguas naturais o sistema de conceitos é o mesmo. A sistematização mais conhecida nesta linha é a de Hallig; von Wartburg (1952/1963). Esses autores assumem que em qualquer parte o homem considera o mundo não como um caos, e sim como algo organizado, ordenado, como quer a ciência clássica. Segundo eles, o homem tem consciência dessa ordem, apesar das pequenas variações no plano que a representa. Esse plano é apresentado em seu livro como uma contribuição à pesquisa lexicográfica, entendendo-se por ele “um sistema empírico de referências extra lexicais, contendo os conceitos gerais da linguagem, estabelecidos segundo certos princípios de classificação fundados numa base fenomenológica”: Hallig; von Wartburg (1952/1963: 51). Seu sistema de conceitos é o seguinte: I) II) O Universo (o céu e a atmosfera, a terra, as plantas, os animais). O Homem (o homem ser físico, a alma e o intelecto, o homem ser social, a organização social. III) O Homem e o Universo (o a priori, a ciência e a técnica). Baldinger (1970) e Stengaard (1991) desenvolveram pesquisas sobre os campos semânticos, entre muitos outros autores, a partir de uma perspectiva estruturalista. Pontes (1974) estudou o campo semântico formado pelo futebol. 11 LEITURAS SOBRE SEMÂNTICA LEXICAL Bueno (1947), Ullmann (1964/1970), Greimas (1966/1973), Baldinger (1970), Bierwisch (1971), Pontes (1974), Marques (1976), Lyons (1977/1984, vol. 1), Rehfeld (1980), Stengaard (1991), Ilari (2001b, 2002, 2013, Org. 2014, Org. 2015), Chierchia (2003). ATIVIDADES SOBRE SEMÂNTICA LEXICAL 1. Organize uma lista de sinônimos e teste as possibilidades mencionadas em 1.2. Para tornar seu trabalho mais controlado, integre o sinônimo estudado em expressões, como em território extenso / pesquisa extensa, etc. 2. Procure num dicionário etimológico a origem de palavras polissêmicas tais como cabo, manga para entender a razão de sua polissemia. 3. Identifique os contextos em que os antônimos podem ocorrer. Você diria, indiferentemente, saia da sala, desinfete da sala, pique a mula? 4. Quais são as propriedades semânticas que permitem identificar classes de palavras tais como substantivos, adjetivos, verbos, advérbios? 5. Organize um campo semântico (por exemplo, sobre futebol, modas, músicas, danças) e identifique as categorias semânticas e as classes gramaticais de que você se valeu para postular e descrever um campo semântico. 2. SEMÂNTICA GRAMATICAL: O SIGNIFICADO DAS CONSTRUÇÕES Apresentação: traços inerentes e traços adquiridos São inerentes os traços que se agrupam numa mesma palavra; disso trata a Semântica lexical. São adquiridos os traços que se movimentam de uma palavra para outra, quando contíguas na expressão ou seja, do MOVIMENTO de traços inerentes de um signo para outro, o que dá lugar à aquisição de traços. A Semântica gramatical estuda a formação dos traços adquiridos. Quando comparamos traços inerentes de substantivos e de verbos em dada sentença, constatamos que estes apresentam “restrições de seleção semântica” sobre aqueles. Assim, atravessar se combina com entidades /animadas/, /concretas/, /móveis/, e por isso aceitamos (7) A onça atravessou a mata, mas o mesmo verbo não se combina com entidades /inanimadas/, /abstratas/, e por isso rejeitamos a famosa sentença, aqui adaptada: (7 a) *Ideias verdes atravessaram a mata. Nesse exemplo, aceitável apenas num texto fantástico, a palavra ideia adquiriu o traço /animado/, podendo então ser qualificada pelo adjetivo verde. As seguintes categorias configuram a Semântica gramatical: (1) predicação e papéis temáticos, (2) apresentação, (3) verificação, (4) categorias verbais de aspecto, tempo, modo, (5) conectividade preposicional e conjuncional. 2.1. Predicação e papéis temáticos Dizemos que houve predicação quando uma palavra toma uma categoria sintática ou uma categoria discursiva por escopo, transferindo-lhes suas propriedades inerentes, de 12 que o escopo não dispunha antes. Pode-se reconhecer que a predicação assenta numa representação da categoria cognitiva de MOVIMENTO, operando na construção da língua. Essa categoria, aliás, é frequentemente mencionada nas definições de predicação. Por isso mesmo, antecipo alguns dados sobre essa categoria, que será melhor estudada em 4.1. Segundo Talmy (2000), o MOVIMENTO pode ser FÍSICO, ou real, quando um OBJETO se desloca num ESPAÇO, ou fictício, quando imageticamente supomos que ocorreu a deslocação desse OBJETO. A predicação resulta de um MOVIMENTO FICTÍCIO. Traços semânticos inerentes decolam da classe predicadora e aterrissam na classe-escopo. Observe este exemplo: (8) Aquele velhinho está lendo atentamente um livro divertido. Dá tanta risada que a qualquer hora destas ainda perde a dentadura. Se formos examinar todas as predicações contidas em (8), encheremos páginas e páginas. Vamos então nos concentrar só na primeira sentença, começando por livro divertido. Livro é um objeto móvel, composto por páginas e capa, em que estão escritas muitas coisas. Divertido é tudo o que nos torna alegres, felizes, transportando-nos para fora do humor habitual (veja a etimologia da palavra divertir). Um livro não é necessariamente divertido: imagine, por exemplo, o Livro dos mortos, do Bardo Todol, para começo de conversa. Mas em (8), o livro tornou-se divertido. Ou seja, traços lexicais inerentes de divertido voaram ao encontro de livro, e agora a intensão dessa palavra se alterou; ou seja, considerando-se apenas a palavra livro, vêse que sua intensão não se alterou, mas isso ocorreu com livro divertido. Observe agora o que ler está aprontando nessa sentença. Examinada isoladamente, a palavra ler significava “colher”, em latim. Esse sentido ainda se mantém em legumes, vegetais que colhemos para comer, separando-os das ervas daninhas. Já em (8), ler significa “colher com os olhos as letras de uma página”. Nessa sentença, ler toma por escopo ao mesmo tempo aquele velhinho e um livro divertido. Bem, não é todo velhinho que lê, mas o de (8) faz isso, pois um traço inerente de ler acertou o nosso velhinho, que agora passa a ser velhinho leitor. O mesmo se pode dizer de livro: nem todo livro é lido, muitos servem apenas para calçar armários oscilantes, outros para esconder dinheiro, e por aí vai. Mas o livro mencionado em (8) agora é um livro lido. Avance para a segunda sentença e continue a análise, observando o que dar risada está fazendo com aquele velhinho, o que tanta faz com risada, o que perder faz com aquele velhinho e com dentadura, e assim por diante. A predicação, portanto, é uma operação de transferência de traços semânticos que se movimentam pela sentença e pelo texto. Meu amigo Rodolfo Ilari diz isso de modo mais elegante: “a predicação é a inclusão em um conjunto definido pelo predicado” (comunicação pessoal). Ele informa que o exemplo clássico aqui é “Sócrates é ateniense”, em que Sócrates dessa sentença passa a integrar um dos elementos do conjunto {os atenienses}. Toda sentença, todo texto, é um verdadeiro caldeirão predicativo. O exame do traço transferido permite identificar na predicação pelo menos três grandes mecanismos: (i) a transferência afetou a intensão da classe-escopo: ocorreu uma predicação por qualificação, como em livro divertido; (ii) a transferência afetou a extensão da classe-escopo: ocorrreu uma predicação por quantificação, como em 13 tanta risada; (iii) a transferência afetou a modalidade da classe-escopo: ocorreu uma predicação por modalização, como seria em (9) De fato / realmente, aquele velhinho está lendo atentamente um livro divertido. em que os predicadores de fato e realmente tomaram por escopo toda a sentença, tornando-a asseverativa. A predicação modalizadora faz mais que isso, transferindo para o escopo o traço de avaliação contido no operador: basta ver o trabalho dos advérbios modalizadores. Apolônio Díscolo, gramático alexandrino do século I d.C., verbalizou uma intuição fundamental para o entendimento do processo semântico da predicação, ampliando-o consideravelmente. Ele integrava os estudos gramaticais em três pontos: o som e a sílaba, a classificação das partes da oração e a própria oração: Bécares Botas (1987: 32). A oração se realiza num nível duplo, o semântico (= a oração tem uma significação autossuficiente) e o funcional (“os casos oblíquos se conectam com os retos por meio de um verbo inserido entre ambos, a ação do qual passa do nominativo <reto> para o oblíquo”: Díscolo, séc. I d.C./1987: 137). É precisamente sua concepção sobre os casos que tem importância aqui. Para Apolônio Díscolo, os casos não designam formas, e sim relações sintáticas. Assim, o caso reto é o que está “ordenado”, ou está em “ordem coincidente” com a pessoa verbal (Díscolo, séc, I d.C.: IV 46), fenômeno codificado na gramática pela relação de concordância entre o verbo e seu sujeito, ao passo que o caso oblíquo é o “desviado”, o não coincidente com a pessoa do verbo (Díscolo, séc, I d.C.IV 18), numa relação não marcada pela concordância. Essa percepção permite postular a predicação como uma relação semânticosintática de base, em que o predicador toma por seu escopo tanto o sujeito sentencial quanto os argumentos internos, atribuindo-lhes casos (nominativo ao sujeito, acusativo ao objeto direto, dativo ao objeto indireto, ablativo ao complemento oblíquo), e papéis temáticos (agente, paciente, meta, beneficiário etc.). Há muitas ordens de predicação, na dependência da classe semântica do escopo. Se um predicador como divertido tomar por escopo uma expressão referencial como livro, em livro divertido, teremos uma predicação de primeira ordem. Se um predicador como atentamente tomar por escopo uma expressão predicadora como está lendo, em está lendo atentamente, teremos uma predicação de segunda ordem, ou seja, predicou-se um predicado. Mas se um predicador como de fato tomar por escopo toda uma sentença, como em (9), teremos uma predicação de terceira ordem, ou hiperpredicação, pois de fato predicou a sentença inteira. Resumindo, a predicação pode ser definida como a relação entre um predicador e seu escopo, tal que o predicador atribui traços semânticos, papéis temáticos e casos gramaticais ao seu escopo. De novo, aquele embate entre traços semânticos inerentes e traços semânticos adquiridos. Vejamos mais de perto o que são os papéis temáticos Os papéis temáticos, denominados em certas teorias como casos, são traços semânticos atribuídos por um predicador ao seu escopo. Dispondo de uma base cognitiva, os papéis temáticos correspondem a outras tantas representações linguísticas do mundo que nos cerca. Dada essa base, os papéis temáticos têm um caráter universal, diferindo das categorias estritamente sintáticas, que assumem peculiaridades nas diferentes línguas naturais. Não há correspondência biunívoca entre as funções sintáticas de sujeito, complemento e adjunto e os papéis semânticos de agentivo, beneficiário, passivo etc. 14 que lhes são atribuídos. Tampouco dispomos de um quadro exaustivo desses papéis, conquanto alguns projetos interlinguísticos tenham trabalhado nessa direção. Para bem entender o que são papéis temáticos, é necessário distingui-los dos traços semânticos inerentes, examinados em 2.0. Diferentemente dos traços inerentes, os papéis temáticos, repetindo, são traços atribuídos por um predicador a seu escopo. É bem antiga a percepção de que as relações gramaticais podem ser entendidas como uma combinação de papéis temáticos, ou de casos. A sentença é o lugar em que se realizam essas combinações. O termo papel temático, usado pela primeira vez por Gruber (1965), convive com os casos semânticos de Fillmore. Em sua Gramática de Casos, Fillmore (1968, 1969/2003) buscou identificar os universais sintático-semânticos. Deixando de lado a abordagem morfológica dos casos, vale dizer, a captação dos sentidos contidos nos sufixos nominais, Fillmore submeteu o assunto a uma forte generalização, definindo casos como um conjunto de relações semânticas, descritas inicialmente nos seguintes tipos: • • • • • • Agentivo: caso do instigador da ação expressa pelo verbo, com o traço /animado/. Instrumental: caso que corresponde a uma força inanimada ou objeto ocasionalmente envolvido na ação ou no estado. Dativo: caso de um ser animado afetado pelo estado ou ação. Factual: caso do objeto ou ser resultante de uma ação ou estado expressos pelo verbo, direta ou indiretamente. Locativo: caso que remete ao local ou à orientação espacial do estado ou da ação. Objetivo: caso de qualquer coisa passível de representação por um substantivo, cujo papel na ação ou no estado é atribuído pelo sentido do verbo. O objetivo é uma espécie de caso omnibus, pois esta definição engloba todas as anteriores (Fillmore, 1968: 24-25). Esse autor voltou ao assunto em Fillmore (1969/2003), reformulando a versão anterior e agregando outros casos. O termo “papel temático” e seu conceito têm tido uma enorme fortuna crítica. De Jackendoff (1972) eles se irradiaram entre os sintaticistas gerativistas, integrandose na teoria auxiliar da estrutura argumental da sentença. Uma notável aproximação entre funcionalistas e gerativistas se produziu quando Givón (1984) começou a estudar o fenômeno, agora rebatizado para papéis semânticos. Outros autores da vertente funcionalista trabalharam a questão: Heine; Claudi; Hünnemeyer (1991) falam em categorias metafóricas, funções de caso; Svorou (1993) joga com as entidades envolvidas num dado estado de coisas, focalizando as relações espaciais. Esses e outros autores foram recolhidos por Kewitz (2007a) no Quadro abaixo, aqui reproduzido, mantidas as notas de rodapé do original. Quadro 1 – Papéis temáticos segundo Kewitz (2007 a) AUTOR FUNÇÕES ou PAPÉIS TEMÁTICOS AGENTE Fillmore CONTRA-AGENTE DEFINIÇÃO O “instigador” do evento. Força ou resistência contra o qual a ação é realizada. 15 (1971, apud Palmer 1972/1975)1 OBJETO RESULTADO INSTRUMENTO FONTE ALVO EXPERIENCIADOR AGENTE Chafe (1970/1973) PACIENTE EXPERIENCIADOR BENEFICIÁRIO INSTRUMENTO COMPLEMENTO LUGAR Radford (1988) BENEFACTIVO INSTRUMENTO LOCATIVO META FONTE/ORIGEM Givón (1984) INSTRUMENTO BENEFACTIVO LOCATIVO ASSOCIATIVO MODO Svorou (1993)2 BENEFACTIVO MALEFACTIVO Entidade que move ou muda, ou, ainda, cuja posição ou existência está sendo considerada. Entidade que vem à tona, que surge como resultado de uma ação. Estímulo ou causa física imediatos do evento. Lugar de onde algo se move. Lugar para onde algo se move. Entidade que recebe, aceita, experimenta ou sofre o efeito da ação. Aquele que realiza a ação. Aquele que está num determinado estado ou que sofre mudança de estado. Aquele que está mentalmente disposto a receber uma experiência, percepção etc. Não é o instigador da ação. Aquele que se beneficia da ação. Objeto que desempenha um papel no desencadeamento de um processo, não sendo, porém, a força motivadora, a causa ou o instigador. É algo que o agente usa na ação. Relação em que o verbo supõe a criação de algo (em geral, um nome cognato, como cantar uma canção, jogar um jogo). Relação do verbo com uma expressão locativa. Entidade que se beneficia de alguma ação. Ex.: João comprou flores para Maria. Meio pelo qual algo acontece. Ex.: João bateu em Carlos com uma vassoura. Lugar em que algo está localizado ou acontece. Ex.: João colocou a carta dentro da gaveta. Entidade na direção da qual algo se move. Ex.: João passou o livro para Maria. Entidade a partir da qual algo se move. Ex.: João voltou de Londres. Participante tipicamente inanimado, usado pelo agente para realizar a ação. Participante tipicamente animado, para cujo benefício a ação é realizada. Lugar, tipicamente concreto e inanimado, onde se localiza o estado, onde ocorre o evento ou para onde ou de onde algum participante se move. Participante associado ao agente, paciente ou dativo, cujo papel no evento é semelhante, mas não tão importante. Modo como o evento ocorre ou como o agente realiza a ação. TR é uma situação; LM é uma entidade; a situação TR ocorre para o benefício ou em nome de LM. TR é uma situação; LM é uma entidade; a situação TR ocorre em detrimento/malefício de LM. 1 Estes papéis (casos, nos termos de Fillmore) foram reformulados em relação aos apresentados em Fillmore (1968). O autor substitui o caso FACTUAL por RESULTADO, e DATIVO por EXPERIENCIADOR, desdobrando o caso LOCATIVO em FONTE e ALVO. 2 TR refere-se a Ing “trajector” (= entidade situada no espaço) e LM, a Ing “landmark” (= ponto de referência; entidade de referência para a localização no espaço). 16 INSTRUMENTO COMITATIVO AGENTIVO OBJETO DIRETO RECIPIENTE FONTE RECÍPROCO REFERÊNCIA DESSIVO VIS-A-VIS CIRCUNSTANCIAL é uma situação; LM é uma entidade; a situação TR ocorre com LM enquanto instrumento. TR é uma situação; LM é uma entidade que participa da situação TR junto com outros participantes. TR é uma situação; LM é uma entidade que atua na situação TR. TR é uma situação; LM é uma entidade; a situação TR é voltada para LM. TR é uma situação; LM é uma entidade; LM é o recipiente em que ocorre a ação designada pela situação TR. TR é uma situação; LM é uma entidade; LM é a fonte de informação ou ação que a situação TR especifica. TR é uma situação; LM é uma entidade múltipla; os membros de LM participam da situação TR de forma que há interação entre eles. TR é um estado ou característica; LM é uma entidade; o estado TR existe em relação a LM. TR é uma situação; LM é uma entidade; a situação TR envolve LM. TR é uma situação; LM é uma entidade; a situação TR ocorre na presença de LM. TR é uma situação; LM é uma entidade envolvida na situação TR, a qual ocorre enquanto LM está num determinado estado (descrito por um adjetivo) temporariamente ou por acaso. Isto é, o estado não é uma característica permanente da entidade (ex.: ele comeu com as mãos sujas). TR Peres e Móia (1995: 57) promovem uma discussão sobre os papéis temáticos, de uma perspectiva gerativista, insistindo em que “os verbos têm propriedades de atribuição de papéis semânticos”, e oferecendo os seguintes exemplos: (10) Rita dançou. (11) Rita desmaiou. Nesses exemplos, foram conservados os traços inerentes de Rita, mas em (10) esse item atua como sujeito /controlador/, ao passo que em (11), como sujeito /não controlador/. Conclui-se que dançar atribui o papel /controlador/, e desmaiar, o papel /não controlador/. Outras observações nessa mesma linha podem ser feitas analisando as seguintes sentenças, propostas pelos mesmos autores: (12) Paulo bebeu água. (12 a)*Paulo bebeu a caneta. (13) Paulo engoliu água. (13 a) *Paulo engoliu a caneta. (14) Paulo obrigou Maria a cantar. (14 a) *Paulo obrigou Maria a desmaiar. Além dos sintagmas nominais que funcionam como argumentos, também as sentenças substantivas podem receber papel semântico do verbo, como se pode constatar por estes exemplos dos mesmos autores: (15) João espera que lhe arranjem o telhado. 17 (16) João espera que lhe possam arranjar o telhado. (17) João pediu que lhe arranjem o telhado. (18) *João pediu que lhe possam arranjar o telhado. Nesses exemplos, nota-se que esperar aceita argumentos sentenciais modalizados, ao passo que pedir os rejeita. O estudo da atribuição de papéis semânticos revela a riqueza sintática dos predicadores, que selecionam classes lexicais, funções sintáticas e casos gramaticais abstratos. Assim, se fôssemos descrever o comportamento semântico-sintático de apanhar em (19) João apanhou da vizinha. teríamos, pelo menos, (19a) apanhar SN ______SP Sujeito ___Argumento oblíquo Nominativo Ablativo Paciente ___Agente O arranjo de (19a) tem a vantagem de destacar que numa sentença se abrigam várias categorias: (i) categorias sintagmáticas (= sintagma nominal [SN] e sintagma preposicional [SP]), (ii) categorias funcionais (= sujeito e argumento oblíquo), (ii) casos gramaticais (= nominativo e ablativo), e finalmente (iii) a grade temática (= paciente e agente). É interessante refletir que, ao produzir uma sentença aparentemente tão simples, estamos na verdade operando com um conjunto complexo de categorias linguísticas de variada ordem. Cada uma dessas categorias pode ser assinalada nas diferentes línguas ou pela marcação de um caso visível nas expressões (via flexões ou via preposições/posposições), ou por sua marcação abstrata, invisível, porém detectável por expedientes sintáticos tais como a proporcionalidade a um pronome. O latim literário se enquadra no primeiro tipo e o português, no segundo. Nessa rápida síntese, deve ter ficado patente que a teoria dos papéis temáticos é compartilhada por gerativistas e funcionalistas. Num excelente balanço das contribuições de ambas as perspectivas teóricas, Kato (1998) mostrou que as duas confluem precisamente no domínio dessa teoria. 2.2. Apresentação Como se viu, na predicação há um MOVIMENTO FICTÍCIO de propriedades lexicais (traços inerentes), semânticas (papéis temáticos) e gramaticais (casos morfológicos) de um operador para seu escopo. Diferentemente da predicação, o processo semântico-gramatical de apresentar um participante no discurso ou um estado de coisas não implica numa atribuição de traços. As expressões apresentacionais tão somente introduzem um dado novo, respondendo à pergunta “quem é X?”, “o que é X?”. Bollinger (1975) descreve a motivação discursiva das sentenças apresentacionais, nas quais reconhece uma “função apresentativa” que não tinha sido ainda identificada entre as funções da linguagem. Suñer (1982) dedicou todo um livro 18 ao tema. Franchi; Negrão; Viotti (1998: 113) reconhecem nas apresentacionais um processo sintático que “coloca em proeminência um de seus constituintes (...), o ‘foco apresentativo’”. Seguem-se alguns exemplos de verbos apresentacionais, alguns deles transcritos desses autores: (20) Verbos apresentacionais a) Em São Paulo tem um problema específico de ter-se tornado um centro indústria. b) Tinha um gato preto perto ela. c) Ali havia uns eucaliptos sendo plantados. d) Existe muitos outros meios de transporte que não são explorados (DID SP 46). e) A – Mas quem será, a estas horas? B – É o Luís. Observe-se que os verbos ter, haver, existir, ser nessas sentenças não atribuem traços a seus escopos, não os predicam. Outras expressões, estudadas por Laura (2013), funcionam igualmente na apresentação de termos da sentença: (21) Expressões apresentacionais a) Seguinte: de hoje em diante não trabalho mais. b) Quanto a isto, nada mais tenho declarar. c) Sobre esse assunto, melhor deliberar mais tarde. d) A respeito dos apresentacionais, poderíamos estudar diacronicamente esse lance. e) Relativamente a isso / por falar nisso, bom, deixe pra lá. 2.3. Verificação: inclusão, exclusão, focalização No processo de predicação há um MOVIMENTO FICTÍCIO de propriedades lexicais (traços inerentes), semânticas (papéis temáticos) e gramaticais (casos morfológicos) de um operador para seu escopo. O processo de verificação funciona diferentemente. Segundo Ilari; Basso (2008b), entende-se por verificação uma comparação implícita entre o escopo e o protótipo correspondente. Diversos resultados decorrem dessa comparação: 1. Há congruência entre o escopo e o protótipo: o escopo é afirmado. 2. Essa congruência não existe: o escopo é negado. 3. A comparação revela que há coincidência entre o escopo e o protótipo de sua classe, e que isso deve ser destacado: o escopo é focalizado. 4. Reconhece-se que o escopo corresponde ao protótipo de sua classe: o escopo é incluído. 5. Não se reconhece essa correspondência: o escopo é excluído ou é delimitado. Os conceitos de afirmação, negação, focalização, inclusão, exclusão e delimitação explicitam o que se entende por verificação, termo técnico, que significa “avaliar o conteúdo de verdade”, “tornar verdadeiro”. Deve ser isso o que se passa em nossa mente quando verificamos. Veja o seguinte exemplo: 19 (22) Elas não gostam de jogar bola, e sim de passear na praia; fora as colegas que elas acham chatas, convidam só aquelas mais chegadas, bem aquelas da turminha do colégio, praticamente umas seis ou sete. Em (22), comparando gostar de jogar bola com passear na praia, negou-se a primeira atividade e se afirmou a segunda; comparando as colegas em seu conjunto, fora excluiu algumas e apenas incluiu outras; bem focaliza as colegas que integram o conjunto turminha do colégio; praticamente delimitou, no conjunto geral das colegas, apenas seis ou sete. As expressões não, sim, fora, só, bem e praticamente não transferiram traços semânticos aos seus escopos, não predicaram, apenas verificaram sua congruência com os parâmetros relacionados anteriormente. A verificação se exprime através dos verbos apresentacionais existenciais e equativos, dos adjetivos classificadores, dos advérbios de afirmação/negação, inclusão/exclusão, focalização, delimitação; para uma elaboração, ver os capítulos “O sintagma verbal”, “O sintagma nominal”, “O sintagma adjetival” e “O sintagma adverbial”. Os conceitos de afirmação, negação, focalização, inclusão, exclusão e delimitação explicitam o que se entende por verificação, termo técnico que também significa “avaliar o conteúdo de verdade”, “tornar verdadeiro”. Deve ser isso o que se passa em nossa mente quando verificamos. Vamos nos limitar à verificação por inclusão/exclusão, e por focalização. (1) Inclusão / exclusão Ao longo de uma enunciação, incluímos ou excluímos participantes, através de categorias tais como os advérbios de inclusão / exclusão. Essas classes adicionam ou subtraem indivíduos de um conjunto, como em Mais feijão e menos conversa! Neste exemplo, a combinação de "mais" e "menos" com substantivos /contáveis/ produziu o significado de adição / subtração de participantes. Se os substantivos predicados fossem /não contáveis/, o efeito seria de Qualificação graduadora intensificadora, como neste diálogo: Mais amor e menos confiança! (2) Focalização É um processo por meio do qual pomos em destaque, em realce, parte da informação que estamos processando. Esse processo se realiza prosodicamente (pronunciando a palavra focalizada em tessitura diferente), lexicalmente (usando advérbios de focalização), e sintaticamente (movendo para a esquerda o constituinte focalizado, ou destacando-o por meio de é ... que). Para Langacker (1991), a focalização ocorre quando acessamos porções particulares ou aspectos do nosso universo conceptual, para representá-lo linguisticamente. Segundo esse autor, a focalização envolve os seguintes graus: (i) Alinhamento por figura / fundo: tradicionalmente descritos em termos de estrutura informacional, relação “novo / velho”, “foco”, este processo se manifesta, por exemplo, na organização da sentença complexa, em que a sentença matriz declarativa expressa o fundo, enquanto que a subordinada expressa a figura. (ii) Composição: é um tipo particular de focalização inerente a expressões individuais. Exemplificam a composição as palavras compostas e as derivadas, tais como compositor, guarda- 20 roupa. (iii) Escopo: é “a seleção inicial de um conteúdo conceptual para a apresentação linguística”: Langacker (em preparação: 3.7). Podemos ter aqui ou uma cobertura total do domínio – o escopo máximo – ou uma cobertura limitada – o escopo imediato -. O escopo máximo de uma expressão é o conjunto de conteúdos conceptuais que ela evoca. Dentro do escopo máximo, há muitas vezes o escopo imediato, que é a porção diretamente relevante para determinado propósito. Um termo como cotovelo envolve o escopo máximo que é o corpo humano, e o escopo imediato que é o braço, o mesmo podendo dizer-se de dedo em relação a mão, e de nó do dedo em relação a dedo. O perfil de uma expressão é o foco específico de atenção dentro de seu escopo imediato. O domínio que foi escolhido via focalização torna-se proeminente / saliente. Há dois tipos de proeminência: perfil e alinhamento trajetor / marco. (i) Perfil é o mesmo que referente: Langacker (em preparação: 3.11). Uma expressão pode perfilar uma coisa ou uma relação. A mudança de perfil desencadeia uma metonímia; assim, quando num restaurante alguém diz “eu sou tiramisu”, referindo-se à sobremesa que tinha escolhido, o perfil de sobremesa se moveu para o de pessoa. Ao perfilar uma pessoa ou uma coisa, damos-lhe proeminência. (ii) Alinhamento figura / ponto de referência (Ing trajector / landmark). Quando uma relação é perfilada, atribuímos diferente proeminência aos seus participantes. O participante mais proeminente é a figura, concebida como a entidade inicial que pode ser localizada, avaliada ou descrita. Ela é o primeiro foco dentro da relação que está sendo perfilada. O participante menos proeminente é o ponto de referência, tomado como foco secundário da cena. Assim, em “O abajur está sobre a mesa”, abajur é a figura, e mesa o ponto de referência. Parece haver uma regularidade no jogo entre a escolha da figura e a escolha do ponto de referência, tanto assim que dificilmente diríamos “A mesa está debaixo do abajur”. 2.4. Categorias semânticas do verbo Aspecto, tempo, modo e voz são categorias semânticas do verbo. Sobre isso, ver, pelo menos, Ilari; Basso (2008a), Castilho (2010: cap. 10). LEITURAS SOBRE SEMÂNTICA GRAMATICAL Bolinger (1975), Lyons (1977, vol. 2), Suñer (1982), Negrão (2002), Castilho; Moraes de Castilho (2002), Chierchia (2003, caps. 1-4), Peres (2013), Laura (2013), Ilari (2014). ATIVIDADES Organize um corpus, transcrevendo sintagmas de textos de jornal. Em seguida, procure caracterizar os diferentes sintagmas de um ponto de vista semântico, focalizando seu núcleo. Verifique se o núcleo conservou seus traços inerentes ou se exibe traços adquiridos, explicando, neste caso, o tipo de alteração havida. LEITURAS SOBRE AS CATEGORIAS SEMÂNTICAS DO VERBO Aspecto: Castilho (1968, 1999, 2010: pp. 416-440), Comrie (1981, 1981), Travaglia (1981), Soares (1987), Barroso (1994), Bybee; Pagliuca (ed. 1994). 21 Tempo: Castilho (1967), Corôa (1993), Ilari (1997, 1999), Ilari; Mantoanelli (1997), Ilari; Basso (2008 a). ATIVIDADES 1. Com base na literatura acima, identifique os critérios adotados para a descrição semântica do aspecto e do tempo verbal. Pode-se afirmar que o aspecto verbal represente algumas categorias cognitivas? Quais? 2. Compare o uso do tempo verbal em sentenças simples com seu uso nas sentenças subordinadas substantivas e reflita sobre o papel dessa categoria numa língua como a portuguesa. 3. Estude o voz verbal na organização semântica das sentenças. 2.5. Conectividade preposicional e conjuncional Outra categoria da Semântica gramatical é a conectividade, gramaticalizada como preposições e conjunções. Essas classes ligam palavras e sentenças, com a diferença de que as preposições, como classe igualmente predicadora, atribuem ao seu escopo traços de lugar, tempo, entre outros, propriedade não exercida pelas conjunções. A face semântica dessas classes vem sendo vigorosamente descrita. LEITURAS SOBRE PREPOSIÇÕES E CONJUNÇÕES Stammerjohan (Ed. 1977), Ducrot; Vogt (1978), Lemle (1984), Vandeloise (1986/1991), Guimarães (1987), Lobato (1989), Sweetser (1990), Moraes de Castilho (1991), Pontes (1992), Risso (1993), Longhin-Thomazi (2006, 2009), Castilho (2003 a, 2004 a, 2010: 591-610), Modolo (2004, 2006), Lima-Hernandes; Ilari (2008 a,b). ATIVIDADES 1. Verifique na literatura como a categoria de referenciação vem sendo estudada. Pode-se dizer que essa categoria se limita ao campo da Gramática? 2. Redija um texto apresentando os papeis temáticos que têm sido analisados em nossas gramáticas escolares. 3. Faça um levantamento das conjunções que introduzem sentenças substantivas e sentenças adverbiais. Quais delas conservam um sentido identificável, e quais sofreram dessemantização? Procure explicar o que você descobriu. 3. SEMÂNTICA DISCURSIVA: A SIGNIFICAÇÃO DO TEXTO E SUAS CATEGORIAS Apresentação: a significação é uma categoria que só pode ser definida no texto ou no contexto que envolve uma interação linguística. Assim, a Semântica discursiva, ou Semântica pragmática, trata das significações geradas no espaço que medeia entre os locutores e os signos linguísticos, significações essas não contidas nas palavras nem nas construções gramaticais envolvidas, expressas no texto: Vogt (1977), Ilari; Geraldi (1985). As seguintes categorias são configuradas no espaço entre a Semântica e o Discurso: (1) foricidade: anáfora e catáfora, (2) dêixis locativa e temporal, (3) inferência e pressuposição, (4) paráfrase, (5) articulação tema-rema. 3.1. Foricidade: anáfora e catáfora Entende-se por foricidade a operação desencadeada por itens lexicais que trazem de 22 novo à consideração noções já identificadas anteriormente (anáfora), ou a serem veiculadas posteriormente (catáfora) no texto. Essa palavra deriva do Gr phoréo (“trazer”, “conduzir”), cuja contraparte latina é fero, de onde derivou foricitas, que é o étimo de foricidade. Assim, em (23) O aluno disse que ele não gosta de aulas. se entendermos que ele aponta para um participante da situação de fala, parafraseável por ele aí, houve uma interpretação dêitica do item. Se entendermos que ele retoma o aluno, houve uma interpretação fórica do item. Ambas as interpretações são perfeitamente possíveis, mostrando que há uma diferença entre retomar (= foricidade) e indiciar (= dêixis). De novo aquela ideia segundo a qual uma mesma expressão pode enquadrar-se simultaneamente em mais de uma categoria. Halliday; Hasan (1976) assim descreveram a atuação da foricidade: (1) endófora – retomada de referentes que já foram mencionados no texto (= anáfora) ou antecipação de referentes que ocorrerão no texto (= catáfora); (2) exófora – menção a referentes presentes na situação de fala, não verbalizados no texto. Numa sala de aula, pode ocorrer o seguinte ato de fala: (24) Esta é uma verdade: dentre os argumentos do autor, estes primeiros são aceitáveis, aqueles outros não se sustentam. Falando em sustentação, pegue esse aí e preste mais atenção. Em (24), esta é um catafórico, anunciando o substantivo verdade e a sentença complexa que vem depois dos dois pontos. Estes e aqueles são anafóricos, retomando argumentos próximos (estes) ou afastados (aquele) no tempo do discurso. Esse aí remete a um participante não verbalizado no discurso, provavelmente o lápis que caiu da boca de um aluno sonolento. Segundo Salum (1983), os comparatistas promoveram certa confusão no uso dos termos designativos desses processos semânticos, tanto quanto no dos termos designativos das classes gramaticais que os expressam. De fato, o termo grego anaphorikòs foi traduzido no latim por relativus (de re + latum, particípio de fero) e deiktikòs por demonstrativus (de de + monstrare, “apontar para algo retirado de um conjunto”). Sucedeu que os termos anáfora, uma das manifestações da foricidade, e dêixis foram apropriados pelos gramáticos para a designação de processos semânticos, ao passo que relativo e demonstrativo foram utilizados para a designação de classes de palavras. Ora, outras classes além do pronome relativo retomam conceitos, e o demonstrativo não é a única classe que indicia os referentes. E ainda por cima, referência, vocábulo latino calcado em refero (“voltar atrás”), que é uma tradução perfeita do grego anaphorà, passou a ser usado modernamente para designar ora o conteúdo dos substantivos, ou seja, seu referente, acepção escolhida neste texto, ora para designar a retomada de conteúdos, como sinônimo de anáfora. Belíssima confusão! Essas observações mostram que os limites entre a dêixis e a foricidade tornaram-se pouco nítidos. Carreter (1953 / 1962: 130) agrega uma explicação auxiliar sobre como os limites entre esses termos foram borrados: a dêixis “consiste em assinalar algo que está presente diante de nossos olhos: aqui, ali, tu, isto etc. Quando a função dêitica não consiste em fazer uma demonstratio ad 23 oculos, mas apenas assinala um termo da frase já anunciado, recebe o nome de anáfora”. Embora se pudesse de fato reduzir a dêixis e a foricidade a uma só propriedade, considerando a anáfora numa sorte de “dêixis textual”, preferimos seguir distinguindo os dois conceitos, dada sua diferente representação na gramática de nossa língua. Sumarizando, entendida como “remissão”, a foricidade representa um segundo conhecimento da coisa, sendo que o primeiro conhecimento é dado pelos processos de referência ou designação. Através da anáfora, retomamos um tópico discursivo, trazendo de novo à consciência os participantes do discurso mencionados anteriormente, ou presentes no contexto. Analisando o papel da foricidade na construção do texto, Marcuschi; Koch (2006: 383) destacam a categoria de MOVIMENTO que subjaz à foricidade, quando afirmam que “Cabe, ainda, ressaltar que um texto não se constrói como continuidade progressiva linear, somando elementos novos com outros já postos em etapas anteriores, como se o texto fosse processado numa soma progressiva de partes. O processamento textual se dá numa oscilação entre dois movimentos: um para frente (projetivo) e outro para trás (retrospectivo), representáveis parcialmente pela catáfora e anáfora. Além disso, há movimentos abruptos, há fusões, alusões etc. (grifos meus) Marcuschi e Koch estão lidando com o movimento fictício, já referido aqui. 3.2. Dêixis locativa e temporal Entende-se por dêixis uma categoria que depende crucialmente da situação discursiva, e não das propriedades intensionais necessárias à configuração das categorias de referenciação e predicação, já aqui examinadas. Assim, o entendimento de expressões como (i) eu, este/esse, aqui, hoje; (ii) você, esse/este, aí, amanhã; (iii) ele, aquele, lá, outrora, entre outras, depende da situação em que elas foram veiculadas. A referência desses termos está no discurso, na situação social concreta que envolve os falantes, e não apenas nessas palavras. As expressões dêiticas selecionam obrigatoriamente a significação discursiva. Sem a dêixis e o eixo que ela organiza no discurso, não há discurso. É o que se observa no seguinte exemplo: (25) Seguinte, meu caro, agora sou eu aqui e você lá, tá bom? Em (25) ocorreram as seguintes expressões dêiticas: (i) eu indica o falante e aqui, o lugar que ele ocupa; (ii) você indica o interlocutor e o lá, o lugar que ele ocupa; (iii) agora indica um ponto na perspectiva temporal do discurso, implicitando que desse ponto em diante a relação entre os interlocutores vai mudar. Note que se eu corresponder a João, e você corresponder a Pedro, este bem pode retrucar que (26) Você tá é esquecido, eu já tinha combinado isso com você faz tempo! Em (26), os termos mudaram de designação, e agora eu = Pedro, e você = João. Embora João continue sendo João, e Pedro, Pedro, pois são termos referenciais, eu e você mostraram-se intercambiáveis, pois são termos dêiticos. Isso retoma a 24 conversa atual e as conversas anteriores mantidas entre ambos, pois é um termo fórico. O termo dêixis corresponde em português exatamente à palavra grega déiksis, que significa literalmente “mostração”. Esse termo deriva, por sua vez, do verbo grego déiknymi, “mostrar”, “apontar”. Nos exemplos anteriores, os itens lexicais eu e você “apontam” verbalmente para as pessoas do discurso, aqui e lá “apontam” verbalmente para o espaço físico ocupado por elas, e agora “aponta” verbalmente para o tempo em que o acordo deve ser observado. E não nos esqueçamos do adjetivo seguinte, usado para introduzir no discurso o trato que está sendo estabelecido. Durante uma conversa, gesticulamos e produzimos sequências sonoras. A dêixis realiza as duas tarefas, nela confluindo o gesto de ostensão e a sequência de sons. Por isso mesmo, a dêixis tem sido bastante estudada na literatura. Vale a pena retomar alguns pontos desse longo percurso. No mundo antigo, Apolônio Díscolo (século I d.C., pág. 166 da tradução espanhola) argumentava que os pronomes de primeira e segunda pessoa: “servem para discernir pessoas ainda não definidas, com o que as pessoas por eles significadas se fazem definidas. É claro que as suas dêixis são as primeiras vias de entrada das pessoas que lhes subjazem, e por isso não precisam da companhia do artigo, já que não pode haver anáfora de pessoas que se mostram à vista”. Mas os pronomes abarcam também os de terceira pessoa, “pois também se realizam como anafóricos, desde que as pessoas sejam conhecidas de antemão, e como dêiticos, se a pessoa está à vista”: Apolônio Díscolo (séc. I d.C., pág. 165 da tradução espanhola, 1987). Bühler (1934/1961) formulou a teoria da dêixis na Linguística moderna. Para ele, as expressões linguísticas (“campos”, em sua terminologia) se dividem em simbólicas e em dêiticas. Os símbolos são referencialmente estáveis, ao passo que a dêixis depende da situação de fala em que está ancorada. Entendida também como “ostensão”, a dêixis, segundo esse autor, representa um “primeiro conhecimento da coisa”. Através da propriedade dêitica, inserimos entidades na corrente do discurso. O “segundo conhecimento” ocorre quando retomamos, via foricidade, essas mesmas entidades. Diferentes classes gramaticais codificam a dêixis: os pronomes, os advérbios de tempo e de lugar, certos morfemas (como os de tempo), entre outros. Câmara Jr. (1977: 90) acompanha Bühler, ao definir a dêixis como a “faculdade que tem a linguagem de designar mostrando, em vez de conceituar. A designação dêitica, ou mostrativa, figura assim ao lado da designação simbólica ou conceitual em qualquer sistema linguístico. Podemos dizer que o SIGNO linguístico apresenta-se em dois tipos – o SÍMBOLO, em que um conjunto sônico representa ou simboliza, e o SINAL, em que o conjunto sônico indica ou mostra. O pronome é justamente o vocábulo que se refere aos seres por dêixis em vez de o fazer por simbolização, como os substantivos. A dêixis se baseia no esquema linguístico das três pessoas gramaticais que norteia o discurso: a que fala, a que ouve, e todos os mais seres situados fora do eixo falante-ouvinte”. Benveniste (1966: 84) mostrou que os dêiticos constituem uma “irrupção do discurso no interior da língua, porque o seu próprio sentido [...], embora releve da língua, apenas se pode definir por alusão ao seu emprego”. Comentando este autor, Mílton do Nascimento, em comunicação pessoal, me fez lembrar que a dêixis é uma 25 condição da linguagem: “não há enunciado sem enunciador/enunciatário sem a construção de um EU-TU, da relação espelhada EU-TU, a qual envolve os dêiticos por excelência, num AQUI/AGORA da enunciação”. Para Ducrot e Todorov (1972/1998: 302), dêiticos são “expressões cujo referente só pode ser determinado em relação aos interlocutores. Assim, os pronomes de primeira e segunda pessoa designam respectivamente a pessoa que fala e aquela a quem se fala”. Segundo Lyons (1979: 290), “todo enunciado linguístico se realiza num lugar particular e num tempo particular: ocorre numa certa situação espaço-temporal. É produzido por uma pessoa – o falante – e em geral se dirige a alguma outra pessoa – o ouvinte. O falante e o ouvinte, diremos, são tipicamente distintos um do outro, podendo, certamente, haver mais de um ouvinte, e estão, além disso, na mesma situação espaço-temporal”. Ele acrescenta que “a noção de dêixis – que é simplesmente a palavra grega que exprime a ação de “apontar” ou “indicar”, e veio a ser um termo técnico da teoria gramatical – foi introduzida para indicar os traços “orientacionais” da língua que se relacionam com o tempo e o lugar do enunciado. Os chamados pronomes pessoais – eu, tu (você), ele, etc. – constituem apenas uma classe dos elementos da língua cujo significado se determina pela referência às “coordenadas dêiticas” da situação típica do enunciado. Outros elementos que incluem um componente de dêixis são advérbios de lugar e de tempo – como aqui, aí, ali, lá, acolá (de lugar) e agora e então (de tempo), que indicam o “próximo” e o “não próximo” do falante (e às vezes também do ouvinte) e o “momento em que se fala” e o “não momento em que se fala”. São esses os exemplos mais evidentes da maneira pela qual a estrutura gramatical de uma língua pode refletir as coordenadas espaço-temporais da situação típica do enunciado. A situação típica no enunciado é egocêntrica: como o papel do falante se transfere de um participante para outro numa conversa, muda-se assim o “centro” do sistema dêitico, usando o falante eu para referir-se a si mesmo, tu, você etc. para dirigir-se ao ouvinte. O falante está sempre no centro da situação do enunciado”. Lahud (1979: 40) afirma que a noção de dêixis está muito vinculada à classe linguística dos pronomes pessoais (eu/você, mais precisamente), aos pronomes demonstrativos (isso) e às formas temporais do verbo. Observe-se que essas classes representam algumas categorias cognitivas: PESSOA, ESPAÇO (proximidade/afastamento) e TEMPO. Isso faz delas uma única classe. No PB, a dêixis tem uma codificação flexional e lexical. A pessoa só tem flexão no verbo; nas demais classes, é o lexema que representa essa categoria. Os itens lexicais expressam uma localização positiva e uma localização negativa dos participantes do discurso. Localizam-nos positivamente os itens que os dispõem num eixo de proximidade ou de não proximidade com respeito ao locutor: este/esse, aqui, hoje fornecem uma localização próxima, ao passo que aquele, lá, ontem/amanhã provêm uma localização remota. Localizam-nos negativamente os itens que não têm esse poder de discriminação, como os artigos. Como já se disse, podemos também representar a dêixis extra verbalmente, por meio da ostensão: apontar com o dedo, estirar os lábios, como na piada do caipira, quando informou que determinado ponto geográfico “ficava logo ali, pertinho, pertinho”. Coitado de quem acreditou! 26 3.3. Inferência e pressuposição Inferir é criar realidades semânticas a partir daquelas previamente existentes. Veltman (1993, s.v. inference) distingue a inferência dedutiva da inferência argumentativa. A inferência dedutiva diz respeito ao raciocínio lógico, correspondendo à premissa de um silogismo, levando-nos a uma conclusão. Ela corresponde ao raciocínio: (27) Se p, então q. como em (27a) Se está frio na sala, então ele fecha a janela. A inferência argumentativa diz respeito ao raciocínio baseado no senso comum: (28) Se q, então p. como em (28a) Se ele fecha a janela, então é porque está frio na sala. Em (28 a), praticamos uma anomalia do ponto de vista da inferência dedutiva, aceitável, porém, do ponto de vista pragmático. A inferência argumentativa corresponde às implicaturas de Grice (1967/1982). As inferências podem trombar com outros processos semânticos, como neste exemplo: (29) Cena de inverno. A avó está sentada em sua poltrona, enquanto seu neto tecla furiosamente seu jogo eletrônico. Vovó: Mas que frio, nesta sala! Neto de antigamente: Vou fechar a janela, vovó. Neto de hoje em dia: É assim mesmo, vovó, os velhos vivem passando frio. O neto de antigamente inferiu que sua avó lhe pedia que fechasse a janela. Sua fala criou uma realidade semântica inexistente na fala de sua avó. O neto de hoje em dia escolheu outro processo semântico, o da paráfrase, que não cria realidades semânticas diferentes, o que lhe permite continuar concentrado em seu jogo. Pressupor é entender alguma coisa que não foi dita, que não foi “posta”. Podemos entender (30b) a partir de (30 a): (30) a) Locutor: Xi, cara, estou sem dinheiro nenhum. b) Interlocutor: Até você deu agora de pedir dinheiro emprestado? Eu não tenho. Depois, você não vai me pagar mesmo. A pressuposição decorre do princípio da economia comunicativa: muita coisa deixa de ser expressa no discurso, sendo então pressuposta. 27 Caffi (1993: s.v.) põe o assunto em termos dos segredos de alcova, quando diz que “a pressuposição pode ser definida como um ‘ménage-à-trois’ entre o locutor, a moldura de sua locução e o interlocutor”. O interlocutor entende (30b) quando o locutor produz (30 a). Na moldura da locução, alguém não consegue um empréstimo se há dúvidas sobre sua liquidez financeira. PB e PE parecem distinguir-se no jogo que fazem da pressuposição. Tanto quanto saiba, este é um recanto até aqui pouco explorado no conhecido esporte “comparando PB e PE”, vulgo, “as aves que aqui gorjeiam...”. Vejamos alguns casos. (31) Diálogo numa papelaria em Lisboa, sexta-feira à tarde, hora de fechar o estabelecimento. Um brasileiro, percebendo certa irritação de parte do vendedor e já disposto a voltar no outro dia, pergunta: a) Os senhores fecham aos sábados? b) Não, senhor. O brasileiro volta no sábado, mas o estabelecimento está fechado. Na segunda-feira, trava-se o seguinte diálogo: c) Brasileiro: Eu voltei aqui no sábado, mas a papelaria estava fechada, apesar de minha pergunta. d) Vendedor: O senhor perguntou se fechávamos, disse-lhe que não, pois se não abrimos como havemos de fechar? O operador argumentativo portanto não tem os mesmos usos no Brasil e em Portugal. (32) a) Brasil: estão fazendo uma pesquisa... não é? com os professores... (...) bem... eu fiz o seguinte... eu contei... a aula passa:da... quantos grupos estiveram... aqui presen:tes... fazendo aquele trabalho de:... definição: tare:fas “necessidades da sociologia do direito”... como grupo de trabalho e contei os seguintes grupos o grupo a: o b: o c: o d: o e: o f: o h:... e o i:... portanto temos entre oito nove grupos... no máximo... talvez eu tenha deixado algum grupo... de fora... (EF REC 339). b) Portugal: Portanto... vamos ter ali ao bar e tomamos uma bica. No Brasil, portanto de (32 a) anuncia uma conclusão derivada do dito, do posto, localizando-se entre sentenças. Em Portugal, portanto anuncia uma conclusão derivada do pressuposto, do não dito, localizando-se à testa da sentença, como os marcadores discursivos. No caso narrado em (32b), um grupo de amigos encontra-se por acaso. Armado o pressuposto de que amigos reunidos tomam logo um café (= uma bica), portanto anuncia uma conclusão sacada desse pressuposto. Não é preciso refletir muito para concluir que as fronteiras entre as inferências e as pressuposições exploráveis nas línguas naturais têm a robustez de um tecido de filó. Por conta disso, não faltou quem dissesse que a pressuposição pragmática, nascida com grande arruído na década de 1970, morreu na década de 1980. Esse parece ser nitidamente o caso de coveiros apressados. Afinal, ainda não exploramos as formas gramaticais que criamos movidos por uma pressuposição. Quer uma amostra grátis? Dê um pulo até Castilho (2010, seção 9.2.2.1). 3.4. Paráfrase 28 Paráfrase é a recursão dos mesmos significados, com palavras diferentes. Ela é um dos processos constitutivos do texto, consistindo na recorrência de conteúdos. O termo remete a diversas realidades, aqui sumarizadas. Fuchs (1982: 49-50) assim a definiu: “Transformação progressiva do ‘mesmo’ (sentido idêntico) no ‘outro’ (sentido diferente). Para redizer a ‘mesma coisa’ acaba-se por dizer ‘outra coisa’, no termo de um processo contínuo de deformações negligenciáveis, imperceptíveis.” O paradoxo da paráfrase está nisto: é uma repetição de conteúdos que, precisamente por terem sido repetidos, acrescentaram-se semanticamente e, nesse sentido, mudaram. Não é preciso dizer mais nada para mostrar a importância da paráfrase na manutenção da conversação e na criação do texto. Vejamos este exemplo, em que M representa o segmento matriz e P, o segmento parafraseado: (33) Exemplo de Hilgert (2006: 290) M então a minha de onze anos... ela supervisiona o trabalho dos cinco... então ela vê se as gavetas estão em ordem... se o:: material escolar já foi re/arrumado para o dia seguinte... se nenhum:: fez:: arte demais no banheiro... porque às vezes... estão tomando banho e ficam jogando água pela janela P quer dizer... é supervisora nata Como se vê em (33), a paráfrase “tece a macroestrutura de um tópico conversacional, na medida em que mantém a centração tópica” (Hilgert, 2006: 284). São muitas as funções da paráfrase no tratamento discursivo do tópico: (1) expansão vs. redução, (2) determinação vs. indeterminação, (3) ênfase vs. atenuação etc. Vejamos exemplos dos dois primeiros processos. (34) Paráfrase expansiva/redutora. Exemplo de Hilgert (2006: 290-291) M não que eu deseje::: liberda...de... P deseje eh eh estar assim sem obrigações para com as crianças(D2 SP 360) (35) Paráfrase determinadora/indeterminadora a) M eu noto que muito paulista fica um pouco chocado... com o linguajar carioca P nós ficamos um pouco chocados com o esse e o erre exagerados (D2 SP 333) b) M agora vamos usar um termo que eu uso bastante P e que todo mundo usa (D2 SP 333) Em (34), foi usado o esquema “matriz expansiva à paráfrase redutora”, visto que liberdade tem uma amplitude semântica maior do que sem obrigações. Observe-se que em (35a) o locutor usou o esquema “genérico à específico”, ao trocar muito paulista, ou seja, um paulista que não se sabe direito quem é, por nós, especificando o sujeito da sentença. Já em (35b) o mesmo locutor seguiu o caminho inverso, “específico à genérico”, localizando em si mesmo a responsabilidade pelo uso de um termo, generalizando depois esse uso, talvez para preservar sua face de 29 bom falante do português. Parece que as paráfrases expansivas jogam com definições, explicações – e, portanto, com sinônimos e hipônimos. Já as paráfrases redutoras partem para os resumos, manipulando hiperônimos. É muito provável que o desenvolvimento dessas categorias léxico-semânticas se explique através das estratégias de parafraseamento que usamos todo dia, mantendo uma conversa, organizando um texto. 3.5. Articulação tema-rema Herman Paul (1880/1920/1970) identificou na sentença a sede do processo informativo da língua. Essa percepção conheceu muitos desdobramentos, sobretudo entre os linguistas da Escola de Praga. As seguintes definições exploram a perspectiva informacional da sentença: (1) “A sentença associa em si dois elementos, o tópico, que é aquilo sobre que o falante quer falar, e o foco, que é aquilo que é dito sobre o tópico” (Mathesius, 1915, 1929, 1939, 1942, apud Firbaš, 1957, 1971, 1975; Daneš, 1966, 1974, 1974, 1995). Esse ponto de vista ficou conhecido como “perspectiva funcional da sentença”, configurando a teoria da articulação tema-rema. (2) “A oração se realiza como unidade comunicativa, bipartindo-se em tema (ou tópico) e rema (ou núcleo, ou comentário, ou foco), ou, ainda, num segmento comunicativamente estático, oposto a um segmento comunicativamente dinâmico” (Ilari, 1986a/1992/2004: 37). Ilari retoma a bipartição tema-rema à página 42, desenvolvendo o assunto da seguinte forma: toda oração serve para realizar duas ações básicas e irredutíveis, que descrevemos na linguagem de todos os dias mediante os predicados “falar de” e “dizer que”: o primeiro desses predicados captaria o papel de tópico, e o segundo o papel de foco. Toda frase envolveria, em suma, dois “atos de fala”, cada um dos quais obedece a condições específicas. E mais além, na página 178: conquanto, nessa análise em atos de fala, as duas expressões falar a respeito de e dizer que devam ser consideradas como primitivas (no sentido de que não se deixam definir por outras expressões mais básicas), cabe perguntar que tipo de ação verbal representam: trata-se num caso de uma ação de referência, e no outro, de uma ação de asserção, ou informação. O “objeto de predicação”, o “segmento comunicativamente estático”, a “o objeto a respeito do qual se fala ou ao qual se faz referência”, a “ação de referência” é o tema. A “predicação sobre esse objeto”, o “segmento comunicativamente dinâmico”, a “ação de dizer que”, a “ação de asserção ou informação” é o rema. Numa linha teórica voltada para o que se convencionou chamar empacotamento semântico na sentença, Prince (1981) e Chafe (1970/1973, 1987 b) pesquisaram as relações entre o status informacional e a organização sentencial. Eles admitiram, implicitamente, uma correspondência entre elementos de informação e estruturas sintáticas, explorando assim as propriedades discursivas da sentença. 30 O elemento de informação é um conceito que os falantes têm de um indivíduo, de um estado de coisas, de uma qualidade, e assim por diante. Tal elemento pode estar no foco da consciência dos falantes: neste caso, ele é ativo, e pode ser evocado. Outro elemento pode ser inferido do elemento focal, apresentando-se no texto como semiativo, ou accessível. Finalmente, há elementos de informação que no início da interação não estão nem ativos nem semiativos na consciência dos falantes, demandando deles um esforço para integrá-los no fluxo da consciência. Tais elementos são informacionalmente novos. Como se pode observar, tais reflexões retomam as distinções formuladas pela teoria da articulação tema-rema, que postulara a língua como uma entidade dinâmica. A noção de dinamicidade vem da intuição segundo a qual o rema sentencial faz avançar o texto (Ilari, 1986a/1992/2004). Por outro lado, o rema de uma sentença pode se transformar no tema da sentença seguinte, mecanismo que estabelece a interface “construção da sentença / construção do texto”. Observando a sucessão dos temas sentenciais, Daneš (1966) fez uma importante observação, de interesse para o estudo das propriedades discursivas do substantivo: partindo da ideia de que tema e rema são categorias dinâmicas, o que se aprende sobre a organização textual, quando nos deslocamos do tema sentencial para o tópico conversacional, navegando da gramática para o discurso? Alguns esquemas podem ser aí identificados: o tema caótico, o tema constante, o tema derivado e o tema fendido – atenção, escrevi fendido, nada de associações vocabulares! Venham exemplos: (1) Tema caótico Nas conversações mais espontâneas, não planejadas, o falante hesita em fixar-se em determinado tema, produzindo sequências truncadas, separadas por reticências: (36) aí a lama desceu sobre os barracos... o corpo de bombeiros ficou lá embaixo... criança berrava pela mãe... o governador em Nova Iorque... a escola de samba... aí então... mas do que é mesmo que eu estava falando? (2) Tema constante O tema é sempre o mesmo, podendo ser introduzido por um substantivo e retomado por pronomes ou por um zero. Ele se articula com diferentes remas, num procedimento comum nas narrativas: (37) a) o cinema brasileiro... nun::ca... nunca morreu... houve sempre uma continuidade... ah marginalizado... ah completamente... (...) mas o cinema sempre... sempre continuou a existir... o cinema brasileiro... e no começo dessa década... que nós vamos abordar aqui... o cinema brasileiro estava exTREmamente vivo... (EF SP 153) a) o rei vivia muito preocupado... esse rei era viúvo... e ainda por cima Ø tinha um filha solteirona... ele concebeu um plano para casá-la... Ø começou então a procurar um príncipe... (3) Tema derivado 31 No processo de derivação temática, o rema da primeira sentença fornece o tema da segunda sentença, através dos seguintes processos: (i) Tema e rema repetem o mesmo item lexical: (38) e eu queria uma fuga... a minha fuga... era deitar na cama. (D2 SP 360) (ii) O tema derivado é uma nominalização do rema: (39) o assassino foi preso ontem... sua prisão deixou todo mundo aliviado. (iii) O tema derivado é preenchido por um substantivo inferido a partir do rema: (40) o diretor da escola encarregou os professores de organizar a festa... a decisão foi tomada na última reunião. (iv) O tema derivado tem uma relação antonímica com algum termo do rema: (41) soluções técnicas para resolver o problema da moradia popular temos em excesso... a escassez está na vontade política para enfrentar esse problema... (4) Tema fendido O primeiro tema se desdobra em diversos temas sentenciais, como em (42) A Linguística é a ciências dos signos verbais. A Pragmática estuda as relações entre os signos e a sociedade. A Semântica, as relações entre os signos e seus referentes. A Gramática, as relações dos signos entre si. LEITURAS SOBRE SEMÂNTICA DISCURSIVA Jackendoff (1972, 1985), Ducrot (1972/1977, 1987), Silva (1973), Figueira (1974), Castro (1977), Vogt (1977, 1980/1989), Ducrot; Vogt (1978), Lahud (1979), Guimarães (1979, 1987), Fuchs (1982), Koch (1984, 1992), Ilari; Geraldi (1985), Ilari (1986 a, 1992/2004), Pêcheux (1988/1995), Chierchia (2003), Hilgert (2006), Jubran; Koch (Orgs. 2006), Silva (1973). ATIVIDADES 1. Organize um pequeno corpus de expressões parafraseadas, investigando os recursos linguísticos movimentados por esse processo. São fortes candidatas as relações de hiperonímia e hiponímia entre a Matriz e a Paráfrase, relações de nominalização. Exemplo: o verbo supervisionar é parafraseado pela forma nominalizada supervisora. De que modo a paráfrase contribui para a construção do texto? 2. Investigue as expressões que funcionam como tema sentencial. 3. Investigue as expressões que funcionam como rema sentencial. 4. Se o sentido das palavras é especificado pelo contexto, analise o termo cavalaria no seguinte texto: “As recentes manifestações de rua transformaram-se em baderna por cult de elementos que aproveitam qualquer tipo de aglomeração para depredar vitrines e tirar algum proveito. (...) nos filmes americanos, a cavalaria sempre chega no final. Aqui, a cavalaria chega antes”. C.H.Cony – A sopa. Folha de São Paulo, 28/05/2014. 32 4. SEMÂNTICA COGNITIVA: PROCESSOS DE CRIAÇÃO DOS SENTIDOS Apresentação: a Semântica cognitiva se ocupa da criação dos sentidos, operando com os seguintes processos: (1) Criação dos sentidos: (i) Representações das categorias cognitivas; (ii) Emolduramento dos participantes via criação de frames; (iii) Hierarquização dos participantes. (2) Recriação dos sentidos: (i) Alteração da perspectiva sobre os participantes e os eventos: metáfora e metonímia; (ii) Alteração na extensão: especialização e generalização; (iii) Alterações na representação de PESSOA e COISA, EVENTOS, JUNÇÃO, MOVIMENTO, ESPAÇO, QUALIDADE e QUANTIDADE; (3) Perda do sentido: (i) Perda da motivação etimológica; (ii) Desaparecimento de um campo semântico. 4.1. Criação dos sentidos 4.1.1. As línguas naturais como representações das categorias cognitivas de COISA, LUGAR, TEMPO, VISÃO, MOVIMENTO, QUALIDADE, QUANTIDADE. PESSOA, A construção do significado por meio da representação das categorias cognitivas tem sido objeto de muitas pesquisas. Os linguistas cognitivistas evitam cuidadosamente estabelecer relações de causa/efeito entre as categorias cognitivas e as expressões linguísticas. Ao emparelharem esses campos, eles se servem de predicadores tais, como “interação”, “paralelismo”, “reflexo”, “representação” – raramente algo como “derivação”, “consequência, relação primitivo/derivado” etc. Eles reconhecem que as línguas naturais corporificam as categorias cognitivas de VISÃO, PESSOA, COISA, ESPAÇO e TEMPO, MOVIMENTO, QUALIDADE, QUANTIDADE, entre outras, mediadas sempre por sua interpretação, promovida pelas respectivas culturas. A representação dessas categorias muda de língua para língua, ou no interior de uma mesma língua, ao longo de seu percurso histórico. Mas as categorias cognitivas propriamente ditas permanecem, pois integram os atributos da raça humana. Nas seções que se seguem, rastreio a representação de algumas dessas categorias. Para esse fim, é preciso ter em conta que as designações das categorias cognitivas são bastante genéricas. Por PESSOA, entende-se qualquer ser animado; por COISA, as entidades inanimadas, como os objetos; por ESPAÇO ou LUGARES, os ambientes ocupados por PESSOAS e COISAS, entendendo-se por TEMPO uma metáfora do ESPAÇO: o ponto inicial de um percurso ocorre num dado segmento do TEMPO, distinto do momento em que ocorre seu ponto final; por MOVIMENTO, as deslocações reais ou fictícias de PESSOAS e COISAS pelo ESPAÇO e pelo TEMPO; por QUALIDADE, as propriedades intensionais de uma entidade, e por QUANTIDADE, sua extensão. Para observar a representação linguística das categorias cognitivas, desenvolvemos um percurso que vai das noções para as formas, trajeto conhecido como Onomasiologia. O caminho inverso é habitualmente percorrido pelas gramáticas, sendo conhecido como Semasiologia. Nos quadros a seguir, os números remetem aos capítulos e suas seções na Nova gramática do português brasileiro. (1) Representações da categoria de PESSOA e COISA nos sistemas linguísticos 33 Quadro 2 DISCURSO 1) PESSOA e ESPAÇO fundamentam a relação dêitica. Essas categorias são constitutivas do discurso: ver 2.3.1, 2.3.2, 5.1.2 e 5.3. O tópico discursivo materializa a PESSOA no texto. 2) O tópico discursivo materializa a PESSOA e a COISA nos textos: veja 11.2.3.1. O encadeamento temático é um relacionamento das COISAS no texto: ver 11.2.3.3. 3) Os gêneros discursivos assentam na PESSOA: no diálogo, a primeira e a segunda pessoas estão em presença; na narração, a segunda pessoa está ausente: ver 5.3. 4) A derivação referencial é a recursão da COISA no texto: ver 11.2.3.2. SEMÂNTICA 1) A categoria discursiva da dêixis representa as categorias cognitivas de PESSOA e ESPAÇO: ver 2.2.2.1. 2) A categoria de concorre para a configuração da Semântica discursiva: ver 2.3.2. PESSOA 3) A categoria semântica de designação representa a PESSOA e a COISA: ver 2.3.2.1. 4) A foricidade é uma retomada da PESSOA e da COISA: ver 2.3.2.4. 5) Conotação e denotação constituem estratégias de representação da PESSOA e da COISA: ver 2.1.2.1. 6) Intensionalidade / extensionalidade são propriedades da COISA: ver 2.2.2.2. 7) A apresentação da PESSOA e da COISA pode ser definida ou indefinida: ver 11.5.1.2. LEXICO PESSOA e COISA são representadas pelas seguintes classes de palavras: 1) Pronome pessoal: ver (i) capítulo “História da língua portuguesa, Q 3.8; (ii) capítulo “Diversidade do português brasileiro, Q 4.2; (iii) capítulo “O sintagma verbal”, Q 10.3. 2) Pronomes demonstrativos e quantificadores neutros: ver capítulo “O sintagma nominal”, Q 11.5, Q 11.6 e 11.4.2. 3) Pronome possessivo: ver capítulo “O sintagma nominal”, Q 11.7; COISA possuída: ver 11.5.3. 4) Substantivo: ver 11.3.2.1, capítulo “O sintagma nominal”. 5) O artigo desempenha um papel importante na identificabilidade da COISA: ver 11.5.1.3. GRAMÁTICA A PESSOA tem a seguinte expressão gramatical: 1) Flexão verbal; ver capítulo 2, Q 2.10; capítulo “Diversidade do português brasileiro”, Q 4.2. 2) Voz e modo verbais: ver 10.2.2.2.3 e 10.2.2.2.4. 3) Argumentos sentenciais são proporcionais aos pronomes pessoais: ver 6.4.1.1; 7.3 e 7.4. 4) A sentença apresentacional caracteriza-se pela ausência da PESSOA: ver 8.3.2.1. 5) A saliência da flexão de PESSOA favorece a concordância entre o sujeito e o verbo: ver 10.2.1.4. e COISA têm a seguinte representação gramatical: PESSOA 1) Sintagma nominal: ver o capítulo “O sintagma nominal”. 2) Nominalização: ver 11.2.1.3. 3) Minissentença nominal: ver 8.1.1). (2) Representações das categorias ESPAÇO e TEMPO nos sistemas linguísticos Por comodidade, reúno as categorias ESPAÇO e TEMPO no quadro abaixo, o que não significa que ambas ocorram em todos os itens enumerados. Quadro 3 DISCURSO 1) ESPAÇO e TEMPO, SEMÂNTICA 1) O ESPAÇO compreende LEXICO As categorias de GRAMÁTICA As categorias de 34 tanto quanto PESSOA, fundamentam a relação dêitica: ver 1.2.3, 2.2.2.1. 2) Moldura, como recorte do ESPAÇO e do TEMPO, será tematizada em 2.3.2. 3) Perspectiva, como ponto de vista sobre os participantes do discurso, sobretudo a PESSOA: ver 2.4.1.2. 4) ESPAÇO interpessoal: ver 2.3. 4) TEMPO do discurso: ver 2.2.2.1, 2.3.1, 5.3. os eixos horizontal, vertical, transversal, proximal / distal, continente/conteúdo: ver 14.2.2. 2) O TEMPO pode ser representado a partir dos eixos de anterioridade/ simultaneidade / posterioridade: ver 10.2.2.2.2. 3) ESPAÇOS mentais são construídos pela mente: ver 11.2.2.1. 4) O aspecto verbal é uma representação não dêitica do ESPAÇO nos estados de coisa: ver 10.2.2.2.1. 5) Tipologia textual: as formas temporais do verbo fundamentam a narração e a descrição: ver 5.2.2; 5.3; 10.1.3.; 10.2.3. e TEMPO são representadas pelas seguintes classes de palavras: ESPAÇO 1) Pronomes adverbiais de lugar e de tempo: ver 11.4.3. 2) Certos substantivos, como canto da sala, fim da estrada. 3) Verbos que indicam deslocamento. 4) Adjetivos temporais e locativos: ver 12.2.2.3. 5) Advérbios temporais e locativos: ver 13.2.2.3. 6) Preposições: ver capítulo “O sintagma preposicional”, Q 14.3, 14.2.2. 7) Conjunções temporais: ver capítulo “a sentença complexa e sua tipologia, Apresentação”, seção 4.2. e TEMPO têm a seguinte representação gramatical: ESPAÇO 1) Flexão verbal modotemporal: ver capítulo 2, Q 2.11; capítulo 10, Q 10.2. 2) Há um ESPAÇO gramatical entre o verbo e o sujeito, entre o verbo e os argumentos internos que pode ser preenchido ou não por determinados constituintes: ver o capítulo 7. 4) A categoria de configura a sentença independente: ver 6.1.3. TEMPO 5) Alguns complementos oblíquos e adjuntos adverbiais expressam TEMPO: ver 7.4, 7.5. 6) Sentenças adverbiais temporais. 7) A correlação modotemporal entre a matriz e as sentenças dependentes configuram essas estruturas: (i) substantiva: ver 9.2.1.3.3.; (ii) adverbial temporal: ver 9.2.3.5. (3) Representações da categoria MOVIMENTO nos sistemas linguísticos Quadro 4 DISCURSO 1) O Princípio de projeção interacional, que constitui a conversação, é uma das representações do MOVIMENTO fictício: ver 5.1. 2) O Princípio de SEMÂNTICA 1) O Princípio de projeção semântica é uma representação do MOVIMENTO fictício: ver 2.2.2.3. 2) Esse princípio explica a metonímia, ver 2.2.2.6, 9.1.2.2, e a metáfora, ver LEXICO 1) Verbos movimento: 10.2.1.2.2. de ver 2) Substantivos de movimento: ver 11.2.2.1. 3) Substantivos GRAMÁTICA A categoria de MOVIMENTO tem a seguinte representação gramatical: 1) O Princípio de projeção, que constitui a sentença, representa o MOVIMENTO fictício: 35 projeção textual, que constitui o texto, representa o MOVIMENTO fictício: ver 5.2. 2.2.2.6. deverbais /dinâmicos/: 11.2.1.4. ver 6.4. ver 2) A metátese e hipértese fonológicas são representações do MOVIMENTO físico: ver capítulo 2, Q 2.11. 3) A flutuação do morfema verbal e nominal {-s} e do morfema de gênero {a} na morfologia representam o MOVIMENTO físico: ver capítulo 2, Q 2.10. 4) Os movimentos de constituintes sintáticos representam o MOVIMENTO físico: ver 6.4.3, 6.5.5, 7.3.1.2, 7.4.1.2, 7.5, 9.2.1.3.2, 9.2.3, 11.4.1.4, 12.2.1.6, 13.2.1.3, 14.2.1.4. Dada a complexidade da categoria de anexo a esta parte. MOVIMENTO, o assunto será elaborado num (4) Representações da categoria QUALIDADE nos sistemas linguísticos Quadro 5 DISCURSO Num texto, a descrição de atributos representa a QUALIDADE: ver 5.2. SEMÂNTICA 1) Predicação por qualificação: ver 2.2.2.3. 2) Qualidade permanente, intrínseca: ve 10.2.1.2.1, 10.2.1.2.2. 3) Qualidade transitória: ver 10.2.1.2.1. 4) Aspecto verbal qualitativo: ver capítulo 10, Q 10.5. LEXICO 1) Verbos predicativos: ver 10.2.2.1.2. 2) Adjetivos predicativos qualificadores: ver 12.2.2.1.3. 3) Advérbios predicativos qualificadores: ver 13.2.2.1.2. GRAMÁTICA 1) Adjuntos adverbiais qualificadores: ver 7.5.2.1. 2) Adjuntos adnominais qualificadores: ver 7.5.1.1. 3) Minissentença adjetival: ver 8.1.2. 4) Minissentença adverbial: ver 8.1.3. 5) Estrutura sentencial atributiva: ver 10.2.1.2.1. (5) Representações da categoria QUANTIDADE nos sistemas linguísticos Quadro 6 36 DISCURSO 1) Quantificação real e repetição de segmentos na constituição do texto: ver 5.2.3). 2) Quantificação real e repetição de segmentos na constituição da sentença: ver 2.4.4. 3) Quantificadores e marcação de tópico: ver 7.1.3. SEMÂNTICA 1) Quantificação como um tipo de predicação: ver 2.2.2.3; predicação quantificadora por composição: ver 6.2.2. 2) Aspecto verbal quantitativo: ver capítulo 10, Q 10.5; aspecto verbal iterativo quantificador: ver 10.2.2.2.1. 3) Quantificação definida, indefinida, partitiva, distributiva: ver 10.2.2.2.1, seção 3.3. 4) Delimitação e subtração de traços: ver 13.2.2.1.3. LEXICO 1) Substantivos contáveis: ver 11.2.2.2. GRAMÁTICA 1) Soma de traços na constituição do fonema: ver 1.1.3.1. 2) Quantificadores definidos, ou numerais; quantificadores indefinidos, ou pronominais: ver 11.4.2.2, 11.5.4. 2) Soma de constituintes na formação (i) da sílaba, ver 1.1.3.2; (ii) da palavra, ver 1.1.3.4, 2.1.4; (iii) do sintagma, ver capítulo 10; (iv) da sentença. ver capítulos 6 a 9. 3) Adjetivos predicativos quantificadores: ver 12.2.2.1.2. 3) Flexão nominal de número: ver 2.4.2.2. 4) Advérbios predicativos quantificadores: ver 13.2.2.1.3. 4) Especificação quantificadora do sintagma nominal: ver 11.5.4. 5) Conjunções aditivas: ver 9.1.1. 5) Soma de proposições na constituição da sentença complexa (i) coordenada aditiva, ver 9.1.2; (ii) subordinada, ver 9.2; (iii) correlata, ver 9. 3. 6) Subtração constituintes dispositivo sociocognitivo desativação: 12.2.2.1.2. de e de ver 7) Subtração de constituintes e caracterização das seguintes classes gramaticais: (i) morfema-zero, ver cap. 1.2.2.1.3.3; (ii) argumentos sentenciais vazios, ver 7.3.1.3, 7.4.1.2; (iii) elipse do verbo, ver 10.2.1.6; (iv) descontinuação do quadro tópico, ver 5.2.4. 7) Adjuntos adnominais e adverbiais quantificadores: ver 7.5.1.1, 7.5.2. 37 4.1.2. Emolduramento dos participantes e dos eventos via criação de frames, scripts e cenários. Entende-se por “moldura” o modo estruturado segundo o qual uma cena é apresentada ou relembrada. A moldura estrutura o sentido das palavras que, ao revés, evocam a moldura. Falar de um elemento de uma moldura é falar dos outros elementos ao mesmo tempo. A teoria da Semântica da moldura (Ing Frame Semantics) foi formulada por Fillmore (1982), e representa apenas um ponto no conjunto de suas reflexões. Fillmore retrata-se a si mesmo como um transformacionalista, inicialmente interessado na classificação dos verbos e sua valência. Essas pesquisas o levaram a formular uma teoria da moldura para os casos em que não se captava toda a semântica das expressões. Ele havia notado que determinados verbos, como os de percepção, causação e de movimento, dependem, para sua interpretação semântica, dos domínios que eles integram, e sua Teoria dos casos não dava conta desse fato. Como esses domínios são cognitivamente configurados, ele concluiu que a moldura cognitiva precede a organização da moldura dos casos: Fillmore (1982: 114-115). Assim, os verbos que retratam um evento comercial indexam ou evocam determinada “cena”. O verbo comprar focaliza a ação do comprador com respeito aos bens, deixando para um segundo plano o vendedor e o dinheiro; pagar focaliza as ações do comprador com respeito tanto ao dinheiro quanto ao vendedor, deixando em segundo plano os bens; gastar, custar, cobrar operam semelhantemente, mudando o foco da atenção colocado sobre os participantes desse evento. Outro argumento que especifica uma moldura é a categoria prototípica. Assim, um órfão prototípico é uma criança que perdeu os pais e tem de ser protegida pela sociedade até sua maioridade, quando poderá atender às suas necessidades. Um órfão não prototípico é aquele que matou os pais e agora pede ajuda, o que provoca o humor. Contextos de motivação estruturam a moldura como um sistema de categorias. O contexto de motivação é um padrão de práticas linguísticas ou determinadas instituições sociais que funcionam como pano de fundo para o entendimento das expressões. Isto quer dizer que o significado não se encontra codificado inteiramente nessas expressões. Assim, vegetariano é alguém que não come carne por motivações próprias – não simplesmente alguém que não tem dinheiro para comprar carne. Ao usar a língua, o falante emoldura a situação que pretende verbalizar, mostrando que ele pretende que essa moldura seja aplicada. Para isso, ele seleciona palavras reconhecidamente ligadas à moldura desejada. Vejam-se as palavras terra e chão. A primeira remete à porção seca do planeta, por oposição a mar; a segunda remete igualmente à porção seca do planeta, mas por oposição a ar. Diferentes molduras são igualmente evocadas por costa e praia. A costa é o limite entre a terra e a água do ponto de vista da terra, enquanto que a praia é esse mesmo limite, porém do ponto de vista da água: “viajar de praia a praia” é fazer uma viagem por mar, enquanto que “viajar de costa a costa” é fazer uma viagem por terra. As palavras esquematizam o mundo diferentemente, e isto é fundamental para o funcionamento da Semântica lexical e da Semântica discursiva. Eis aqui alguns casos: a polissemia se fundamenta nos emolduramentos alternativos previstos pela mesma palavra; uma mesma situação pode ser emoldurada de modos diferentes por palavras tais como econômico / usurário, generoso / desperdiçado; contrastes lexicais podem ser obtidos no interior da mesma moldura ou encadeando molduras; através de 38 palavras que integram o mesmo campo lexical, re-emolduramos uma cena, e assim por diante. Quando os elementos de uma moldura são tipos de eventos sequenciados, temos os scripts. Assim, em Ele empurrou a porta. O quarto estava vazio, lendo o que está entre as linhas podemos ativar o script em sua totalidade, obtendo Ele empurrou a porta. A porta abriu. Ele olhou lá para dentro. O quarto estava vazio. Tomando em conta alguns argumentos comuns na técnica da análise semântica, notamos que a Semântica da moldura desenvolve com esses argumentos o seguinte diálogo: (1) A identificação de traços semânticos através da proporcionalidade (por exemplo: homem:mulher::garoto:moça), que funciona quando tomamos as palavras isoladamente, escamoteia as possibilidades muito diversas desses itens em seu papel de emoldurar as cenas. (2) Os paradigmas semânticos de ordenação dos itens lexicais (ver, por exemplos, termos para o campo semântico “gado”) são desorientadores, pela mesma razão. (3) A taxonomia semântica bastante praticada pela Semântica formal, na qual os itens são ordenados em sistemas por seu grau de pertença, como “tipos” de uma “espécie”, não toma em conta o traço emoldurador das palavras. Assim, a sequência taxonômica para termos zoológicos Animal > vertebrado > mamífero > cachorro > perdigueiro, não mostra que as categorias cognitivamente privilegiadas são cachorro e animal, comuns na conversa do dia a dia, ao passo que vertebrado e mamífero só ocorrem no discurso científico. Se um cão despenca numa piscina, provavelmente você retratará a cena dizendo um cachorro caiu na água mais provavelmente do que um vertebrado caiu na água / um mamífero caiu na água. (4) Na Semântica lexical de orientação estrutural se tem buscado eliminar ou minimizar a informação redundante na descrição dos itens lexicais. O objetivo dessas análises é dizer o essencial a propósito de cada palavra, de forma a permitir contrastar essa “semântica mínima” com a de outros itens. Esse objetivo é a antítese da Semântica da moldura, que procura descobrir que funções categorizadoras as palavras desempenham nos contextos em que seu uso é motivado. (5) A distinção entre dicionários e enciclopédias é neutralizada pela Semântica da moldura, visto que as informações enciclopédicas são fundamentais para entender por que, falando de um carpinteiro, se pode dizer algo a propósito de salário, sindicato, doenças relacionadas com essa profissão, etc. Em suma, a Semântica da moldura permite descrever o ancoramento dos significados nas experiências humanas e nas instituições humanas – experiências e instituições que levam o falante a criar as categorias expressas pelas palavras. O trabalho do semanticista é identificar a “natureza precisa da relação entre a palavra e a categoria, e a natureza precisa da relação entre a categoria e seu plano de fundo”: Fillmore (1982: 136). Segundo Ferrari (2011), Georges Lakoff associou a noção de moldura à de categorização, desenvolvendo o conceito de Modelo cognitivo idealizado (MCI), para dar conta daquelas expressões que usamos todo dia, mas que não correspondem a um dado da realidade física, sendo fruto de uma idealização. Os MCIs dependem de três tipos de princípio estruturante em sua composição: a estrutura proposicional, os esquemas imagéticos, a metáfora e a metonímia. Assim, entendemos a expressão terça-feira porque a associamos “a um modelo idealizado que inclui o ciclo natural estabelecido pelo movimento do sol”, ou seja, a semana: Ferrari (2011: 53-54). 4.1.3. Hierarquização dos participantes: perspectiva e escopo, especificidade / esquematicidade, figura / fundo 39 Na seção anterior vimos a importância do emolduramento dos participantes na criação e interpretação das expressões linguísticas. Vejamos agora que processos são utilizados pelos falantes no arranjo hierárquico dos participantes de uma cena. Ao visualizar uma cena e seus participantes, valemo-nos de diferentes dimensões para sua conceptualização e consequente representação na Semântica da língua. No que se segue são examinadas algumas dessas dimensões. (1) Perspectiva e escopo Etimologicamente, perspectiva quer dizer “ver através de”, e escopo quer dizer “objeto selecionado pela visão”. O conceito de perspectiva abrange fatores tais como o ponto de vista, a orientação, a direção do esquadrinhamento mental (Ing mental scanning), a subjetividade / objetividade e outras distinções, especificando os participantes de uma cena, uns em relação aos outros. É essa dimensão que explica sentenças do tipo: João está à direita de Pedro. / Pedro está à esquerda de João, ou A cicatriz vai da virilha ao joelho. / A cicatriz vai do joelho à virilha. [exemplos adaptados de R. Langacker (2000: cap. 2)]. Segundo esse autor, a perspectiva é o análogo conceptual do ponto desde o qual a cena foi vista. Esta dimensão da construção dos conceitos compreende o arranjo do ponto de vista e a dinamicidade: (i) O arranjo do ponto de vista é o relacionamento entre os que vêem e a coisa vista – sendo que “os que vêem” integram o falante e o ouvinte. Os atos de fala correspondem aos arranjos de pontos de vista. Intimamente relacionado com o ponto de vista é o aspecto da construção dos conceitos conhecido como subjetividade x objetividade. A subjetividade máxima ocorre quando há predominância da primeira e da segunda pessoas, “os que vêem”, nos termos de Langacker. A objetividade máxima ocorre quando predomina a terceira pessoa, isto é, a “coisa vista”. (ii) A conceptualização requer tempo, e por isso ela é inerentemente dinâmica, visto que ela tem lugar através do processamento. Afinal, a conceptualização é algo que acontece, não algo que exista estaticamente. É crucial para a constituição do sentido das expressões investigar como tal sentido se desenvolve através do processamento no tempo. A uma ordem dos eventos corresponde uma ordem de concepção a qual, por sua vez, corresponde uma ordem da expressão. A ordem das palavras numa sentença como “Deixei meu emprego, casei-me e tive um filho” apresenta uma iconicidade temporal tal que, mudada a ordem, a nova sentença leva o ouvinte a reconceptualizar os eventos descritos, voltando atrás para captar a verdadeira sequência no tempo dos eventos verbalizados. O significado, portanto, é dinâmico, e não está contido unicamente no que disse o falante. O escopo é o raio de ação, o alcance de nossa mirada na direção aos objetos. Se esse alcance é extenso, temos o escopo máximo, exemplificado, por exemplo, pela visão do corpo humano em seu todo. Se esse alcance é mínimo, temos o escopo mínimo, exemplificado pela visão de uma parte do corpo humano. Essa dimensão está por trás de formações vocabulares tais como menina do olho, por contraste com globo 40 ocular, pálpebras, etc., aparecendo também nos arranjos textuais em que se focaliza a ribalta ou os bastidores. A diferença entre aspecto imperfectivo e aspecto perfectivo pode igualmente ser explicada, respectivamente, em termos de escopo máximo e escopo imediato. (2) Especificidade / esquematicidade Esta dimensão da construção dos sentidos diz respeito ao grau de precisão e detalhe com o qual uma situação é caracterizada: com especificidade ou com esquematicidade. As unidades linguísticas diferem em granularidade e resolução. Uma expressão altamente específica descreve a situação em detalhe. Uma expressão esquemática descreve a situação com resolução menor, de que resultam as descrições não refinadas, refletindo apenas traços mais gerais e uma organização global. Uma caracterização esquemática pode vir a ser instanciada por um conjunto de caracterizações específicas. Assim, poodle é mais específico do que coisa, correr à toda é mais específico do que fazer, e assim por diante. O seguinte esquema dispõe as expressões linguísticas segundo sejam mais esquemáticas ou mais específicas. Coisa à criatura à animal à mamífero à cão à poodle Fazer à agir à mover à correr à correr à toda + esquemático ………………………………+ específico Cada expressão pode evocar um conjunto de conteúdos conceptuais, chamado base. Dentro dessa base, podemos dar proeminência a alguma substrutura, denominada perfil. O perfil de uma expressão é aquilo a que nos referimos ou designamos dentro da base conceptual, é uma sorte de foco de atenção. A metonímia resulta de uma mudança no perfil, e ocorre quando uma expressão que normalmente perfila certa entidade é usada para perfilar outra entidade, dentro da mesma base conceptual. (3) Figura / fundo A dimensão figura / fundo envolve uma conceptualização em que duas estruturas distintas são tomadas assimetricamente uma em relação a outra. A figura (Ing foreground, onstage) é objeto do nosso interesse primeiro, ao passo que no fundo (Ing background, outstage) são dispostos os participantes de interesse menor na cena que está sendo descrita. Estas categorias cognitivas foram apropriadas pelas descrições semânticas do Aspecto (perfectivo e iterativo como figura, imperfectivo como fundo), do Tempo verbal (distinguindo-se os tempos-figura, como o pretérito perfeito, dos temposfundo, como o pretérito imperfeito) e pelas descrições sintáticas da estrutura argumental da sentença (argumentos como figura, adjuntos como fundo). 4.2. Recriação dos sentidos 4.2.1. Alteração da perspectiva sobre os participantes e os eventos: metáfora e metonímia Metáfora e metonímia representam a categoria de MOVIMENTO fictício. Mas além disso, a alteração de perspectiva motiva igualmente a mudança de sentido por metáfora, vastamente estudada na literatura. Assim, Lat luxus “entorse”, designava 41 uma lesão física, donde Port luxação. Alguém comete algum erro quando sofre uma lesão. Por metáfora, a palavra luxo passou a indicar despesas supérfluas, igualmente erradas, segundo o senso comum. Mudou-se a perspectiva, que se deslocou do corpo humano para uma atividade de outra natureza. Lakoff e Johnson (1980/2002) escreveram um livro importante sobre a metáfora, que eles definem inicialmente por um conjunto de propriedades negativas. Para eles, a metáfora não é (i) um dispositivo retórico ou decorativo, confinado à literatura; (ii) um fenômeno secundário e relativo; (iii) a relação entre o sentido literal e o sentido figurado; (iv) uma propriedade de certas expressões particulares. Ao contrário, a metáfora é (i) um fenômeno conceitual, não necessariamente ligado a expressões linguísticas; (ii) um mecanismo cognitivo básico e muito difundido, que a Semântica não deve ignorar; (iii) o entendimento de um domínio de experiência em termos de outro; (iv) a projeção de um conjunto de correspondências entre um domínio-fonte e um domínio-alvo. Várias metáforas se tornaram altamente cristalizadas na linguagem do dia a dia, a ponto de termos perdido a percepção disso. Assim, associamos a vida a uma viagem, o trabalho a uma batalha, a ciência a um trajeto em que nos movimentamos, como os seguintes exemplos demonstram: (43) a) Sua vida o levou bem longe. b) A relação entre eles chegou a um beco sem saída. c) Eles alvejaram duramente meus argumentos, que agora estão caindo. d) E justamente este argumento nos leva a outro. e) Passemos agora à outra questão. g) Percorrendo a narrativa, indo até ao fim, chegamos aqui a uma reviravolta nesta história. Voltemos um pouco atrás para ver o que a nossa personagem fazia ali na cozinha, retomando o fio da história… (exemplos adaptados de Fauconnier, 1984/1985: 176). Nesses exemplos, o domínio-fonte é um caminho que deve ser percorrido, uma batalha que tem de ser vencida, e o domínio-alvo é a vida, a relação, os argumentos, e assim por diante. Esses autores assim classificaram as metáforas: 1. Metáforas imagéticas: nas metáforas imagéticas, o domínio-fonte é, por exemplo, a imagem visual das cores das teclas do piano: (44) Seus dedos eram como o teclado de um piano. 42 2. Metáforas ontológicas: neste caso, as entidades são criadas através da própria metáfora, como em (45) a) A inflação está devorando nossa economia (a inflação se transforma numa entidade). b) Sua tese caiu aos pedaços (a tese é uma entidade quebrável). c) Não desperdice/gaste/jogue fora seu tempo (o tempo é como o dinheiro). 3. Metáforas estruturais: o domínio-fonte é comparável a uma entidade física, como em (46) a) O debate abalou os fundamentos da teoria (teoria como um edifício). b) Ficou fervendo de raiva depois que leu a carta (a raiva é como um liquido guardado num recipiente). 3. Metáforas orientadas: o domínio-fonte tem uma localização espacial, como em (47) a) Sua renda subiu. Levante-se, tome coragem! (a felicidade, a saúde, a virtude, os bens “estão em cima”). b) Sua saúde está declinando. Caiu no sono. Está se sentindo lá embaixo (o mal, a perda da saúde, a letargia estão “embaixo”). Os estudos de Lakoff; Johnson (1980/2002) mostraram que na criação da metáfora podemos associar dois ou mais domínios, e com isso obtemos metáforas primitivas ou metáforas compostas. De todo modo, o móvel da alteração do sentido está fora do texto. Na metonímia, alteramos os sentidos de uma palavra a partir da migração de traços contidos na expressão linguística. Pois é, a categoria de MOVIMENTO ataca de novo! Se você estudar a história da conjunção adversativa mas, notará que ela procede do advérbio de inclusão mais, exemplificado a seguir. (48) a) Estava a Rosita, mais seu Roberto, sem cerimônia (Laytano, 1981). b) Passarim avôe mais baixo, quando ocê cantá mais eu. c) Minha filha está pra casar mais o filho do Manuel cargueiro (Marroquim, 1943/1996) Nessas amostras do PB popular, o advérbio de inclusão mais (e sua variante dialetal mas, em (48a), agrega indivíduos a um conjunto, assumindo o papel da preposição com. Como entender que de um sentido de soma, de inclusão, derivou o sentido de contrajunção, típico da adversativa? Pode jogar a culpa nas costas da metonímia. Quer ver? Estudando as ocorrências do advérbio mais, nota-se que ele pode aparecer em contextos de verificação negativa, como em (49) Agora também não falo mais, pronto! 43 O traço de /negação/ contido em não migrou para mais, dada a proximidade sintagmática, e com isso o advérbio foi reinterpretado como uma conjunção que nega expectativas, como em (50) Vocês querem que eu fale, mas eu não falo, pronto! Dizemos então que a conjunção adversativa mas surgiu por metonímia do advérbio de inclusão mais. 4.2.2. Alteração na extensão: especialização e generalização Ver exemplos em 5.1, lembrando-se que nas línguas naturais um mesmo fenômeno tem mais de uma cara. 4.2.3. Alterações na representação de PESSOA e MOVIMENTO, ESPAÇO, QUALIDADE e QUANTIDADE COISA, EVENTOS, JUNÇÃO, Ver exemplos em 5.1. LEITURAS SOBRE A SEMÂNTICA COGNITIVA Lakoff (1975, 1982, 1987), Lakoff; Johnson (1980/2002), Fauconnier (1984/1985, 1996), Jackendoff (1985/1995: Langacker (1987, 1990, 1991, 1992, 1999, 2008), Talmy (1988, 1996, 2001, 2003), Sweetser (1990), Pontes (Org. 1990, 1992), Langacker (1991), Sacks (Org. 1992), Svorou (1993), Goldberg (1995, Ed. 1996), Sweetser; Fauconnier (1996), Svorou (1993), Fauconnier; Swetser (eds. 1996), Fauconnier; Turner (1996, 1998, 2002), Bloom; Peterson; Nadel; Garrett (eds. 1996), Putz; Dirven (eds. 1996), Ungerer; Schmid (1996), Silva (1997, 1999, org. 2001, 2003, 2006, 2007), Batoréo (2000), Talmy (2001), Bluhdorn (2001), Castilho (2002 a, d), Levinson (2003), Tomasello (ed. 2003), Croft; Cruse (2004), Abreu (2004), Lima-Hernandes (2005), Miranda; Name (Orgs. 2005), Kewitz (2009, 2010, 2011), Abreu (2010), Ferrari (2011), Castilho (2010, cap. 14, 2011). ATIVIDADE 1. Resenhe um dos textos acima. Em seguida, explique uma das questões adiante: 1) Qual é o campo de estudos da Semântica cognitiva? 2) O que se entende por fuzzy concepts? 2. Identifique exemplos de metáfora e metonímia em textos de jornal. 3. Espaço físico e espaço mental: o que diabo é isso? 4. Movimento físico e movimento fictício: o que diabo é isso? 5. As formas temporais do verbo sempre expressam o espaço cronológico? Que mais elas fazem? 5. SEMÂNTICA DIACRÔNICA: A MUDANÇA DO SENTIDO E SEUS PROCESSOS Apresentação: processos ressemanticização de mudança do sentido, dessemanticização / A Semântica diacrônica tem sido pouco versada, não dispomos ainda de um programa compartilhado para seu estudo. Tem-se manifestado preferência por esses estudos no campo da Semântica lexical, sobretudo por lexicólogos e dicionaristas. Vejamos uma amostra do que se tem escrito sobre isso. Ullman (1964: 409-438) identificou as seguintes causas da mudança 44 semântica: (i) causas linguísticas: palavras usadas frequentemente numa sequência trocam propriedades, por metonímia; galgo designa hoje uma raça de cão, mas a palavra indicava a origem desse cão, em canis gallicus “cão da Gália”; (ii) causas históricas: o significado das palavras não acompanha a rapidez das mudanças tecnológicas; empregamos hoje a palavra carro, derivada de carrus, que era um veículo de tração animal; (iii) causas sociais: o pronome de tratamento você, hoje informal, deriva de Vossa Mercê, tratamento dado aos reis; (iv) causas psicológicas: palavras tabu são substituídas por outras; a doninha era um animal tabu, por isso em várias línguas a palavra foi substituída por senhorinha. Guérios (1956) estudou este fenômeno na língua portuguesa. O mesmo Ullmann (1964: 205) dá um interessante exemplo de dessemanticização, sempre lembrado pelos romanistas: no latim, testa significava “panela, vaso”, donde Port testa “parte da frente da cabeça”, metaforicamente associada a um objeto redondo como o vaso. Em outras línguas românicas, essa forma passou a ser entendida como a cabeça mesma, como Fr tête, It testa. Outro exemplo semelhante é a palavra escrúpulo, Lat scrupulus “pedrinha aguda ou pontiaguda”, figuradamente, “inquietação, ansiedade”, decerto quando uma dessas pedrinhas entram no sapato. Lyons (1977: 620) pondera que nos últimos cinquenta anos [isto é, entre 1920 e 1970], os mais importantes desenvolvimentos da semântica diacrônica foram os seguintes: (i) aplicação dos princípios estruturalistas à história dos campos semânticos, (ii) implementação do princípio segundo o qual a história do vocabulário de uma língua não pode ser estudada independentemente da história social, política e econômica do povo que a fala – derivando daqui os estudos sobre as palavras e as coisas, (iii) entendimento de que variações diacrônicas e dialetais são inseparáveis. A direção (i) foi versada por Baldinger (1970) e Stengaard (1991). Esta autora estudou minuciosamente a semântica dos verbos Lat stare “ficar de pé”, sedere “ficar sentado”, iacere “ficar deitado” em sua mudança para as línguas românicas do séc. XIII, mostrando a perda do campo semântico dos verbos de posição estática. Os verbos românicos que daí derivaram assumiram um sentido abstrato. No português, por exemplo, os verbos ser e estar não mais especificam a posição física do sujeito, fato que era corrente no português arcaico: Moraes de Castilho (2013). Nesta gramática, proponho que dois processos de mudança semântica atuam simultaneamente: a dessemanticização, seguida da ressemanticização, que afetam as “quatro Semânticas” aqui propostas. A dessemanticização é a perda do sentido da palavra, seguida imediatamente pela ressemanticização, que é a criação de sentidos novos para as mesmas expressões. Para bem avaliar esses processos, será conveniente estudá-los no interior das categorias semânticas definidas anteriormente, em particular: (i) (ii) (iii) (iv) (v) (vi) (vii) (viii) Referenciação: PESSOA e COISA Predicação e EVENTO Apresentação Verificação Foricidade Dêixis Junção Campos semânticos Identifica-se no tratamento diacrônico dessas categorias um ritmo compartilhado, que pode ser assim apresentado: (1) movimento do concreto para o abstrato, (2) alteração da extensão: especialização e generalização, (3) melhora e piora 45 semântica. Veremos a seguir como essas mudanças operam 5.1. Referenciação: PESSOA e COISA Muitas palavras portuguesas vieram da designação de atividades rurais – pois em seus primórdios os antepassados latinos eram um povo essencialmente rural. Com o tempo, essas palavras passaram a designar entidades abstratas: (51) Lat caducus é a fruta podre que cai da árvore: cf. Lat cadere, verbo que significa “cair”. Hoje o termo designa o estado de alguém que se esquece das coisas, não sabe bem o que diz. (52) Lat sementem deu em Port semente. Da mesma raiz temos o verbo seminare “semear”, donde derivou seminário, lugar em que se debatem ideias, esperando que frutifiquem. Expressões referenciadoras mudam seu sentido via designação de um conjunto menor (= restrição, especialização) ou maior de indivíduos (= expansão, generalização). Em todos esses casos, sua extensão foi alterada. (53) Estilo, de stylus, designava qualquer objeto pontiagudo para gravar as letras numa superfície de cera. A partir daqui, especializou-se com o sentido de “forma peculiar de desenvolver um texto escrito”. (54) Mobília significava anteriormente um dado objeto móvel, passou a funcionar como o hiperônimo de mesa, cadeira, escrivaninha, estante, etc., generalizando-se. (55) Pecúnia significava “riqueza em gado”, passou a designar qualquer riqueza. (56) Lat spatium, de onde derivou Port espaço, designava restritivamente apenas o lugar em que os carros correm, expandindo seu uso para designar qualquer lugar. Bréal (1911: 107) diz que a restrição é mais frequente que a generalização, dado o permanente descompasso entre a palavra e a coisa que ela representa. Algumas palavras passam por uma melhora semântica, tornando-se mais aceitáveis em sociedade, digamos assim. O esquecimento da etimologia das palavras parece estar por trás desses processos de melhoras e pioras semânticas. Comecemos pelas melhoras semânticas: (57) Minister, “o menor dos servidores”, formada pelo adjetivo minus + sufixo superlativo – ter, passou a designar um alto funcionário. (58) Magister, de magis + -ter, significada “o maior dos servidores”. Essa palavra deu origem a mestre, que nos dias de hoje, bem... (59) Lat dextra “lado direito do corpo”, associado a coisas positivas, donde destreza. E a seguir, algumas doses de piora semântica: (60) Sinistro, Lat sinister, “lado esquerdo do corpo”. Tendo-se associado a esse lado, por tabu, fatos negativos, sinistro passou a designar as grandes desgraças, sofrendo uma piora semântica. (61) Cretino, primeiramente, “cristão”, passou a “pessoa de mau caráter”: Ullman (1964: 480). 46 Palavras que expressam “um golpe de” (como paulada, porrada), outras de sentido negativo (como horror), entre outras, vêm assumindo um sentido coletivo, ressemantizando-se, como em (62) a) Recebeu uma porrada de propostas para vender sua casa. b) Recebeu um horror de propostas para vender sua casa. c) Recebeu um montão de propostas para vender sua casa. 5.2. Predicação e EVENTO A representação de alguns eventos sofreu mudança semântica, de um sentido concreto para um sentido abstrato, como nestes exemplos: (63) Os sulcos paralelos deixados pelo arado eram chamados lira. Quando o arado se desviava, ou quando a semente era lançada fora da lira, o evento era denominado delirare. Hoje, delirar é perder momentaneamente a razão. (64) Lat legere, palavra já lembrada aqui, significava “colher uma planta, um fruto”, sentido ainda conservado em legume, planta que colhemos para comer. O sentido se abstratizou para ler, “colher as palavras num texto, apreendendo suas ideias”. As muitas pesquisas sobre gramaticalização identificaram igualmente um ritmo na mudança semântica, de eventos concretos para a designação de eventos abstratos. Assim, Lat sedere “estar assentado”, e stare “estar de pé”, eram verbos que descreviam concretamente uma posição do corpo humano, e, portanto, selecionavam sujeito /+humano/: (65) a) Galaaz já não podia estar, de tão ferido. b) Então, seve em sua câmara (= sentou-se em seu quarto) Ambos verbos perderam esses sentidos, transformando-se em verbos funcionais, ligando um adjetivo ao sujeito, como em: (66) a) Esse preço é muito alto. b) O livro está rasgado. Manobrar vem de Lat manu operare “trabalhar com a mão”, e projetava, portanto, argumentos com traço inerente /concreto/, como em (a). O sentido de (b) é mais abstrato (67) a) Manobrava a enxada com vigor. b) Manobrava a opinião pública com habilidade. (68) Reformar significava originalmente “retornar à forma anterior”. Atualmente, essa palavra tanto significa “melhorar algo”, como em “reformar a casa”, quanto, na linguagem administrativa, “aposentar”: Ilari (2013). 47 Localize agora o radical dos verbos adiante exemplificados, e verifique o que está sendo deslocado para trás, e que parte do corpo da caça foi focalizada pelo caçador: (69) Recuar “deslocar-se para trás”, acuar “encurralar a caça” Sem dúvida, mais um caso de melhora semântica. A ampliação do uso dos verbos suporte tem contribuído para o surgimento de novas expressões que representam o EVENTO: (70) a) Vou dar uma passada em sua casa mais tarde à vou passar. b) A morena deu uma olhada meio de través para o rapaz à olhou. c) Mais tarde eu dou uma revisada no texto à revisarei Substantivos de sentido negativo ou grosseiro assumem um papel predicativo, intensificando expressões de QUALIDADE, passando por uma melhoria semântica: (71) a) Este camarada é bom da peste. b) Remédio bom pra caralho! Em (71), os substantivos peste e caralho tomam por escopo o adjetivo bom, superlativizando a QUALIDADE por eles expressa. Se nos concentrarmos no estudo da predicação verbal, mudanças de sentido poderão ser identificadas (i) na expressão do Tempo, (ii) na expressão do Aspecto, (iii) na expressão da voz. O atual imperfeito do subjuntivo expressava passado remoto no latim, mudando para a indicação do passado próximo: (72) a) Lat. habuisset “tivesse havido” b) cp com Port houvesse. Novas formas temporais foram criadas nas línguas românicas, como o futuro do pretérito. A gramaticalização de verbos deu origem aos verbos auxiliares, que contribuíram fortemente para a criação de formas de interpretação aspectual, como as perífrases estar + gerúndio, ter + particípio, e assim por diante: ver cap. 10. Quanto à diacronia da voz verbal, muito se tem discutido sobre a reanálise semântica da passiva pronominal, que perdeu no PB seu valor passivo, assumindo o sentido de indeterminação do sujeito: (73) Lê-se a mão. Preços módicos e resultados garantidos. A voz média indicava no indo-europeu um interesse especial do sujeito na execução do EVENTO expresso pelo verbo. Observa-se no PB contemporâneo uma alteração desse sentido, que se especializou para indicar posse, como em: (74) Não me ponha a mão no vaso, 48 que passa a significar (75) Não ponha a mão no meu vaso. 5.3. Apresentação Muitos termos foram ressemantizados, passando a funcionar como expressões apresentacionais. Ter, do Lat tenere, significava “agarrar com as mãos, possuir”, mas foi ressemantizado em usos tais como (76) Tem muita gente hoje aqui. Diferentes expressões vêm se especializando no papel de introduzir participantes no discurso. Esse é o caso de verbos, adjetivos, entre outras classes. Preposições e locuções prepositivas têm perdido o sentido de localização de pessoas e coisas no espaço, transformando-se em expressões de apresentação: ver 2.2.2.2. 5.4. Verificação Um programa de Semântica diacrônica aplicado à verificação deve incluir o estudo das alterações em expressões de • • • • • inclusão exclusão focalização afirmação negação, particularmente os advérbios redobrados de negação, como nunca jamais, nenhum não, não já, nunca senão, etc. Passo a palavra a você. 5.5. Foricidade Adjetivos que representam a categoria de QUALIDADE, como famoso, conhecido, mantêm esse sentido, mas passam a funcionar como anafóricos, como em: (77) Foi em resposta a essa solicitação do Itamarati que o embaixador do Brasil expediu para nossa chancelaria o hoje famoso telegrama 293. Exemplo de Ilari (2013). Expressões semelhantes: o conhecido / falado / mencionado deputado. O mesmo autor identificou dêiticos que passam a funcionar como anafóricos: (78) quem detidamente apreciar um a um seus argumentos, há de necessariamente convencer-se de que o contemporâneo ou já perdeu toda a razão ou tem gosto particular em ser apanhado na mais palpável contradição. Segundo Ilari (2013), contemporâneo soa aqui como um anafórico, que retoma O Correio, o jornal concorrente citado linhas acima”. Expressões sinônimas podem atuar como fóricos, como em 49 (79) A Presidente disse na entrevista que... Em seguida, a mandatária deixou a sala. Neste exemplo, a foricidade assenta na sinonímia entre presidente e mandatária. 5.6. Dêixis e redobramento de locativos Os dêiticos locativos do português arcaico, tais como y, en, eram frequentemente redobrados por um sintagma preposicional, como em (80 a, b); essa estrutura provocou alterações sintáticas importantes, como demonstrado por Moraes de Castilho (2013: 37). Por outro lado, o desaparecimento do dêitico locativo transmite seu sentido ao sintagma preposicional redobrador, como se vê em (80c): (80) a) e que dedes () meadade de uino no lagar e meadade de todo pam que y lauorardes na eyra (séc. XIII). b) Outrosy dementres que for en corte del rey, des aquel dya que se en partir de sa casa por todo huu dia seya y seguro el con todas sas cousas (séc. XIII). c) Neste lugar, erigiremos uma nova capital para nosso país”, por “aqui neste lugar...” 5.7. Junção (1) Preposição ni A preposição em está em processo de substituição por ni, no PB. Temos aqui um caso de regularização morfológica: essa preposição dispõe duma forma de base, o ditongo nasal [~ey] e das formas amalgamadas no, na, num, numa, de que ni representa uma sorte de generalização morfológica, pondo-se de lado a categoria de gênero: (81) Niquique ele chegue, mande embora (< no que é que). (2) Conjunção adversativa só que Longhin-Thomazi (2003) estudou a formação da conjunção adversativa só que, que aparece em: (83) Você ia passear agora, só que terá de deixar para mais tarde. (3) Conjunções correlatas Módolo (2004) estudou o processo de criação das conjunções correlatas não só... como também, tão... quanto, mais ... do que, tão... quanto. Ele demonstrou que no primeiro caso, associaram-se as seguintes categorias semânticas: negação (não), focalização (só), comparação (como) e inclusão (também): ver 9.3. 5.8. Desaparecimento de um campo semântico Stengaard (1991) estudou o campo semântico “posição corporal” nas línguas românicas, tendo constatado o desaparecimento de verbos que designavam “estar sentado” e “estar de pé”, como em: 50 (84) a) estar sentado: Galaaz seve (= sentou-se) logo depois da batalha. b) estar de pé: Galaaz nom esteve (não conseguiu ficar de pé), de tão cansado. LEITURAS SOBRE SEMÂNTICA DIACRÔNICA Ullman (1962/1973), Lyons (1977/1984), Stengaard (1991), Ilari (2013), Castilho (2013). ATIVIDADES SOBRE SEMÂNTICA DIACRÔNICA 1. Faça um estudo diacrônico das representações de uma das categorias cognitivas, lidando com as mudanças em sua representação nos campos lexical, semântico, discursivo e gramatical, a partir de documentos de temporalidade definida. Essa atividade deverá ser desenvolvida em grupo. 2. Resenhe Ilari; Basso (2008 a). Fixando-se numa das categorias aí mencionadas (o aspecto, por exemplo), verifique se sua expressão é estável na língua, ou se novas expressões têm sido criadas. 3. Repita o mesmo exercício, investigando as preposições do eixo vertical. 4. Consultando textos que integrem diferentes tradições discursivas, elenque as expressões utilizadas para a introdução de participantes de uma cena, pesquisando a diacronia dessas expressões. 5. Em várias passagens deste texto mencionam-se fatos diacrônicos tais como mudança de sentido concreto para abstrato, específico para genérico. Com base no corpus abaixo, identifique outras ocorrências desse tipo e procure fazer alguma generalização. Para esses exercícios, utilize o corpus do Projeto para a História do Português Brasileiro, disponibilizado em: https://sites.google.com/site/corporaphpb. Referências bibliográficas ABREU, Antônio Suárez (2010). Linguística cognitiva: uma visão geral e aplicada. São Paulo: Ateliê Editorial. AMARAL, Hílton (1976). Semântica da língua portuguesa. São Paulo: Editora Resenha Universitária. BALDINGER, Kurt (1970). Teoría Semántica. Hacia una semántica moderna. Madrid: Alcalá. BIERWISCH, M. (1971). A Classificação dos traços semânticos. Em: M. Dascal (Org. 1982, vol. III: 63-112). BARROSO, Henrique (1994). O Aspecto verbal perifrástico em português contemporâneo. Porto: Porto Editora. BATORÉO, Hanna J. (2000). 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